ABRUPTO

5.7.03


DECÊNCIA


O Abrupto incita-me a continuar. Fala-me do macro e tem razão em falar dele, do macro. Infelizmente para mim – e para lhe responder tenho de pessoalizar – este país que temos e fazemos, dá cabo de mim todos os dias, encarrega-se sempre de me fazer amochar. Cá, o comportamento responsável é um comportamento freak. (….) Percebe, não percebe?
(…)
A discussão que tenho comigo mesmo é sobre a educação que devo dar aos meus filhos. Devem eles ser educados segundo o princípio do respeito ao outro e das regras mais elementares da civilização, ou, devem eles aproveitar a maneira portuguesa de fazer as coisas e estacionar no lugar dos deficientes se é só para ir comprar fiambre?
(…)
Mas não deixo de me perguntar se este macro vale a pena. Quer dizer, eu sei que não vale a pena, o que quero mesmo saber é bem mais simples. A saber, se alguma vez o meu modus vivendi será caucionado pelas circunstâncias como mais correcto. Duvido e aguardo que, pelo menos, os meus filhos saiam mais à mãe, igualmente exigente, mas bem menos angustiada
.”


Caro ignoto amigo do Guerra e Pas como eu o percebo.

Nestas coisas só se pode responder em bens, em cash como agora se usa. Aqui vai o meu único cash, palavras, sob a forma de um fragmento de um texto que já escrevi há uns anos, antes de me meter numa daquelas actividades que já se sabe irem correr mal, em que se despendem inúmeros esforços que se antevê inúteis, para tentar fazer as coisas bem e ninguém absolutamente quer saber se as coisas se fazem bem ou como de costume., mal.

São dez horas da manhã do dia de Natal . Escrevo este texto no Porto, frente à Foz do Douro , numa cidade fechada e deserta . Não há vivalma nas ruas. Está um dia cinzento e chove aquela chuva que no Norte até à Corunha se chama morrinha. A morriña da nossa irmã galega Rosalia .
Para quem conhece o sítio , a Foz do Douro é um local trágico , local de mortes , suicídios e naufrágios . Basta olhar , como estou agora a olhar , para as vagas cinzentas que se abatem sobre a margem , sobre o molhe e que entram rio adentro . Aqui as vagas puxadas pelo vento rebentam contra o rio , como se o rio fosse sólido , feito de rocha , como aliás suspeito há muito que o Douro é . Os pescadores da Afurada tem muito medo desta barra e , lá longe do outro lado , escondem-se também em casa , deixando os barcos em terra . No meio da espuma e da rebentação, oscila perdida um boia vermelha marcando o estreito canal entre a margem do Douro e o Cabedelo . No Cabedelo matou-se pelo fogo um companheiro meu dos anos 60 que não sabia viver nos anos 80 .
Na margem de cá , sobrevivem pescadores , gente dos estaleiros com profissões que estão a morrer : carpinteiros de navios , conhecedores do cavername do “N. S. da Agonia” , do “Maria Luisa” , do “Cravos de Abril” . À noite há aqui namorados , carros de namorados onde o rio também roubou algumas vidas . E, se é verdade que os pardais são psicopompos , transportadores das almas dos mortos , também há aqui pardais , à chuva , pousados na erva a comer abstractos insectos , enquanto por cima voam baixas as gaivotas . Está tudo demasiado certo, parece ficção , mas é assim que está . A natureza porta-se bem de mais quando resolve fazer paisagens para o espírito.
Mas é o mar e o rio que aqui mandam tudo . Não há mar como este e este é o “meu” mar, o resto é um lago onde se toma banho lá no fundo do país. É o mar dos pescadores, que acontece na Nazaré, na Ericeira , em Peniche , em Sesimbra , o mar cão , o mar maldito , o mar que há-de “comer” Espinho , o único mar que é como o Mar do Norte . Que é o mar do Norte. É com este mar que sempre me aconselhei, falho de querer dos homens respostas que o mar dá com mais dureza, cruel como um cristal, certo como tudo está agora . Com ele me aconselho para saber que espécie de hubris transviada me faz fazer o que eu faço , neste mundo do poder desprovido de qualquer milk of human kindness , feito do pior da pequenez , sem grandeza nem dimensão , poeira da poeira , mas que é o da imperfeição da democracia sem o qual – eu sei – os homens seriam servos .
Não , meus caros críticos , pela inteligência que essa me aconselharia prudência . Não é pela prudência, que essa me aconselharia distância. Não é pela emoção que essa me aconselharia recato. Não é pelos proveitos que esses aconselhariam melhor uso dos recursos. Não é pela fama que essa eu sei ser fácil e de pouca valia. Não pelo poder, que esse eu sei ser vão , pequeno e fugaz . Não é pela grande moral , que essa eu sei ser intima , indizível e imponderável . Não é pelo que se ganha, porque não vale o que se perde.
Mas continuarei. Porque é pela decência, pela simples moralidade dos homens comuns, pela moralidade que nasce da intima convicção de que há coisas certas e outras erradas . Eu sei que isto hoje parece arrogância, autismo , intolerância , mas isso é fruto dos tempos que os homens estão a habituar mal
.”

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EARLY MORNING BLOGS

No Guerra e Pas faz-se uma pergunta que, mesmo que de uma forma diferente, aflora num ou noutro blogue:

Este blog começou há um mês e duvido que dure outro. (…) Mais do que tudo, não será um blog, (…) , uma manifestação essencialmente efémera? Uma paixão de Verão? Um brinquedo que se recebeu no Natal? Começamos entusiasmados, conseguimos atrair atenções o que nos reforça a estamina, amadurecemos e não começamos imediatamente a murchar? Estando ganho o microdesafio, que mais resta?”

O macro. O mundo continua lá fora e quanto mais vozes se ouvirem melhor. Eu sou um liberal, acredito na lei dos grandes números, na “mão invisível”. Há virtudes na cacofonia, cada voz a menos empobrece.

À BLADE RUNNER

Tenho uma imagem, à Blade Runner admito, que tanto pode ser uma utopia , como uma distopia, da terra como um enorme campo em que das casas sai, como no passado em que havia fogo em casa, um fio de fumo, direito ao céu, sem vento. No meu Blade Runner do mesmo campo, das mesmas casas, da mesma lonjura a perder de vista, em vez de fumo saem fios de voz, linhas de letras, solitárias, tão precárias como a “alminha” do “animula vagula blandula” , dizendo tudo ou dizendo nada, procurando tudo e não encontrando nada. É isto que é a nossa esfera.

Na utopia essas vozes falam do mundo, mesmo quando falam de nós. Na distopia, falam só de nós, produto de uma mesma máquina de solidão que, invisível, atravessa esse momento em que alguém sozinho, ás quatro da manhã, olha para um ecrã de computador. Não é simples, porque o ecrã é um espelho e às vezes responde às perguntas.

