ABRUPTO

22.10.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE "APRENDENDO COM A DAME A LA LICORNE ("A MON SEUL DÉSIR")"

Por gentileza de Ana da Palma, este fragmento sobre a tapeçaria da Dama do Licorne:

"Na sexta e última tapeçaria da célebre série do museu de Cluny, intitulada A Dama do Licorne, a jovem que se despoja das suas jóias, está prestes a ser absorvida pela tenda, símbolo da presença divina e da Vacuidade. A inscrição que encima a tenda, Ao meu único desejo, significa que o desejo da criatura se confunde com o da vontade que a dirige. Na medida em que a nossa existência é um jogo divino, a nossa parte torna-se livre e activa, quando nós nos identificamos com o manipulador das marionetas que nos cria e dirige. Então, o eu dissolve-se para dar lugar ao grande Ser, sob a tenda cósmica ligada à estrela polar. A Dama, pela sua graça e pela sua sabedoria (Sophia-Shakti-Shekinah, isto é: aquela que está sob a tenda) bem como pela sua pureza, pacifica os animais antagónicos da Grande Obra: o leão que simboliza o enxofre, e o licorne, o mercúrio. Muitas vezes, a Dama é comparada ao Sal filosofal. Está muito próxima da mentora de Hevajra cujo nome significa aquela que não tem ego. O corno erguido do licorne, que simboliza a fecundação espiritual e que capta o fluxo da energia universal, está de acordo com o simbolismo axial da tenda, prolongado por uma ponta com o simbolismo de duas lanças, com o penteado da Dama e da sua acompanhante, encimados por um enfeite ed plumas, e com o das árvores que celebram as núpcias místicas do Oriente e do Ocidente (o carvalho e o azevinho correspondendo à laranjeira e à jaqueira) As insígnias, goles e banda azul com três crescentes ascendentes de prata, sugerem que estas tapeçarias talvez tenham sido encomendadas pelo príncipe Djem, filho infeliz ed Maomé II, o conquistador de Constantinopla. Não consistia o ideal deste Príncipe, muito tempo cativo em Creuse, onde foram encontradas estas obras, em reunir a Cruz e o Crescente? A ilha oval que suporta a cena é recortada como um lótus, símbolo do desenvolvimento espiritual. Quanto ao pequeno macaco sentado diante da Dama, designa o alquimista em pessoa, o 'macaco da natureza' vigiando a sua senhora, que pode ser comparada à Matéria Prima."

Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, Dicionário dos símbolos, Lisboa, Editorial Teorema, 1994,pp.408-409

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© José Pacheco Pereira
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