ABRUPTO

13.3.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: “ESTAMOS EM GUERRA”

O facto de ser a Al-Qaeda é, em termos de cálculo político imediato, embaraçoso para o PP. Contudo, só lhe vem dar razão quanto a uma corajosa opção estratégica, em contra-corrente com o sentir da opinião pública: a de se ter posto decididamente ao lado dos EUA. Aliás, mesmo, em relação à ETA, ao fim e ao cabo, ninguém poderá negar a validade e consistência da política que o PP tem sustentado, pelos resultados que estão à vista (desarticulação e crescente inoperância). Mas o que agora se apresenta como dado político relevante transcende a Espanha e diz respeito também a todos nós: a confirmação da (incómoda) evidência de que “Estamos em Guerra!” (naturalmente, um diferente tipo de guerra). Isto é o essencial – tudo o mais é acessório. Ou seja, se posso ter (e tenho… e tenho!) divergências tácticas em relação à “Operação Iraque”, não tenho divergências em relação à opção estratégica. Os EUA e o mundo democrático estão em guerra com “Eles”, quer queiramos ou não…. Pelo menos “Eles “ estão em guerra connosco e, pelo menos também, os EUA já perceberam que estão em guerra… Esta barbárie de Madrid vai fazer sentir, finalmente, este dilema à Europa.

(Edmundo Tavares)

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PARA SE PERCEBER

Para se perceber tanta e tanta coisa, para se perceber o papel da “má fé” na argumentação dos dias de hoje (podia ter sido o governo do PP a pôr a bomba para ganhar as eleições; o governo espanhol sabe que o atentado foi feito pela Al Qaida, mas só o vai dizer depois das eleições; a ETA não mata civis indiscriminadamente, muito menos trabalhadores e estudantes; a ETA avisa sempre; esta é um punição a Espanha por ter entrado na guerra do Iraque, a culpa é de Aznar, Blair e Bush que chamaram o terrorismo para as suas portas, etc., etc.) há um livro obrigatório: o de Fernando Gil / Paulo Tunhas / Danièle Cohn, intitulado Impasses. É o mais importante livro de filosofia publicado no ano passado em Portugal, e ,no entanto, tem sido silenciado sistematicamente. Leia-se o capítulo sobre a “má fé”, entre outros, e a conclusão, entre o “pasmo e exasperação”:

O livro que aqui chega ao fim respondeu a um sentimento de pasmo e exasperação, provocado pela má-fé e a sem cerimónia com a verdade que nos é dado presenciar desde o 11 de Setembro e singularmente a propósito da guerra do Iraque. Com relentos de fealdades que se poderia esperar estarem definitivamente para trás de nós, tal um requentado anti-semitismo popular cujas raízes vão ate a Idade Media católica. Foi-nos dado perceber que o judeu ainda é o povo deicida, os deuses é que mudaram. Julgamos compreender também que as reacções epidérmicas a actualidade encobrem outras coisas, ou uma só coisa, que Nietzsche diagnosticou com o nome de niilismo, e que temos chamado falta de confiança. A nossa convicção é de que o niilismo e seus efeitos letais não têm razão de ser. Uma personalidade mediática pôde anunciar, lemo-lo, que o mundo está farto do Ocidente e, pior, o Ocidente está farto de si. A definição do niilismo é isto mesmo. Ao escrever este livro, damo-nos conta de que esta proposição é meio-errada, meio-verdadeira. E certo que uma parte da intelligentzia europeia e suas relés rnediáticas, e alguma juventude, estão fatigadas, não se sabe bem de quê (avaliar-se-á o que significaria o Ocidente desaparecer?), nem porquê (conhece-se melhor?). Nâo se percebe sequer o que se tem em vista (que é estar farto?). Mas, seja como for, estão cansadas, manifestamente. Felizmente, um abismo separa o discurso mediático do homem da rua, que nao é o manifestante pacifista, e do planeta, que quer sobreviver e desenvolver-se.

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CADERNOS DE CAMUS

Em actualização.

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ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Um jornalista da SIC, há instantes, entrevistava em Madrid os participantes na mega-manifestação, dizendo-lhes que a ETA tinha acabado de desmentir, através de um comunicado, a sua responsabilidade no atentado. Em seguida, perguntava-lhes se essa informação alterava a sua opinião sobre o sucedido. A generalidade das pessoas entevistadas - ou mesmo todas - foram muito claras em dizer que não, que não alteravam em nada a sua opinião sobre os autores do atentado. Que lhes era indiferente saber se tinha sido ou não a ETA, o facto é que alguém tinha sido.

Na conclusão da peça, e apesar das afirmações dos populares, o jornalista conclui que era importante para o resultado das eleições de Domingo saber se o atentado tinha sido perpetrado pela ETA ou pela Al-Qaida, supostamente em retaliação da participação espanhola na guerra contra o terror ao lado de George W. Bush.

Infelizmente - segundo afirmou com uma certa ironia -, provavelmente não se saberá a resposta a esta questão antes das eleições.

Só fico satisfeito por os resultados das eleições espanholas, ou noutros cantos do globo, não serem decididas pelos jornalistas portugueses...


(Ricardo Prata)

Não me deixa de parecer incrível toda a politização que se seguiu ao atentado entre ETA vs Al Qaeda e PP vs PSOE, como se de um jogo de futebol se tratasse, sem que haja uma clara objectividade na análise dos factos. (o que desde já lhe felicito por ter sido dos únicos a tê-la e ter criticado um pseudo terrorismo de primeira e um de segunda, um aceitável e outro não aceitável)

Factos:

1) Neste últimos 4 meses a ETA tentou provocar 2 atentados em Madrid; no dia 24 de Dezembro a policia espanhola interceptou um etarra que entrava num comboio com destino a Madrid com 25kg de explosivos; logo após um segundo etarra foi preso por ter deixado 20kg de explosivos no mesmo comboio (ambas preparadas para serem detonadas 20 minutos após a chegada do comboio)

2) No dia 26 de Dezembro, 2 bombas foram descobertas em linhas-férreas graças a detenção de “susper”, um dos líderes da organização.