Se deixar a imaginação trabalhar não custa antever como John Le Carré faria um bom livro policial sobre um blogue estranho, escrito por alguém que usa os escritórios da China Traditional Rugs and Crafts, em Xangai, uma empresa sem registo em lado nenhum, e que parece conter instruções cifradas, “em linguagem comum” (os criptólogos sabem o que é), para construir uma bomba biológica. O leitor de blogues do MI5 fez uma nota de serviço que passou despercebida…
Ou um livro nocturno como o Crash, e, onde estão os acidentes e o seu culto sadomasoquista, está uma comunidade hard que se reúne algures num canto da Internet para tornar real o que escreve nos blogues …
Ou um livro de ficção cientifica sobre um blogue obscuro, lido por um obcecado professor de filosofia de Oxford, especialista no idealismo alemão, e que descobre que Salomon Maimon autor dumas apreciadas Kritische Untersuchengen über den menschlichen Geist oder das höhere Erkenntnis- und Willensvermögen, dito de outra maneira umas “Investigações Críticas sobre o Espírito Humano ou a Faculdade superior do Conhecimento e da Verdade” , publicadas em 1797 , tinha a “faculdade superior” de estar vivo em 2003 e por isso não podia ser humano …
Ou, se Borges fosse vivo, encontraria aí um “sendero” …

Aposto dobrado contra singelo que tudo isto vai ser escrito.

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4.7.03


SOBRE A GUERRA CIVIL DE ESPANHA

Saudei nos Estudos sobre o Comunismo a aparição dos Estudos sobre a Guerra Civil de Espanha. No entanto, tenho sérias objecções a que seja compatível “uma perspectiva científica mas não academicista”, como diz o seu autor, com a ideia que a guerra civil de Espanha foi “o elemento enformador do combate histórico entre fascismo e socialismo” .

Do mesmo modo é contestável a sua descrição , mesmo como elemento de uma “memória colectiva”, da “romantização última

do derradeiro confronto – face a face, corpo a corpo, bala a bala – entre a expressão totalitária das velhas forças conservadoras e a precursão visionária do cunho libertador da «Guardia Roja»

Esta “romantização”, aliás presente nos textos escolhidos no blogue, é incompatível com uma apreciação e o estudo científico da guerra civil espanhola. Hoje, que já se tem acesso a uma massa documental considerável, em particular com os arquivos ex-soviéticos entretanto abertos, é impossível ter qualquer visão romântica da guerra - um conflito cruel entre as grandes ideologias totalitárias do nosso século, se se quiser , para utilizar um conceito polémico, um episódio da "guerra civil europeia" .Só no domínio da pura imaginação ou da retórica política é que se pode falar “da precursão visionária do cunho libertador da «Guardia Roja». Não era “visionário”, nem “libertador”, mas um projecto de poder igualmente totalitário, num certo sentido ainda mais totalitário porque mais moderno, mais dinâmico e mais globalizante, do que o das “velhas forças conservadoras”.

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APRENDENDO

Com os meus alunos de Boticas, (que hoje devem ser homens e mulheres feitos, trabalhar na agricultura, de donas de casa, em empregos públicos no estado e na autarquia, na fábrica – o que significa nas Aguas de Carvalhelhos - , guardas florestais, comerciantes, etc. ) aprendi que as páginas tem “coroa” .

“Senhor professor posso escrever na coroa da página?
Onde?
Na coroa da página. Aqui.
Podes. “

E aprendi sobre a autoridade absoluta:

“Senhor professor, posso virar a página?
Podes.”

*

Com os pedreiros, aprendi que a pedra tem “coração”. Nas pedras há a pedra e o “coração da pedra”, onde ela é mais dura. O núcleo duro da pedra, dizemos nós, estragando tudo.
Eu conhecia a “Educação pela pedra”, mas não a pedra.

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VALE A PENA : EARLY MORNING BLOGS


O Comprometido Espectador acrescenta novos elementos sobre a situação italiana por quem a conhece em primeira mão.
E propõe um “Ver outra vez” a acrescentar ao “Ler outra vez” . Primeira menção : o Pinóquio de Disney .

Os Jaquinzinhos , coisa que eu não sabia o que era antes de descer à capital, faz um exercício revelador de como a mesma notícia pode ser dada no “jornal independente rosa” e no “jornal independente laranja” com cor e tudo. É a teoria da garrafa meia cheia, meia vazia ou da senhora de Toulouse-Lautrec , a vestir-se ou a despir-se. Um exemplo:

"No Jornal Independente Rosa: "Sem conseguir descolar definitivamente para a maioria absoluta, Durão tenta um último esforço para convencer o eleitorado ainda indeciso."
No Jornal Independente Laranja: "A um passo da maioria absoluta, o líder do PSD Durão tenta um último esforço para convencer o eleitorado ainda indeciso
."


E a Esquina do Rio mostra uma outra peculiaridade dos blogues que entra na discussão sobre os ditos – a sua continuidade, em certos casos, com a imprensa escrita. Leia-se “hoje está impresso”, que reproduzo com vénia, para que fique registado na discussão sobre os blogues :


O que me agrada nesta solução (articular uma coluna de opinião semanal com um Blog) é o carácter de bloco-notas que o blog assumidamente tem, que possibilita que todos os dias partilhe temas que descubro, sensações que vivo, ideias que me vêm à cabeça. Por outro lado é curioso o exercício mental a que um blog obriga. Dantes as coisas aconteciam e, ou duravam o espaço de uma semana e ganhavam corpo suficiente para serem escritas, ou nunca apareciam. Com o blog tudo pode aparecer porque, como já disseram muitos que escreveram sobre este assunto, o critério editorial dos media tradicionais, baseado na relativização entre o espaço disponível e a importância do tema e mediado pela figura do editor, não se aplica aqui. A decisão editorial passa exclusivamente para o plano pessoal - escrevo o que é, para mim, naquele instante, relevante escrever. Publico quando quero, consigo ter uma ideia muito aproximada de como sou lido. Na generalidade dos casos procuro colocar-me como intermediário de informação: prefiro não transportar sobretudo opiniões e reflexões pessoais, opto por sugerir links, alinhar assuntos, partilhar informação. É este lado - o partilhar constante de informação de diversos níveis, que é aliás o factor mais interessante dos blogs, mecanismo que é potenciado por citações recíprocas, e que leva a uma cascata de descobertas que é em grande parte a responsável pelo carácter viciante e obsessivo que a escrita dos blogs tem e que a procura constante por novos blogs e novas actualizações alimenta.!"

