ABRUPTO

7.11.03


PBS (PODEMOS BEM SONHAR) COM UM PBS (PUBLIC BROADCASTING SERVICE)


Penso que podemos bem sonhar com uma PBS. No entanto, penso que é um sonho dificil de se tornar realidade por estas razões:

1) Somos pequenos e poucos (lá, em 2002, 144 milhões assitiram a um canal da PBS pelo menos 7 horas por mês);

2) Só teriamos um dois (?) canais para a nossa PBS(lá são 350);

3) Não temos o número de Fundações, universidades, empresas (nem incentivos para as mesmas) para contribuirem para tal viabilidade;

4) Os fundos da PBS só originam parcialmente dos membros (23%) e o restante é de sponsors, universidades, fundações, governo federal, etc.

Last but not least, a PBS não é um mar de rosas. Enquanto o cabo (comercial) tem crescido a PBS tem apenas mantido o seu número de telespectadores. A PBS tem sofrido com o medo do terrorismo pelos norte-americanos (lets watch CNN round the clock), com a falta de simpatia de Washington com o "dizer a verdade" da PBS (e com aversão pela Cultura tão inerente aos Republicanos - metam uns boxers no David), com o desaparecimento de sponsors em parte graças à recessão económica, com alguns compromissos feitos na programação, etc.

A UE não poderia ter uma PBS mas em que não fosse tudo produzido na Alemanha e França? ;-) MAs será que na Europa é possívelter uma televisão "politicamente incorrecta" (leia-se verdadeiramente democrática) que sirva para o debate, e a abertura a diversas opiniões, de maiorias e minorias, e sem uma única verdade religiosa?

Tanto mais que havia por falar. Está tudo no sítio do costume. Na WWW. :-)”


(Nuno Figueiredo)


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IMAGENS

de ontem: uma pintura abstracta de Silja Rantanan e uma, bem pouco abstracta mas metafísica, de uma “corbeille de verres” de Sebastien Stoskopff. Os vidros partidos estão em Estrasburgo.


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RECORDAÇÃO


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EARLY MORNING BLOGS 73

António Machado, de novo, em este “Recuerdo infantil” que me fez o milagre da memória, porque era exactamente assim. Exactamente assim.

Recuerdo infantil

"Una tarde parda y fría
de invierno. Los colegiales
estudian. Monotonía
de lluvia tras los cristales.

Es la clase. En un cartel
se representa a Caín
fugitivo, y muerto Abel
junto a una mancha carmín.

Con timbre sonoro y hueco
truena el maestro, un anciano
mal vestido, enjuto y seco,
que lleva un libro en la mano.

Y todo un coro infantil
va cantando la lección:
"mil veces ciento, cien mil,
mil veces mil, un millón".

Una tarde parda y fría
de invierno. Los colegiales
estudian. Monotonía
de la lluvia en los cristales."



Aprendi a ler antes de ir para a escola primária, com uma professora reformada que tinha uma “escola” privada em sua casa, na Rua das Doze Casas, no Porto. A “escola” era numa sala da sua casa e funcionava como uma espécie de jardim infantil. Como na altura a pedagogia era uma preciosidade bizarra, a professora fazia o que sabia fazer e o que durante incontáveis anos já tinha feito numa escola primária – ensinar a ler, escrever e contar. Os meninos tinham quatro anos? Ela queria lá saber, era ler, escrever e contar como se estivessem na primeira classe. A escola era para aprender não era para ninguém se divertir:

"Monotonía
de la lluvia en los cristales."


Acho que me recordo de tudo com grande nitidez: a Rua das Doze Casas, que começava na Rua da Alegria, depois da Cooperativa dos Pedreiros, com uma fábrica de refinação de açúcar, onde depois se fez o Hotel Castor. Eu espreitava pelas janelas para uma espécie de cave onde, nos caldeirões, uma massa pegajosa era mexida. O cheiro a açúcar castanho nunca mais o esqueci. Depois, a pequena rua, quase um beco, escondendo-se por detrás das fachadas burguesas de azulejo verde escuro das casas do Porto, típicas da Rua da Alegria e da Rua D. João IV – uma cave com janelas térreas, um rés do chão ligeiramente elevado e um andar por cima. Atrás, um longo quintal com árvores de frutos, couves e capoeira.

A casa da professora era uma versão um pouco mais pobre dessas casas, só com um andar, mas tinha a mesma configuração para a rua, a mesma porta vermelha com grades, batente e puxador de ferro forjado, a mesma entrada com uma escada de quatro ou cinco degraus e depois, virando-se para a esquerda, a sala de jantar transformada na “sala de aulas”: meia dúzia de carteiras, daquelas que tinham sítio para o tinteiro, e um quadro negro de lousa com giz. Aí aprendi a ler, o melhor que jamais aprendi. Por isso, no meu invisível mapa do Porto, há uma luz brilhante sobre a Rua das Doze Casas.

Bom dia!

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GUERRAS VÁRIAS – COMENTÁRIOS E CONTRIBUIÇÕES DOS LEITORES DO ABRUPTO

Guerra peninsular e Wellington -

Quem conhece os "dispatch of general lord Wellington" penso que numa edição de 1852 (Havia uma coleção no British Council, neles um dos volumes é o da guerra peninsular..devia ser leitura obrigatória dos portugueses porque lá são mencionadas algumas das nossas "características"..já nesse tempo Quanto ao "Boney" é melhor não falarmos..segundo a tradição sou proprietario de umas oliveiras que serviram cerca de 1811 como forcas para uns portugueses!!!

(A. R.)

Guerra civil portuguesa

A sua sugestão da programação patrocinada por utilizadores é muito boa. Permitiria debelar um dos grandes escolhos dos que fazem trabalho voluntário, que é o acesso a material e conhecimento especializado, e que não é justo esperar que seja cedido em troco de nada. No entanto os custos só seriam suportáveis se houvesse bastante gente disposta a financiar os projectos. Uma Associação poderia desempenhar esse papel, mas o espírito associativo é escasso em Portugal. Enfim, pode ser que haja alguém interessado em desenvolver a ideia."

(Mário Filipe Pires do Retorta)

João Ricardo dos Meninos de Ouro lembra que " Ricardo Veiga escreveu um pequeno ensaio sobre a guerra, a 19 de Setembro de 2003, intitulado "A Derrocada Do Antigo Regime".



Guerra da Secessão -

"A propósito do post "Guerra Civil Americana" recomendo a leitura do Lincoln de Gore Vidal, bem como os outros volumes da série histórica, nomeadamente Burr e 1876".

(Joana Gomes Cardoso)

De arqueologia , um muito interessante episódio da guerra civil americana que tocou os Açores:


"Curioso mesmo é saber que a nossa ilha Terceira está umbilicalmente ligada à Guerra da Secessão. Para além do armamento na baía do Fanal do Erica, mais tarde o infame e conhecidíssimo CSS Alabama, temos o caso Run'Her. Durante os últimos anos da guerra civil, os navios do Sul que furavam o bloqueio dos portos imposto pelo Norte eram, geralmente, propriedade do governo Confederado. Essa propriedade era, no entanto, camuflada de modo a se evitar que os navios fossem classificados como "vasos sob um pavilhão nacional" o que poderia levar a que se vissem submetidos às regras estritas de neutralidade exigidas para navios de guerra e de transporte.

Sofrendo de uma falta crónica de crédito estrangeiro, o governo Confederado viu-se obrigado a estabelecer contratos de aquisição de navios junto de seis grandes construtores navais britânicos, fornecendo estes últimos navios equipados com maquinaria de alta tecnologia por troca com carregamentos de algodão - só quando o número de fretes executados fosse suficiente para amortizar a dívida de construção receberia o governo Confederado o controlo completo do navio em causa.

