ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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31.10.04
APRENDENDO COM JOHN MUIR SOBRE O VENTO NAS FOLHAS
(John Muir citado no poema da Spoon River Anthology) "A few minutes ago every tree was excited, bowing to the roaring storm, waving, swirling, tossing their branches in glorious enthusiasm like worship. But though to the outer ear these trees are now silent, their songs never cease. Every hidden cell is throbbing with music and life, every fiber thrilling like harp strings, while incense is ever flowing from the balsam bells and leaves. No wonder the hills and groves were God's first temples, and the more they are cut down and hewn into cathedrals and churches, the farther off and dimmer seems the Lord himself." (Em breve mais sobre Muir.) (url)
COLOCAR FACES NOS POEMAS
Este é Galba, do poema matinal de Cavafy, o dos setenta e três anos, de que o oráculo falava. Nero entendeu mal a frase délfica e pensou apenas na sua velhice longínqua. Não. Havia outro, já velho, que o veio a ajudar a suicidar-se. Era um velho duro e imprudente, mas chegou a imperador. Prometeu o que não podia dar e acabou esquartejado pelas tropas. Um soldado da 15ª Legião acabou com ele com um golpe final no pescoço. Um tal Fabius Fabulus cortou-lhe a cabeça, mas teve que a colocar no seu saiote porque Galba era calvo e não havia cabelo para a segurar com as mãos. Pequeno detalhe de um tempo em que transportar uma cabeça ainda era habitual. (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 349
indecisos. Entre este poema da Spoon River Anthology IMMANUEL EHRENHARDT I began with Sir William Hamilton's lectures. Then studied Dugald Stewart; And then John Locke on the Understanding, And then Descartes, Fichte and Schelling, Kant and then Schopenhauer -- Books I borrowed from old Judge Somers. All read with rapturous industry Hoping it was reserved to me To grasp the tail of the ultimate secret, And drag it out of its hole. My soul flew up ten thousand miles And only the moon looked a little bigger. Then I fell back, how glad of the earth! All through the soul of William Jones Who showed me a letter of John Muir. (Edgar Lee Masters) e este de Cavafy O PRAZO DE NERO Não se inquietou Nero quando ouviu a profecia do Oráculo de Delfos. "Teme os setenta e três anos." Tinha tempo ainda para gozar. Tem trinta anos. Mais do que suficiente é o prazo que o deus lhe dá para cuidar dos perigos futuros. Agora voltará a Roma um pouco cansado, mas maravilhosamente cansado desta viagem, que era toda dias de gozo – nos teatros, nos jardins, nas palestras... Tardes das cidades da Acaia... Ah sobretudo o prazer dos corpos nus... Isto Nero. E na Espanha Galba furtivamente articula e exercita suas tropas, o velho de setenta e três anos. traduzido por R. M. Sulis, M. P. V. Jolkesky, e A. T. Nicolacópulos. Uma boa solução para o indeciso é ficarem os dois e, durante o dia, aproveitando a hora roubada ao Tempo, deles falarei. * Bom dia, com a hora roubada! (url)
INTENDÊNCIA
Actualizada a nota PATETICES EM QUE SE GASTA O NOSSO DINHEIRO: DIÁRIO DA REPÚBLICA VERDE (url) 30.10.04
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: AUTO-RETRATO
Este é o meu auto-retrato, diz a "Espírito". Cinquenta mil vezes, eu e a minha irmã "Oportunidade", nos fotografamos em Marte, sempre com a nossa face visível para se perceber a cor. A um canto, de passagem, como Hitchcock nos filmes. Mas hoje chega de modéstia, aqui está o rouge, o blush, o rimmel, as nossas cores pelas quais medimos a cor do resto do mundo. Narcisistas? Vaidosas, talvez. Não é só Rembrandt que tem direito a auto-retratos. (A foto representa o círculo de calibragem das imagens, o objecto mais fotografado em Marte.) (url)
APRENDENDO COM JORGE LUIS BORGES
O princípio Dois gregos estão a conversar: talvez Sócrates e Parménides. Convém que nunca saibamos os seus nomes; a história, assim, será mais misteriosa e mais tranquila. O tema do diálogo é abstracto. Aludem por vezes a mitos, de que ambos descrêem. As razões que alegam podem abundar em falácias e não chegam a um fim. Não polemizam. E não querem persuadir nem ser persuadidos, não pensam em ganhar ou em perder. Estão de acordo apenas numa coisa; sabem que a discussão é o não impossível caminho para chegar a uma verdade. Livres do mito e da metáfora, pensam ou tentam pensar. Nunca saberemos os seus nomes. Esta conversa entre dois desconhecidos num lugar da Grécia é o facto capital da História. Esqueceram a oração e a magia. (Jorge Luís Borges - "O princípio". Atlas in Obras completas: 1975-1985. Lisboa, Círculo de Leitores, 1998, p. 437.Tradução de Fernando Pinto do Amaral, cortesia de António Cardoso da Conceição) (url)
POEIRA DE 30 DE OUTUBRO
Hoje, há cento e cinquenta anos, Eugène Delacroix estava a pintar a "Caça do leão" e vivia dominado pela violência das cores. Jantou com Madame de Caen. A senhora estava resplandecente, no seu vestido de noite, mostrando os ombros e os braços. Eugène anotou no seu diário que teve que “segurar, com mão firme, o coração”. No dia seguinte, Madame trazia as suas roupas normais e o pintor sentiu-se de novo “razoável”, moderado, quase austero. Não deve ter pintado nesse dia. (url) (url)
VER O DIA 2
De novo um arco-íris, outro, um pouco mais atrás, dilui-se nas nuvens. Quando comecei esta frase, existia. Quando a acabei, desapareceu. (url)
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O GATO DA SI-SI
A menina estava a brincar na sala enquanto o pai via umas imagens estranhas. Si-Si olhou para o ecrã e disse: está aqui um gato. A mancha de negro."Aqui", na primeira imagem de radar da superfície do mais fascinante satélite de Saturno, Titã. Ficou conhecida como o "gato da Si-Si". Talvez a primeira vez que se encontra uma superfície líquida fora da terra. Talvez. Talvez o gato da Si-Si se mova. (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 348
Helen of Troy Does Countertop Dancing The world is full of women who'd tell me I should be ashamed of myself if they had the chance. Quit dancing. Get some self-respect and a day job. Right. And minimum wage, and varicose veins, just standing in one place for eight hours behind a glass counter bundled up to the neck, instead of naked as a meat sandwich. Selling gloves, or something. Instead of what I do sell. You have to have talent to peddle a thing so nebulous and without material form. Exploited, they'd say. Yes, any way you cut it, but I've a choice of how, and I'll take the money. I do give value. Like preachers, I sell vision, like perfume ads, desire or its facsimile. Like jokes or war, it's all in the timing. I sell men back their worse suspicions: that everything's for sale, and piecemeal. They gaze at me and see a chain-saw murder just before it happens, when thigh, ass, inkblot, crevice, tit, and nipple are still connected. Such hatred leaps in them, my beery worshippers! That, or a bleary hopeless love. Seeing the rows of heads and upturned eyes, imploring but ready to snap at my ankles, I understand floods and earthquakes, and the urge to step on ants. I keep the beat, and dance for them because they can't. The music smells like foxes, crisp as heated metal searing the nostrils or humid as August, hazy and languorous as a looted city the day after, when all the rape's been done already, and the killing, and the survivors wander around looking for garbage to eat, and there's only a bleak exhaustion. Speaking of which, it's the smiling tires me out the most. This, and the pretence that I can't hear them. And I can't, because I'm after all a foreigner to them. The speech here is all warty gutturals, obvious as a slab of ham, but I come from the province of the gods where meanings are lilting and oblique. I don't let on to everyone, but lean close, and I'll whisper: My mother was raped by a holy swan. You believe that? You can take me out to dinner. That's what we tell all the husbands. There sure are a lot of dangerous birds around. Not that anyone here but you would understand. The rest of them would like to watch me and feel nothing. Reduce me to components as in a clock factory or abattoir. Crush out the mystery. Wall me up alive in my own body. They'd like to see through me, but nothing is more opaque than absolute transparency. Look--my feet don't hit the marble! Like breath or a balloon, I'm rising, I hover six inches in the air in my blazing swan-egg of light. You think I'm not a goddess? Try me. This is a torch song. Touch me and you'll burn. (Margaret Atwood) * Bom dia! (url) 29.10.04
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EARLY MORNING BLOGS 347