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3.7.03


CARTA DE TIMOR

Uma amiga minha, a "Z." , foi para Timor e lá leu o Abrupto. Os cliques vem de lá, no pequeno espaço asiático do contador, e, conhecendo a "Z.", devem ser suficientes para elevar o longínquo pico. De Timor, escreveu-me uma carta com o olhar das inglesas na Índia, da Passage to India , medido pela distância de ser portuguesa e não inglesa. Mas é um olhar "colonial" muito especial, que talvez só agora os portugueses possam começar a ter. Aqui ficam, dos antípodas, as palavras:

"Estou em Timor. Nem me lembro se houve alguma razão que me fez escolher Timor para os próximos anos. Nem demorou mais do que se tivesse feito rodar um globo e apontado com um dedo de olhos fechados, para onde imaginei acertar nos trópicos. Abruptamente...
(...)
A Ásia é fabulosa. Size matters. Mais um planeta. Uma sensação de que vivo mais uma vida do que aquela a que tenho direito.
Eu estou nas sete quintas... Nada funciona numa lógica linear de maneira que estou no meu habitat preferido. É tão fácil viver aqui. Um imenso calor dia e noite, uma humidade acima dos 85%, o som dos helicópteros que chegam directamente de Hanói e esta coerência arquitectónica neo-realista tipo Beirute em 1985. E nem tenho que pagar o preço de um "cenário de guerra". Parece um dos lugares mais seguros do mundo. Ando aqui de um lado para o outro a qualquer hora sem problema nenhum. Até a guerra no Iraque ficou lá para outro planeta onde ainda há guerras e para outro tempo que não aquele em que vivemos aqui.
As notícias que acompanhei em directo na BBC e na CCN mais pareceram documentários do que noticiários.
Só cheguei em Janeiro de forma a que o 4 de Dezembro para mim nunca aconteceu. Apesar de bastar uma pequena faísca para isto virar um enorme fogo de artifício (que é o que vai acontecer no segundo imediatamente seguinte à retirada dos militares) parece quase impossível que esta gente se transforme tão facilmente em monstros furiosos. Mas isso seria compreender a própria Ásia, que é tão fabulosa. Tão diferente de tudo. Size matters.
Pois é, seja a nostalgia que me fazem os helicopteros Puma, o peso do calor dos trópicos, ou o simples facto de não estar em Portugal ou na Europa, a verdade é que daqui só saio por motivos de força maior. E mesmo assim…
Neste momento estou cá sózinha, mas a situação corriqueira é com parte da família que agora está aí de férias. (...) Também temos Bridge e gin tónico. (...) Até tenho cães! Três cães. Isto deve soar à India do tempo colonial...
Pouca coisa me liga ao nosso país. Ainda me ligo a pessoas. (,,,)
Nos últimos seis meses estive tão actualizada sobre os debates do estado da nação, os disparates dos do costume ou sobre o que vai sair nos jornais do dia seguinte, como quando estava em Lisboa. É igual conversar ao telefone de Lisboa para Lisboa ou entre Berlim e o Suai.
Impressionante as linhas que ainda dedico a este tema, não é?
Farto-me de viajar. Por aqui. Pela minha área. Para a semana vou para Java. Espero apanhar um banho de verdadeiro caos em Jacarta. Imagino que incompreensível para si.
Quando me perguntaram em miúda qual era a colecção que eu fazia, eu respondi de monstros. Perguntaram-me de seguida se eu tinha pesadelos, disse que não. Mas que os meus monstros tinham muitos pesadelos...
Em relação aos lugares, provavelmente, também me apaixono pelos seus defeitos. Ou pelo contraste dos dois lados da mesma moeda, isto é, do mesmo objecto."

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BERLUSCONI (Actualizado)

Não era minha intenção falar do que aconteceu ontem no PE com Berlusconi, mas já li relatos e comentários em diferentes blogues e alguns leitores do Abrupto pediram-me para comentar os eventos. Penso que tem sentido aqui descrever testemunhalmente o que se passou, por parte de um observador comprometido. Não é jornalismo, mas esforço-me por ser o mais rigoroso que posso nos factos. O resto é opinião.

Sabia do que se preparava, assisti ao que aconteceu e , por razões que tem a ver com as minhas funções, tive e tenho um papel nas sequelas possíveis do evento. Sobre esta última parte compreenderão que não fale, como também não falarei dos aspectos de debate interno e das conversas em que participou Berlusconi.

A parte dos incidentes que tem sido divulgada é a que envolveu Berlusconi e Schultz , com a história do "capo". É apenas uma parte do que aconteceu e não pode ser tratada isoladamente se queremos ter uma apreensão informativo e opinativa do que aconteceu.

Pode no entanto esta parte dos incidentes ser validada isoladamente e não é difícil fazê-lo: a "piada" de Berlusconi é de mau gosto, ofensiva , completamente desapropriada e em nenhuma circunstância devia ter sido dita. Quando instado pelo Presidente do PE a retirar o que disse, Berlusconi recusou-se, o que ainda mais agravou a situação. Berlusconi é o PM italiano, Presidente da UE e nessa dupla qualidade tem obrigações de comportamento institucional que prejudicou com o incidente.

Incidentes deste tipo , exactamente deste tipo, são comuns em todos os parlamentos. O confronto parlamentar favorece-os e declarações absolutamente inadmissíveis e ofensivas , abundam. Só para dar um exemplo do parlamento português : Gama a chamar Bokassa a Alberto João Jardim. Só que na maioria dos casos, quando há uma admoestação do Presidente, os autores de ofensas ou as retiram ou declaram que a sua intenção não foi o insulto pessoal. Berlusconi teve essa oportunidade e desperdiçou-a.

Dito isto com clareza, vamos ao resto. O que descrevo a seguir não justifica, nem legitima o incidente, porque o ónus da maior obrigação de comportamento recai em Berlusconi. Quando decorreu o incidente do "capo" já Berlusconi estava há mais de uma hora no PE numa situação muito difícil : sujeito a uma manifestação agressiva por parte da esquerda parlamentar, em particular os comunistas , os verdes e uma parte dos socialistas. Estes prepararam uma manifestação no interior do hemiciclo com cartazes contra Berlusconi , manifestação essa em que, de forma institucionalmente inadmissível, participaram funcionários do PE e dos grupos políticos da esquerda, levantando cartazes e vaiando-o enquanto falava. Não é irrelevante a circunstância do lugar que ocupa o Conselho no hemiciclo ser encostado ao lado dos comunistas e dos verdes, de modo que a proximidade física dos manifestantes com Berlusconi era grande. Talvez se ele estivesse do outro lado nada acontecesse. A história é assim.

Este comportamento é simultâneo com o decorrer da sessão, ou seja Berlusconi está a falar e mal se ouve, tal é o barulho, os risos e as vaias, vindos da mesma parte da sala. A Mesa tinha dificuldade em controlar a situação e não quis interromper a sessão. Infelizmente situações deste tipo são comuns, embora com menos gravidade da que ocorreu ontem, no plenário, onde os verdes, os comunistas e uma parte dos socialistas costumam fazer manifestações dentro da sala com exibição de cartazes. Quem dirige a sessão e a maioria dos deputados, incluindo muitos socialistas tem condenado estes procedimentos, mas lacunas do regimento impedem uma actuação clara da mesa . Nas actas do PE está um caso de um incidente, em que eu próprio estava a dirigir a sessão, com um deputado basco ligado à ETA.