No âmbito do programa Confederado de construção de navios especificamente destinados a furar o bloqueio, foi lançado à água, a 3 de Março de 1863, o The Southerner. Com com cerca de 90 metros de comprimento e 300 cavalos de potência, apresentava pela primeira vez na história da construção naval mercante uma caldeira com superaquecimento de vapor e um casco reforçado com blindagem. Este navio, com 18 nós de velocidade de ponta, viria a dar o mote para aquilo que seria a construção naval em 1864. Nesse ano, saía dos estaleiros de Spence Pile, West Hartlepool, o vapor de pás Whisper, com 80 metros de comprimento e uma velocidade de 14 nós. Partindo de Falmouth a 16 de Novembro de 1864, o Whisper fazia parte de uma frota de quatro furadores de bloqueio que carregavam quase exclusivamente equipamento destinado à construção de minas navais de detonação eléctrica (uma nova arma de destruição e uma das muitas a surgir deste conflito). Destes quatro navios, o Whisper foi o único que conseguiu furar o bloqueio, após ter escalado Angra a 26 de Novembro de 1864. Dos outros, dois foram apresados e o último, o Run’Her, naufragou na Baía de Angra do Heroísmo.

Pelas informações recolhidas no Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo, sabe- se que coube ao cidadão americano Hunter Davidson, a tarefa de coadjuvar o capitão do Run’Her, Edwin Courtenay, na manobra do navio. Hunter Davidson, nascido no estado da Virgínia em 1827, foi nomeado para o cargo de guarda-marinha a 29 de Dezembro de 1841, após ter concluído os seus estudos na United States Naval Academy de Annapolis, Maryland, naquele que foi o segundo curso a ser ministrado nesta instituição. A sua carreira naval prosseguiu com a sua nomeação a tenente, no ano de 1855 e terminou cinco anos mais tarde quando Hunter apresentou a sua resignação, pouco antes de se juntar à população rebelde do seu estado natal.

É durante o decorrer do primeiro ano do conflito armado que Davidson é nomeado para o posto de 1º tenente da Marinha Confederada, em Junho de 1861. Durante a guerra veio a ocupar vários cargos, quer embarcado, quer em terra, distinguindo-se pelo papel que desempenhou aquando da primeira escaramuça havida entre dois navios couraçados, o CSS Virgínia e o USS Monitor. Após o fim da sua comissão de serviço a bordo do CSS Virgínia, Davidson dedicou-se de corpo e alma à idealização de minas submarinas, tendo sido assistente de Matthew Fontaine Maury, brilhante cientista naval. Quando este último foi destacado para serviço de investigação na Europa, Davidson tomou a peito as tarefas de melhoramento, construção e posicionamento de minas navais no interior do leito do rio James, no âmbito do plano de defesa da capital sulista, Richmond, tendo os seus esforços sido amplamente recompensados com o afundamento de vários navios nortistas. Davidson foi também o responsável pela formação do Naval Submarine Battery Service, serviço este que respondeu pelo afundamento de algumas dezenas de embarcações da União. Em 1864 Davidson foi promovido a comandante - após um semi-submarino por si comandado ter, num ataque particularmente bem sucedido, danificado seriamente a fragata a vapor USS Minnesota, naquela que foi uma das primeiras operações bélicas de um submarino em teatro de guerra. m meados de 1864, Davidson tinha concebido um sistema eléctrico altamente sofisticado de detonação de minas navais o que o tornou no maior perito, a nível mundial, em armas deste género. Devido à dificuldade em obter nos estados Confederados as matérias primas e os equipamentos necessários para esta nova arma, Davidson foi destacado para a Inglaterra onde veio a trabalhar com os maiores especialistas ingleses nas áreas da telegrafia subaquática e dos explosivos.

Entre os vários materiais usados - e embarcados no Run’Her - contavam-se vários tipos de acumuladores e baterias eléctricas, cabo eléctrico submarino isolado, equipamentos de ebonite destinados a tornar as minas estanques, interruptores de telégrafo, sistemas de teste, detonadores e estruturas de minas por construir. Estas minas eram extremamente eficientes, extremamente mortíferas e desesperadamente precisas num teatro de operações que se caracterizava pelo domínio naval do Norte Construído pelos estaleiros de John & William Dudgeon, em Isle of Dogs, Londres, o Run’Her possuía cerca de 70 metros de comprimento, 8 metros de boca e 3,5 metros de calado, deslocando cerca de 343 toneladas. Partindo de Londres, com 50 pessoas de tripulação, o vapor demorou quatro dias a chegar à Terceira onde veio naufragar no interior do porto, ao que parece por culpa do capitão Edwin Courtenay.

O jornal O Angrense dá-nos um breve sumário do desastre: "Sinistro - Sábbado 5 do corrente, pelo meio dia, pouco mais ou menos, aproximou-se deste porto o vapor inglez Runher, de 343 tonelladas, capitão E. Courtenay, com 51 pessoas de tripulação, com carga de víveres, proveniente de Londres, com destino para as Bermudas, trazendo 4 dias de viagem. Ao entrar no porto, seguindo a toda a força, passou entre os navios ancorados e tomando um bordo bastante à terra encalhou junto ao cáes da alfandega, a bem pouca distancia. O commandante, a cuja imprudencia só se deve tal sinistro, fez esforços para recuar o navio, mas foram baldados. O navio era a primeira viagem que fazia. O commandante precipitou-se, porque se tivesse esperado o pratico, teria fundeado sem perigo algum junto ao outro vapor que se achava no porto. São sempre africanadas que custam caro aos donos dos navios e que podem desacreditar o porto."

No próprio dia em que era dado à estampa o Boletim Oficial que noticiava o naufrágio, era arrematado, por 800$000 reis, o casco do vapor com todo o seu recheio, à excepção da máquina e de uma caixa COM platina. Infelizmente para o comprador, enquanto que a 19 de Dezembro de 1864 se procedia à arrematação pública dos salvados do Run’Her - que subiram em geral a um preço fabuloso - o navio era completamente destruído por um vendaval, na noite do mesmo dia. Parte da sua carga permaneceu ainda em Angra, tal como se pode comprovar pela aquisição por parte dum navio inglês proveniente do México de vários caixotes de carne provindos da carga salvada, a 9 de Abril de 1865, cinco meses depois do naufrágio.

Após o naufrágio do Run’Her, Davidson regressou a Inglaterra - tendo partido de Angra para Lisboa a 18 de Novembro de 1864 no vapor português Maria Pia que transportava também trinta e cinco marinheiros ingleses - onde veio a assumir o comando de um outro navio procedente dos estaleiros Dudgeon, o City of Richmond. Este navio - transportando também equipamento destinado à construção de minas navais - foi desviado da sua viagem inaugural para ir prestar assistência ao couraçado CSS Stonewall. Este atraso foi o suficiente para o que o City of Richmond visse chegar o fim da guerra antes que pudesse vir a atingir qualquer porto Confederado. Depois da guerra, Davidson nunca chegou a regressar aos Estados Unidos. Serviu como oficial de marinha em diversas forças navais da América do Sul e chegou mesmo a combater na Guerra da Tripla Aliança contra o Paraguai. Davidson serviu também como consultor tecnológico no fabrico de minas navais e torpedeiros até à sua morte, em 1913, no Paraguai."


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6.11.03


A HIPOCRISIA FACE A CUNHAL

Mas que exibição de hipocrisia a pretexto das palavras de Cunhal!

O que é que Cunhal diz que não se encontre, na sua substância (a forma é outra coisa), um pouco por todo o lado na esquerda radical? Digam lá, caso a caso, do que é que discordam?