If You Get There Before I Do Air out the linens, unlatch the shutters on the eastern side, and maybe find that deck of Bicycle cards lost near the sofa. Or maybe walk around and look out the back windows first. I hear the view's magnificent: old silent pines leading down to the lakeside, layer upon layer of magnificent light. Should you be hungry, I'm sorry but there's no Chinese takeout, only a General Store. You passed it coming in, but you probably didn't notice its one weary gas pump along with all those Esso cans from decades ago. If you're somewhat confused, think Vermont, that state where people are folded into the mountains like berries in batter. . . . What I'd like when I get there is a few hundred years to sit around and concentrate on one thing at a time. I'd start with radiators and work my way up to Meister Eckhart, or why do so few people turn their lives around, so many take small steps into what they never do, the first weeks, the first lessons, until they choose something other, beginning and beginning their lives, so never knowing what it's like to risk last minute failure. . . .I'd save blue for last. Klein blue, or the blue of Crater Lake on an early June morning. That would take decades. . . .Don't forget to sway the fence gate back and forth a few times just for its creaky sound. When you swing in the tire swing make sure your socks are off. You've forgotten, I expect, the feeling of feet brushing the tops of sunflowers: In Vermont, I once met a ski bum on a summer break who had followed the snows for seven years and planned on at least seven more. We're here for the enjoyment of it, he said, to salaam into joy. . . .I expect you'll find Bibles scattered everywhere, or Talmuds, or Qur'ans, as well as little snippets of gospel music, chants, old Advent calendars with their paper doors still open. You might pay them some heed. Don't be alarmed when what's familiar starts fading, as gradually you lose your bearings, your body seems to turn opaque and then transparent, until finally it's invisible--what old age rehearses us for and vacations in the limbo of the Middle West. Take it easy, take it slow. When you think I'm on my way, the long middle passage done, fill the pantry with cereal, curry, and blue and white boxes of macaroni, place the checkerboard set, or chess if you insist, out on the flat-topped stump beneath the porch's shadow, pour some lemonade into the tallest glass you can find in the cupboard, then drum your fingers, practice lifting your eyebrows, until you tell them all--the skeptics, the bigots, blind neighbors, those damn-with-faint-praise critics on their hobbyhorses-- that I'm allowed, and if there's a place for me that love has kept protected, I'll be coming, I'll be coming too. (Dick Allen) * Bom dia! (url) 28.10.04
O ABRUPETÚ
Um rapazinho, com tudo para crescer, olha para o computador e lê: “abrupetú”. (url)
APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: O Ó
"A figura mais perfeita e mais capaz de quantas inventou a natureza e conhece a geometria é o círculo. Circular é o globo da terra, circulares as esferas celestes, circular toda esta máquina do universo, que por isso se chama orbe, e até o mesmo Deus, se sendo espírito pudera ter figura, não havia de ter outra, senão a circular. O certo é que as obras sempre se parecem com seu autor; e fechando Deus todas as suas dentro em um círculo, não seria esta idéia natural, se não fora parecida à sua natureza. — Daqui é que o mais alumiado de todos os teólogos, S. Dionísio Areopagita, não podendo definir exatamente a suma perfeição de Deus, a declarou com a figura do círculo: Velut circulus quidam sempiternus propter bonum, ex bono, in bono et ad bonum certa, et nusquam oberrante glomeratione circummiens. Estes são os dois maiores círculos que até o dia da Encarnação do Verbo se conheceram; mas hoje nos descreve o Evangelho outro círculo, em seu modo maior. O primeiro círculo, que é o mundo, contém dentro em si todas as coisas criadas; o segundo, incriado e infinito, que é Deus, contém dentro em si o mundo; e este terceiro, que hoje nos revela a fé, contém dentro em si ao mesmo Deus. Ecce concipies in utero, et paries Filium: hic erit magnus, et Filius Altissimi vocabitur (2). Nove meses teve dentro em si este círculo a Deus, e quem poderá imaginar que, estando cheio de todo Deus, ainda ali achasse o desejo, capacidade e lugar para formar outro círculo? Assim foi, e este novo círculo, formado pelo desejo, debaixo da figura e nome de O, é o que hoje particularmente celebramos na expectação do parto já concebido: Ecce concipies et paries. De um e outro círculo travados entre si, se comporá o nosso discurso, concordando — que é a maior dificuldade deste dia — o Evangelho com o título da festa, e o título com o Evangelho. O mistério do Evangelho é a conceição do Verbo no ventre virginal de Maria Santíssima; o título da festa é a expectação do parto e desejos da mesma Senhora, debaixo do nome do O. E porque o O é um círculo, e o ventre virginal outro circulo, o que pretendo mostrar em um e outro é que, assim como o círculo do ventre virginal na conceição do Verbo foi um O que compreendeu o imenso, assim o O dos desejos da Senhora na expectação do parto foi outro circulo que compreendeu o eterno. Tudo nos dirão, com a graça do céu, as palavras que tomei por tema. Ave Maria. " (url) (url)
O POLÍTICO E AS LEIS DA FÍSICA
O governo diz que este "caso Marcelo" não é político. A maioria na Assembleia diz que o caso não é político. Os ecos das vozes anteriores dizem que o caso não é político. Está bem. E os passarinhos voam com as patas para o ar. (url)
PATETICES EM QUE SE GASTA O NOSSO DINHEIRO: DIÁRIO DA REPÚBLICA VERDE
“Nos termos do Despacho Normativo nº 43/2004 de 27 de Outubro, este Diário da República, de cor diferente do habitual, integra-se nas comemorações do Dia Nacional da Desburocratização.” “Despacho Normativo n.º 43/2004 Considerando que a Resolução do Conselho de Ministros n.º 30/90, de 16 de Agosto, institui o Dia Nacional da Desburocratização, o qual se assinala na última quinta-feira do mês de Outubro de cada ano; Considerando que a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A., pretende associar-se àquele evento, imprimindo o Diário da República desse dia em cor diferente da habitual: Ao abrigo do n.º 2 do artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 170/99, de 19 de Maio, e do despacho n.º 20387/2004, publicado o Diário da República, 2.ª série, n.º 233, de 2 de Outubro de 2004: Determina-se o seguinte: A Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A., é autorizada a publicar o Diário da República de 28 de Outubro em papel especial de cor verde. Presidência do Conselho de Ministros, 14 de Outubro de 2004. - O Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Domingos Manuel Martins Jerónimo.“ Não há mais nada para fazer no governo? Quanto custa mudar a cor do jornal? O que é que o verde, uma cor de má fama fora da natureza, tem a ver com a desburocratização? * "É o "verde-esperança-que-um-dia-ganhem-juízo". Pessoalmente, acho que teria sido mais adequado o encarnado do "Red Tape"..." (Rui Rocheta) * "O conteúdo do Diário da República Verde, afinal, é muito mais interessante do que parece à primeira vista. Recomendo-lhe vivamente uma leitura muito atenta do despacho do Sr. Director-Geral dos Impostos, no fim da pag. 15796, onde se autoriza a passagem à situação de licença sem vencimento de longa duração à Assessora jurista do quadro da Direcção-Geral dos Impostos Maria Celeste Ferreira Lopes Cardona. Afinal, a Ilustre Advogada, fiscalista emérita, é também funcionária pública, e do quadro de pessoal da D.G.I. Não acha curioso? É certo que, de um ponto de vista estritamente legal, não é impossível exercer simultaneamente ambas as actividades - bastará estar-se autorizado pelo serviço para acumular funções e demonstrar-se, perante a Ordem dos Advogados, que as funções públicas exercidas são de mera consultadoria jurídica. Mas até isso creio que achará interessante, mais a mais porque me lembro de o ter ouvido reflectir, e bem, sobre matéria de incompatibilidades no que concerne aos deputados que advogam." (Pedro Veiga Santos) * "E já agora, se é o dia Nacional da Desburocratização, para que é necessário tanta autorização para imprimir o Diário da República de outra cor?" (António Albertino) (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 346
Moon Song A child saw in the morning skies The dissipated-looking moon, And opened wide her big blue eyes, And cried: "Look, look, my lost balloon!" And clapped her rosy hands with glee: "Quick, mother! Bring it back to me." A poet in a lilied pond Espied the moon's reflected charms, And ravished by that beauty blonde, Leapt out to clasp her in his arms. And as he'd never learnt to swim, Poor fool! that was the end of him. A rustic glimpsed amid the trees The bluff moon caught as in a snare. "They say it do be made of cheese," Said Giles, "and that a chap bides there. . . . That Blue Boar ale be strong, I vow -- The lad's a-winkin' at me now." Two lovers watched the new moon hold The old moon in her bright embrace. Said she: "There's mother, pale and old, And drawing near her resting place." Said he: "Be mine, and with me wed," Moon-high she stared . . . she shook her head. A soldier saw with dying eyes The bleared moon like a ball of blood, And thought of how in other skies, So pearly bright on leaf and bud Like peace its soft white beams had lain; Like Peace! . . . He closed his eyes again. Child, lover, poet, soldier, clown, Ah yes, old Moon, what things you've seen! I marvel now, as you look down, How can your face be so serene? And tranquil still you'll make your round, Old Moon, when we are underground. (Robert Service) * Bom dia! (url) (url) 27.10.04
OBSERVAÇÕES SOLTAS SOBRE O CASO DO DIA
O clima em que hoje vive a liberdade da pluralidade (apenas uma forma de liberdade, mas uma das que mais é instrumental para o funcionamento da democracia), nos grandes meios de comunicação social, é mau. Não pode deixar de haver mal-estar na RTP, na RDP, no Diário de Notícias, na TSF, no Jornal de Notícias, no 24 Horas, na TVI. É demasiado importante para o ignorarmos. Não é um problema de superfície, é de fundo e não vai desaparecer tão cedo. O governo, que está na origem do que se passa, pode ter a tentação de cortar a direito e avançar, esperando um Grande Esquecimento, em que a comunicação social, na procura obsessiva da novidade, é mestra e, neste caso, vítima. Marcelo disse o fundamental e o que disse é credível, tornando em mentira pouco habilidosa as declarações do Presidente da Media Capital.Terá que ter consequências. Não sei se as terá. Marcelo é vítima de si próprio. Falando de uma matéria que vai ser mais importante para o seu futuro do que ele próprio pensa, não escapa aos seus demónios e assume um tom que rapidamente descai no histriónico. Dizendo coisas importantes, trai-se a si próprio. Há alturas em que se tem que ser severo e resistir a fazer mais um comentário semanal, para se ser tomado a sério. A vida não é só televisão. Não sei que diga da Alta Autoridade. Em vez de perguntar sobre factos, pede opiniões, o que de todo não nos interessa neste caso. Permite aos seus inquiridos dominar o palco de um inquérito e mostra uma completa falta de direcção e uma total inadequação para a função. Será que ninguém lhes lembra que é um inquérito que está em curso e com importantes consequências políticas e não um ensaio faceto. Um grande perdedor de tudo isto é o Parlamento, ou seja, a democracia parlamentar. A atitude da maioria em não permitir as audições de Marcelo e de outros intervenientes, permitindo a do Presidente da Media Capital, não é admissível. (url)