3) Em Fevereiro de 2004 uma camioneta com 500kg de clorato, 50kg de dinamite e 90 metros de cabo detonador foi encontrada a 200km de Madrid; Dias antes outra camioneta com 35 kg de explosivos e vários detonadores foi encontrada no sul de França juntamente com dois “prestigiosos” etarras.

4) 13 de Maio atentado em Casablanca provoca 41 mortos, um dos alvos principais é a prestigiada casa de españa. Especialistas dos serviços de inteligência Francesa e Espanhola declararam que um atentado em Marrocos teria por significado que a Europa estaria na primeira linha de um próximo atentado.

5) O CESID (equivalente ao nosso SIEDM) da conta da infiltração de vários grupos islamicos em Espanha, que beneficiam da especial atenção dada a ETA, para prosperarem e criarem extruturas na área da pequena criminalidade, propaganda e recrutamento.

6) Em alguns textos ameaçadores atríbuidos a Al-Qaeda a Espanha fora citada, tal como outros aliados dos Estados Unidos da America.

7) O canal TF1, no jornal da noite após o atentado, dá como noticia a existência de contactos nos ultimos dois anos entre a Al-Qaeda, a ETA e o IRA. Especulação? Possivel realidade?


(Philippe Raingeard de La Blétière)


O caso de Madrid, o drama terrível vivido, tem suscitado um debate apaixonado mas não isento dum certo ar tendencioso.

Sobre quem foi o autor(s) ou organização(s) do hediondo acto tem, naturalmente, interesse para a investigação e, eventuais tomadas de medidas que permitam punir e prevenir repetições, se tal for possível.

Contudo, extrapolar essa especulação para considerandos políticos, parece-me, um desrespeito completo pelas consequências do acto. Estamos a falar de pessoas, que morreram ou ficaram feridos, sem saber porquê, sem descortinarem o motivo porque foram tão barbaramente punidos.

Aqui e agora, como no 11 de Setembro de Nova Iorque, como nos ataques suicidas em Jerusalém ou em Telavive, como no Holocausto, como no Quénia, como em Moscovo, como em qualquer outro lado.

A morte parece ser, nestes casos um acto gratuito, sem consequências que não sejam a dor de quem os sofre.

Fale-se, isso sim, das pessoas que foram vitimas, do que está e vai ser feito em relação a elas.


(Rui Silva)

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SI NO LA ROBÉ / YA LA ROBARÉ


Max Slevogt, Natureza morta com limões

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EARLY MORNING BLOGS 159

Pirata

Pirata de mar y cielo,
si no fui ya, lo seré.

Si no robé la aurora de los mares,
si no la robé,
ya la robaré.

Pirata de cielo y mar,
sobre un cazatorpederos,
con seis fuertes marineros,
alternos, de tres en tres.

Si no robé la aurora de los cielos,
si no la robé,
ya la robaré.

(Rafael Alberti)

*

Bom dia!

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12.3.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES


É certo que se fala cada vez mais num processo de degeneração e descaracterização da ETA, por via da crescente desarticulação de comandos operacionais e decapitação dos mentores políticos. Assim jovens descontrolados e impreparados teriam sido largados num contexto em que imperava tão-só a ânsia de assinalar que a organização ainda vive e… mata muito. Tal facto faria luz sobre a declaração de trégua à Catalunha. Porém… este atentado não cola com nenhum estilo etarra. Nem sequer se imagina que o caldo de cultura da “kale barroka” (agitação juvenil das ruas das cidades bascas num contexto de uma cultura esquerdista tradicional), facilmente produziria jovens que se dispusessem a matar cegamente proletários de subúrbio, muitos deles imigrantes “sudacas” ou do “leste”, nem mesmo no maior desespero. Muito menos se imagina que dos velhos feudos irredutíveis do nacionalismo basco radical (ruralidade do leste de Vizcaya, de Guipúzcoa e Norte de Navarra, terras de arraigado “jesuitismo” e ultra-tradicionalismo) emergissem agora operacionais desligados de todos os sinais reconhecíveis da velha identidade. É claro que o “timing” (véspera de eleições gerais) é tipicamente etarra, mas há também um outro “timing” sinistramente sugestivo: 11 de Março (2 anos e meio após o 11 de Setembro).

Sim, se fosse mesmo a Al-Qaeda? O carácter aleatório dos massivos danos humanos tem a marca apocalítica do “terror puro” tão cara aos fanáticos wahabitas. Matar muito como o Deus irado do Velho Testamento com a devassidão da modernidade debochada deste mundo que, definitivamente, se está nas tintas para a virtude… em NY como em Madrid… (Sodoma e Gomorra).
Ao contrário da hipótese ETA, isto retiraria dividendos políticos ao PP. A generalidade da população espanhola é anti-americana e não viu com nenhuma simpatia a activa atitude pró-americana de Aznar. Ou seja, a hipótese ETA garante maioria absoluta para o PP e uma maior capacidade política para lidar com os crescentes desafios do nacionalismos catalão e basco. Se foi a Al-Qaeda isso é uma má notícia para o Partido Popular. A Espanha profunda mobiliza-se contra a ETA, mas fica aturdida, desconcertada frente à Al-Qaeda.”


