ABRUPTO

21.10.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE A DISTINÇÃO ESQUERDA / DIREITA NA LITERATURA

"No seu artigo recente em torno da distinção antropológica esquerda / direita, JPP refere a inadequação desta ao domínio da literatura e da criação estética, e refere como exemplo (entre outros) a coexistência problemática do fascismo de Pound com as suas tiradas poéticas contra a usura. Eu acrescentaria uma outra dimensão que complica ainda mais qualquer tentativa de simplificar ou reduzir poetas a dicotomias ideológicas - sem que isto implique, obviamente, a desculpabilização do imperdoável ou a rejeição da necessidade de crítica atenta. Refiro-me à humildade da dúvida, ao reconhecimento do erro (ainda que tardio) perante a complexidade extrema do mundo e perante a necessidade de tomar posição e agir quando o mundo nos interpela. Tantas vezes, só os grandes poetas conseguem – ou podem dar-se ao luxo de... – trazer ao de cima todas esses aspectos contraditórios e inconciliáveis. E já que mencionou Pound, recordo alguns versos dos célebres “Pisan Cantos,” de que tantos se esquecem quando recusam liminarmente a leitura da sua poesia:

Pull down thy vanity
How mean thy hates
Fostered in falsity,
Pull down thy vanity
Rathe to destroy, niggard in charity,
Pull down thy vanity,
I say pull down.

But to have done instead of not doing
this is not vanity
To have, with decency, knocked
That a Blunt should open
To have gathered from the air a live tradition
or from a fine old eye the unconquered flame
This is not vanity.
Here error is all in the not done,
all in the diffidence that faltered. . .”


(Canto LXXXI)

(Daniela Kato)

(url)

© José Pacheco Pereira
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