ECLIPSES
Entre os vários eclipses de hoje, eclipse da verdade, eclipse da consequência, este é o único sadio, brilhante, total. Lá estarei, na sombra. (url) (url)
ARGUMENTÁRIO DO NÃO
(Argumentário do “não” à Constituição Europeia, a partir de hoje no Abrupto. Notas soltas, discussões, debates, chamadas de atenção, anedotário (não vai faltar com dois notórios anti-europeístas primários à frente da campanha pelo “sim”), incidentes e acidentes, etc.) * A falta de pluralismo no debate português sobre a Europa vai inquinar toda a discussão para o referendo. O falso consenso PSD-PP-PS tende a empurrar para as margens da política os defensores do “não”. Por outro lado, a maioria dos jornalistas, que cobrem a questão europeia. são eles próprios militantes europeístas radicais. O resultado é que de há muito se perdeu qualquer pluralismo efectivo, em que os debates se fazem dentro dos partidários do “sim”, e das suas diferentes sensibilidades. Recordam-se de, a não ser por absoluta excepção, e fora do PCP, terem ouvido nos grandes órgãos de comunicação social criticar a Constituição europeia? * É mau sinal que não vá haver uma revisão constitucional para permitir que a pergunta do referendo seja simples e clara. As declarações do Ministro dos Assuntos Parlamentares mostram a pressa com que tudo irá ser feito, "Se for possível construir uma pergunta para o referendo sem recurso a uma revisão extraordinária da constituição, caminharemos nesse sentido. É uma questão secundária, porque o importante é que o referendo se faça"(…)"os calendários são apertados". e revelando o interesse partidário que está por trás: "Admitimos que seja apresentada uma solução que sirva os interesses da maioria PSD/CDS-PP e do PS”. A pergunta está longe de ser “uma questão secundária”. É assim que se solidifica o défice democrático da UE. * É também evidente que o facto de cada passo no processo europeu exigir revisões constitucionais, é pouco sadio e mostra como os governos aceitam negociar processos e aceitar soluções que são contrárias à nossa Constituição. * O reforço dos poderes do Parlamento Europeu é um péssimo caminho para a Europa e para Portugal na Europa. O que se está a passar com a aprovação da Comissão é um sinal das coisas que estão para vir, com um Parlamento que é o epicentro do reino do “politicamente correcto” na Europa, pairando num limbo entre a “loony left” e a não menos “loony right”, e o regresso à sólida terra dos interesses nacionais das grandes nações quando é preciso. (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 345
Manuel Komninos One dreary September day Emperor Manuel Komninos felt his death was near. The court astrologers -bribed, of course- went on babbling about how many years he still had to live. But while they were having their say, he remebered an old religious custom and ordered ecclesiastical vestments to be brought from a monastery, and he put them on, glad to assume the modest image of a priest or monk. Happy all those who believe, and like Emperor Manuel end their lives dressed modestly in their faith. (C.P. Cavafy, traduzido por E. Keeley e P. Sherrard) * Bom dia! (url) 26.10.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OS POETAS ROMÂNTICOS
"Este seu post de hoje sobre "Xanadu" e a referência a Coleridge recordaram-me como os poetas românticos foram, tantas vezes, visionários em relação às coisas da Ciência. Deixo-lhe, a propósito, uma passagem surpreendente de Wordsworth, do célebre Prefácio a Lyrical Ballads (1802): «If the labours of Men of science should ever create any material revolution, direct or indirect, in our condition, and in the impressions which we habitually receive, the Poet will sleep then no more than at present; he will be ready to follow the steps of the Man of science, not only in those general indirect effects, but he will be at his side, carrying sensation into the midst of the objects of science itself. The remotest discoveries of the Chemist, the Botanist, or Mineralogist, will be as proper objects of the Poet's art as any upon which it can be employed, if the time should ever come when these things shall be familiar to us, and the relations under which they are contemplated by the followers of these respective sciences shall be manifestly and palpably material to us as enjoying and suffering beings.» Mas não deixa de ser curioso como o mesmo Wordsworth escreveu também, um dia, os versos: Sweet is the lore which Nature brings; Our meddling intellect Mis-shapes the beauteous forms of things:- We murder to dissect. ("The Tables Turned", 1798) (Daniela Kato) (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: INVESTIGAÇÃO EM CÉLULAS ESTAMINAIS E DEMAGOGIA INTERNACIONAL
"Acabei de ler a proposta apresentada na ONU pela Costa Rica, apoiada por mais 60 países incluindo Portugal e os Estados Unidos. Fiquei surpreendido por descobrir que Portugal sem discussão interna apoia uma proposta que pretende impedir todo o tipo de investigação em células estaminais, e chocado com o ponto 5, em particular, que é de uma demagogia brutal. Escrevo-lhe pois costuma-me a aceitar que esta situação passe ao lado da comunicação social e da discussão politica actual, embora esta situação possa já ser do seu conhecimento. "5. Strongly encourages States and other entities to direct funds that might have been used for human cloning technologies to pressing global issues in developing countries, such as famine, desertification, infant mortality and diseases, including the human immunodeficiency virus/acquired immunodeficiency syndrome (HIV/AIDS)" "Albania, Angola, Antigua and Barbuda, Australia, Benin, Burundi, Chad, Chile, Costa Rica, Côte d’Ivoire, Democratic Republic of the Congo, Dominican Republic, El Salvador, Equatorial Guinea, Eritrea, Ethiopia, Fiji, Gambia, Grenada, Guinea, Haiti, Honduras, Italy, Kenya, Kyrgyzstan, Lesotho, Liberia, Madagascar, Malawi, Marshall Islands, Micronesia, Nauru, Nicaragua, Nigeria, Palau, Panama, Papua New Guinea, Paraguay, Philippines, *Portugal*, Rwanda, Saint Kitts and Nevis, Saint Lucia, Saint Vincent and the Grenadines, San Marino, Sao Tome and Principe, Sierra Leone, Solomon Islands, Suriname, Tajikistan, Timor-Leste, Tuvalu, Uganda, United Republic of Tanzania, United States of America, Vanuatu and Zambia: draft resolution" (Paulo Pereira, PhD / Developmental Biology Lab / Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC)) (url)
INTENDÊNCIA
A Lagartixa e o Jacaré 9 no VERITAS FILIA TEMPORIS sobre a "emissão ministerial", os "aprendizes de feiticeiro" na comunicação social, o golpe na Guiné e a "pior frase da semana" de autoria de Luis Delgado. Publicada na Sábado, em Outubro 2004. Os dois primeiros artigos da série Direita / Esquerda, publicados no Público, Outubro 2004, no VERITAS FILIA TEMPORIS. Actualizado O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: GARANTIAS. Actualizada nota BIBLIOFILIA sobre a Renga. (url)
APRENDENDO COM O NEVOEIRO
Williams Degouve de Nuncques, Nocturne au Parc royal de Bruxelles ESPERO Espero sempre por ti o dia inteiro, Quando na praia sobe, de cinza e oiro, O nevoeiro E há em todas as coisas o agoiro De uma fantástica vinda. (Sophia de Mello Breyner) (url)
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: XANADU
Olhem para esta fotografia. O "continente" Xanadu, no planeta Titã, visto há dois dias pela Cassini. Em Janeiro de 2005 lá iremos, se os deuses da mecãnica e da dinâmica se portarem bem. Uma parte do nosso futuro está aqui. Poderá estar no "deep romantic chasm" que Coleridge viu no seu Xanadu In Xanadu did Kubla Khan A stately pleasure-dome decree: Where Alph, the sacred river, ran Through caverns measureless to man Down to a sunless sea. So twice five miles of fertile ground With walls and towers were girdled round: And there were gardens bright with sinuous rills, Where blossomed many an incense-bearing tree; And here were forests ancient as the hills, Enfolding sunny spots of greenery. (url) (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CONTRADITÓRIO