O que aconteceu na sala não se limitava à manifestação. Berlusconi estava permanentemente a ser insultado em várias línguas, mas com predominância do italiano, de "ladro", "capo", "mafioso" e outros epítetos do mesmo teor por alguns deputados, com predominância dos verdes e comunistas. Um dos verdes que habitualmente toma a liderança destes incidentes e que funciona como uma espécie de bufão (com grande efeito e aplauso jornalístico) é Cohn Bendit. Acham-lhe graça.

Por fim, o discurso do deputado Schultz contem igualmente partes ofensivas para Berlusconi, e referiu-se a questões de política interna italiana violando uma regra tácita do PE. Isto obviamente não justifica as palavras ofensivas de Berlusconi.

Por último, uma observação quanto ao "caso Berlusconi" e que tem a ver com a duplicidade do tratamento que lhe é dado. Digo isto para que se compreenda que a selecção dos "escândalos" que são graves e os que não são, é politicamente motivada. A esquerda europeia nunca "engoliu" os resultados da verdadeira revolução que Berlusconi fez no sistema político italiano (matéria sobre que podemos falar depois) e que a tirou do poder.
Berlusconi não é o único dirigente político europeu com problemas com a justiça, mas parece que é. Não é preciso ir mais longe do que o presidente Chirac. Mas, como os políticos não estão acima da justiça , depois de terminar o mandato irão a tribunal.

Depois, no caso italiano, é preciso uma prudência diferente no julgamento dos "casos de justiça" dada a acentuada politização da acção judicial. Neste mesmo parlamento estão algumas personalidades célebres de juizes "acima da política" que, usando a sua credibilidade como juizes, entraram numa carreira política e são hoje deputados. Dá que pensar.

Por último, Berlusconi é empresário e os anátemas contra o dinheiro, contra o capitalismo e a economia de mercado tendem a descrever essa actividade como uma forma superior de roubo. Lembram-se de Proudhon que dizia que a "propriedade é um roubo..." ?

De qualquer modo, quem mais perdeu com tudo isto foi Berlusconi.

*

Comentários a esta nota em O Comprometido Espectador , A Esquina do Rio , De Esquerda , País Relativo , Linhas de esquerda , Valete Frates ! , Linha dos Nodos , O Intermitente . Estes blogues foram os que encontrei, para já, com referências ao "caso".

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2.7.03


DISCUTIR OS BLOGUES - EDIÇÃO / NÃO EDIÇAO

O aspecto dos blogues não terem editor, e haver uma comunicação não mediada entre quem os escreve e quem os lê é relevante para a sua caracterização. Em teoria, deveria ser um dos elementos de distinção com o jornalismo, embora não sendo o elemento primário de distinção, que permanece o aspecto factual da notícia como matéria prima do jornalismo. O jornalismo existe para nos informar, o resto vem por acrescento e à volta disso. Convém lembrar.

No entanto há que reconhecer que esta distinção edição / não-edição tem cada vez menos sentido.
Primeiro, porque o jornalismo se tornou ficcional , uma espécie de "creative nonfiction" nos seus melhores e raros momentos. Nos piores, ou seja na maioria dos casos, produzem-se apenas redacções opinativas, mais ou menos escolares, que,a última coisa que querem é que lá dentro entrem factos. É o que acontece nalguns blogues .
( Quando colocar as "notas sobre o jornalismo político do Independente" , que tem como principal característica não ser jornalismo, falarei destas questões )

Segundo, porque uma das coisas que enfraqueceu o seu papel no nosso jornalismo, com a dissolução da autoridade nas redacções e o igualitarismo, foi a figura do editor.

Nota final: há também blogues que mantém formas de edição. No Abrupto, que é um "blogue totalitário", no sentido em que não tem comentários, faz-se a edição da correspondência enviada, eliminando repetições, comentários pessoais e reorganizando-se fragmentos das cartas por tema. Como num jornal.

*
Comentários com interesse a esta nota em Liberdade de Expressão .

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OBJECTOS EM EXTINÇÃO 11

A série dos "objectos em extinção" é a que tem tido mais sucesso no Abrupto. Todos os dias recebo sugestões novas e novas formulações de sugestões antigas. Um ar de nostalgia, uma vaga tristeza, uma "pena" pelo tempo já passado, acompanha os textos, todos muito pessoais. Percebe-se a importância que tem os objectos como sinais do tempo e como marcadores quase imperceptíveis da sua passagem. Mudam-se os objectos - e temos usado uma definição muito ampla de objectos de maneira a incluir hábitos, comportamentos ligados ao uso das coisas ou ao consumo de "experiências" fixado no tempo ( como na nota de Luis Miguel Duarte em baixo são os "horários") - e envelhece-se.
As páginas que a Carta Roubada podia escrever ...

Luis Miguel Duarte recorda uma vida nocturna menos nocturna

"Horários aventureiros de juventude: quando em férias, nos juntávamos no café, depois de jantar, entre as 9 e as dez. Quando íamos em carros colectivos, táxis ou boleias, para discotecas, nas quais entrávamos antes das onze, e que fechavam às duas. Quando regressávamos a casa excitadíssimos com a noitada, que custava uma ressaca de quinze dias. Agora, em muitas discotecas entra-se às quatro da manhã, a não ser que se chegue mesmo às cinco ou às seis. E o que está a dar é, numa noite, correr várias. Ficar-se por uma é 'cota'. "


Sérgio Faria também faz questão de dizer que, ao falar "de coisas extintas" (...) guardo alguma nostalgia." E não é por acaso que "as coisas extintas" são quase todas recordações de adolescência :


"Kalkitos. Eram umas "transferências", muito engraçadas, que permitiam que definíssemos a posição e a distribuição de um lote de personagens num cenário previamente estampado numa folha.


Livros da colecção «Falcão». Eram livros de BD, tamanho de bolso. Os tópicos tratados não eram muitos, oscilavam entre estórias sobre a II Guerra Mundial e cowboiadas. Fui aí, pela primeira vez, que me cruzei com o Major Alvega. Com uma personagem que representava um "aristocrata" envolvido na resistência francesa na luta contra os invasores nazis. Com o Buffalo Bil. Ou com o David Crocket.

Cadernetas e cromos. Em particular sobre futebol. Com cromos daqueles que necessitavam que, nas costas, se lhes colocasse uns pontos de cola, para os fixar na caderneta.


Pastilhas elásticas «Pirata». Existam dois tamanhos, cada um com a sua forma de embrulho. O embrulho das mais pequenas era tipo rebuçado. Uma outra maravilha, associada a estas pastilhas, eram os blocos de impressos para jogar à batalha naval.


Pirulitos. Eram uns refrigerantes, tipo gasosa, mas sem carica. Para se abrir tinha de se empurrar um berlinde para dentro da garrafa.

Cassetes de cartucho. Quando comparadas com as actuais cassetes-audio, as cassetes cartucho parecem uns autênticos pacotes. Aliás, parecem muito mais próximas das cassetes-VHS do que das cassetes-audio.