Cunhal : “Na evolução da sociedade, a revolução russa de 1917, sob a direcção de Lénine e do partido dos bolcheviques, fica marcada, em milénios de história, como a primeira e única a estabelecer o poder político das classes anteriormente exploradas e a empreender com êxito a gigantesca tarefa de construir uma sociedade sem exploradores nem explorados.
Com o seu poderio, alcançado pela construção do socialismo, a União Soviética alterou a correlação das forças mundiais, manteve em respeito durante décadas o imperialismo, tornando a competição entre os dois sistemas um elemento dominante na situação mundial
.”

Na linguagem marxista deslavada da actualidade, não seria difícil reescrever a mesma frase, com exactamente o mesmo conteúdo, mas tornando-a muito mais aceitável. Em que é que esta análise é diferente da que fazem os trotsquistas do PSR ou os pós-maoístas da UDP? Em que é que é diferente do que escreve o tão saudado Hobsbawm? Retiradas as modernices verbais, o que é que está escrito no Império de Negri senão isto mesmo? Os lamentos com o mundo “unipolar”, que papel póstumo dão à URSS, senão esse de ter “mantido em respeito” o “imperialismo”? Que sentido tem a dualidade “globalização capitalista” versus “globalização popular”, senão manter a competição “entre os dois sistemas” ?

Cunhal: “À acção terrorista de 11 de Setembro, os Estados Unidos responderam fomentando organizações e acções terroristas, desencadeando agressões e guerras que vitimam igualmente milhares de civis. Proclamando serem os campeões da luta contra o terrorismo, os Estados Unidos tornaram-se a principal força do terrorismo mundial.

Esta então digam lá de que discordam? Tanto quanto eu saiba, manifestações da esquerda em Portugal nunca houve contra Kadafi (pelo contrário, houve quem recebesse dinheiro dele), contra a dinastia norte-coreana, contra Cuba, contra o Hamas, contra Saddam. Só me recorda haver contra os EUA e com cartazes a dizer “Bush assasino e terrorista”. O que é que Cunhal diz que os escandaliza tanto?

Cunhal: “Os trabalhadores, os povos e as nações não podem aceitar que tal ofensiva global seja irreversível. E, se assim é, importa considerar se há e, havendo, quais são as forças capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo.

A nosso ver, são fundamentalmente:

Primeiro: Os países nos quais os comunistas no poder (China, Cuba, Vietname, Laos, Coreia do Norte) insistem em que o seu objectivo é a construção de uma sociedade socialista. Apesar de ser por caminhos diferenciados, complexos e sujeitos a extremas dificuldades, é essencial para a humanidade que alcancem com êxito tal objectivo."


Aqui está a principal diferença face a Cunhal: já ninguém acredita que haja um “campo socialista”, e muito menos com estes parceiros. Mas já quanto a Cuba …

Cunhal: “Segundo: os movimentos e organizações sindicais de classe, lutando corajosamente em defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores.

Terceiro: partidos comunistas e outros partidos revolucionários, firmes, corajosos e confiantes.

Quarto: movimentos patrióticos, com as mais variadas composições políticas, actuando em defesa dos interesses nacionais e da independência nacional.

Quinto: movimentos pacifistas, ecologistas e outros movimentos progressistas de massas.

É no conjunto destas forças que pode residir e que reside a esperança de impedir a vitória final da ofensiva do capitalismo visando impor em todo o mundo o seu domínio universal e final. "


Nestes últimos casos, qual é também o escândalo? Nas manifestações contra a globalização não está de braço dado toda a parafernália de movimentos que Cunhal enuncia?

Cunhal incomoda-os porque a forma, a linguagem e o estilo, fazem parte de um passado de que ninguém quer ser herdeiro. Cunhal lembra o movimento comunista internacional. Lembram-se? Existiu, não existiu? Mas tudo o resto, o conteúdo, a substância, lê-se todos os dias um pouco por todo o lado.

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ESTADO DE DIREITO

Antes do 25 de Abril, o estado de direito começava fora das fronteiras portuguesas e espanholas depois dos Pirinéus. Hoje, em Portugal, acaba às portas fechadas a cadeado da Universidade de Coimbra. Se os cadeados fechassem uma fábrica no vale do Ave, ou da Marinha Grande, já lá estava o Corpo de Intervenção da GNR, como os estudantes são da classe social certa, ninguém mexe uma palha perante a ilegalidade.

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QUEBRAS


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E A NOSSA GUERRA CIVIL

tão fundadora do que somos como a guerra da Secessão, e sobre a qual não há nada que, de perto nem de longe, se aproxime da série americana? A ignorância actual sobre esse evento é quase total, e nem sequer persiste na memória escolar e cívica, como a guerra da Secessão no imaginário americano. E, no entanto, liberais e miguelistas travaram um duro e cruel combate durante um longo período de tempo, que revolveu Portugal, de Lisboa à mais longínqua terra de Trás-os-Montes. Mil e uma histórias fabulosas, de valentia e cobardia, crueldade e compaixão, imbecilidade e prosápia, inteligência e valor, estão escondidas em livros e gravuras oitocentistas.

Se procurarmos bem não faltarão palavras, nem imagens para contar áudio - visualmente essa complexa história do nosso século XIX. Será que a televisão “da sociedade civil” vai produzir documentários deste tipo? Ou a SIC ? Ou temos que fazer uma pequena revolução civil e começar uma "viewers sponsored tv", paga por quem se interessa por estas coisas e tem dinheiro para as pagar, muitos pouco, alguns muito? Verdadeiramente o que é que nos impede, aos que são liberais e não estão sempre à espera do estado? Talvez a nossa inércia. Fica a ideia.

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GUERRA CIVIL AMERICANA

Continuo a ver os episódios da série de Ken Burns ( existe um endereço da PBS para a série), com o mesmo prazer e sentimento. Agora começo a dar nova vida a nomes que até agora eram para mim outra coisa: a começar por Lincoln, sobre o qual o meu saber era completamente estandartizado; Frederick Douglass, que sabia quem era e nada mais (vale a pena ver os seus papéis); Robert E. Lee, uma das personagens mais interessantes do conflito e que escolheu o “patriotismo” do seu estado (Virgínia) em detrimento do dos EUA; Jonh Brown, o “meteoro” que incendiou a guerra; Farragut que era uma estação de metro em Washington, agora é o almirante da União, etc., etc.

Não há riqueza para a memória que se compare a esta, a este erguer de gente do passado dos nomes vazios em que está “imortalizada”, para o meu presente ( e o dos outros). Esta é uma das razões porque me interesso pela biografia, pela história biográfica.

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ACTUALIZAÇÕES

na parte já invísivel ( e no entanto foi só ontem!): acrescentados comentários à nota ATITUDES sobre Wellington.

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PARA NÃO VER


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LUÍS ANTÓNIO VERNEY SOBRE AS PRAXES

"(...) V.P. está em uma Universidade, onde é fácil desenganar-se com os seus olhos. Entre no Colégio das Artes, corra as escolas baixas, e verá as muitas palmatoadas que se mandam dar aos pobres principiantes. Penetre, porém, com a consideração o interior das escolas; examine se o mestre lhes ensina o que deve ensinar: se lhe facilita o caminho para entendê-la; se não lhe carrega a memória com coisas desnecessaríssimas. E achará tudo o contrário. O que suposto, todo este pêso está fora da esfera de um principiante. Ora, não há lei que obrigue um homem a fazer mais do que pode, e castigue os defeitos que se não podem evitar.

Não nego que deve haver castigo; mas deve ser proporcionado. Um estudante que impede que outros estudem; que faz rapaziadas pesadas, etc., é justo que seja castigado e, havendo reincidência, que seja despedido. Seria bom que nessa sua Universidade se desse um rigoroso castigo, ainda de morte, aos que injustamente acometem os novatos, e fazem outras insolências. A brandura com que se tem procedido neste particular talvez foi causa do que ao depois se fez, e ainda se faz. Neste particular seria eu inexorável, porque a paz pública, que o príncipe promete aos que concorrem para tais exercícios, pede-o assim; e em outros reinos executam-no com todo o rigor. Falo somente do castigo que se dá por causa de não acertar com os estudos. A emulação, a repreensão, e algum outro castigo deste género faz mais que os que se praticam
."