(...) "ora, em política (em direito e sobretudo na prática forense e administrativa, o contraditório tem ainda a ver com a procura de restabelecimento da igualdade de armas entre contendores, enfim, para permitir o confronto, ainda que por vezes só a título formal, de posições e perspectivas diferentes, mas tem também subjacente a ideia de permitir alguma forma de intervenção à parte contra quem é proferida uma acusação, instância, decisão, etc., ou seja, o contraditório é contra a parte mais forte) o contraditório é tipicamente exigível para vigiar, fiscalizar e moderar o exercício do poder - ou seja, há contraditório quando se permitem meios de acção, argumentação e prova contra a posição "oficial" dos titulares do poder, estes por definição dotados de meios de execução e influência escusado será acrescentar que o contraditório é condição mínima, mas não suficiente, de democracia; e é precisamente por isso que é necessário que a democracia se alimente de contraditório, interpelando os titulares do poder e denunciando o seu exercício abusivo é para isso que servem os comentadores, os cronistas, os analistas, os editoriais - quer na perspectiva estritamente política, para demonstração da plausibilidade e até justeza ou virtude de soluções alternativas, abordagens diferentes, necessidade de contextualização, etc, quer na perspectiva jurídica, examinando a legalidade e regularidade dos actos em que se traduz os exercício do poder, ou ainda na novel análise e avaliação económica das decisões jurídicas e políticas, obrigando os detentores do poder a justificarem os fundamentos e a racionalidade das suas medidas e opções, ou a arcarem com o ónus da sua ausência ou desproporção concluindo, creio que em política há contraditório se houver críticos, ainda que se excedam - contra o excesso político basta ao detentor do poder demonstrar a legitimidade política dos seus actos; contra outros excessos há meios adicionais, de direito, desde que merecedores de tutela - e não há contraditório, ainda que haja comentadores e comentários, se não houver críticas ! eis o equívoco !! se houver livre opinião e crítica, ainda não estamos seguros de que haja democracia; se não houver livre opinião e crítica, estamos seguros de que não há democracia" (antonio) (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: GARANTIAS
"Não sei se estou a ficar velho e resmungão,um daqueles chatos "...no meu tempo é que...",mas há coisas que me arrepiam!Arrepiam-me os factos,mas mais do que isso,a indiferença perante aquilo que me deixa...indignado (sem palavrões não arranjo melhor!). Tudo isto vem a proposito de um anuncio na radio(não sei se tambem na tv), em que uma criança a quem uma amiga pede emprestada a bicicleta, responde que sim senhor,lhe empresta a bicicleta ,mas só se ela lhe deixar o leitor de CD como garantia!!!!!!!!!!! Será que só a mim é que isto choca? Terei eu educado realmente os meus filhos?" (A.Pina Cabral) * "A propósito do breve texto do leitor Pina Cabral de hoje e versando sobre o tema dos arrepios: e aquele anúncio (rádio e TV) em que ela diz que vai para o campo para ter sossego e se dedicar “à escrita”? São sms para o seu Ruisinho tão querido!" (J.) (url)
EARLY MORNING BLOGS 344
Dreams In The Dusk Dreams in the dusk, Only dreams closing the day And with the day's close going back To the gray things, the dark things, The far, deep things of dreamland. Dreams, only dreams in the dusk, Only the old remembered pictures Of lost days when the day's loss Wrote in tears the heart's loss. Tears and loss and broken dreams May find your heart at dusk. (Carl Sandburg) * Bom dia! (url)
BIBLIOFILIA
Número sobre a tradução da revista Stand. Entre traduções de Celan, Primo Levi, Goethe, Pavese, Carlos de Orleans e outras, uma muito interessante experiência intitulada "The Salted Sea Bream: Japanese Collaborative Verse". O poema colectivo, escrito por e-mail, no estilo de Bashô, tem versos como "of all the lies I ever heard Cassandra's were the sweetest" "out of the movies with winter at our heels" "a radio plays to an empty kitchen" Vale a pena ler tudo. * "O Renga era composto por uma série de Tanka (frequentemente poemas de temática centrada no amor, na saudade, na lembrança de viagens...) ou de haikai (5/7/5- poemas ligeiros e humorísticos muito sugestivos, cuja temática trata das estações, dos pequenos animais, das plantas, das pessoas...lembro-me agora que Roland Barthes falou destes poemas associando-os a imagens) ou de dísticos (7/7). Horton, H.M. no Harvard Journal of Asiatic Studies, vol.53, nº2; dezembro 1993, escreveu um artigo, dando as instruções necessárias para os amadores de renga. Trata-se de uma actividade social e não apenas literária que, segundo Horton, deve obedecer a 21 regras!" (Ana da Palma) (url) 25.10.04
SE ALGUÉM PENSA
que esta questão do controlo da comunicação social pelo actual governo está a acabar engana-se redondamente. Só está a começar. A começar no Parlamento, na Alta Autoridade, no grupo Lusomundo, na PT, onde todos os dias se vai sabendo mais. Uma caixa abre a outra que abre a outra, que tem outra dentro. É só esperar. (url)
CONTRADITÓRIO
O governo tem tido sucesso em aumentar a massa crítica de comentadores que lhe são favoráveis, escolhidos, promovidos ou indicados, exactamente por isso. Nos momentos decisivos de hoje, este é um objectivo estratégico. Pouco a pouco, e sem paralelo com qualquer outro governo no passado (o único comparável é o de Guterres), essa massa crítica começa a pesar. A linha dominante nesses comentadores não é tanto o apoio absoluto e total (só Delgado faz esse papel), mas o comentário desculpatório, com uma linha definida de minimização de danos. “É verdade que o ministro dos Assuntos Parlamentares só fez asneiras, mas o que é preciso é deixar o governo governar…” Mais ou menos isto. No “caso Marcelo” percebeu-se com clareza esta linha de demarcação e o “caso Marcelo” não pode deixar de ser unívoco para todos os jornalistas, mesmo descontando a fama de Marcelo. O novo programa “Contraditório” na Antena 1 que, como se percebe pelo nome, é de decisão recente, junta quatro jornalistas: Luís Osório, Luís Delgado, Carlos Magno e António Luís Marinho. Os três últimos apoiaram as teses do governo no “caso Marcelo”, o que hoje significa quase tudo. (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O ESCONDIDO
"Volto a Gérard de Nerval. Nas Filles du Feu de 1854, havia apenas seis sonetos, o penúltimo era Delfica, (Napoles, 1843), o primeiro, o muito conhecido: EL desdichado, o segundo: Myrtho Je pense à toi, Myrtho, divine enchanteresse, Au Pausilippe altier, de mille feux brillant, A ton front inondé des clartés d'Orient, Aux raisins noirs mêlés avec l'or de ta tresse. C'est dans ta coupe aussi que j'avais bu l'ivresse, Et dans l'éclair furtif de ton oeil souriant, Quand aux pieds d'Iacchus on me voyait priant, Car la Muse m'a fait l'un des fils de la Grèce. Je sais pourquoi là-bas le volcan s'est rouvert... C'est qu'hier tu l'avais touché d'un pied agile, Et de cendres soudain l'horizon s'est couvert. Depuis qu'un duc normand brisa tes dieux d'argile, Toujours, sous les rameaux du laurier de Virgile, Le pâle Hortensia s'unit au Myrte vert! As iniciais do conjunto dos seis sonetos (El desdichado, Myrtho, Horus, Antéros, Delfica, Artémis) escrevem a palavra El MoHaDdAR ( o escondido )." (Ana da Palma) (url) (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 343
Cucurrucucu Paloma Dicen que por las noches Nomas se le iba en puro llorar, Dicen que no comia, Nomas se le iba en puro tomar, Juran que el mismo cielo Se estremecia al oir su llanto; Como sufrio por ella, Que hasta en su muerte la fue llamando Ay, ay, ay, ay, ay,... cantaba, Ay, ay, ay, ay, ay,... gemia, Ay, ay, ay, ay, ay,... cantaba, De pasión mortal... moria Que una paloma triste Muy de mañana le va a cantar, A la casita sola, Con sus puertitas de par en par, Juran que esa paloma No es otra cosa mas que su alma, Que todavia la espera A que regrese la desdichada Cucurrucucu... paloma, Cucurrucucu... no llores, Las piedras jamas, paloma ¡Que van a saber de amores! Cucurrucucu... cucurrucucu... Cucurrucucu... paloma, ya no llores (Tomas Mendez) * Ouvida ontem, muito ao longe, lembrada hoje. Bom dia! (url) 24.10.04
VER A NOITE
no meio das árvores. Nevoeiro profundo atravessado pela luz da Lua, mergulhada na humidade do ar. Wer reitet so spät durch Nacht und Wind? (url) 23.10.04
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A LER
As notas de MMLM O voto do Partido Socialista e Os acontecimentos de quarta-feira em Coimbra no Causa Nossa. Está lá quase tudo dito. (url) 22.10.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE "APRENDENDO COM A DAME A LA LICORNE ("A MON SEUL DÉSIR")"
Por gentileza de Ana da Palma, este fragmento sobre a tapeçaria da Dama do Licorne: "Na sexta e última tapeçaria da célebre série do museu de Cluny, intitulada A Dama do Licorne, a jovem que se despoja das suas jóias, está prestes a ser absorvida pela tenda, símbolo da presença divina e da Vacuidade. A inscrição que encima a tenda, Ao meu único desejo, significa que o desejo da criatura se confunde com o da vontade que a dirige. Na medida em que a nossa existência é um jogo divino, a nossa parte torna-se livre e activa, quando nós nos identificamos com o manipulador das marionetas que nos cria e dirige. Então, o eu dissolve-se para dar lugar ao grande Ser, sob a tenda cósmica ligada à estrela polar. A Dama, pela sua graça e pela sua sabedoria (Sophia-Shakti-Shekinah, isto é: aquela que está sob a tenda) bem como pela sua pureza, pacifica os animais antagónicos da Grande Obra: o leão que simboliza o enxofre, e o licorne, o mercúrio. Muitas vezes, a Dama é comparada ao Sal filosofal. Está muito próxima da mentora de Hevajra cujo nome significa aquela que não tem ego. O corno erguido do licorne, que simboliza a fecundação espiritual e que capta o fluxo da energia universal, está de acordo com o simbolismo axial da tenda, prolongado por uma ponta com o simbolismo de duas lanças, com o penteado da Dama e da sua acompanhante, encimados por um enfeite ed plumas, e com o das árvores que celebram as núpcias místicas do Oriente e do Ocidente (o carvalho e o azevinho correspondendo à laranjeira e à jaqueira) As insígnias, goles e banda azul com três crescentes ascendentes de prata, sugerem que estas tapeçarias talvez tenham sido encomendadas pelo príncipe Djem, filho infeliz ed Maomé II, o conquistador de Constantinopla. Não consistia o ideal deste Príncipe, muito tempo cativo em Creuse, onde foram encontradas estas obras, em reunir a Cruz e o Crescente? A ilha oval que suporta a cena é recortada como um lótus, símbolo do desenvolvimento espiritual. Quanto ao pequeno macaco sentado diante da Dama, designa o alquimista em pessoa, o 'macaco da natureza' vigiando a sua senhora, que pode ser comparada à Matéria Prima." Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, Dicionário dos símbolos, Lisboa, Editorial Teorema, 1994,pp.408-409 (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: “FADO E ÓPERA É TUDO A MESMA COISA”