Telefonias a válvulas. Ligavam-se e, antes de se conseguir ouvir o som, era necessário esperar algum tempo, até que as válvulas aquecessem. As suas caixas eram pesadas e, muitas delas, de madeira. À frente, por norma, um tecido forte, rugoso, frisado ou não, servia de adorno e de protecção à "coluna" da telefonia.


Máquinas de copiar a stencil. Funcionavam à manivela. E as matrizes eram uns impressos com três ou quatro vias, com um cheiro pestilento, que se riscavam, para produzir um efeito tipo papel químico.


Papel químico. Quando ainda eram díficil conseguir cópias, o papel químico era também uma solução. Usava-se recorrentemente nos livros comerciais e de contabilidade. E nas máquinas de escrever, para permitir o arquivo da cópia da correspondência emitida.


Máquinas de calcular e máquinas registadoras a manivela. Após a marcação de cada número desejado, carregava-se na tecla da operação desejada e, depois, para processar, era necessário puxar ou rodar a manivela. Imagine-se aquelas somas com inúmeras parcelas...


Telefones de baquelite, pretos, com disco. Eram uns telefones pesadíssimos. A marcação dos números era feita por disco. Colocava-se, por ordem e à vez, o dedo nos algarismos que compunham o número e, depois, rodava-se o disco até ao batente existente, por norma, próximo da posição do 5 nos relógios.
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NOTAS EUROPEIAS (FRANCESAS NESTE CASO) 3 (Actualizada)

CLOSED SHOP

A França, um dos países mais centralistas e culturalmente chauvinistas da Europa, proíbe, em nome da "excepção cultural", a publicidade de filmes na televisão, para que não se corra o risco dos franceses quererem ver mais filmes americanos do que os que já querem ver.
Este dirigismo cultural, verdadeira manutenção do proteccionismo mais cediço, mostra até que ponto a tradição jacobina é pouco liberal. Não admira que conduzam todos os dias uma batalha cada vez mais perdida pela língua e pelo que resta da influência da cultura francesa, não por causa de qualquer conspiração global dos estúdios de Hollywood, mas porque o closed shop faz definhar o que "fecha".

*

Acrescenta o "Cidadão Livre" em e-mail: "sugiro a leitura da seguinte notícia da BBC: "Pela primeira vez, a lista dos livros mais vendidos na França é encabeçada por um livro em inglês – Harry Potter e a Ordem da Fênix"

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NOTAS EUROPEIAS (FRANCESAS NESTE CASO) 2

COMO SE FAZ UMA TEMPESTADE POLÍTICA

Foi em França, mas podia ser em Portugal.- a criação de uma tempestade política completamente artificial. Esta assisti a um metro e meio de distância e por isso posso testemunhar. Num encontro comemorativo do aniversário do PPE falaram várias pessoas incluindo os Primeiros Ministros da Eslováquia e da França e Helmut Kohl. O PM eslovaco citou uma frase atribuida a Churchill : "Socialism is workable only in heaven where it isn't needed and in hell where they've got it." Houve risos. A frase é , como se diz, bem apanhada e os socialistas até devem achar meritória a referência ao facto do "céu" ser governado por um governo da Internacional Socialista.

Em seguida falou Jean-Pierre Raffarin, o PM francês, que é o protótipo da bonomia, pequeno, encorpado, com a cara típica de um boulanger de província, bem disposto , nada snob nem altaneiro, irónico e senhor da sua boutade. E re-citando a frase, que tinha ouvido há minutos, lembrou-se de dizer na brincadeira que, a julgar pelo que pensava Churchill, a França devia estar no Purgatório, visto que "ainda há os socialistas". Depois passou adiante, num discurso de circunstância em que nada havia de política interna. A assistência sorriu, até porque já tinha rido da frase de Churchill, e ninguém ligou nenhuma ao Purgatório.

Eis senão quando, olho mais tarde para uma televisão e vejo a Assembleia da República francesa num verdadeiro pandemónio com os socialistas a exigir desculpas públicas, a instar o Presidente a colocar na ordem "Matignon", perante o "grave insulto, pior do que os de Le Pen" e por fim, socialistas e comunistas a abandonarem em protesto a Assembleia interrompendo o importante debate sobre as reformas. O "grave insulto' foi a história do Purgatório.
Tudo isto, fossem quais fossem os partidos envolvidos, mesmo que fosse ao contrário, é de tal modo ridículo que mostra como está a vida política europeia.

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NOTAS EUROPEIAS (FRANCESAS NESTE CASO)


Está a ocorrer em França uma greve de um sector que se intitula de forma bizarra "intermittants du spectacle" e que se auto-designam de "artistas" : bailarinos, cabeleireiros, montadores de palcos para espectáculos, "animadores culturais" , etc. É na França um número significativo de pessoas, o que mostra os frutos a prazo da política de Malraux de constituição de um forte sector estatal da cultura, entendida como um instrumento da propaganda e da legitimação do estado. Era na sua origem uma política de direita, gaullista, feita em nome da "grandeur de la France" e emigrou para a esquerda com Lang ( e para Portugal com Santana Lopes e Carrilho, ambos discípulos de Lang). A "cultura" é vista essencialmente como alta propaganda, indiscutível pelo seu estatuto e excelente como mecanismo de influência política. Uns fizeram-na com as vanguardas estéticas, outros com o teatro de revista e o Pedrito de Portugal, mas é o mesmo mecanismo.

A greve, que está a abater todos os festivais de Verão, Avignon, Montpellier, etc., mostra a dimensão de indústria que hoje a "cultura" tem nas sociedades contemporâneas, o seu peso económico, a sua intimidade com o estado (grande em França, menos nos países anglo-saxónicos), assim como a confusão essencial de tratar esta "cultura" como associada à criação, retirando daí uma intangibilidade face às mesmas críticas que, por exemplo, escrutinam uma política de turismo, ou de animação urbana , ou a propaganda política. É por isso que jornais como o Le Monde noticiam a greve na secção de "cultura" , junto com os livros e os filmes novos. É também por isso que não há maior equívoco do que a existência de Ministérios da Cultura, que, com excepção do património, pouco mais fazem do que gerir indústrias culturais e serem, nos tempos fastos, ministérios da propaganda. A "cultura" devia ir para os ministérios da educação, da indústria, do comércio externo, onde as suas virtualidades em cada uma destas áreas deveriam ser maximizadas, e haver apenas um Ministério do Património.

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1.7.03


ARRUMAÇÃO DA CASA

Muito de interessante para mim e todos os leitores do Abrupto chega-me pelo correio. Nesta secção "arrumo a casa", sem desprimor, bem pelo contrário, para as sugestões e comentários mais avulsos.