Luis António Verney, Verdadeiro Método de Estudar (cortesia de Américo Oliveira)


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EARLY MORNING BLOGS 72

Continuo com António Machado (um dia destes voltamos às canções matinais) o meu lenitivo pela aurora:

"Cuatro cosas tiene el hombre
que no sirven en la mar:
ancla, gobernalle y remos,
y miedo de naufragar.
"

*

Lendo os blogues: os de “direita” estão, nestes dias, explicativos, citacionais, sottovoce e pedagógicos; os de “esquerda” cheios de ácido e bragadoccio. Como se uns procurassem a sua razão perdida e os outros alimentassem a sua paixão em perda. No meio, navegam aqueles a que eu chamo os “blogues calmos”: os que, também nestes dias, têm menos “miedo de naufragar”.

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VER A NOITE

De novo – há quanto tempo! – uma lua japonesa. E um ruído permanente, agora aqui, agora ali, das folhas a cair com o vento. Partem do topo e vão batendo umas nas outras, até ao chão. Será que só morrem à noite? Será que esperam que ninguém as veja?

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IMAGENS

de ontem são de Eduardo Paolozzi, a “Shooting Gallery”, de 1947, e um fragmento da Anunciação do Mestre de Flemalle, do início do século XV. As janelas, o espanador e outros objectos completamente prosaicos estão à volta da Virgem.


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5.11.03


DÓNDE ESTÁ LA UTILIDAD / DE NUESTRAS UTILIDADES?

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ATITUDES (Actualizado)

Esta carta do duque de Wellington ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em Londres, enviada durante as campanhas ibéricas contra Napoleão, representa um daqueles momentos ímpares em que há uma atitude, uma simples, clara e frontal atitude. Não abundam.

"Exmºs Senhores:

Enquanto marchámos de Portugal para uma posição que domina a aproximação a Madrid e das forças Francesas, os meus Oficiais têm cumprido diligentemente os vossos pedidos, enviados no navio de Sua Magestade, de Londres para Lisboa e daí, por estafeta a cavalo ao nosso quartel general.

Enumerámos as nossas selas, rédeas, tendas e respectivas estacas e todos os «itens» pelos quais o Governo de Sua Magestade me considera responsável. Enviei relatórios sobre o carácter, capacidade e índole de todos os Oficiais.

Foram prestadas contas de todos os «itens» e todos os tostões, com duas lamentáveis excepções para as quais peço a vossa indulgência.

Infelizmente não nos é possível responder pela soma de 1 xelim e nove dinheiros, do fundo para o pagamento de pequenas despesas de um batalhão de infantaria, e houve uma lamentável confusão quanto ao número de frascos de compota de framboesa entregues a um regimento de cavalaria, durante uma tempestade de areia no oeste de Espanha.

Este descuido censurável pode ser relacionado com a pressão das circunstâncias, uma vez que estamos em guerra com a França, facto que poderá parecer-vos, senhores, em Whitegall, um pouco surpreendente.

Isto traz-me ao meu objectivo actual, que consiste em pedir ao Governo de Sua Magestade instruções sobre a minha missão, de modo a que eu possa compreender melhor a razão porque estou a arrastar um exército por estas planícies estéreis. Suponho que, necessariamente, deve ser uma das duas missões alternativas, como abaixo indico.

Prosseguirei qualquer delas, com o melhor da minha capacidade, mas não posso executar as duas:

1. Treinar um exército de escriturários britânicos para benefício dos contabilistas e moços de recados de Londres, ou, talvez:
2. Providenciar no sentido de as forças de Napoleão serem expulsas de Espanha.

Assinado
O vosso mais obediente servo
Wellington
"

(enviada por Américo Oliveira, e reproduzida da revista Dirigir, nº2)

*

"Ao ler o seu post (ou posta? e posta de quê?) sobre Arthur Wellesley, primeiro duque de Wellington, lembrei-me de um livro que li recentemente: "Napoleão e Wellington"; nele pude constatar uma coisa fantástica, que ainda separa o nosso mundo daquele em que Wellington vivia (a Inglaterra do final do século XVIII e princípio do século XIX, em confronto com uma França imperial, da qual herdámos muito): a noção de responsabilidade que os chefes militares, funcionários públicos, tinham. Wellington mencionava várias vezes as explicações que teria de dar ao parlamento por cada libra gasta, por cada homem perdido, por cada canhão tomado pelo inimigo. Napoleão, sendo um ditador, não tinha de prestar contas a ninguém, e podia perfeitamente dar-se ao luxo de perder um milhão de homens ou gastar fortunas em guerras insensatas. Wellington fazia questão de pagar os bens adquiridos aos populares dos sítios por onde passasse, e, depois de ter derrotado Napoleão, não permitiu que este fosse morto pelos aliados austríacos, visto que o direito britânico não permitia execuções sem julgamento. Para ele não se tratava de nenhum incómodo, era apenas assim que tinha de ser. Quem nos dera a nós, duzentos anos depois, termos pessoas assim ao nosso serviço! Os nossos pequenos ditadores - presidentes de câmaras, ministros, etc - ainda se comportam como se o poder lhes pertencesse, como se não tivessem de prestar contas a ninguém."

(Ricardo Peres)




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SHOOTING GALLERY


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IMAGENS

dos últimos dias: as crianças do “honest day” são de Ipolit Strambu, os livros em cima da mesa de Joseph Solman, as árvores ao fundo de Gerhard Richter e as flores de Fantin-Latour. Vêm de milhares e milhares de quadros, de imagens inventadas, uma superfície artificial que tenta cobrir o mundo com mais beleza. O homem engana-se assim, mas podia ser pior.

*

"As "Rosas" de Henri Fantin-Latour foram a capa de um dos mais consagrados discos pop dos anos 80, "Power, Corruption & Lies" dos New Order."

(Nuno Figueiredo)


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HISTÓRIA E LITERATURA

Muitas vezes penso que bastava a criação, a poiesis, e que nada mais era preciso. Estava tudo lá: não é a batalha de Austerlitz na Guerra e Paz “melhor” do que qualquer descrição do que aconteceu no terreno?

Depois, ao ver e ouvir esta série (como aliás com o Shoah de Lanzmann), tenho a certeza de que não basta a literatura. Não está tudo lá. Faltam palavras, faltam as palavras dentro da memória, e a memória não é totalmente solúvel na poiesis. Há uma realidade incontornável nos acontecimentos da história, mesmo que os leiamos de forma “literária”, que nos diz sempre mais alguma coisa. E numa guerra civil com a violência da americana, é a do modo como a guerra atravessa os homens simples, os homens comuns. Pensando bem, não há muitos homens comuns, na literatura.

(Mas, na literatura e na arte, onde eles mais estão é na americana - em Walt Withman, na música – sempre há uma Fanfare for the Common Man - no cinema, etc).

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O VALOR DA PALAVRA (Actualizado)

no século XIX era maior do que no século seguinte. Da palavra oral e da palavra escrita, principalmente em panfletos, jornais e correspondência. Em particular nesta última. No século XX, a palavra começou a ser gritada pelos altifalantes (como sempre tenho insistido, fascistas e comunistas “modernizaram” a propaganda e definiram o padrão do uso fetichista da palavra), e a perder significado, a não ser como uma ordem, brutal ou subliminar.