“Vou ver a Companhia Nacional de Bailado a dançar Romeu e Julieta (…). “- E quando é que eu vou ver Ballet, mãe? - Já fostes! Mas um dia vais à Ópera. - O quê? Ópera? Esquece! Nem pensar. - Se nunca foste, não sabes se gostas. Além disso aprendes e o gosto educa-se. - Eu não gosto de fado! - Fado? - Sim fado! Fado e ópera é tudo a mesma coisa.” (J.) (url)
UM ERRO DE ORTOGRAFIA
na minha nota anterior - "caiem" em vez de "caem" - foi assinalado amavelmente pelos leitores do Abrupto. Façam de conta que esta nota equivale a umas orelhas de burro. O dr. Freud explicará um dia por que razão eu tinha quase a certeza que estava errado e saiu mesmo assim. Como diz a minha Pequena Carta: "caem em vez de caiem que assim escrita arrepia. assim como saem em vez de saiem que tambem se me da calafrios. sempre. isto eh uma regra da treta que ninguim mete na pinha, sabe-se la pourquoi!" (url) (url)
UM VELHO A CAIR
O gozo que alguns fizeram com a queda de Fidel é uma estupidez e diz muito sobre a sensibilidade de quem o faz. Eu não tenha a mínima, nem direi simpatia que é demais, condescendência com o caudilho cubano, que enterrou o seu povo numa ditadura de miséria e violência. Mas, na queda, ele é um velho a cair, como acontece aos velhos. Será que alguns meninos sabem que, quando chegarem a velhos, também vão cair? (url)
TODOS OS DIAS MAIS DO MESMO
Mais um exemplo típico do que verdadeiramente move o Primeiro-ministro: uma “assessora política do Primeiro-ministro” escreve um artigo no Diário de Notícias para mostrar as contradições dos jornalistas nas críticas ao governo. Esta assessora é uma antiga jornalista e só podia ter escrito o que escreveu a pedido do Primeiro-ministro, tanto mais que os assessores políticos, em princípio, não escrevem artigos para os jornais. O artigo é um remake do estilo dos artigos de Santana Lopes no Diário de Notícias que não tinham outro objecto que não fosse a sua auto-defesa semanal face às aleivosias do mundo inteiro contra ele. Isto é o que ele acha ser o "contraditório". O artigo da assessora, na verdade do Primeiro-ministro, é mais um sinal da obsessão que lavra dentro daquela casa, onde se deve passar de manhã à noite a discutir jornais, televisões e cabalas e os “@£€§*&%$#”=’ “ que atacam o “Pedro”, a pensar no que lhes vão fazer "quando…". (url)
EARLY MORNING BLOGS 342
Delfica La connais-tu, DAFNÉ, cette ancienne romance, Au pied du sycomore, ou sous les lauriers blancs, Sous l'olivier, le myrte, ou les saules tremblants, Cette chanson d'amour... qui toujours recommence ?... Reconnais-tu le TEMPLE au péristyle immense, Et les citrons amers où s'imprimaient tes dents, Et la grotte, fatale aux hôtes imprudents, Où du dragon vaincu dort l'antique semence ?... Ils reviendront, ces Dieux que tu pleures toujours ! Le temps va ramener l'ordre des anciens jours ; La terre a tressailli d'un souffle prophétique... Cependant la sibylle au visage latin Est endormie encor sous l'arc de Constantin - Et rien n'a dérangé le sévère portique. (Gérard de Nerval) * Bom dia! (url) 21.10.04
POR FAVOR
Não façam muito barulho com a história dos professores irem para assessores dos juízes, senão há meia dúzia de desgraçados professores e juízes, que vão pagar o orgulho ferido do Primeiro-ministro, ao ser confrontado todos os dias com as suas palavras. É que isto funciona assim, por arroubos impensados, por reacção aos arroubos, e depois “ai sim, vão ver se não faço!”.Tenho a convicção que se tudo ficasse calado com a história da deslocalização das Secretarias de Estado, ter-se-ia poupado o exercício de falsa autoridade, a transumância de meia dúzia de vitimas e os custos acrescidos no orçamento. (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE A DISTINÇÃO ESQUERDA / DIREITA NA LITERATURA
"No seu artigo recente em torno da distinção antropológica esquerda / direita, JPP refere a inadequação desta ao domínio da literatura e da criação estética, e refere como exemplo (entre outros) a coexistência problemática do fascismo de Pound com as suas tiradas poéticas contra a usura. Eu acrescentaria uma outra dimensão que complica ainda mais qualquer tentativa de simplificar ou reduzir poetas a dicotomias ideológicas - sem que isto implique, obviamente, a desculpabilização do imperdoável ou a rejeição da necessidade de crítica atenta. Refiro-me à humildade da dúvida, ao reconhecimento do erro (ainda que tardio) perante a complexidade extrema do mundo e perante a necessidade de tomar posição e agir quando o mundo nos interpela. Tantas vezes, só os grandes poetas conseguem – ou podem dar-se ao luxo de... – trazer ao de cima todas esses aspectos contraditórios e inconciliáveis. E já que mencionou Pound, recordo alguns versos dos célebres “Pisan Cantos,” de que tantos se esquecem quando recusam liminarmente a leitura da sua poesia: Pull down thy vanity How mean thy hates Fostered in falsity, Pull down thy vanity Rathe to destroy, niggard in charity, Pull down thy vanity, I say pull down. But to have done instead of not doing this is not vanity To have, with decency, knocked That a Blunt should open To have gathered from the air a live tradition or from a fine old eye the unconquered flame This is not vanity. Here error is all in the not done, all in the diffidence that faltered. . .” (Canto LXXXI) (Daniela Kato) (url)
FALSO
O texto que circula na rede intitulado "Pacheco Pereira no seu melhor" é falso. Se fosse verdadeiro seria "Pacheco Pereira no seu pior". (url) (url)
POBRE PAÍS
(NOTAS PUBLICADAS NO ABRUPTO NOS PRIMEIROS TRÊS DIAS DA ERA ACTUAL (27 a 29/6/2004) PARA MEMÓRIA FUTURA E BIBLIOGRAFIA DE APOIO) POBRE PAÍS o nosso. POBRE PAÍS o nosso. Lá vamos desperdiçar de novo o que penosamente adquirimos. Lá vamos ter que começar tudo de novo. POBRE PAÍS o nosso. Em plena Futebolândia, com os noticiários da televisão a despachar à pressa as notícias sobre Portugal, pedindo desculpa por interromperem o Euro. POBRE PAÍS o nosso. Para o qual eu quero um governo que pense em Portugal em primeiro lugar, que não se importe de perder as eleições, se estiver convicto que políticas difíceis são vitalmente necessárias. Não quero uma comissão eleitoral uninominal (ou binominal) que fará tudo apenas com um fito: ganhar as próximas eleições. Porque esse será o seu programa não escrito. POBRE PAÍS o nosso. Onde é vital, hoje, que não se confunda silêncio com consenso, silêncio com apatia, silêncio com ambiguidade. Está na altura de falar e falar claro, antes que seja tarde de mais. O que está em jogo é grave. É aquilo a que uma noção antiga chamava “bom governo”, a que nos dedicamos por gosto pelo nosso país, gosto pela nossa comunidade antiga, que é a única coisa que dá sentido à política. POBRE PAÍS o nosso, que padece de Acédia. Acédia? O pecado que a gente aprende como sendo a “preguiça”, para facilitar a compreensão dos jovens catequistas e catequisados. Mas o pecado mortal não é evidentemente o que chamamos “preguiça”, venial predisposição do corpo e da alma. A Acédia é outra coisa muito mais importante: é a apatia, ou a indiferença perante a prática da virtude, ou o espectáculo do mal. Sabemos que está mal, mesmo muito mal, e ficamos calados. Acédia. Vai-se para o Inferno por isso. POBRE PAÍS o nosso. Há uns anos, nos momentos mais complicados de dissolução da URSS, nada funcionava na Rússia. Todos os dias de manhã, no Hotel Ukraina, o pequeno almoço era uma saga. Chegava o samovar com o chá e não havia chávenas lavadas. Chegavam as chávenas, não havia colheres. Chegavam as colheres e não havia chá outra vez. Os estrangeiros recém-chegados protestavam em vão. Os russos e os velhos habitantes do Hotel Ukraina, que já conheciam todas as rotinas, iam buscar chávenas à cozinha, acumulavam duas ou três chávenas em cima da mesa para armazenar o precioso chá, etc. Um amigo meu disse-me: “vais ver, ao quinto dia já estamos como eles, a ir buscar chá à cozinha, muito caladinhos”. Ao terceiro dia já íamos buscar chá à cozinha. Não há nada como o hábito e como o sentimento de impotência para que se aceite tudo. Não há nada como a ecologia envolvente para se achar tudo normal. O resvalar contínuo para a mediocridade, o abaixamento dos requisitos mínimos, que antes juraríamos nunca aceitar. Que eram mesmo inimagináveis. Não, meus amigos, é na cozinha que está o chá, que estão as chávenas, que está o açúcar. É na cozinha. O que é que querem mais? Qualidade no serviço? Isso não é aqui. Nem no Hotel Rossya, do outro lado. POBRE PAÍS o nosso. O abaixamento dos mínimos critérios de qualidade, vindo “de cima”, é um poderoso factor de popularidade e sucesso. No fundo, ficamos todos mais iguais, não é? E não é esta “igualdade”, o nome que se dá à inveja ressentida que tão profundamente enche a nossa sociedade? Pensando bem não é de admirar, é o mundo de Eva Péron, a mulher que dizia que não se importava que houvesse pobres, o que a incomodava é que houvesse ricos. POBRE PAÍS o nosso. Sem oposição. * Depois não digam que não foram prevenidos a tempo e com tempo. BIBLIOGRAFIA Jornais de 27 de Junho de 2004 até hoje. Entrevista do Primeiro Ministro ao Frankfurter Allgemeine Zeitung (url)
AR PURO / UM VULCÃO QUE CUMPRE O SEU DEVER
Monte de S. Helena, ontem. O Outono a chegar. (url)
EARLY MORNING BLOGS 341