2º e-mail

É importante saber se foi a ETA ou a Al-Qaeda. É evidente que ambas são coisas abomináveis – todo o terrorismo deve ser implacavelmente perseguido, sem tréguas nem cedências. Contudo, para a eficácia dessa luta e defesa é fundamental compreender o que move cada tipo concreto de irracionalidade terrorista, o que pretende estrategicamente. É certo que há, cada vez mais, uma espécie de nebulosa global de terrorismo à escala planetária que partilha métodos e técnicas, directa e indirectamente, quanto mais não seja por emulação de efeitos de magnitude (inflação da escala de danos), Contudo, essa nebulosa compõe-se de gente que, por diferentes razões e motivações, chegaram até lá. É crucial entender essas razões e motivações. Não é indiferente saber se as bombas foram levados por:
- a) alguém que se dispôs a morrer como mártir, depois de ter ouvido, com a necessário espírito piedoso, citações do Corão numa cassette :
- b) alguém que deixou uma bomba nos carris e um dia destes, numa aldeia do País Basco francês, se refastelará pantagruelicamente entre copos de “txacoli” e “bacalao al pil pil”
.


(Edmundo Tavares)

"Apesar de concordar com a maior parte do que escreveu esta manha sobre o Pais Basco, leio nas entrelinhas e no tom dos seus textos alguma animosidade endemica contra os Bascos. Nomeadamente quando escreve o
seguinte:

"uma lingua (o basco) que em muitos sitios do pais basco tinha praticamente desaparecido"

Qual e' que e' o problema de o basco ter sido reabilitado em regioes em que praticamente tinha desaparecido? Obviamente que podemos discordar em relacao aos metodos utilizados, mas da maneira como o escreveu deixa a entender que seria positivo o basco desaparecer como lingua dominante desses sitios. Eu acho triste e' o desaparecimento de linguas regionais, nao e' a sua reabilitacao. Por exemplo, acho triste que na Alsacia, o alsaciano esteja a desaparecer a uma velocidade vertiginosa. Os jovens que conheci em Estrasburgo tinham vergonha de falar alsaciano, porque achavam que era uma lingua de velhos. E' isso que queria para o Pais Basco?

E' que eu nao estou a ver uma pessoa universalista como o Bernard-Henri Levy a assinar um manifesto a pensar que o basco nao deveria ser reabilitado nos sitios em que o basco tinha praticamente desaparecido. Da mesma maneira que nem ele nem eu ficariamos contentes se o hebreu deixasse de ter expressao nos inumeros sitios de Israel onde o hebreu desapareceu em tempos.

Num dos foruns da TSF em que se abordou o tema das reservas ecologicas, um ouvinte manifestava-se com alguma violencia contra as reservas, dizendo que so havia la passaros daqueles que ninguem nunca viu. O mesmo argumento ja foi utilizado em Portugal contra o patrimonio historico. Esta'
degradado? E' pequeno? Sao poucos? Nao se ve? Entao manda-se tudo abaixo e constroi-se um predio com marquises de aluminio. Seguindo a mesma logica:
os bascos sao poucos e chatos, o melhor e' por tudo a falar castelhano.
E' ate' aqui que pode derrapar a sua argumentacao. Ou sera que interpretei mal a sua frase?"



(Rui Curado Silva)

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EARLY MORNING BLOGS 158

Aqui vai, cortesia de Rita Maltez, um fragmento do “Caderno de Caligraphia. Pertencente á menina Margarida Victória q. lhe oferece o victorino nemésio”, ao "rasgar da Bela Aurora" :

Tal o vigia de alba
Soprando o corno medievo
Avisa a malmaridada
De regresso à decepção,
Entretendo a insónia, escrevo
O poema que lhe devo
Plo que os seus olhos me dão.
É alta a Torre sem sono
Na Cidade poluída,
E eu penso que sou o dono
Dos passos da escada aluída.
Ah! Quantos terão tocado
Nela, na cítara, aqui,
Ao rasgar da Bela Aurora,
Como eu, sequiosos de ti?
Mas, de repente reparo
Na escada inteira, ___ e ao dativo,
A “ti” pergunto quem és,
Varrendo-te co a lanterna
Da cabeça até aos pés:
Mulher? a Torre? O pronome
De alguém na morte? Ou sou eu
O pálido cavaleiro
Que arranca longe, de lá
De onde ninguém tem notícia,
E sobe à Torre
Onde morre
A dona, e a carícia
De pai é essa a que faz?
Mas não. Tudo isto é poesia
E amor bem nosso, bem meus
Os versos, e teus os braços
Em que o cavaleiro jaz.
Quanto à escada da Torre ____
Abateu:
Não mais Cór de Alba ou Vigia,
Que o Cavaleiro sou eu.”


(Victorino Nemésio)

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11.3.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: BONNEVILLE



a cratera onde o "Espírito" chegou.

Em sua honra, cortesia de Paulo Agostinho, este Life On Mars? de David Bowie

It's a god-awful small affair
To the girl with the mousy hair
But her mummy is yelling "No"
And her daddy has told her to go
But her friend is nowhere to be seen
Now she walks through her sunken dream
To the seat with the clearest view
And she's hooked to the silver screen
But the film is a saddening bore
For she's lived it ten times or more
She could spit in the eyes of fools
As they ask her to focus on

Sailors fighting in the dance hall
Oh man! Look at those cavemen go
It's the freakiest show
Take a look at the Lawman
Beating up the wrong guy
Oh man! Wonder if he'll ever know
He's in the best selling show
Is there life on Mars?

It's on Amerika's tortured brow
That Mickey Mouse has grown up a cow
Now the workers have struck for fame
'Cause Lennon's on sale again
See the mice in their million hordes
From Ibeza to the Norfolk Broads
Rule Britannia is out of bounds
To my mother, my dog, and clowns
But the film is a saddening bore
'Cause I wrote it ten times or more
It's about to be writ again
As I ask you to focus on

Sailors fighting in the dance hall
Oh man! Look at those cavemen go
It's the freakiest show
Take a look at the Lawman
Beating up the wrong guy
Oh man! Wonder if he'll ever know
He's in the best selling show
Is there life on Mars?