IMPACTOS DA INTERNET

José Carlos Santos chama a atenção para

"um aspecto do impacto da Internet na vida das pessoas que me parece que ainda não começou a ser estudado. Refiro-me ao impacto que tem na vida das pessoas que têm algum problema mental que lhes cause sofrimento e que, graças à Internet, descobrem que não são as únicas a tê-lo. Quem fizer uma busca na Internet por Prosopagnosia ou por Síndroma de Asperger, por exemplo, encontrará imensos relatos de pessoas que se sentiram muitíssimo aliviadas por descobrirem que o seu problema não só é partilhado por muitas outras pessoas como, ainda por cima, é algo que já se encontra diagnosticado. "

"E EU TAMBÉM TENHO DIREITO A UM MOVIMENTO SOCIAL?"

"Luhuna C." transcreve um "panfleto anarquista" que teria sido "distribuído" no FSP. Não sei se é verdadeiro ou falso, pode ser aquilo que antigamente se chamava "provocação", mas tem o tom certo e merece registo.

"Os jovens perguntam ao fórum:

O que querem os movimentos antiglobalização? A utopia do pós-tardocapitalismo? O capitalismo da utopia? Porque é que agora são alterglobalização e não anti? Porque é que se sujeitam assim aos jogos de linguagem e de conceitos do poder? Porque é que agora o Euromarche se chama Carrefour? O que é a alterglobalização e onde a posso comprar? No palmeiras ou no vitória? E não me estarão a vender gato por lebre? Ou anti por alter e alter por anti? E quem é o director de marketing? É aquele brasileiro? E onde começaram? Num editorial do Ramonet nas selecções do reader’s digest? Num editorial do bibi no Le monde diplomatique? Ou nas ruas escondidas e praças destruídas de outras cidades (muito antes de a SIC noticias vos avisar ou o BE/PC vos autorizar)? A attac detém agora os direitos de autor e de concessão de franchise? Posso arrotar à mesa e comer com as mãos e continuar a ser cidadão? E os movimentos sociais o que são? Existem para lá de histórias que nos contam bardos? Serão um oásis ou S. Sebastião multiculturalizado? E o que querem os movimentos sociais? A sua fatia do tardocapitalismo? A sua tarde ao sol na fatia do capitalismo? Um outro capitalismo é possível? Uma outra possibilidade é capitalizável? E eu também tenho direito a um movimento social? E a um blog? Serão os movimentos sociais anjos da guarda reificados? E aquilo que se faz assim para frente e para trás, pimba pimba, também pode ser considerado um movimento social? Será (seria) o fórum social uma gigantesca orgia? Ou uma passerelle da esquerda gourmet el corte inglês? Há after-hours no Lux? Vai haver t-shirts à venda? E qual é o quociente de paternalismo e de sentimentos de culpa presente nesta cena toda? Dado a sua contribuição ao melhoramento da sociedade deverá o estado começar a subvencionar os sociólogos e historiadores presentes? E poderíamos aplicar uma taxa tobin ás transferências de jogadores de futebol para pagar aos sociólogos e historiadores presentes? O Deco estará presente no FSP? E os “violentos”? Destruirão eles o movimento? Criaram eles o movimento? Qual é mínimo de horas que tenho de estar no FSP para depois me poder assumir enquanto participante nele? Uma tarde chega? Poderá o lugar deixado vago por Carlos Cruz e Herman José ser ocupado pelo Boaventura e pelo Carvalho da Silva? Poderá o Boaventura apresentar a roda da sorte? E quem seria a Rute Rita? (eu sei, vocês sabem?) E quem é que poderia ocupar o lugar do Paulo Pedroso (eu também sei, vocês também sabem?) E se não fosse a ingenuidade dos jovens e a velhaquice dos velhos existiria FSP? E o FSP quer um piquenique ou uma revolução? Poderei dançar o electroclash no FSP? Poderá afinal a revolução aparecer na televisão (no mínimo no “acontece”)?
Paremos este mundo, uma outra guerra é possível. Todos os nãos, um único sim.

Os filhos de Bragança.
"


DISCORDÂNCIAS VÁRIAS COM NOTAS DO ABRUPTO


JBC sobre o "Horror ao vazio"

"Atrevo-me a escrever-lhe para lhe lembrar que os seus amigos liberais norte-americanos não são menos "regulamentadores" que os legisladores europeus e quando fala de controle de comportamentos penso imediatamente nas disposições legais da Administração, seja local, estadual ou federal, sobre o controle do tabagismo."

João Correia discorda do que escrevi sobre futebol:

"A sua luta contra o futebol é antiga mas será infrutífera, porque o lazer é um bem que os humanos sabem desfrutar. A sua campanha contra o Euro 2004, assim como a do governo, não convence e tem como base uma falácia, o custo que o orçamento do Estado suporta.
Devo-lhe dizer que não sou nenhum entendido na matéria, nem especialista em contas do estado, mas acompanho a actualidade e gosto de assistir a um bom jogo de futebol.
Pelo que tenho sido informado dos cerca 600 milhões de contos que foram assinados nos contractos-progama dos 10 estádios para o Euro 2004 só cerca de 130 milhões é que serão comparticipados pelo governo. Como os empreiteiros vão pagar ao governo só dos contratos-programa cerca de 115 milhões de contos à cabeça de IVA, restam cerca de 20 milhões de contos que serão cobertos pelos cerca de 95 milhões que o governo (70%) irá receber da comparticipação dos fundos da União Europeia.

Pelo que me parece o negócio é para o governo e não para os Clubes. Isto sem contar com efeito alavanca que a economia sofre com o desenvolvimento destes investimentos assim como o efeito do evento quando este tiver lugar com os milhões de pessoas que se deslocarão pelo país.
Quanto aos desvios aos contratos-programas parte deles já estavam previstos, porque estes foram calculados com base no número de lugares dos respectivos estádios, mas de qualquer forma serão suportados pelos Clubes.
"

Filipe Figueiredo escreve sobre a "presença (ou ausência) da história" :

"Lá diz que: "Os nossos jornais e a restante comunicação social também não reflecte sobre a história, sobretudo porque a desconhece ou porque possui delas ideias gerais". Posso concordar em parte mas não na totalidade. É que existe uma revista na imprensa dedicada apenas à história e que tem esse mesmo nome: História. De seguida existe todos os dias no jornal de noticias( e noutros) um pagina/meia pagina dedicada a alguém ou algum acontecimento Histórico importante. Na revista do Expresso e do Público (ao Domingo) há também sempre uma folha/duas dedicadas ao mesmo. Inclusivé na revista máxima é colocada um biografia em todas as revistas. Além disso, existe um canal na TV Cabo ( e cada vez mais a população portuguesa adere à TV Cabo) sobre História. Na TV2 passam excelentes documentários Históricos (Sinais do Tempo e o Lugar da História) mais o programa semanalmente transmitido pelo Professor Hermano Saraiva. Muitos destes artigos e programas não são de ideias gerais mas de estudos por vezes profundos, o que prova que eles conhecem. E mais exemplos poderia dar mas penso principalmente que quem mais deve reflectir sobre história são as pessoas e não a comunicação social, especialmente no seguinte sentido:

Em certas situações que aconteceram no passado e que às vezes nos confrontamos novamente, ela (comunicação social), deve fazer esse exercício de recordar o que fizemos e as acções que tomamos "da outra vez" , para agora reflectirmos e voltar a decidir. Em muitos casos deve mostrar mas nunca deve determinar o caminho.