Ô nostalgie des lieux qui n'étaient point assez aimés à l'heure passagère, que je voudrais leur rendre de loin le geste oublié, l'action supplémentaire ! Revenir sur mes pas, refaire doucement - et cette fois, seul - tel voyage, rester à la fontaine davantage, toucher cet arbre, caresser ce banc... Monter à la chapelle solitaire que tout le monde dit sans intérêt ; pousser la grille de ce cimetière, se taire avec lui qui tant se tait. Car n'est-ce pas le temps où il importe de prendre un contact subtil et pieux ? Tel était fort, c'est que la terre est forte ; et tel se plaint : c'est qu'on la connaît peu. (Rainer Maria Rilke) * Bom dia! (url) 20.10.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CHUVA
Pequena, em Paris, lembro-me da professora: "Apollinaire, ça s'écrit avec um P mais avec deux 'AILES' (Ana da Palma) (Guillaume Apollinaire, Calligrammes, Paris, Gallimard, p.64) (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 340
My Philosophy of Life Just when I thought there wasn't room enough for another thought in my head, I had this great idea-- call it a philosophy of life, if you will. Briefly, it involved living the way philosophers live, according to a set of principles. OK, but which ones? That was the hardest part, I admit, but I had a kind of dark foreknowledge of what it would be like. Everything, from eating watermelon or going to the bathroom or just standing on a subway platform, lost in thought for a few minutes, or worrying about rain forests, would be affected, or more precisely, inflected by my new attitude. I wouldn't be preachy, or worry about children and old people, except in the general way prescribed by our clockwork universe. Instead I'd sort of let things be what they are while injecting them with the serum of the new moral climate I thought I'd stumbled into, as a stranger accidentally presses against a panel and a bookcase slides back, revealing a winding staircase with greenish light somewhere down below, and he automatically steps inside and the bookcase slides shut, as is customary on such occasions. At once a fragrance overwhelms him--not saffron, not lavender, but something in between. He thinks of cushions, like the one his uncle's Boston bull terrier used to lie on watching him quizzically, pointed ear-tips folded over. And then the great rush is on. Not a single idea emerges from it. It's enough to disgust you with thought. But then you remember something William James wrote in some book of his you never read--it was fine, it had the fineness, the powder of life dusted over it, by chance, of course, yet still looking for evidence of fingerprints. Someone had handled it even before he formulated it, though the thought was his and his alone. It's fine, in summer, to visit the seashore. There are lots of little trips to be made. A grove of fledgling aspens welcomes the traveler. Nearby are the public toilets where weary pilgrims have carved their names and addresses, and perhaps messages as well, messages to the world, as they sat and thought about what they'd do after using the toilet and washing their hands at the sink, prior to stepping out into the open again. Had they been coaxed in by principles, and were their words philosophy, of however crude a sort? I confess I can move no farther along this train of thought-- something's blocking it. Something I'm not big enough to see over. Or maybe I'm frankly scared. What was the matter with how I acted before? But maybe I can come up with a compromise--I'll let things be what they are, sort of. In the autumn I'll put up jellies and preserves, against the winter cold and futility, and that will be a human thing, and intelligent as well. I won't be embarrassed by my friends' dumb remarks, or even my own, though admittedly that's the hardest part, as when you are in a crowded theater and something you say riles the spectator in front of you, who doesn't even like the idea of two people near him talking together. Well he's got to be flushed out so the hunters can have a crack at him-- this thing works both ways, you know. You can't always be worrying about others and keeping track of yourself at the same time. That would be abusive, and about as much fun as attending the wedding of two people you don't know. Still, there's a lot of fun to be had in the gaps between ideas. That's what they're made for! Now I want you to go out there and enjoy yourself, and yes, enjoy your philosophy of life, too. They don't come along every day. Look out! There's a big one... (John Ashbery) * A horas impróprias, bom dia! (url)
VER A CHUVA
Entre mim e a chuva tábuas, placas de roofmate, telhas. Com esta chuva total, pouco abaixo do telhado, tem-se um respeito muito especial pelos materiais de construção e pelo trabalho dos pedreiros. (url) 19.10.04
ONDE É QUE ESTÃO AS PERGUNTAS?
A julgar pelos relatos das televisões, parece ter havido apenas um depoimento do Ministro dos Assuntos Parlamentares na AACS. Não houve perguntas? Não me custa imaginar várias perguntas de que gostaria de ter resposta. Tenho a certeza que se tivessem sido feitas, as respostas estariam nos noticiários. O que é que aconteceu? Ninguém perguntou sobre a preparação da intervenção? Sobre a utilização da diplomacia, que indicia a premeditação das declarações? Sobre o papel do Primeiro-ministro? A auto-interpretação que o Ministro dá às suas palavras é o que menos me interessa e foi só isso que ouvi em todos os relatos noticiosos. Ou os jornalistas estão a fazer mau trabalho ou a Alta Autoridade não sabe ou não quer conduzir um inquérito sério. (url)
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: OS CÉUS MEXEM-SE (OU NÃO)
O Sol está sem manchas. A Lua vai desaparecer daqui a dias. Umas flechas de luz, vindas da constelação de Orion, vão atravessar os céus. Chegou a bom porto, ainda em terra, o Deep Impact, que não é um filme pornográfico mas uma sonda que vai disparar uma bala contra um cometa para ver como ele parte. O satélite europeu SMART-1 (estes europeus são tão presumidos...) escapou do abraço mortal da Lua feiticeira, mantém as suas distâncias e continua a trabalhar para lhe perceber a "química"... Querem melhor? (url)
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: MERECIDA HOMENAGEM
(órbita do asteróide Spirit) às nossas máquinas marcianas. Dois asteróides têm agora os nomes de Spirit e Opportunity, as valentes sondas marcianas que continuam a trabalhar no frio do inverno, já um pouco cansadas, pesando-lhes a idade. (url)
INTENDÊNCIA
Colocado no VERITAS FILIA TEMPORIS a Lagartixa e o Jacaré 8, sobre a "celebridade do lixo", não é preciso dizer sobre o que é, as "novas fronteiras", a "ponte", a Constituição Europeia e o referendo em que votarei "não". (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 339
Whales Weep Not! They say the sea is cold, but the sea contains the hottest blood of all, and the wildest, the most urgent. All the whales in the wider deeps, hot are they, as they urge on and on, and dive beneath the icebergs. The right whales, the sperm-whales, the hammer-heads, the killers there they blow, there they blow, hot wild white breath out of the sea! And they rock, and they rock, through the sensual ageless ages on the depths of the seven seas, and through the salt they reel with drunk delight and in the tropics tremble they with love and roll with massive, strong desire, like gods. Then the great bull lies up against his bride in the blue deep bed of the sea, as mountain pressing on mountain, in the zest of life: and out of the inward roaring of the inner red ocean of whale-blood the long tip reaches strong, intense, like the maelstrom-tip, and comes to rest in the clasp and the soft, wild clutch of a she-whale's fathomless body. And over the bridge of the whale's strong phallus, linking the wonder of whales the burning archangels under the sea keep passing, back and forth, keep passing, archangels of bliss from him to her, from her to him, great Cherubim that wait on whales in mid-ocean, suspended in the waves of the sea great heaven of whales in the waters, old hierarchies. And enormous mother whales lie dreaming suckling their whale- tender young and dreaming with strange whale eyes wide open in the waters of the beginning and the end. And bull-whales gather their women and whale-calves in a ring when danger threatens, on the surface of the ceaseless flood and range themselves like great fierce Seraphim facing the threat encircling their huddled monsters of love. And all this happens in the sea, in the salt where God is also love, but without words: and Aphrodite is the wife of whales most happy, happy she! and Venus among the fishes skips and is a she-dolphin she is the gay, delighted porpoise sporting with love and the sea she is the female tunny-fish, round and happy among the males and dense with happy blood, dark rainbow bliss in the sea. (D.H. Lawrence) * Bom dia, neste dia marinho! (url) 18.10.04
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EARLY MORNING BLOGS 338
