ABRUPTO

27.10.04


OBSERVAÇÕES SOLTAS SOBRE O CASO DO DIA

O clima em que hoje vive a liberdade da pluralidade (apenas uma forma de liberdade, mas uma das que mais é instrumental para o funcionamento da democracia), nos grandes meios de comunicação social, é mau. Não pode deixar de haver mal-estar na RTP, na RDP, no Diário de Notícias, na TSF, no Jornal de Notícias, no 24 Horas, na TVI. É demasiado importante para o ignorarmos.

Não é um problema de superfície, é de fundo e não vai desaparecer tão cedo. O governo, que está na origem do que se passa, pode ter a tentação de cortar a direito e avançar, esperando um Grande Esquecimento, em que a comunicação social, na procura obsessiva da novidade, é mestra e, neste caso, vítima.

Marcelo disse o fundamental e o que disse é credível, tornando em mentira pouco habilidosa as declarações do Presidente da Media Capital.Terá que ter consequências. Não sei se as terá.

Marcelo é vítima de si próprio. Falando de uma matéria que vai ser mais importante para o seu futuro do que ele próprio pensa, não escapa aos seus demónios e assume um tom que rapidamente descai no histriónico. Dizendo coisas importantes, trai-se a si próprio. Há alturas em que se tem que ser severo e resistir a fazer mais um comentário semanal, para se ser tomado a sério. A vida não é só televisão.

Não sei que diga da Alta Autoridade. Em vez de perguntar sobre factos, pede opiniões, o que de todo não nos interessa neste caso. Permite aos seus inquiridos dominar o palco de um inquérito e mostra uma completa falta de direcção e uma total inadequação para a função. Será que ninguém lhes lembra que é um inquérito que está em curso e com importantes consequências políticas e não um ensaio faceto.

Um grande perdedor de tudo isto é o Parlamento, ou seja, a democracia parlamentar. A atitude da maioria em não permitir as audições de Marcelo e de outros intervenientes, permitindo a do Presidente da Media Capital, não é admissível.

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© José Pacheco Pereira
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