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CREDÍVEL, COMO DE COSTUME



é o porta-voz do extinto Harri Batasuna, o braço legal da ETA, que atribuiu os atentados a grupos islâmicos. Este seria terrorismo “mau”, dos árabes; o da ETA – que o Batasuna não condena – é bom. Ou seja, podem-se matar vinte, mas quase duzentos já nos divide.

Só por curiosidade, o porta-voz identificava-se como falando em nome da “Esquerda abertzale”, que a SIC Notícias traduzia erradamente como “esquerda radical”.

Não credível, como de costume, é o governo espanhol que aponta para a culpabilidade da ETA. Se calhar até foi ele que fez o atentado para o PP ganhar as eleições. (Pensam que inventei esta, ou a “forcei”? Vários intervenientes no programa “Opinião Pública” na SIC Notícias telefonaram para lá a dizer isso mesmo, e outras coisas típicas da “má fé” que existe hoje no pensamento , denunciada, por exemplo, por Fernando Gil. Quase todos também estavam muito indignados por se dizer que a responsabilidade era da ETA. Interessante analisar porquê este afã de desresponsabilização.)

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A CULPA, COMO DE COSTUME

é da participação espanhola na coligação no Iraque. Já lá vamos chegar aos americanos.

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BE, COMO DE COSTUME (Actualizado)

O comunicado do BE tem também as mesmas ambiguidades das declarações de Louçã: “o Bloco de Esquerda condena este acto criminoso e fascizante”. Será que um atentado do Hamas também é “fascizante”? E porque razão se acentua a ignorância da autoria, sem nunca se mencionar, pelo menos, que este era o atentado que a ETA andava a tentar fazer, de há umas semanas para cá? E porque razão nunca se fala da ETA? Será que o BE seria tão cuidadoso com a autoria se o atentado parecesse ter origem em grupos neofascistas?

*

Queria que, se possível, divulgasse o que se passou hoje no site do Bloco: segui o seu link para o indizível comunicado do BE e fiz um comentário - nada de muito profundo ou pensado, apenas um desabafo. Era isto: "O Bloco continua na senda da vergonhosa justificação dos actos terroristas da ETA, do Hamas e companhia. A expressão fascizante apenas demonstra uma indescritível hipocrisia ideológica."

Minutos depois reparei que já lá não estava. Apenas restavam uns comentários inóquos. Insisti. Voltei a inserir o meu texto e logo me retiravam do site. Escrevi depois comentários como: "não será esta uma atitude fascizante?"; "que tal um pouco de liberdade de expressão de esquerda" ou; "isto faz-me lembrar a censura pidesca, e a vocês?".
Instei-os inclusivamente a me responderem para o email pessoal que indiquei, algo que ainda não fizeram.


(Gonçalo Mendes da Maia)

*

Fui verificar se de facto havia censura no site do Bloco por causa deste comentário que estava no Abrupto. Não simpatizo com o Bloco mas censura também me parecia de mais e preparava-me para experimentar eu próprio. ;-)
Mas afinal o tal comentário está lá, em inúmeras cópias. Será que tinham retirado e voltaram a colocar? Ou foi apenas o leitor que não percebeu que havia várias páginas?


(Tiago Azevedo Fernandes)

NOTA : eu próprio estava a consultar o endereço do BE quando li o comentário de GMM e pouco tempo depois vi que desaparecera. Por isso, não tienho dúvidas sobre esse facto. Depois a mensagem de GMM apareceu repetida até à exaustão, como se tivesse a ser enviada automáticamente. As razões porque isso se passa desconheço. mas a censura inicial existiu.

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COMEÇOU

Foi ou não a ETA? Se calhar não foi. Se calhar foi uma “resistência islâmica”, um ramo da Al Qaida… Dejá vu. Começou, como nos dias a seguir ao 11 de Setembro, quando os americanos identificaram a Al Qaida como responsável.

A discussão sobre se foi ou não a ETA tem dois aspectos: um operacional, muito importante, mas que não penso ser o que preocupa os que dizem que não foi a ETA; e um político. O político é muito simples. Se não foi a ETA, podia ter sido. Nos últimos meses, era exactamente um atentado deste tipo que a ETA tentava fazer. Grandes cargas explosivas, comboios. O que não se pode é transformar esta discussão numa espécie de desculpa da ETA, pensando: assim, com tantos mortos, indiscriminados, não podia ser a ETA, que tem objectivos políticos e só mata representantes do “estado espanhol”. Nada disto é verdade: a ETA já fez atentados deste tipo.

Não foi a ETA, foi a Al Qaida. Bom, se não foi a ETA a responsável por este atentado, sublinho, ESTE atentado, então estamos a entrar num domínio ainda mais perigoso: o do início de atentados indiscriminados contra civis na Europa dos fundamentalistas muçulmanos.