Curriculum Vitae 1992 1) I was born in a Free City, near the North Sea. 2) In the year of my birth, money was shredded into confetti. A loaf of bread cost a million marks. Of course I do not remember this. 3) Parents and grandparents hovered around me. The world I lived in had a soft voice and no claws. 4) A cornucopia filled with treats took me into a building with bells. A wide-bosomed teacher took me in. 5) At home the bookshelves connected heaven and earth. 6) On Sundays the city child waded through pinecones and primrose marshes, a short train ride away. 7) My country was struck by history more deadly than earthquakes or hurricanes. 8) My father was busy eluding the monsters. My mother told me the walls had ears. I learned the burden of secrets. 9) I moved into the too bright days, the too dark nights of adolescence. 10) Two parents, two daughters, we followed the sun and the moon across the ocean. My grandparents stayed behind in darkness. 11) In the new language everyone spoke too fast. Eventually I caught up with them. 12) When I met you, the new language became the language of love. 13) The death of the mother hurt the daughter into poetry. The daughter became a mother of daughters. 14) Ordinary life: the plenty and thick of it. Knots tying threads to everywhere. The past pushed away, the future left unimagined for the sake of the glorious, difficult, passionate present. 15) Years and years of this. 16) The children no longer children. An old man's pain, an old man's loneliness. 17) And then my father too disappeared. 18) I tried to go home again. I stood at the door to my childhood, but it was closed to the public. 19) One day, on a crowded elevator, everyone's face was younger than mine. 20) So far, so good. The brilliant days and nights are breathless in their hurry. We follow, you and I. (Lisel Mueller) * Bom dia, muito , muito cedo! (url) 17.10.04
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EARLY MORNING BLOGS 337
To Persuade a Lady Carpe Diem True, I have always been happy that all the things that are inside the body are inside the body, and that all things outside the body, are out I'm glad to find my lungs on the inside of my chest, for example; if they were outside, they'd keep getting in the way, those two great incipient angel wings; besides, it would be messy I mean, how would it be if your reached out to shake someone's hand and there, in the palm, were a kidney and a liver complete with spleen? Can you imagine standing at 5 PM in a crowded subway car full of empty stomachs? What if a nice, nearsighted old lady were knitting socks and suddenly her veins fell out? How would she avoid creating a substance full of strangeness and pain? To the barefoot country boy sitting on the edge of the bed in the morning and opening Aunt Minnie's gift box, the sight of those socks would be what he'd call "a real eye-opener!" And what if our voices touched? If our mouths went out, instead of in? If you were inside of me; or, at least, if I were inside of you? (Michael Benedikt) * Bom dia! (url)
VER A NOITE
sem noite para ver. Ao longe, muito ao longe, uma nova luz: um moinho de vento corta o ar e a humidade. Imagino-o agora, no cimo do monte, onde não há ninguém, com a sua elegante coluna branca presa pelo aço no cimento do pé, a longa lâmina da hélice às voltas, silenciosa. Como é que são os sítios onde não está ninguém? (url) 16.10.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAIS CYRANO
Mais Cyrano, cortesia de M.C., um bom ar para o dia de hoje, para as palavras de hoje, para o país de hoje. Rêver, rire, passer, être seul, être libre. Avoir l’oeil qui regarde bien, la voix qui vibre, Mettre, quand il vous plaît, son feutre de travers, Pour un oui, pour un non, se battre, ou faire un vers ! Travailler sans souci de gloire ou de fortune, A tel voyage, auquel on pense, dans la lune ! N’écrire jamais rien qui de soi ne sortît, Et modeste d’ailleurs, se dire : mon petit, Sois satisfait des fleurs, des fruits, même des feuilles, Si c’est dans ton jardin à toi que tu les cueilles ! Puis, s’il advient d’un peu triompher, par hasard, Ne pas être obligé d’en rien rendre à César, Vis-à-vis de soi-même en garder le mérite, Bref, dédaignant d’être le lierre parasite, Lors même qu’on n’est pas le chêne ou le tilleul, Ne pas monter bien haut peut-être, mais tout seul ! (Edmond Rostand) (url)
APRENDENDO COM CYRANO DE BERGERAC
Este monólogo é sem dúvida uma das páginas geniais do teatro e fica aqui dedicado aos leitores do Abrupto que sofrem com o tempo cinzento (o que não é o caso do autor destas linhas). O que é que se aprende com o nariz de Cyrano? Uma forma muito certeira de ser livre, de usar o "espírito" para ser livre, de ser esmagado por um Nariz glorioso e ser livre (noutro dia falarei sobre um nariz de lata veneziano), de gostar de ser livre: "Je me les sers moi-même, avec assez de verve,/Mais je ne permets pas qu'un autre me les serve." CYRANO Ah ! non ! c'est un peu court, jeune homme ! On pouvait dire... Oh ! Dieu !... bien des choses en somme... En variant le ton, -par exemple, tenez Agressif : "Moi, monsieur, si j'avais un tel nez, Il faudrait sur-le-champs que je me l'amputasse !" Amical : "Mais il doit tremper dans votre tasse Pour boire, faites-vous fabriquer un hanap !" Descriptif : "C'est un roc !... c'est un pic !... c'est un cap ! Que dis-je, c'est un cap ?... C'est une péninsule !" Curieux : "De quoi sert cette oblongue capsule ? D'écritoire, monsieur, ou de boîtes à ciseaux ?" Gracieux : "Aimez-vous à ce point les oiseaux Que paternellement vous vous préoccupâtes De tendre ce perchoir à leurs petites pattes ?" Truculent : "Ca, monsieur, lorsque vous pétunez, La vapeur du tabac vous sort-elle du nez Sans qu'un voisin ne crie au feu de cheminée ?" Prévenant : "Gardez-vous, votre tête entraînée Par ce poids, de tomber en avant sur le sol !" Tendre : "Faites-lui faire un petit parasol De peur que sa couleur au soleil ne se fane !" Pédant : "L'animal seul, monsieur, qu'Aristophane Appelle Hippocampelephantocamélos Dut avoir sous le front tant de chair sur tant d'os !" Cavalier : "Quoi, l'ami, ce croc est à la mode ? Pour pendre son chapeau, c'est vraiment très commode !" Emphatique : "Aucun vent ne peut, nez magistral, T'enrhumer tout entier, excepté le mistral !" Dramatique : "C'est la Mer Rouge quand il saigne !" Admiratif : "Pour un parfumeur, quelle enseigne !" Lyrique : "Est-ce une conque, êtes-vous un triton ?" Naïf : "Ce monument, quand le visite-t-on ?" Respectueux : "Souffrez, monsieur, qu'on vous salue, C'est là ce qui s'appelle avoir pignon sur rue !" Campagnard : "Hé, ardé ! C'est-y un nez ? Nanain ! C'est queuqu'navet géant ou ben queuqu'melon nain !" Militaire : "Pointez contre cavalerie !" Pratique : "Voulez-vous le mettre en loterie ? Assurément, monsieur, ce sera le gros lot !" Enfin parodiant Pyrame en un sanglot "Le voilà donc ce nez qui des traits de son maître A détruit l'harmonie ! Il en rougit, le traître !" -Voilà ce qu'à peu près, mon cher, vous m'auriez dit Si vous aviez un peu de lettres et d'esprit Mais d'esprit, ô le plus lamentable des êtres, Vous n'en eûtes jamais un atome, et de lettres Vous n'avez que les trois qui forment le mot : sot ! Eussiez-vous eu, d'ailleurs, l'invention qu'il faut Pour pouvoir là, devant ces nobles galeries, me servir toutes ces folles plaisanteries, Que vous n'en eussiez pas articulé le quart De la moitié du commencement d'une, car Je me les sers moi-même, avec assez de verve, Mais je ne permets pas qu'un autre me les serve. (Edmond Rostand) (url)
EARLY MORNING BLOGS 336
"Je suis l'Empire à la fin de la décadence..." Je suis l'Empire à la fin de la décadence, Qui regarde passer les grands Barbares blancs En composant des acrostiches indolents D'un style d'or où la langueur du soleil danse. L'ame seulette a mal au coeur d'un ennui dense, Là-bas on dit qu'il est de longs combats sanglants. O n'y pouvoir, étant si faible aux voeux si lents, O n'y vouloir fleurir un peu cette existence! O n'y vouloir, ô n'y pouvoir mourir un peu! Ah! tout est bu! Bathylle, as-tu fini de rire? Ah! tout est bu, tout est mangé! Plus rien à dire! Seul un poème un peu niais qu'on jette au feu, Seul un esclave un peu coureur qui vous néglige, Seul un ennui d'on ne sait quoi qui vous afflige! (Paul Verlaine). * Bom dia! (url)
VER A NOITE
Preparar-me para ver a noite nestes dias de nuvens, ou seja, para não ver. Daqui a dias ainda vamos ver menos, porque vai haver um eclipse de Lua. (url) 15.10.04
SCRITTI VENETI: A ILHA DOS MORTOS
S. Michele in Isola. Vai-se lá pelo barco normal da carreira, junto com venezianos com ramos de flores e faces tristes, passa-se no mar por um tráfego sinistro: enterros flutuantes. A ilha não engana ninguém com o seu perfil de fortaleza, amuralhada a toda a volta, com os ciprestes em massa ultrapassando os muros. Se é assim de dia imaginem à noite e eu vi-a à noite escura, sem uma luz, uma massa negra no horizonte das águas. No cais entra-se num mundo de silêncio, campos e campos de mortos, mais abertos e luminosos nas campas recentes e nas partes comuns, mais fechados à luz pelas grandes arvores nos cemitérios particulares de diferentes comunhões religiosas, “gregos” e evangélicos. Venezianos, italianos, estrangeiros, soldados, marinheiros, gente comum, "bambini", estão lá dormindo. No cemitério evangélico, Pound e Brodsky, marinheiros ingleses, nobres alemães. Um jogador de futebol com uma bola em pedra. No cemitério "grego", os ortodoxos, estão os russos Strawinsky e Diaghilev, a duas ou três campas um do outro, estão alguns nomes da nobreza russa, um Trubetzkoy, e uma "rainha dos helenos" , não dos gregos mas dos "helenos", numa modesta placa a um canto das muralhas. (Strawinsky e Diaghilev. Na campa de Diaghilev estão pousados uns sapatos de dança.) (url)
SCRITTI VENETI / BIBLIOFILIA
Dois livros indispensáveis sobre Veneza: a história de John Julius Norwich, A History of Venice, e o Literary Companion to Venice de Ian Littlewood, ambos da Penguin Books. A história é uma síntese de muito que aconteceu em Veneza, e a partir de Veneza, um misto de drama e comédia numa das colunas vertebrais da civilização do Ocidente. E o "companheiro literário" é o que se espera dele, um guia para todas as pedras que já tiveram ou Goethe, ou Byron, ou Wagner, ou Napoleão, ou Thomas Mann, em cima a fazer qualquer coisa, do trivial ao genial. (url)
A LER
