ABRUPTO

5.7.03


EARLY MORNING BLOGS

No Guerra e Pas faz-se uma pergunta que, mesmo que de uma forma diferente, aflora num ou noutro blogue:

Este blog começou há um mês e duvido que dure outro. (…) Mais do que tudo, não será um blog, (…) , uma manifestação essencialmente efémera? Uma paixão de Verão? Um brinquedo que se recebeu no Natal? Começamos entusiasmados, conseguimos atrair atenções o que nos reforça a estamina, amadurecemos e não começamos imediatamente a murchar? Estando ganho o microdesafio, que mais resta?”

O macro. O mundo continua lá fora e quanto mais vozes se ouvirem melhor. Eu sou um liberal, acredito na lei dos grandes números, na “mão invisível”. Há virtudes na cacofonia, cada voz a menos empobrece.

À BLADE RUNNER

Tenho uma imagem, à Blade Runner admito, que tanto pode ser uma utopia , como uma distopia, da terra como um enorme campo em que das casas sai, como no passado em que havia fogo em casa, um fio de fumo, direito ao céu, sem vento. No meu Blade Runner do mesmo campo, das mesmas casas, da mesma lonjura a perder de vista, em vez de fumo saem fios de voz, linhas de letras, solitárias, tão precárias como a “alminha” do “animula vagula blandula” , dizendo tudo ou dizendo nada, procurando tudo e não encontrando nada. É isto que é a nossa esfera.

Na utopia essas vozes falam do mundo, mesmo quando falam de nós. Na distopia, falam só de nós, produto de uma mesma máquina de solidão que, invisível, atravessa esse momento em que alguém sozinho, ás quatro da manhã, olha para um ecrã de computador. Não é simples, porque o ecrã é um espelho e às vezes responde às perguntas.

Se deixar a imaginação trabalhar não custa antever como John Le Carré faria um bom livro policial sobre um blogue estranho, escrito por alguém que usa os escritórios da China Traditional Rugs and Crafts, em Xangai, uma empresa sem registo em lado nenhum, e que parece conter instruções cifradas, “em linguagem comum” (os criptólogos sabem o que é), para construir uma bomba biológica. O leitor de blogues do MI5 fez uma nota de serviço que passou despercebida…
Ou um livro nocturno como o Crash, e, onde estão os acidentes e o seu culto sadomasoquista, está uma comunidade hard que se reúne algures num canto da Internet para tornar real o que escreve nos blogues …
Ou um livro de ficção cientifica sobre um blogue obscuro, lido por um obcecado professor de filosofia de Oxford, especialista no idealismo alemão, e que descobre que Salomon Maimon autor dumas apreciadas Kritische Untersuchengen über den menschlichen Geist oder das höhere Erkenntnis- und Willensvermögen, dito de outra maneira umas “Investigações Críticas sobre o Espírito Humano ou a Faculdade superior do Conhecimento e da Verdade” , publicadas em 1797 , tinha a “faculdade superior” de estar vivo em 2003 e por isso não podia ser humano …
Ou, se Borges fosse vivo, encontraria aí um “sendero” …

Aposto dobrado contra singelo que tudo isto vai ser escrito.

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© José Pacheco Pereira
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