Tenho estado a ver (em DVD) uma magnífica história da guerra civil ,realizada por Ken Burns, feita apenas por palavras da época, lidas sobre fotografias ou paisagens. Palavras de gente célebre e de homens comuns. O efeito é poderoso. As coisas fabulosas que homens como Lincoln disseram, com uma mistura de verdade íntima, de afirmação moral e um leve toque de retórica, ou apenas de pensar bem e falar melhor. E não é preciso quase mais nada para percebermos a queda progressiva da União na violência, o dilacerar completo dos estados, os dilemas morais poderosos de gente que os tinha, mesmo na crueldade, mesmo sendo cruéis. Como é que foi possível continuar uma nação, reconstituir um patriotismo, que é o principal elemento de identidade de uma nação, depois do que aconteceu?

De facto, as palavras chegam para nos transmitir essa complexidade, porque por detrás delas está muita vida. Muita vida má.

*

"Cá só chega em desproporção a má América. Há também a América de "viewers sponosored tv" (PBS) sem cabo onde passam documentários como os de Ken Burns. (...) Ainda não vi o trabalho realizado por ele sobre a história do Jazz, mas espero um dia poder comprar. Tenho também alguma curiosidade pelo filme que ele fez sobre Lloyd Wright."

(Nuno Figueiredo)

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EARLY MORNING BLOGS 71

Pelo bom convívio, pela franca discussão, por não nos levarmos muito a sério

"¿Dónde está la utilidad
de nuestras utilidades?
Volvamos a la verdad:
vanidad de vanidades."


pela tolerância, que tantas vezes falta

"Es el mejor de los buenos
quien sabe que en esta vida
todo es cuestión de medida:
un poco más, algo menos..."


e por António Machado, que nos acompanha hoje, para refrigério da alma, como se dizia antigamente

"Hay dos modos de conciencia:
una es luz, y otra, paciencia.
Una estriba en alumbrar
un poquito el hondo mar;
otra, en hacer penitencia
con caña o red, y esperar
el pez, como pescador.
Dime tú: ¿Cuál es mejor?
¿Conciencia de visionario
que mira en el hondo acuario
peces vivos,
fugitivos,
que no se pueden pescar,
o esa maldita faena
de ir arrojando a la arena,
muertos, los peces del mar?"


Bom dia!

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4.11.03


OFFRANDE MUSICALE


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

PRAXES E PROPINAS

Frederico Mira George do Saudades de Antero enviou este testemunho eborense:

"Évora à noite costuma ser uma cidade de fantasmas e sombras de vampiros (que, como se sabe, não têm sombra, coisa de alentejanos). A cidade tumular que durante o dia assume o aspecto de monumento à desesperada tentativa de encontrar no passado o que não se sabe criar para o presente, torna-se à noite num lugar sem tempo, onde seria possível encontrar gente de todas as épocas, mortos e vivos a lamberem-nos o presente, atormentando-nos os sonhos com imagens de inquisidores, carrascos e poetas desesperados no seu encontro com a morte.

Numa destas madrugadas, junto à praça onde na idade média se acendiam as figueiras do santo ofício e hoje, simbolicamente, brota a agua de uma fonte. Dois rapazes de "meia idade", diria pelos seus 24, 25 anos, ajeitavam as suas capas e batinas. À sua volta algumas raparigas digladiavam-se para os ajudar a endireitar os colarinhos. Uma gritava pelo seu direito de preferência, gritava pelo seu direito de "afilhada" do "doutor". Assim mesmo: "- Eu é que o ajudo porque ele é o meu padrinho!". As outras cederam e afastaram-se. A matilha respeita sempre os direitos e garantias da espécie. No fim atacou-lhe os sapatos. Ainda gritaram mais uma tantas coisas e foram-se Porta-Nova fora. Ao longe ainda os ouvi grunhir umas notas de uma conhecida canção dos "beach-boys". A cidade voltou ao seu silêncio sepulcral.

Na manhã seguinte a Associação de Estudantes fechava a cadeado as portas dos edifícios da Universidade de Évora. Um dos edifícios, (...) acumulava uma série de "doutores", empenhados na causa da luta contra as propinas. Devo dizer que em relação às propinas, a minha opinião é que nem máxima nem mínima. O que é tramado é que um dos porta-voz da "luta" nesta cidade tinha estado na noite anterior a deixar-se arrumar no colarinho e em êxtase alcoólico observando, de cima, a cabecinha da sua "afilhada" a apertar-lhe os sapatos. E no meio das palavras de ordem e das justas reivindicações de um ensino universal e gratuito, lá andava a mocinha a dar mimos ao "padrinho".

O "doutor" gritava à menina: "- Ó (nome) vai buscar as chaves do carro". "Anda cá coisinha, anda dar beijinhos ao teus doutores".

A questão que se põe, é que para que uma luta ser séria tem necessariamente que ser protagonizada por pessoas genuinamente sérias. Quem são estes senhores e senhoras que conduzem as lutas contra as propinas? É que é evidente a minoria que representam os militantes do associativismo estudantil com verdadeiro empenhamento político, com genuínas preocupações sociais. Eles existem e trabalham. Mas que força tem o seu exemplo perante tamanha animalidade?

Que credibilidade pode ter um movimento social que age nos intervalos de sucessivas sessões de humilhação? Será possível gritar por direitos montado nas costas de um colega a fazer de cão?"


SAUDEMOS O ÍNDICO 2

O Piton de la Fournaise ainda não entrou em erupção, mas continua interdito aos visitantes.

Entretanto, continuam as precisões ( e os gostos) onomásticas sobre as ilhas do Índico. José Bento comenta a resposta de J H Coimbra,

que nas precisões, existia uma imprecisão relativamente ao uso da palavra Mauricias, quando na realidade o correcto é a palavra Mauricio. Ora se já visitou as Mauricias, sabe concerteza que a apesar de a língua francesa ser muito comum a língua oficial é o Inglês, assim sendo impõe-se a tradução a partir do Inglês e não do Francês.
No entanto impõe-se coerência e quando se refere á cidade Malgache (ou será Malgaxe?) de Tamatave, deve estar a referir-se a Taomasina, pois Tamatave é nome dado á cidade pelos Franceses na época colonial. Seria o mesmo que dizer " No ano passado em Lourenço Marques ..."


F.J.O.C. escolhe o nome pelo gosto:

É bonito alguém queixar-se da falta absoluta de gosto com que são cunhadas as palavras que usamos. Concordo que é um triste fenómeno, por ser essencialmente ignorante - não resisto à tentação de lhe lembrar mais um exemplo: "bin" Laden - que os anglófonos grafam assim para lerem "bên". Ben significa "filho de", nem sequer é um "de" qualquer, é uma partícula com significado.
Contudo, há-de concordar que "Ilhas Maurício" não goza da eufonia de "Ilhas Maurícias". E uma vez que reconhece que para a maioria de nós são essencialmente um lindo destino turístico - viva a calafona - Maurícias é muito mais bonito e adequado.”


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PRÓS E CONTRAS DA CONSTITUIÇÃO EUROPEIA

Assisto, com um misto de espanto, indignação e resignação (de facto não vale a pena o esforço…), ao programa da RTP sobre a Constituição Europeia. Conduzido com excesso de nervosismo e intervencionismo por Fátima Campos Ferreira, o programa revela toda a enorme ambiguidade no modo como o debate europeu é feito, quando não se quer discutir nada fora do círculo interior dos factos consumados e do sistema instituído. Um grupo altamente qualificado de pessoas convidadas, pouco plural nas opiniões europeias (ou melhor, plural nos detalhes e nos procedimentos, mas menos plural na visão global), é conduzido para uma discussão irrealista, completamente por cima das realidades fácticas, da realpolitik que é hoje central no jogo de poder europeu. Falavam como se a Constituição e o direito gozassem de uma autonomia em relação aos interesses, que hoje, mais do que nunca na história da União, são o jogo que se joga.