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LOUÇÃ, COMO DE COSTUME

Tinha que ser assim. Louçã, na Assembleia da República, tinha que usar todos os exemplos errados, todos os exemplos com mensagem política explícita, no limite dizendo “vejam lá como a direita também faz disto”. Exemplos: Millan Astray e o “viva la muerte “, e o atentado de Bolonha atribuído a neofascistas. Basta ver estes exemplos (nem um vindo do “outro lado”), para se perceber de onde é que Louçã suspeita que o atentado veio. Os exemplos, as únicas coisas materiais da sua intervenção, destinam-se exclusivamente a fazer passar a mensagem: “vejam lá que os culpados não estão só deste lado, mas de todos os lados”. Se calhar em lado nenhum.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: "THE LITTLE ROVER" LONGE DE CASA



Insisto: era inevitável. A antropomorfização das sondas marcianas continua a bom ritmo. Veja-se este fragmento do texto oficial da NASA:

But ignorance is bliss, and while Opportunity’s wheels had a hard time gaining traction on the sandy surface, the rover’s brain (or computer) had a hard time grasping that it hadn’t successfully made it to its target. The little rover didn’t have to encourage itself to make it up the crater slope later by chanting, “I think I can, I think I can,” because the little rover thought it actually did make it up the slope the first time. “

The little rover”, não é? Depois não digam que não há ternura com as máquinas. Vão ver, quando elas morrerem, ou melhor para o nosso desejo de imortalidade, quando invernarem, a tristeza que irá por aí, e por aqui.

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"AMAVELMENTE" (DE IVÁN DIEZ) TRADUZIDO POR VASCO GRAÇA MOURA

Amavelmente

Foi achá-la na pista e noutros braços...
Mas, já batido e sem escabrear-se,
rosnou ao passarão: "Pode raspar-se,
que o homem não tem culpa nestes passos."

E após ficar a sós com a garina,
as sapatilhas pede e, pronto, nisto
lhe diz como se nada houvesse visto:
"vai tratar-me do mate, Catarina".

A fulana lá vai e se acagaça,
e o mânfio, saboreia uma fumaça,
e segue-a com graçolas excitadas ...

E logo, a beijocar-lhe a testa, rente,
muito tranquilo, muito amavelmente,
coseu-a a trinta e quatro punhaladas.


(Iván Diez)

(Tradução feita para o Abrupto. O original em castelhano, dobrado de argentinismos, está no Abrupto de 9 de Março, com o mérito à divulgadora original do tango.)

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OS ASSASSINOS


Dos arquivos do Abrupto, onde há várias notas sobre a ETA, desde Maio de 2003, estas lembranças. O manifesto que aqui se publica, apesar da notória apetência dos intelectuais portugueses para assinar tudo, apesar de algumas tentativas para obter assinaturas portuguesas, apesar de apelos para protestos, aqui na blogosfera e na atmosfera, foi recebido com toda a indiferença.

1.

Aunque

Aunque los europeos ejercen el derecho constitucional de votar con saludable rutina democrática pocos imaginan que en un rincón de Europa el miedo y la vergüenza oprimen a los ciudadanos.

Aunque la memoria del Holocausto sea honrada en Europa por el deseo de rehabilitar a las víctimas de la barbarie e impedir que el horror vuelva a cometerse, pocos europeos saben que hoy mismo en el País Vasco ciudadanos libres son injuriados y asesinados.

Aunque parezca mentira: hoy los candidatos de los ciudadanos libres del País Vasco están condenados a muerte por los mercenarios de ETA y condenados a la humillación por sus cómplices nacionalistas.

Aunque ciudadanos del País Vasco sean asesinados por sus ideas, y miles hayan sido mutilados o trastornados, los atentados se realizan y celebran en una penosa atmósfera de impunidad moral propiciada por las instituciones nacionalistas y por la jerarquía católica vasca.

Aunque los partidos nacionalistas aprovechan las garantías constitucionales de la democracia española, ciudadanos libres del País Vasco deben esconderse, disimular sus costumbres, omitir la dirección de su domicilio, pedir la protección de escoltas y temer constantemente por su vida y la de sus familiares.

Aunque sea frecuente la tentación de ignorar lo que sucede, pedimos a los ciudadanos europeos que el próximo 25 de mayo (día de las elecciones municipales en España) declaren el estado de indignación general: en memoria de las víctimas que en el País Vasco mueren por la libertad, en honor de los que hoy mismo la defienden con el coraje que en un día no muy lejano conmoverá a Europa.


(los abajo firmantes)


FIRMAS: Fernando Arrabal, Alfredo Bryce Echenique, Michael Burleigh, Paolo Flores d´Arcais, Jorge Edwards, Carlos Fuentes, Nadine Gordimer, Günter Grass, Juan Goytisolo, Carlos Monsivais, Bernard- Henri Lévy, Paul Preston, Mario Vargas Llosa, Gianni Vattimo


2. De Maio 2003

PAÍS BASCO

Queria voltar à questão do País Basco. Nós estamos sempre prontos a apoiar as mais longínquas das causas, particularmente as que são politicamente mais fortes e conhecidas e esquecemo-nos de que aqui perto há uma parte de Espanha onde existe terror puro, violação das liberdades, opressão violenta sobre algumas opiniões, uma sociedade que alguns partidos estão a criar como opressiva. O problema não é apenas o terrorismo da ETA é o comportamento dos nacionalistas bascos que são maioritários, controlam o sistema escolar, a administração, a televisão e os órgãos de comunicação e usam-nos para manter um clima de intimidação sobre os que consideram “espanholistas”.

Há mil e uma formas como essa intimidação funciona: afastando de cargos os que não sabem basco – uma língua que em muitos sítios do país basco tinha praticamente desaparecido - , obrigando ilegalmente os eleitores a apresentarem um “cartão de identidade basco”, identificando-os assim politicamente e intimidando quem vota, ameaçando comerciantes a pagar um “imposto”, usando as escolas para ensinar uma variante extremista e não rigorosa da “história basca” , etc., etc..

Eu participei por solidariedade nas ultimas eleições bascas , onde pude testemunhar qual era a realidade da vida infernal dos meus colegas do Parlamento Europeu a terem que andar sempre com guarda-costas atrás , sorte que partilhavam com muitos outros militantes e eleitos do PP e do PSOE , apenas por delito de opinião política . E pude imaginar o que é lá viver quando as paredes estão cheias de inscrições como esta que fotografei então em Gernika : " ..... el seguiente vas a ser tu " .

