ABRUPTO

12.3.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES


É certo que se fala cada vez mais num processo de degeneração e descaracterização da ETA, por via da crescente desarticulação de comandos operacionais e decapitação dos mentores políticos. Assim jovens descontrolados e impreparados teriam sido largados num contexto em que imperava tão-só a ânsia de assinalar que a organização ainda vive e… mata muito. Tal facto faria luz sobre a declaração de trégua à Catalunha. Porém… este atentado não cola com nenhum estilo etarra. Nem sequer se imagina que o caldo de cultura da “kale barroka” (agitação juvenil das ruas das cidades bascas num contexto de uma cultura esquerdista tradicional), facilmente produziria jovens que se dispusessem a matar cegamente proletários de subúrbio, muitos deles imigrantes “sudacas” ou do “leste”, nem mesmo no maior desespero. Muito menos se imagina que dos velhos feudos irredutíveis do nacionalismo basco radical (ruralidade do leste de Vizcaya, de Guipúzcoa e Norte de Navarra, terras de arraigado “jesuitismo” e ultra-tradicionalismo) emergissem agora operacionais desligados de todos os sinais reconhecíveis da velha identidade. É claro que o “timing” (véspera de eleições gerais) é tipicamente etarra, mas há também um outro “timing” sinistramente sugestivo: 11 de Março (2 anos e meio após o 11 de Setembro).

Sim, se fosse mesmo a Al-Qaeda? O carácter aleatório dos massivos danos humanos tem a marca apocalítica do “terror puro” tão cara aos fanáticos wahabitas. Matar muito como o Deus irado do Velho Testamento com a devassidão da modernidade debochada deste mundo que, definitivamente, se está nas tintas para a virtude… em NY como em Madrid… (Sodoma e Gomorra).
Ao contrário da hipótese ETA, isto retiraria dividendos políticos ao PP. A generalidade da população espanhola é anti-americana e não viu com nenhuma simpatia a activa atitude pró-americana de Aznar. Ou seja, a hipótese ETA garante maioria absoluta para o PP e uma maior capacidade política para lidar com os crescentes desafios do nacionalismos catalão e basco. Se foi a Al-Qaeda isso é uma má notícia para o Partido Popular. A Espanha profunda mobiliza-se contra a ETA, mas fica aturdida, desconcertada frente à Al-Qaeda.”


2º e-mail

É importante saber se foi a ETA ou a Al-Qaeda. É evidente que ambas são coisas abomináveis – todo o terrorismo deve ser implacavelmente perseguido, sem tréguas nem cedências. Contudo, para a eficácia dessa luta e defesa é fundamental compreender o que move cada tipo concreto de irracionalidade terrorista, o que pretende estrategicamente. É certo que há, cada vez mais, uma espécie de nebulosa global de terrorismo à escala planetária que partilha métodos e técnicas, directa e indirectamente, quanto mais não seja por emulação de efeitos de magnitude (inflação da escala de danos), Contudo, essa nebulosa compõe-se de gente que, por diferentes razões e motivações, chegaram até lá. É crucial entender essas razões e motivações. Não é indiferente saber se as bombas foram levados por:
- a) alguém que se dispôs a morrer como mártir, depois de ter ouvido, com a necessário espírito piedoso, citações do Corão numa cassette :
- b) alguém que deixou uma bomba nos carris e um dia destes, numa aldeia do País Basco francês, se refastelará pantagruelicamente entre copos de “txacoli” e “bacalao al pil pil”
.


(Edmundo Tavares)

"Apesar de concordar com a maior parte do que escreveu esta manha sobre o Pais Basco, leio nas entrelinhas e no tom dos seus textos alguma animosidade endemica contra os Bascos. Nomeadamente quando escreve o
seguinte:

"uma lingua (o basco) que em muitos sitios do pais basco tinha praticamente desaparecido"

Qual e' que e' o problema de o basco ter sido reabilitado em regioes em que praticamente tinha desaparecido? Obviamente que podemos discordar em relacao aos metodos utilizados, mas da maneira como o escreveu deixa a entender que seria positivo o basco desaparecer como lingua dominante desses sitios. Eu acho triste e' o desaparecimento de linguas regionais, nao e' a sua reabilitacao. Por exemplo, acho triste que na Alsacia, o alsaciano esteja a desaparecer a uma velocidade vertiginosa. Os jovens que conheci em Estrasburgo tinham vergonha de falar alsaciano, porque achavam que era uma lingua de velhos. E' isso que queria para o Pais Basco?

E' que eu nao estou a ver uma pessoa universalista como o Bernard-Henri Levy a assinar um manifesto a pensar que o basco nao deveria ser reabilitado nos sitios em que o basco tinha praticamente desaparecido. Da mesma maneira que nem ele nem eu ficariamos contentes se o hebreu deixasse de ter expressao nos inumeros sitios de Israel onde o hebreu desapareceu em tempos.

Num dos foruns da TSF em que se abordou o tema das reservas ecologicas, um ouvinte manifestava-se com alguma violencia contra as reservas, dizendo que so havia la passaros daqueles que ninguem nunca viu. O mesmo argumento ja foi utilizado em Portugal contra o patrimonio historico. Esta'
degradado? E' pequeno? Sao poucos? Nao se ve? Entao manda-se tudo abaixo e constroi-se um predio com marquises de aluminio. Seguindo a mesma logica:
os bascos sao poucos e chatos, o melhor e' por tudo a falar castelhano.
E' ate' aqui que pode derrapar a sua argumentacao. Ou sera que interpretei mal a sua frase?"



(Rui Curado Silva)

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