É verdade que ocasionalmente a realidade do poder, a realpolitik, entra na sala como um icebergue – Gama e Adriano Moreira enunciaram-na – mas, quase sem nos apercebermos, tiram-nos o Titanic do mar, como se tal passo de mágica fosse possível.
O icebergue está lá – por exemplo, a completa indiferença dos portugueses, e dos europeus em geral, sobre a Constituição. E o que é a “ignorância” traduzida nas sondagens senão indiferença , ou seja , falta de vontade política, falta de sentimento de pertença, sentimento de que são deixados à parte… falta de democracia? E, no entanto, ninguém quer saber e avança-se para a frente a todo o vapor.

Os ingleses têm sobre a União Europeia o mais brutal debate, muitas vezes roçando o ridículo, mas dizem verdades como punhos e, acima de tudo, discutem a partir da realidade, e falam de coisas que não entram, nem ao de leve, no debate do Prós e Contras. Aqui não se discute a lógica de poder da nova burocracia europeia de Bruxelas, a sua subordinação quase exclusiva ao poder de estados como a França, a Alemanha, a Espanha e o Reino Unido; a falta de vontade dos estados de ir mais longe na união política, disfarçada em políticas de face diferente (uma das quais, a franco-germânica, é exactamente a de utilizar como instrumento de hegemonia uma maior integração política, mantendo o comando dos mecanismos de subordinação); a impotência (também ela resultado das divisões europeias) da política externa europeia, institucionalizada para minar a relação atlântica sem lhe fornecer alternativa, e, acima de tudo, a perigosa deriva não democrática e elitista da União Europeia, andando para a frente a toda a velocidade, numa lógica de criar um estado europeu fictício em tudo menos no poder das nações a que serve.

É, faz falta um debate à inglesa, mas isso em Portugal será muito difícil porque o gigantesco consenso mata a diferença.

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2.11.03


IMAGENS

de ontem são de um mundo e de um anti-mundo. As “fadinhas” são do Bailado das Fadas da Colecção Manecas, um livro português de histórias infantis dos anos cinquenta, e a “cacofonia” de “L’Oeil cacodylate” de Picabia.

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COMENTÁRIOS

a O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES e EARLY MORNING BLOGS 70

Só um pequeno comentário acerca do comentário (passe a repeticão) do seu leitor: "desde quando é que os espectadores num estádio de futebol sao 'multifacetados' ? ". São facetados de forma diferente mas são tao multifacetados como os presentes num comício de um partido !
Em relação `as importações de "dia disto e daquilo", o exemplo mais engracado da influência do consumismo nas nossas vidas e hábitos passa-se em Italia onde existem dois dias de "Natal": o Natal a 25 de Dezembro e a Epifânia (carinhosamente chamado de Befana, pelos jovens italianos) a 6 de Janeiro. As criancas tem presentes nos dois dias. Quando e' que importamos esse ca' para Portugal ?”


(sergio J.)

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SAUDEMOS O ÍNDICO

Nas 'precisões' (…) sobre uma ilha do Índico encontro o que tomo por 'imprecisão': dizer 'Maurícias' parece-me mais uma reprodução onomatopaica do inglês 'Mauritius' do que a tradução do nome no mesmo idioma ou do francês 'Maurice' -- que seria para 'Maurício'. Portanto, digo eu..., 'ilha Maurício'.
Sei, porém, que mesmo em documentos oficiais (para não falar dos das agências de viagens) se optou pelo macaquear oral (depois reduzido a escrito) de 'Mauritius'... Paciência: também (o)usamos escrever 'Punjabe' porque os ingleses grafam 'Punjab' para dizer 'Panjabe'; 'Honguecongue'; etc.
Fora do contexto: quanto à ilha Reunião (vá la, aqui salvou-se a designação em português!) e sobetudo ao fogo do vulcão, há posts no blogue que me avivaram encantadoras lembranças (…) um passeio até Tamatave, Fianarantsoa, Antsirabé, Morondava, etc. E, outra lembrança no 'spot': uma incursão em monomotor aéreo até às 'Bassas' da Índia.
Escrevam 'Maurícias' ou 'Maurício' -- que importa?! --, mas saudemos os trópicos, saudemos o Índico!


(j h coimbra)

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MEMÓRIA: SPAM / NÃO SPAM


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SPAM

É impressão minha ou, na última semana, o lixo no correio electrónico aumentou exponencialmente?

Nos últimos vinte minutos recebi esta amostra : a “jenny j.” diz-me para “look what you get for 10 dollars” e oferece uma menina com “big tits”; a “A Real Opportunity” garante-me que posso “Earn More From Home “, mas eu recuso-me a carregar em qualquer destas ligações, logo não sei como; a “Evelyn Longoria”, um nome um pouco neo-rafaelita, manda-me a mais explicita das mensagens “Alprazolam.m Xanax.x Vicodin.n Valium.m uyankcvj hlu” ; e a “Marisela” oferece-me, com um Verão de atraso, “The summer of 2003...get ready now” e

1.Body Fat Loss
2.Wrinkle Reduction
3.Increased Energy Levels
4.Muscle Strength improvement
5.Increased Sexual Potency
6.Improved Emotional Stability
7.Better Memory”


Que mais é preciso na vida, do que “wrinkle reduction” ? Dinheiro. E o “You Did It” oferece-me “Get $2500 credit line and cash advances up to $1000” e o “Uncle Sam” , ele mesmo, promete “Takes Over Your Bills” e os montantes não são de desprezar:

“$9,500.00 to pay any bills
$2,800.00 to pay your heating bills
$1,200.00 to pay your mortgage or rent
$15,000.00 to pay for child care
$3,000.00 to help buy a car
$4,000.00 to pay closing costs on a home
$500.00 to pay your property taxes
$700.00 to pay utility bills
$800.00 to pay your food bills
$4,800.00 to pay for family expenses
$3,000.00 to volunteer in your neighborhood
$500.00 to pay your pet's veterinarian bills

Even $1,000.00 to pay your bills while you're waiting for other government money!


Felicidade perfeita! O mais bizarro é que isto parece que resulta.

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O IMPÉRIO DO ENGRAÇADINHO

Uma pecha portuguesa é a de não ter humor, mas achar-se engraçado, ou melhor, engraçadinho. O engraçadinho é uma praga nacional, exercida por milhões de portugueses que contam anedotas sem graça, e transportaram agora para a televisão o mesmo hábito da anedota grossa, com umas personagens que parecem saídas de um comedor rápido de Odivelas para gravarem cassetes, vídeos, DVDs e mensagens telefónicas das ditas. O mesmo engraçadinho que se repete, sem um átomo de imaginação, nas praxes e outras “brincadeiras” estudantis, espelho da nossa pobreza.

Bergson, que escreveu sobre o “riso”, achava que, mais do que qualquer outra actividade, rir-se nos diferenciava dos animais. Mas falava do riso e não de esgares mais ou menos ritmados, que isso penso que até uma moreia ou uma amêijoa são capazes de fazer.

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AN HONEST DAY


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EARLY MORNING BLOGS 70

O número de Erdös aplicado aos blogues é um grande achado da Klepsydra, que também se irrita com a importação de Halloween (na minha aurea mediocritas, ainda domina o “pão por Deus”). Acrescento às importações mal amanhadas de “dias”, a do Dia de S. Valentim, o Dia dos Namorados, outra invenção típica da era dos Centros Comerciais.