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POEIRA DE 11 DE MARÇO

Para começar bem, hoje , há vinte e seis anos, Andy Warhol anotava no seu diário:

"I had a lot of dates, but I decided to stay home and dye my eyebrows".

É de homem!

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10.3.04


SCRITTI VENETI










Os espelhos venezianos são os únicos espelhos que se olham a si próprios. Espelhos dentro dos espelhos. São também os únicos que nos dão sempre uma imagem diferente de nós próprios, inclinada, para nos ensinar que aos olhos do mundo não parecemos o que somos, ou não somos o que parecemos.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Sobre AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: QUENTINHO

A vaidade de hoje é o "espírito luciferino" : não é o Homem que é feito à imagem e semelhança de Deus, mas o contrário.
Cristo no Evangelho não deixou de nos recordar que o único pecado que não tinha perdão aos olhos de Deus era o pecado contra o Espírito.
Quem sabe, nos dias de hoje, interpretar correctamente essa passagem?


(FFMachado)

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EARLY MORNING BLOGS 157

Aubade chantée à Laetare l'an passé

C'est le printemps viens-t'en Pâquette
Te promener au bois joli
Les poules dans la cour caquètent
L'aube au ciel fait de roses plis
L'amour chemine à ta conquête

Mars et Vénus sont revenus
Ils s'embrassent à bouches folles
Devant des sites ingénus
Où sous les roses qui feuillolent
De beaux dieux roses dansent nus

Viens ma tendresse est la régente
De la floraison qui paraît
La nature est belle et touchante
Pan sifflote dans la forêt
Les grenouilles humides chantent


(Guillaume Apolinaire)

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9.3.04


TANGOS

Parabéns à Carla pelos tangos. Não resisto a citar a letra de Iván Diez, de

Amablemente

La encontró en el bulín y en otros brazos...
Sin embargo, canchero y sin cabrearse,
le dijo al gavilán: "Puede rajarse;
el hombre no es culpable en estos casos."

Y al encontarse solo con la mina,
pidió las zapatillas y ya listo,
le dijo cual si nada hubiera visto:
"Cebame un par de mates, Catalina."

La mina, jaboneada, le hizo caso
y el varón, saboreándose un buen faso,
la siguió chamuyando de pavadas...

Y luego, besuqueándole la frente,
con gran tranquilidad, amablemente,
le fajó treinta y cuatro puñaladas.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: ECLIPSES DO "PÂNICO" E DO "MEDO"



(em breve)

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AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: O BRUTO

De uma nota do Realista Antigo: "Nada do que digo tem a ver com a psicologia. A psicologia é-me totalmente alheia. Não a percebo. Sou um bruto afectivo. "

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POEIRA DE 9 DE MARÇO

Hoje, há cento e sessenta e um anos, Robert Murray McCheyne, um pastor evangélico escocês, estava a morrer de tifo. Apanhara tifo ao visitar pessoas com a doença. Os seus escritos são um retrato de uma forte e simples piedade. Ele acreditava. Escrevera:

"It is not the tempest, nor the earthquake, nor the fire, but the still small voice of the Spirit that carries on the glorious work of saving souls.".

Agora precisava ainda mais de acreditar, à medida que o seu corpo soçobrava, à medida que crescia uma "vast howling wilderness". Hoje escreveu numa carta:

'You will never find Jesus so precious as when the world is one vast howling wilderness. Then he is like a rose blooming in the midst of the desolation, a rock rising above the storm.'

Vai morrer daqui a quinze dias. É tido na sua paróquia e na Escócia como um santo . Dizem que o seu túmulo exala uma fragância muito agradável.





Hoje, há dez anos, Charles Bukowsky morreu. Já estava doente há muito tempo, doente dos seus excessos, doente de se vender pelos seus excessos. Não escrevia particularmente bem, mas tinha humor sobre si próprio. Parece que a mulher, toda New Age, se dedicou a curá-lo das múltiplas doenças "impuras". Bukowski escreveu:

sitting naked behind the house,
8 a.m., spreading sesame seed oil
over my body, jesus, have I come
to this?


"Have I come to this?". Parece que sim, sempre é a Califórnia, que tem sol a mais. Pouco antes de morrer, achava que estava a escrever melhor que nunca. No seu túmulo está escrito "Don´t try".

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AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: QUENTINHO

Os Antigos achavam que conheciam bem a vaidade. Acha o Realista Antigo que até sabiam que a linha de fractura que os ia tornar antigos, se faria pela vaidade. Exagera, porque não é verdade.

A visão antiga da vaidade é a que está nas fábulas de Esopo, em que a vaidade é essencialmente uma apreciação errada de si próprio. A rã quer ser do tamanho do boi - está tudo dito. A vaidade que os antigos conheciam bem era de natureza diferente da que hoje se identifica com a palavra. Era vaidade pelo poder, pela honra, pelos feitos militares. Era uma vaidade épica, que vem na Ilíada. Vaidade que em Roma quebrava a virtude, que matou imperadores e atirou generais uns contra os outros.

A vaidade moderna, diz o Realista Antigo, surgida no romantismo, é outra coisa. É a crença na omnisciência do eu, na intangibilidade da vontade individual, dos seus desejos , apetites e pulsões. É uma vaidade sem Deus. Está cheia de metáforas prometaicas - e como o Realista Antigo abominava as metáforas prometaicas! É mais uma massagem do eu, ou um conforto quente.

- "Quentinho", dizia com desprezo o Realista.

- "Mas, o que é que tu queres? A vida é só uma. Carpe diem. Também vem nos clássicos..."

-" Mas eu não falo sobre os clássicos. Tudo o que eu digo é ficção. Antiga."