Um blogue sobre árvores, o Dia com árvores. Uma "reportagem" do Tal e Qual sobre as praxes. Um retrato da abjecção que, ao mesmo tempo, explica o sucesso da Quinta das Celebridades e a transforma numa referência do bom gosto e bons costumes, tão acima está das imbecilidades das praxes. (url)
IN ILLO TEMPORE
Havia quatro liceus no Porto: o meu, o Alexandre Herculano, o D. Manuel, e os das meninas, Rainha Santa, irmão do Herculano, e o Carolina. Quase tudo já mudou e há um excelente livro, os Liceus de Portugal, coordenado por António Nóvoa, que parece um tratado de arqueologia, sobre o que era e já não é. Todos estes Liceus tinham fama justificada de grande qualidade. Por isso, custa-me ver as ameaças sobre o Carolina e sou solidário com este apelo que recebi da Escola: "A Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, corre sérios riscos de encerramento se o Sr. Director da Direcção Regional do Norte (DREN) concretizar a proposta que vem anunciando desde Abril de 2004. E por que motivos? Têm sido apresentados dois e a ênfase é posta ora num, ora noutro, conforme as circunstâncias: 1. As instalações são necessárias para albergar o Conservatório de Música do Porto. 2. É necessário fundir a Escola Secundária Carolina Michaëlis com a vizinha Secundária Rodrigues de Freitas, porque esta segunda, desde há anos, vem perdendo alunos, estando com um número de alunos muito insuficiente. Relativamente ao primeiro argumento, e de início o mais valorizado pela DREN e agora desvalorizado, a mudança implicaria uma total reestruturação de espaços, quer a nível de dimensões quer a nível do tratamento acústico dos mesmos. Sabe-se também que ao Conservatório estava reservado um edifício a construir junto da Casa da Música. Por outro lado, em relação à alegada rentabilização de espaços, como compreender que a Escola Secundária Carolina Michaëlis tenha de ser sacrificada, porquanto a esta escola estão associados valores que não podem ser ignorados: uma patrona, uma história e um conjunto de recursos pedagógico-didácticos que vão desde uma Biblioteca de grande valor quer do ponto de vista científico, quer do ponto de vista humanístico, a laboratórios bem apetrechados quer em termos de equipamento actualizado quer de equipamento de valor museológico. Todos estes valores explicam o bom desempenho da Escola na formação de gerações, formação que inclui os aspectos científico, humanístico, artístico e axiológico. Talvez por isso, ainda recentemente a divulgação dos rankings (EXPRESSO, de 2 de Outubro último) mostra que a Escola Secundária Carolina Michaëlis se encontra em 38º lugar a nível nacional, é a 3ª escola pública, no Porto, e encontra-se entre as 10 melhores classificadas na disciplina de Física (média - 14,3 PÚBLICO, de 2 de Outubro), resultados estes, e nomeadamente a Física, a que não serão alheias as referências anteriores, quanto a equipamentos. Mas o bom desempenho da Escola não se mede apenas pelos rankings nacionais. Há outros indicadores, porventura mais importantes, nomeadamente a boa imagem que a Comunidade tem da Escola a tal ponto que, mesmo após o anúncio da fusão, e contrariando todas as expectativas de que a escola corria o risco de perder alunos, pode contar com mais de 1000 (mil) alunos, mantendo praticamente o mesmo nível de frequência do ano anterior. Acresce ainda que a Escola tem uma excelente localização, reforçada com a recente estação do Metropolitano (que curiosamente tem o seu nome) e que vem facilitar o acesso de populações limítrofes, que desde sempre procuraram esta instituição e que, por certo, gostariam de poder continuar a usufruir das situações de ensino/aprendizagem que nela se têm desenvolvido com a eficácia inerente à tradição pedagógica que a caracteriza." (...) Porto e E. S. Carolina Michaëlis, 15 de Outubro de 2004. Pela Comunidade Educativa, / O Presidente Da Assembleia de Escola Luís Miranda (url)
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS / UM VULCÃO QUE CUMPRE O SEU DEVER
A Terra é um planeta, logo os "novos descobrimentos" também olham para cá, de cima claro. A fotografia combinando luz, a que vemos e a que não vemos (infravermelho) mas está lá, é da NASA e tirada por um "mestre", o "MODIS/ASTER Airborne Simulator (MASTER)". O vulcão que cumpre o seu dever é o Monte S. Helena. As cores são falsas, mas o vulcão é verdadeiro. (url)
SCRITTI VENETI: AMOR VENDICATO / BIBLIOFILIA
Ele há dias de sorte, como hoje, em que encontrei e comprei esta pequena maravilha goldoniana, o Amor Vendicato. Poemetto in Lingua Veneziana del Dottor Carlo Goldoni, editado em Veneza em 1761. (url) (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OS RIDÍCULOS EM 1916
"Comentário censurado disponível na colecção do jornal Os Ridículos depositada na Hemeroteca Municipal de Lisboa. A edição original saiu com uma “bexiga” neste local da página. “Com uma imprensa d'estas, aonde jornaes aconselham aos exaltados politicos a liquidação dos directores de outros jornaes, n'uma imprensa cheia de intruzos que d'ella só fazem biombo para arranjos politicos, n'uma desgraçada situação d'esta ordem... é fechar os olhos e deixar ir para o fundo ! Os Ridículos, 5/Jul/1916, p. 2 (url)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: PRINCÍPIO DA INTELIGÊNCIA DO MERCADO
"Se perguntarmos a cada indivíduo de um grupo de mais de 20 pessoas quantos rebuçados há num frasco de rebuçados e se depois calcularmos a média das 20 respostas, encontramos invariavelmente um valor a não mais de três por cento da quantidade exacta de rebuçados que há no frasco. Com um grupo de 20 indivíduos já existem condições para que o palpite colectivo funcione, ainda que muitos dos intervenientes sejam idiotas compulsivos. É o princípio da inteligência do mercado.Ou seja, um grupo a funcionar com regras e um objectivo claro, o lucro por exemplo, leva a uma resposta mais acertada. Acredito que mais depressa as pessoas na América vão votar na clareza do Sr. Bush do que nas boas promessas do Sr. Kerry." (Manuel Pais) * "Em relação ao texto do Vital Moreira acho contudo que o mapa eleitoral não engana: a classe média urbana vota Kerry e os cristãos fundamentalistas do campo votam Bush, juntamente com os 1% da América que ganham mais de 200.000 dólares por ano e que têm muito a ganhar com a “flat tax” dos neo-cons. No mês passado fui a Lisboa e a senhora do check-inn aqui no aeroporto perguntou-me se os europeus odiavam os Americanos. Eu disse-lhe que não, mas que uma grande parte dos europeus odiavam o Bush por ele ser tão violento, tão arrogante e tão ganancioso, e perguntei-lhe se ela não preferia os tempos do Clinton, quando havia menos crimes, os salários subiam mais depressa que a inflação, a segurança no trabalho era uma prioridade, era ilegal mandar mercúrio para os rios, etc. Ela desatou aos berros, a dizer que o Bush era “a good man,” e eu insisti: “Mas o seu poder de compra desceu, não desceu? Deixe-me adivinhar: o seu cheque da redução dos impostos deve ter sido para aí 200 dólares e a subida do seu seguro de saúde deve andar na ordem dos 1.000, não é?” Era. “E os seus netos? Ainda têm programas à borla a seguir à escola? Não?! Agora você tem de pagar, não é?” Ela interrompeu-me aos berros “Isso não interessa nada! Eu estou mais pobre e está tudo mais caro, sim senhor, mas isso é por causa da Economia! O que interessa é que os homossexuais se querem casar e anda para aí tudo a fazer abortos!” Além da Mossad, da Christian Coalition e dos bilionários a quem ele perdoa os impostos, este é que é o eleitorado do Bush. E eu acho que o Vital Moreira tem toda a razão quando diz que esta gente é bronca e ignorante! Como eram broncos e ignorantes os que votaram no Hitler." (Filipe Castro) * berry kush, besh kurry Eu sou inteligente e, não votando bush, tenho dúvidas se votaria kerry A não ser que eu seja do partido socialista, onde se pratica o voto útil. (E.M.) (url)
EARLY MORNING BLOGS 335
A Drink With Something In It There is something about a Martini, A tingle remarkably pleasant; A yellow, a mellow Martini; I wish I had one at present. There is something about a Martini, Ere the dining and dancing begin, And to tell you the truth, It is not the vermouth-- I think that perhaps it's the gin. (Ogden Nash) * Sem nos levarmos demasiado a sério, bom dia! (url) 14.10.04
A LER / INTENDÊNCIA
A nota de João Miranda A regulação reduz o pluralismo no Blasfémias. Em complemento da questão público / privado na comunicação social coloquei no VERITAS FILIA TEMPORIS um dos vários artigos que publiquei (desde 1987 pelo menos) defendendo que o estado não seja dono de meios de comunicação social. Nem poucos, nem muitos, nenhuns. A FRONDA (Maio 2002) (url)
ELE HÁ MOMENTOS
em que não se deve escrever sem pensar duas vezes. Vital Moreira fê-lo na seguinte nota no Causa Nossa: “Dos três debates públicos entre Kerry e Bush, este não ganhou nenhum e perdeu inequivocamente dois deles (o primeiro, sobre política externa, e o terceiro, realizado ontem, sobre política interna), em que Kerry triunfou em toda a linha. Perante a patente superioridade do candidato democrata, os eleitores norte-americanos serão estúpidos?” A pergunta final não tem qualquer sentido numa democracia. Primeiro, porque a performance nos debates não é o único critério para uma escolha eleitoral. Há elementos intangíveis – para o bem e para o mal - na relação entre eleitos e eleitores que incluem a percepção de outras qualidades e defeitos para além da argumentação racional. A confiança, por exemplo. Depois, porque os eleitores em democracia são sempre mais “inteligentes” do que a sobranceria da frase de Vital Moreira que os divide entre “inteligentes” (que votam Kerry) e “estúpidos” (que votam Bush). Mesmo quando votam em Chavez. (url)
© José Pacheco Pereira
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