ABRUPTO

2.7.03


OBJECTOS EM EXTINÇÃO 11

A série dos "objectos em extinção" é a que tem tido mais sucesso no Abrupto. Todos os dias recebo sugestões novas e novas formulações de sugestões antigas. Um ar de nostalgia, uma vaga tristeza, uma "pena" pelo tempo já passado, acompanha os textos, todos muito pessoais. Percebe-se a importância que tem os objectos como sinais do tempo e como marcadores quase imperceptíveis da sua passagem. Mudam-se os objectos - e temos usado uma definição muito ampla de objectos de maneira a incluir hábitos, comportamentos ligados ao uso das coisas ou ao consumo de "experiências" fixado no tempo ( como na nota de Luis Miguel Duarte em baixo são os "horários") - e envelhece-se.
As páginas que a Carta Roubada podia escrever ...

Luis Miguel Duarte recorda uma vida nocturna menos nocturna

"Horários aventureiros de juventude: quando em férias, nos juntávamos no café, depois de jantar, entre as 9 e as dez. Quando íamos em carros colectivos, táxis ou boleias, para discotecas, nas quais entrávamos antes das onze, e que fechavam às duas. Quando regressávamos a casa excitadíssimos com a noitada, que custava uma ressaca de quinze dias. Agora, em muitas discotecas entra-se às quatro da manhã, a não ser que se chegue mesmo às cinco ou às seis. E o que está a dar é, numa noite, correr várias. Ficar-se por uma é 'cota'. "


Sérgio Faria também faz questão de dizer que, ao falar "de coisas extintas" (...) guardo alguma nostalgia." E não é por acaso que "as coisas extintas" são quase todas recordações de adolescência :


"Kalkitos. Eram umas "transferências", muito engraçadas, que permitiam que definíssemos a posição e a distribuição de um lote de personagens num cenário previamente estampado numa folha.


Livros da colecção «Falcão». Eram livros de BD, tamanho de bolso. Os tópicos tratados não eram muitos, oscilavam entre estórias sobre a II Guerra Mundial e cowboiadas. Fui aí, pela primeira vez, que me cruzei com o Major Alvega. Com uma personagem que representava um "aristocrata" envolvido na resistência francesa na luta contra os invasores nazis. Com o Buffalo Bil. Ou com o David Crocket.

Cadernetas e cromos. Em particular sobre futebol. Com cromos daqueles que necessitavam que, nas costas, se lhes colocasse uns pontos de cola, para os fixar na caderneta.


Pastilhas elásticas «Pirata». Existam dois tamanhos, cada um com a sua forma de embrulho. O embrulho das mais pequenas era tipo rebuçado. Uma outra maravilha, associada a estas pastilhas, eram os blocos de impressos para jogar à batalha naval.


Pirulitos. Eram uns refrigerantes, tipo gasosa, mas sem carica. Para se abrir tinha de se empurrar um berlinde para dentro da garrafa.

Cassetes de cartucho. Quando comparadas com as actuais cassetes-audio, as cassetes cartucho parecem uns autênticos pacotes. Aliás, parecem muito mais próximas das cassetes-VHS do que das cassetes-audio.

Telefonias a válvulas. Ligavam-se e, antes de se conseguir ouvir o som, era necessário esperar algum tempo, até que as válvulas aquecessem. As suas caixas eram pesadas e, muitas delas, de madeira. À frente, por norma, um tecido forte, rugoso, frisado ou não, servia de adorno e de protecção à "coluna" da telefonia.


Máquinas de copiar a stencil. Funcionavam à manivela. E as matrizes eram uns impressos com três ou quatro vias, com um cheiro pestilento, que se riscavam, para produzir um efeito tipo papel químico.


Papel químico. Quando ainda eram díficil conseguir cópias, o papel químico era também uma solução. Usava-se recorrentemente nos livros comerciais e de contabilidade. E nas máquinas de escrever, para permitir o arquivo da cópia da correspondência emitida.


Máquinas de calcular e máquinas registadoras a manivela. Após a marcação de cada número desejado, carregava-se na tecla da operação desejada e, depois, para processar, era necessário puxar ou rodar a manivela. Imagine-se aquelas somas com inúmeras parcelas...


Telefones de baquelite, pretos, com disco. Eram uns telefones pesadíssimos. A marcação dos números era feita por disco. Colocava-se, por ordem e à vez, o dedo nos algarismos que compunham o número e, depois, rodava-se o disco até ao batente existente, por norma, próximo da posição do 5 nos relógios.
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© José Pacheco Pereira
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