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EARLY MORNING BLOGS 156

Serve para a manhã, mas serve também para as peripécias do Realista Antigo sobre as sensibilidades, o tempo e a sua efemeridade. "Não mudou desde Cecrops".

A Abelha

A abelha que, voando, freme sobre
A colorida flor, e pousa, quase
Sem diferença dela
À vista que não olha,

Não mudou desde Cecrops. Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto
Da espécie de que vive.

Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! —
Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.


(Ricardo Reis)

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8.3.04


AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: PALAVRAS

O Realista Antigo considera que devia ser proibido aos modernos usar palavras como "sempre", "nunca", "jamais", "ninguém". Os modernos não estão à altura dessas palavras.

- "E depois como é que falamos?"

- "Sem elas. Não precisas delas a não ser uma vez. Ditas uma vez, valem. Duas já não valem nada. Renegadas, são lama. Falas com a tua voz, mas sai lama."

-"Não tens o juízo todo."

- "Não se chama juízo ao que eu tenho."

- "É pior, é obsessão, o mundo não é assim. Felizmente que não é assim."

- "Tu saberás."

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AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: RELATIVISMO

A mais importante marca moderna da sensibilidade, vista pelos olhos do Realista Antigo, é a efemeridade. A linguagem da efemeridade é o relativismo: tudo depende do momento, tudo depende do movimento da vida, tudo depende da vontade de mudar, tudo se pode olhar de duas maneiras (e porque não de vinte?), conforme convém. Nada dura, nada é firme.

Aos Antigos, e muito mais ao Realista Antigo, um Antigo moderno, esta cacofonia não surpreende, mas entristece. Entristece ver a cada vez maior distância entre o upgrade das palavras, e o downgrade da vida. Grandes palavras, pequeno valor, conveniências, confortos, espelhos, vaidades. Para os antigos, durar é que valia, mudar não; talvez por isso eles sejam avaros de palavras. Talvez por isso é que a épica ainda era possível, talvez por isso é que, pouco a pouco, a arte está a acabar e ninguém dê por isso. Dizia, a quem o não ouvia, o Realista Antigo, uma patética figura dos tempos modernos.

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Sassetta, Casamento místico de S. Francisco de Assis

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EARLY MORNING BLOGS 155

O espantoso ardor desta mulher que dizia “eu sou a manhã”, fica para hoje, para esta manhã (cortesia de Ir).

Supremo Enleio

Quanta mulher no teu passado
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta…
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás-de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás-de encontrar ainda….


(Florbela Espanca)

*

Bom dia!

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POUCO A POUCO

voltam os sons da Provença: as rãs a seguir. Na noite.

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AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE. MEMÓRIA E MENTIRA

Aos antigos repudiava a memória mentirosa, a falsa memória, a memória que serve para desculpar. Quintiliano escreveu “mendacem memorem esse oportere (o mentiroso precisa de ter memória). Esta forma de memória reduz o passado às necessidades do presente, reduz a verdade do que se passou aos restos que são úteis para a ficção de identidade no presente.

A memória viva nunca quer ser memória, quer ser presente. É a fraqueza, a cobardia, que a reduz à memória do mentiroso. O mentiroso é infiel a si próprio. Como Midas, tudo o que toca se vai gastando, trocando o desejo da vida pela justificação da vida. Todos os dias a mentira, tantas vezes suportada pela memória mentirosa, penetra em cada gesto, em cada palavra, e rouba o sentido. Fica tudo uma pasta cinzenta, sem brilho. Sem brilho.

Depois o hábito faz o resto. Facilis descensus Averno.

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7.3.04


POEIRA DE 7 DE MARÇO - 2

Hoje , há oitenta e nove anos, Nicolau II deixou o seu palácio de Tsarskoe Selo para Mogilyov, perto da frente de combate. Dias antes, o general Gurko tinha-o avisado de que, a continuar assim, aéreo, distante, alheio ao que se passava à sua volta, “era melhor preparar-se para o cadafalso”. E acrescentara “ a multidão não fará cerimónia”.

Não sei se o czar lançou um último olhar às estátuas do jardim, aos lagos, às grutas, aos pavilhões que os seus predecessores tinham construído, à sala de âmbar, aos estuques azuis e brancos do palácio italiano. Devia haver neve, fazendo absurdos chapéus às divindades das estátuas que Catarina mandou fazer (e que mais tarde o olhar de Akhmatova também amou).

O czar partia e as portas das fábricas metalúrgicas Putilov em Petrogrado, a meia dúzia de quilómetros do palácio, encerravam. A “revolução de Fevereiro” (Fevereiro no calendário juliano, Março no actual) começará amanhã.

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POEIRA DE 7 DE MARÇO

Hoje, há setenta e um anos, Elizabeth Smart passeava num parque. Olhava as pessoas: "Why do people when they go for a walk look at each other?”. Não sabia, mas incomodava-a. Fugiu do olhar, encontrava pares de namorados. Incomodavam-na. Os pardais “were making so much spring noise”. Incomodavam-na. Mais namorados, que pensavam estar sozinhos, debaixo de uma grande árvore, e deparavam com Elizabeth:

"I had to walk all across that long bare path trying to think of other directions to look in besides theirs. Even painful things pass and that did. It was not that they embarrassed me - I was afraid of embarrassing them and having them send unpleasant thought waves after me. `Why did she have to come along them?' `Why can't she get a lover of her own?' Very disconcerting.”

De facto.

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POUCO A POUCO

voltam os sons da Provença: as abelhas primeiro.

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POEIRA DE 7 DE MARÇO

Em breve: outra vez Elizabeth Smart, o czar, e o mais que adiante se verá.