Quando diz: "Pensar a história implica conhecê-la bem e, para isso, precisamos de tempo, disciplina, vontade, gosto, precisamos de compreender a sua importância" , penso que a "vontade" e o "gosto" partem quase sempre de cada um e não é a escola (pelo menos esta) que consegue impor ou despertar a vontade. Ela pode despertar para aprendermos mais sobre ela. Mas se não desperta......acontece o debitar nos exames aquilo que se ouviu e os alunos tiram uma boa nota. E mesmo quando desperta, não é esse despertar que faz tirar uma boa nota.
"

A Maria José Vasconcelos acha que no "Estado do Abrupto (Junho 2003)" o "pico" asiático é de Timor e não de Macau, e deve ter razão.

ESTRADAS, PEDREIRAS E BLOGUES

suscitaram muito correio que será tratado à parte.

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OBJECTOS EM EXTINÇÃO 10

Acrescento eu agora quatro, de tipo muito diferente:

1) O programa Lotus Magellan, o melhor programa que jamais tive para "viajar" no computador. Para além de ter o nome do nosso Magalhães, era de uma simplicidade e eficácia absolutas e só o deixei de usar quando o número de ficheiros ultrapassava a capacidade do programa, que ainda estava na era do MSDOS. Até hoje nenhum o substituiu.

2) O programa Lotus Agenda que foi uma tentativa da Lotus de fazer um misto entre uma base de dados e uma agenda, ou um programa do género do MS Outlook. O programa era muito inovador e acabou por ficar num limbo do software, sem continuidade. O Agenda permitia fazer anotações em texto corrente, não formatado e uma única entrada podia ser organizada por diferentes categorias que, uma vez definidas, eram automaticamente reconhecidas. Na altura usava o DBase III ou IV, e já fazia quase todo o meu trabalho de investigação usando bases de dados. Tentei adaptar o Agenda a uma espécie de cronologia complexa, remetendo para bases de dados biográficas e por organização e o programa , apesar de alguns erros, mostrava que tal era possível de uma forma bastante criativa. Infelizmente a Lotus não fez mais nenhuma versão e deixou cair o Agenda.
Depois mudei-me para o MS Access, que é o que uso hoje, experimentei de passagem o Asksam, mas continuo a não ter algumas vantagens do Agenda, a não ser através de artifícios complicados e pesados na memória.

3) A experiência do Sud Expresso ou do antigo "comboio da noite" Porto-Lisboa e vice-versa. Voltarei à "experiência" enquanto "objecto".

4) As livrarias "marxistas-leninistas". Em breve acrescentarei aqui duas notas sobre a Banner Books and Crafts , em Londres, que desapareceu , e a Aurore, que ainda existe, minha vizinha em Bruxelas, transformada numa categoria única "antiquariat marxiste-leniniste".

e o José Carlos Santos , sugere-me um quinto objecto, mais as memórias associadas:

5) "a régua de cálculo, outrora instrumento de trabalho indispensável para engenheiros. No que me diz respeito, este objecto está ligado a uma recordação bastante agradável. Há bastantes anos atrás, um amigo do meu pai dotado de uma grande curiosidade intelectual resolveu comprar uma régua de cálculo e perceber como se trabalhava com ela. Não tendo alcançado último este objectivo e sabendo que eu me interessava por Matemática, propôs emprestar-ma para que eu aprendesse a trabalhar com ela e depois poder ensinar-lhe. Quando percebi o seu funcionamento, o meu pai combinou com o amigo que almoçaríamos juntos para então eu explicar o funcionamento da régua de cálculo. Aquele almoço foi a primeira recompensa material que tive em compensação pelo trabalho de realizar uma tarefa ligada à Matemática".


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30.6.03


POEMA DE VASCO GRAÇA MOURA

a propósito de alguns boatos que o davam como autor anónimo de O Meu Pipi , VGM publica no Abrupto as seguintes "décimas de refutação". Agora digam lá se isto não é verdadeiro "serviço público".


décimas de refutação

já num blogue o meu pipi?
de um pipi, que caso estranho...
eu vou ali e já venho:
dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.

é forçoso que eu desminta
com vigor essa atoarda:
por muito usar a espingarda
e por gastar muita tinta,
não se espere que consinta
na falsidade que li
e me ofende o pedigree:
garanto que não fui eu
o brejeiro que meteu
já num blogue o meu pipi.

quer-se o pipi bem guardado
para uso pessoal:
nestas coisas afinal
deve ser-se recatado.
demais, quem seja versado
nos tiques do meu engenho,
das prosódias que eu amanho
já saberia de cor
que eu faria bem melhor
de um pipi... que caso estranho!

nem da lira tiraria
maior glória do instrumento
quando ao pipi acrescento
a minha morfologia.
e decerto não cabia
num blogue assim o tamanho
do lenho ardendo no lanho.
pipilar pipis na liça
muito enguiça e pouco atiça...
eu vou ali e já venho...

o que é de césar, quem jogue
assim a césar o dê
e se entender o porquê
deixe então que eu desafogue:
que não pus pipi no blogue
nem pus blogue no pipi:
ri melhor quem no fim ri
por redondilha ou quiasmo,
ou por música de orgasmo:
dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.

vasco graça moura

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HISTÓRIA DAS ESTRADAS

Ainda ninguém se lembrou de fazer uma história de uma estrada moderna, como a EN 1 com a sua ascensão e decadência. Era interessante, quase que se podia fazer uma história de Portugal no século XX com base na EN 1.

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A DESTRUIÇÃO DE PORTUGAL

Como vivo numa aldeia, tenho que fazer parte da viagem para Lisboa por estradas e caminhos mais ou menos secundários, ou caminhos que foram importantes , como a antiga EN 1, e agora estão um pouco abandonados de tudo menos de trânsito. É um espectáculo confrangedor a destruição da paisagem, a partir das estradas para dentro, para os campos que sobram. Restaurantes manhosos, casas, fabriquetas, uma nova praga que são uns stands de automóveis, camiões, máquinas ao ar livre, crescendo todos os dias de uma forma anárquica, tornando irrecuperável parte imensa de Portugal. Tudo mergulhado no lixo, na sucata, nos melões em tendas à beira da estrada, no pó, nos montes de entulho deixados por todo o lado.
E cada vez é pior, e este é o sentido para onde vamos. Cada vez é pior.

Agora vou apanhar mais um avião, fazer mais uma corrida, mais uma viagem, como nos carrinhos de feira e, com o céu limpo, durante vinte minutos, ver a destruição por cima, sob a forma das pedreiras ferindo tudo o que é monte ou colina, alastrando de castanho amarelado no meio do verde, às dezenas e dezenas entre Lisboa e Coimbra. Faz pena.
Se alguém fizer, ou se já existir um movimento contra as pedreiras, contem comigo.