Irritar, irrita um bocado (aliás um comportamento genuinamente blogosferico), mas, pensando bem , who cares?, senão daqui a pouco estamos a defender as “excepções culturais”. Para contrabalançar com o ar do mundo, esta constatação (um galicismo penso…) dos U2 , com palavras de Bono ( cortesia da Cláudia Vicente) de que “some days are better than others”

Some Days Are Better Than Others

"Some days are dry, some days are leaky
Some days come clean, other days are sneaky
Some days take less, but most days take more
Some slip through your fingers and on to the floor

Some days are you're quick, but most days you're speedy
Some days you use more force than is necessary
Some days just drop in on us
Some days are better than others

Some days...it all adds up
And what you got is enough
Some days are better than others

Some days are slippy, other days are sloppy
Some days you can't stand the sight of a puppy
Your skin is white but you think you're a brother
Some days are better than others

Some days you wake with her complaining
Some sunny days you wish it was raining
Some days are sulky, some days have a grin
Some days have bouncers and won't let you in

Some days you hear a voice
Taking you to another place
Some days are better than others

Some days are honest and some days are not
Some days you're thankful for what you've got
Some days you wake up in the army
And some days...it's the enemy

Some days you work, most days you're lazy
Some days you feel like a bit of a baby
lookin' for Jesus and His mother
Some days are better than others

Some days...you feel ahead
You're making sense of what she said
Some days are better than others. "


(in "Zooropa", Island/Polygram, 1993, Palavras de Bono Vox, Música dos U2 )

Tenham um bom dia, “an honest day”.

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1.11.03


IMPÉRIOS COLONIAIS 2

Sobre a nota com este título, José Bento envia-me as seguintes precisões:

- "As ilhas francesas no canal, já foram revindicadas por Madagascar, mas a França é a potência local e não permite sequer que se aflore a questão.

- As Mauricias revindicam há muito uma quota de pesca, na ZEE da Kerguelen, da espécie Legine, repetidamente negada.

- As Mauricias reclamam a Ilha de Tromelin."


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CACOFONIA



O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

A FALTA

Eu sei que foge muito ao que pretendia sobre o amanhecer... Mas a verdade é que havia, para mim, amanheceres dos quais sinto falta... Falo de todos aqueles que começavam com um olhar lançado para a última página do DN, com o intuito de desfrutar da crónica de Vasco Pulido Valente. Sextas, Sábados e Domingos começavam assim... Boas manhãs que gostaria de reviver.
(Paulo Agostinho)

DETALHES

Há um livro de um ex-professor meu, o Daniel Arasse, que se chama justamente Le Détail, e que está publicado na Champs Flammarion. Arasse era já há vinte anos, quando tive a sorte de ser aluna sua , o perito em arte do Renascimento que depois o tempo não fez mais do que confirmar. Diz ele nesse livro, e estou a citar de cor, que o pormenor do quadro que deixamos passar, que não vemos à primeira vista, é justamente o que condensa todo o sentido do quadro. Sem o pormenor - e fala de uma idade da pintura em que, ao contrário do que hoje acontece, a representação da realidade é a própria razão da existência dessa pintura - é o "dar a ver" que está em causa, porque o que se daria a ver estaria forçosamente incompleto sem o pormenor e a sua interpretação seria, então, errónea...

Histórias de mensagens que chegam de um artista a um público, portanto. Podíamos, sem grande esforço, passar da arte para a esfera da literatura. Só que, com a mudança do modo de ver que ocorre no século XIX - e que é acelerada pela difusão em massa da fotografia e do cinema - o antigo "modo de ver" a arte fica irremediavelmente condenado. Quem passa hoje uma hora em frente da Mona Lisa, quem percebe, por exemplo, que ela se apoia numa varanda de estilo renascentista? Hoje o ver é diferente; e a surpresa que os seus pormenores me causam está relacionada certamente com um acréscimo de velocidade em tudo o que fazemos que nos impede, também, de observar o pormenor. Não há nada de saudosista nesta constatação.

(Luísa Soares de Oliveira)

INAUGURAÇÃO DE UM ESTÁDIO E VAIAS

Não posso deixar de discordar da sua opinião relativamente à presença do PR e do Primeiro Ministro na inauguração do novo Estádio da Luz. A presença de tais figuras não é redundante ou dispensável mas antes imprescindível dada a natureza e dimensão do evento. Longe de confundir política e futebol esta presença só pode identificar os portugueses, que em maioria seguem pelo menos regularmente este desporto, com a sua classe dirigente. Até do ponto de vista democrático acaba por ser saudável uma vez que poucas são as ocasiões em que os políticos se sujeitam a uma exposição crua a tamanha multidão, com as respectivas vaias ou aplausos de sua justiça.

Poucos serão os espaços hoje em dia que compreendam um grupo de pessoas tão vasto e socialmente multifacetado como o que se encontra num principal estádio de futebol lotado. Acabam por ser o mais próximo que há de um "espelho" da sociedade.

(António Baptista)

A inauguração do novo e luxuoso estádio da luz, foi envolta num espectáculo mediático tão intenso e tão bem elaborado que quando contactei com aquele momento julguei que se tratava de algum filme de Hollywood, não fossem as personagens tão bem conhecidas.
O ambiente criado de tão espectacular que era fez-me pensar, sendo que para o fazer correctamente, consciencializei-me que teria de fazer um exercício, complicado admito, de me abstrair daquele espectáculo todo.

(…) Outro aspecto que fui tendo oportunidade de dissecar, foi o porquê de tantas figuras mediáticas. Uma resposta dada imediatamente, diz-nos que o Benfica é sem dúvida o maior (entenda-se em nº de sócios) clube português, e que tal facto por si só justifica a presença de, um Presidente da República, que se diz de todos os portugueses, e que vai ao estádio da luz representar uma proporção, que embora grande não é total, e que afirma a alto e bom som, que aquele estádio é um contributo para o desenvolvimento do desporto em Portugal, aquele mesmo que irá servir para 3 ou 4 jogos do Euro2004, e durante o resto do tempo será utilizado de quinze em quinze dias por 22 profissionais, que na sua grande maioria não são portugueses, apetece perguntar que desporto e que desportistas!!!

Um Primeiro-Ministro que, não se cansa de apelar, e muito bem, à contenção orçamental e que, sujeitando-se a um espectáculo deprimente de assobios, vai lá para aplaudir uma obra que não faz menos às contas do clube do que aumentar o seu défice, que grande exemplo Sr. Primeiro-ministro! A mesma personalidade diz que o Benfica e o seu estádio são a marca que Portugal melhor projecta no estrangeiro, bom assim está justificada a péssima imagem de que gozamos no estrangeiro e que certamente gozaremos no futuro, até porque o Sr. Primeiro-Ministro bem sabe que os resultados não se alcançam melhorando o exterior se o interior continuar podre, o que pode acontecer é que um dia a "a casa vem abaixo"! Um ministro que com a sua participação naquele espectáculo apenas deu uma imagem de um fundamentalismo perigoso, para quem está no poder! Um ministro e um secretário de estado do desporto, que só vieram confirmar a sua posição de figurantes, pois se aquele acontecimento era para o bem do desporto português onde estavam os governantes responsáveis directamente por esse fenómeno, todos tiveram oportunidade de falar (até que não fosse para ter protagonismo e sentir o que é falar para 65 mil pessoas, oportunidade impossível noutras circunstâncias), caso do Sr. Presidente da Câmara de Lisboa! Bem poderíamos continuar por aqui fora neste exercício, muito fácil se conseguirmos e pretendermos atingir aquele estado de distanciamento necessário para criticarmos correctamente.

Gostaria de deixar uma última nota para os assobios que foram dirigidos ao Primeiro-Ministro, apesar de ter consciência que o comportamento em multidão e naquele estado de festa tão complicado de avaliar, sou da opinião que apenas dá uma imagem da ingratidão das pessoas, isto porque foi aquele mesmo Primeiro-Ministro que abriu um precedente grave, aquando da aceitação das acções do Benfica como garantia, enfim apenas um reflexo
.”
(Hugo Durão)

PRAXES

Eu, ha alguns anos, que não era e nunca fui aluno do IST, fui quase praxado porque acompanhava um colega que tinha entrado. Só não aconteceu porque não estive com delicadezas com os Doutores Engenheiros e eles então desisitiram da ideia.

