ABRUPTO

5.11.03


HISTÓRIA E LITERATURA

Muitas vezes penso que bastava a criação, a poiesis, e que nada mais era preciso. Estava tudo lá: não é a batalha de Austerlitz na Guerra e Paz “melhor” do que qualquer descrição do que aconteceu no terreno?

Depois, ao ver e ouvir esta série (como aliás com o Shoah de Lanzmann), tenho a certeza de que não basta a literatura. Não está tudo lá. Faltam palavras, faltam as palavras dentro da memória, e a memória não é totalmente solúvel na poiesis. Há uma realidade incontornável nos acontecimentos da história, mesmo que os leiamos de forma “literária”, que nos diz sempre mais alguma coisa. E numa guerra civil com a violência da americana, é a do modo como a guerra atravessa os homens simples, os homens comuns. Pensando bem, não há muitos homens comuns, na literatura.

(Mas, na literatura e na arte, onde eles mais estão é na americana - em Walt Withman, na música – sempre há uma Fanfare for the Common Man - no cinema, etc).

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© José Pacheco Pereira
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