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29.6.03


A PROPÓSITO DA PIDE

No Combate, órgão do PSR, o partido trotsquista membro do BE, António Louçã compara-me com Goebbels e propõe que eu seja julgado como Milosevic no Tribunal Penal Internacional pelas minhas opiniões sobre a guerra do Iraque. Não é metafórico, nem blague, é mesmo a sério – se ele pudesse prendia-me.

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ESTADO DO ABRUPTO (JUNHO 2003)

A semana passada deu-se uma pequena revolução na blogosfera, certamente fruto da maior exposição pública deste tipo de media: aumento do número de blogues e maior número de leitores para muitos blogues individuais.
O Abrupto, como penso aconteceu noutros blogues, teve um incremento muito significativo, quase o dobro, de leitores e “pageviews”. Neste momento atingiu as 70.000 “pageviews” em pouco mais de seis semanas (dados do Bstats o contador com uma série mais longa), sendo deste mês quase 43.000, até hoje. A média actual de “pageviews” diárias atingiu esta semana mais de 2.100, e mantém-se consistentemente acima de mil há várias semanas. O dia mais visto foi 23 de Junho em que houve mais de 3.000 “pageviews”, um efeito da reportagem do Público.

Os dias com mais afluência são segundas e quintas, embora haja uma frequência muito regular durante toda a semana e uma quebra no fim de semana e feriados. As melhores horas são o principio da tarde, o principio da manhã e as horas da noite.

O Abrupto é muito lido em Portugal, depois na Europa, a seguir no Brasil e nos EUA - Costa Leste e residualmente na Ásia (talvez Macau) e na Costa Ocidental dos EUA. Há um pico num fuso horário que deve ser dos Açores e Madeira. Comparativamente, os Estudos sobre Comunismo são mais internacionais do que o Abrupto.
Pela análise das “entradas” no Abrupto, análise mais difícil de fazer e só indicativa, um número muito significativo de visitantes vem de fora da blogosfera e chega ao blogue através de procuras no Google ou outros motores de busca ou entra directamente vindo da rede.

Há cerca de 200 blogues portugueses e brasileiros com ligações ao Abrupto. As “acções” do Abrupto no Blogshares subiram de 0.25 cêntimos para 199.57 dólares, à data em que escrevo esta nota.
Obrigado a todos.

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BLOGUES COMO ANOTAÇÕES DO MYLIFEBITS

Existem muitos paralelos entre os blogues e o projecto da Microsoft de incluir no Windows um programa intitulado MyLifeBits, uma espécie de backup da vida toda. Sobre o MyLifeBits escrevi no principio do ano um artigo no Público em que chamava a atenção para o modo como a vida afectiva podia ser afectada pelo MyLifeBits e pela manipulação da memória, em particular, pela obsessão da memória que o programa permitia. Agora vejo as similitudes entre alguns problemas suscitados pelo MyLife Bits e os blogues.

Ambos os programas se desenvolvem num sentido comum, ao associarem a nossa percepção do vivido com o seu registo em tempo quase real, seja sobre forma literal no MyLifeBits, seja sobre a forma de anotações nos blogues. As anotações “vividas” nos blogues representam bem o tipo de observações e divagações que o MyLifeBits permite associar aos eventos registados. No MyLifeBits cabem os livros e artigos que lemos, todas as fotos e vídeos, telefonemas e mensagens, mas o mecanismo de ordenação e procura é um fio interpretativo, uma espécie de auto gnose, de conversa interior com que os “anotamos” e isso é a matéria dos blogues.

O resultado é um confronto acrescido connosco próprios. Uma nota muito significativa do Monologo revela a estranheza com o nosso passado sentimental, com um “estado” irrepetível, uma espécie de oddity , de nostalgia perplexa que já existe nos blogues e ainda existirá mais no MyLifeBits:

reler posts antigos
tentar retirar posts que contenham referências a estados mentais
agora parecem-me ridículos
reconstruir percurso bloguista significa o quê? que me incomoda exposição de sentimentos, só isso
as emoções e sentimentos polarizam a nossa agenda mental. quando o efeito se vai, o pensamento prevalece (eu acho)...”


Os blogues e o MyLifeBits tem aspectos mais revolucionários do que se pensa, porque permitem um grau de exteriorização da auto percepção – mesmo que efabulada – que nunca existiu e um tipo de confronto com o modo como “nos fizemos” sem paralelo no passado. Pode ser doloroso e infeliz, e na maioria dos casos será porque há mais infelicidade do que felicidade, mas trará novas formas de perturbação interior.

(Continua)

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OBJECTOS EM EXTINÇÃO 9 (Actualizado)

1. Realizam-se as comemorações dos 150 anos do objecto que deu origem a esta série de notas: o selo postal. O Público tem hoje um artigo sobre os primeiros selos portugueses, os “D.Maria”, um dos quais, novo, vale uns milhares de contos. Mas os selos estão mesmo em extinção e sobre o estado do e-postage saiu um artigo interessante no último número do PC Magazine.


2. Outras sugestões de objectos em extiinção enviadas pelos leitores do Abrupto:


- “a farinha 33 e óleo de fígado de bacalhau, nunca mais os vi”(Pedro Figueiredo)

- “um tabuleiro de glicerina que servia para um professor policopiar com a maior das boas vontades e alguma semelhança com os jornais clandestinos, os materiais que utilizava nas suas aulas. os ingredientes comprava-os na baixa, numa drogaria que não sei se também já foi extinta e depois preparava-se ao lume. Parecia uma receita de culinária. Tudo tinha de ficar muito liso no fim para não haver "falhas" na impressão. Porque é que eu tenho alguma saudade dos tabuleiros de glicerina? Porque era nova? sim, porque agora é tudo mais fácil.” (Maria Pereira)

- Mário Filipe Pires comenta este último objecto, o gelatinógrafo:

"Interessante a correspondência sobre os objectos em extinção, a referência que se faz ao tabuliero de glicerina chamava-se gelatinógrafo.
No entanto é pena que isso não seja divulgado, já que na falta de qualquer energia electrica ou solar permite fazer cópias e pode servir num aperto.
Já a noção de a dificuldade ser um dos atractivos é sintomática. O facto de ser dificil implica que haja empenhamento e verdadeiro entusiasmo. A facilidade de relacionamento que as tecnologias de comunicação permitem, tem levado á criação de relações de aparente proximidade que muitas vezes se revelam falsas.
Projectos que se iniciam com um núcleo de entusiastas verdadeiramente motivados e se vão alargando, podem a médio prazo acabar por divergencias de empenho. O sindroma dos trabalhos de grupo de liceu onde apenas um ou dois fazem o trabalho e os outros se limitam a assinar vem-me sempre á ideia nessas ocasiões."




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© José Pacheco Pereira
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