Concordo totalmente com o que disse sobre este hábito absurdo da praxe.Neste reviver do passado que nunca existiu, com a excepção de Coimbra. Eu acho curioso como é que as Senhoras Doutoras compram aquelas fatiotas ridiculas que afirmam, totalmente, a sua condição de mulheres (de saias). Até nisso a tradição é retrógada. Não conheço nenhuma fatiota de Doutora com calça em vez de saia. Conhece?

Eu penso que nós gostamos de imitar o pior da América ficcional, então decidimos que deveriamos ter "Animal House"(s), sem a piada de Belushi, mas com as másnotas, bebedeiras e uma selvajaria ainda maior que nesse républica fantasista do filme.”


(Nuno Figueiredo)

Não é só a natureza imbecil e, muitas vezes, doentia dos que praticam as praxes que importa denunciar. É também a forma apática e estranhamente conformista como os caloiros se deixam violentar sem o mínimo protesto ou a mais leve contestação. Aflige-me verificar como jovens de dezoito anos - ou seja, jovens que, supostamente, já têm alguma noção dos seus direitos e capacidade para fazer escolhas (por exemplo, políticas) – não sabem dizer “Não!”. Eu, que não fui mais nem menos que os meus colegas no tempo em que frequentei a universidade, recusei ser um figurino dessas palhaçadas. Tive consciência que podia escolher não ser humilhado ou maltratado. E escolhi.
Em boa verdade, não é só a bestialidade e a boçalidade dos pseudo-doutores praxistas que está aqui em causa. É também a total imaturidade, a latente letargia e a falta de sentido crítico que caracterizam, hoje em dia, os jovens acabados de entrar na maioridade. No fundo, muitos deles acabarão iguais aos «engraçadinhos». Infelizmente, parece ser tudo farinha do mesmo saco.”


(Carlos “MacGuffin” do Contra a Corrente)

CONSTITUIÇÃO EUROPEIA

E faz algum sentido haver uma União Europeia sem Constituição? Na minha opinião, se a UE pára, morre, como todas as coisas. Aliás já começa a apresentar sinais de doença, graças à posição da Inglaterra, e ainda está na adolescência. Acho que é daqueles casos em que apesar de não sabermos para onde vamos, a atitude sábia é continuar em frente. Culturalmente, seremos hoje, cada um de nós, na nossa íntima essência, mais Portugueses ou Europeus?

Finalmente, quanto à soberania, "it's just another word for nothing left to loose". Não é?


(Manuel Ricca)

(Continua)


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NO MEIO DO ÁCIDO

Dois momentos que valem: a frase sinistra e verdadeira do Icosaedro (e o esplendor gráfico da página inicial)

existem assuntos sobre os quais preferia não ter opinião formada.

e quase todo o Memória Inventada.

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LEITURAS DE VOO

desta vez não foram brilhantes, talvez porque, num chauvinismo quase constante e irritante, os aviões franceses não trazem jornais em inglês. A única excepção era o Financial Times. E não era por acaso, ou se tinham esgotado, porque perguntei: mas não há pelo menos o International Herald Tribune e a resposta foi que não, não havia, nem costumava haver.

Li então , o Figaro, o Le Monde e o Nouvel Observateur. Começo pelo último, que não lia há séculos e cuja leitura me confirmou o bem fundado da recusa. Trazia um extenso artigo sobre os “manipuladores de informação”, aqueles que os ingleses chamam “spin doctors”, sem o mínimo interesse comparado com o que é habitual, - de novo, mas tem que ser dito ,- na imprensa anglo-saxónica, onde esse tipo de actividade é notícia comum. No artigo do Nouvel Observateur, tudo aparecia como se fosse novidade e a análise empalidecia por comparação.

Já no Figaro e no Le Monde, havia coisas mais interessantes. O Fígaro trazia uma notícia sobre a renovação da force de frappe nuclear francesa e sobre a doutrina aceite pela França do cenário de um ataque nuclear a nações que usassem armamento químico e biológico. Pelos vistos, não são só os americanos.

O Le Monde trazia vários artigos sobre um tema recorrente franco-galo-francês: le déclin. Para além dos artigos de opinião, havia um dossier sobre a boa performance francesa no domínio do “social”. No entanto, começa a haver um enorme incómodo político com a verificação da retoma americana e o atraso europeu.

Para temperar, li um número antigo da Granta, dos que estão empilhados na estante “para ler”, sobre “Necessary Journeys”, que me pareceu, digamos, adequado.

Por último, vi, naqueles minúsculos ecrãs, o filme por excelência para os grandes: o último Matrix. Mas é tão mau, tão mau, que até num ecrã de relógio se pode ver.

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ASSIM SE FAZEM AS COISAS

No meu regresso, li com espanto (que já não é sequer grande, porque isto é habitualíssimo), uma pergunta a Fernando Lima, na entrevista do Correio da Manhã, a seguinte frase “minha”, entre aspas e tudo:

Pacheco Pereira disse que, enquanto director do 'DN', não se iria sentir à vontade quando tivesse que "ser simpático com o Governo." Tem receio de vir a ser pressionado pela sua proximidade ao Governo?”

Isto é absolutamente espantoso porque a única, a ÚNICA , vez que me pronunciei sobre tal matéria, sem sequer citar Fernando Lima nem sequer o criticar a ele (como também foi parafraseado com excesso de imaginação), foi a nota do Abrupto do dia 26 de Outubro. Nunca acrescentei nem mais uma linha e nunca disse mais nada em qualquer lado sobre o assunto. Ou seja, estas frases, ainda por cima entre aspas, são pura e simplesmente inventadas. Assim se fazem as coisas, se gera uma pergunta falsa para obter uma resposta viciada pelos termos da pergunta.

É por isso que nunca aceito responder a qualquer pergunta citando terceiros sem eu próprio ter ouvido e lido a citação no original. Fernando Lima tem também experiência suficiente para não cair nestes truques e caiu.


ASSIM SE FAZEM AS COISAS 2

E já que vem a jeito: porque é que nunca nenhum órgão de comunicação social publicou uma lista de jornalistas que trabalharam (e trabalham) para os gabinetes ministeriais nos governos do PS e do PSD, em lugares que necessariamente implicam confiança política? A favor da transparência...

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Ó FADAS, QUE HORAS SÃO?


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IMAGENS

que ficaram aí para trás, perdidas e sem dono. Uma, a do pássaro, “wren and vole with daisies”, é de um quadro de Keneth Lilly de 1856; a outra, a vela e a rosa matinal, é de um quadro de Vuillard, pintado por volta de 1900. Apesar daquela clareza mediterrânica, o quadro está na Escócia, iluminando uma sala da Scottish National Gallery of Modern Art.

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EARLY MORNING BLOGS 69

com jet lag. Que horas são?

A nuvem tóxica sobre a política portuguesa continua a crescer. Começa a perceber-se o risco real de não haver justiça para as vítimas, porque é sempre maior o entusiasmo pela agitação a juzante, do que revolta pelo crime a montante. Os criminosos sabem disso, porque este é um crime no qual o poder é um elemento essencial, separando com um rasgão profundo os que o têm dos que o não têm.

O resto é o costume. O ressentimento continua uma espinha dorsal da vida nacional. Os blogues zangados com o mundo continuam zangadíssimos. O correio electrónico está cheio de lixo. É dia das bruxas, também não seria de esperar outra coisa.

Mas, dito isto, o meu ar é este, gosto do mundo todo com imensa curiosidade, mas é na pátria que me reconstruo. É uma doença, claro, como explicava o senhor Fradique Mendes.

Bom dia! Que horas são?

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© José Pacheco Pereira
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