ABRUPTO

9.3.04


AS FORMAS ANTIGAS DE SENSIBILIDADE: QUENTINHO

Os Antigos achavam que conheciam bem a vaidade. Acha o Realista Antigo que até sabiam que a linha de fractura que os ia tornar antigos, se faria pela vaidade. Exagera, porque não é verdade.

A visão antiga da vaidade é a que está nas fábulas de Esopo, em que a vaidade é essencialmente uma apreciação errada de si próprio. A rã quer ser do tamanho do boi - está tudo dito. A vaidade que os antigos conheciam bem era de natureza diferente da que hoje se identifica com a palavra. Era vaidade pelo poder, pela honra, pelos feitos militares. Era uma vaidade épica, que vem na Ilíada. Vaidade que em Roma quebrava a virtude, que matou imperadores e atirou generais uns contra os outros.

A vaidade moderna, diz o Realista Antigo, surgida no romantismo, é outra coisa. É a crença na omnisciência do eu, na intangibilidade da vontade individual, dos seus desejos , apetites e pulsões. É uma vaidade sem Deus. Está cheia de metáforas prometaicas - e como o Realista Antigo abominava as metáforas prometaicas! É mais uma massagem do eu, ou um conforto quente.

- "Quentinho", dizia com desprezo o Realista.

- "Mas, o que é que tu queres? A vida é só uma. Carpe diem. Também vem nos clássicos..."

-" Mas eu não falo sobre os clássicos. Tudo o que eu digo é ficção. Antiga."

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© José Pacheco Pereira
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