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LUEGO VUELVE EN SI EL ENGAÑADO / ÁNIMO


Hans Thoma

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES

Sobre POEIRA de 6 de Março

(...) Isto a propósito do Texas, a bandeira do estado do Texas é a única das 50 bandeiras dos estados que constituem a União (Estados Unidos) que pode figurar ao mesmo nível que a bandeira dos Estados Unidos. Assim num mastro podemos ver no topo a bandeiras do país e a bandeira do Texas, e a um nível inferior a bandeira do estado da California por exemplo.

Foi uma das condições que os texanos impuseram para que o país independente Texas (o único) se integrasse nos Estados Unidos. e os texanos gostam de cultivar este espírito de diferença.

Por cá é comum a bandeira da empresa e do concelho estar ao mesmo nível, ou acima da do país.


(Carlos Pereira da Cruz)

Sobre AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE

(...) Ligada a este aspecto mais consumista da cultura está uma mentalidade consumista em relação à própria Vida. Faz parte da cultura popular e atinge transversalmente toda a nossa sociedade ocidental. Antes de continuar, quero só deixar claro que sou uma feroz defensora dos Direitos Humanos e dos princípios da igualdade de oportunidades, mas não é isso que aqui estará em causa.
No entanto, creio que, a esta Declaração de Direitos Humanos que sustenta ideologicamente as democracias actuais, seguem atrelados toda uma série de “direitos” reivindicados por todas as pessoas de todos os quadrantes da nossa sociedade moderna. Um dos direitos que eu acho mais interessante, extraordinário e o mais abrangente é o “Direito à Felicidade” que, sem nunca se saber exactamente o que é, se invoca com uma frequência atordoante. Mas ainda há outros, muitos, sem conta: o direito a viver, o direito a morrer, o direito a ter filhos, o direito à contracepção, o direito a abortar, o direito a ser amado, o direito à educação, o direito à saúde, o direito a ser informado, o direito a ser diferente, o direito a ser famoso e, para não tornar a lista cansativa, termino aqui sem deixar de referir o meu preferido neste caso: o direito à opinião (!).
Todos estes “direitos” têm servido de justificação a diferentes e por vezes bizarros comportamentos, porque nos tempos actuais tudo pode ser esperado e nos é devido, e são eles muitas vezes reveladores daquilo a que JPP tem chamado de sensibilidade moderna que está centrada no indivíduo, na sua realização e satisfação pessoais e, de preferência, de imediato. Esta atitude consumista e urgente face à Vida, é essencialmente egocêntrica e egoísta, perdendo-se o seu carácter transcendental e sagrado que se dilui na correria ao “Direito à Felicidade” (que contém em si todos os outros direitos). Se para a sensibilidade antiga a Vida era parte integrante de um cosmos e fonte de mistério, graça, admiração, revolta, resignação, mas também humildade, pois era sensível às limitações humanas que respeitava, e às que a natureza impunha, hoje, humildade é um conceito em desuso e o que não é dominado, tem que ser alterado, procurando ultrapassar sem questionar, qualquer limite, no frenesim consumista que parece ter-se apoderado da sociedade.
Não imagino Churchil ou Estaline a reivindicarem o “Direito à Felicidade”. Parece-me pois ser uma noção relativamente recente, dos finais do século XX (será que o existencialismo teve alguma coisa a ver com isto?). Creio que é, no entanto, um dos grandes motores da sensibilidade popular moderna tal como a sentimos nos dias de hoje.


(Joana Pereira de Castro)

Sobre POEIRA de 2 de Março

“Tall, bronzed by the Sun, wearing Khaki shorts and tunic, marvellously good-looking… I stood and watched him, spellbound”.

Imaginem o resto.

Não consigo! A vida dos snobs ingleses é um mistério para mim. Será que eles tem orgasmos? Não serão os orgasmos vistos como uma coisa de falta de disciplina, uma concessão aos instintos? Olhando para a Margaret Thatcher não se consegue imaginar coisas eróticas, posições implausíveis, corpos suados, etc., pois não? Ou sou só eu? E a rainha, com aqueles sapatos que parecem uns cacilheiros...


(Filipe Vieira de Castro)

Sobre VER A NOITE

Em Abril/Maio talvez tenhamos direito a um espectáculo único de dois cometas em simultâneo, embora ainda seja cedo para determinar se o brilho dos mesmos será suficiente para tamanho show. Esta é a fonte.

(Albano Ferreira)

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EARLY MORNING BLOGS 154

Desde que viene la rosada Aurora
hasta que el viejo Atlante esconde el día,
lloran mis ojos con igual porfía
su claro sol que otras montañas dora;

y desde que del caos adonde mora
sale la noche perezosa y fría,
hasta que a Venus otra vez envía,
vuelvo a llorar vuestro rigor, señora.

Así que ni la noche me socorre,
ni el día me sosiega y entretiene,
ni hallo medio en extremos tan extraños.

Mi vida va volando, el tiempo corre,
y mientras mi esperanza con vos viene,
callando pasan los ligeros años.


(Lope de Vega)

*

Bom dia!

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Egon Schiele, Nu deitado

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NOTAS SOBRE AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: A TRAIÇÃO

Para uma antologia de textos antigos sobre a traição:

As Aves e o Morcego

Havia guerra travada entre as Aves e outros animais, que, como eram fortes, andavam as Aves maltratadas e vencidas. Temeroso disto, o Morcego passou-se do bando contrário e voava por cima dos animais de quatro pés, posto já de sua parte. Sobreveio a Águia em favor das Aves, e alcançaram vitória. E tomando o Morcego, em castigo de traição, lhe mandaram que andasse sempre pelado e às escuras.

(Esopo, tradução de Manuel Mendes)

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NOVOS DESCOBRIMENTOS: TEMPOS

Olho para Marte. Nesta altura, crepúsculo em Gusev, madrugada em Meridiani.

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© José Pacheco Pereira
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