ABRUPTO

31.5.05


NOTAS A DESENVOLVER PARA UM ARGUMENTÁRIO DO “NÃO”

Os defensores da Constituição têm que explicar por que razão o que classificam de uma mera simplificação dos tratados se chama uma Constituição.

Os defensores da Constituição têm que explicar por que razão aquilo que foi pedido, - uma mera simplificação dos tratados mais uma devolução de poderes aos parlamentos nacionais –, resultou no seu oposto: num tratado muito mais complicado e com menos poderes para os parlamentos nacionais.

Os defensores da Constituição têm que explicar para que país é que esta Constituição foi escrita porque a Europa não é um país.

Os defensores da Constituição têm que explicar a sua necessidade em geral para a União e a necessidade de várias das suas soluções particulares para resolver problemas para os quais não bastavam os tratados anteriores.

Quando se vota na Constituição não se vota só na Constituição. Não é legítimo reduzir um documento político desta dimensão e alcance apenas ao seu texto, ignorando olimpicamente o contexto. O contexto primeiro e depois o texto é o que se deve discutir para decidir o “sim” e o “não”. Sem o contexto o texto é na sua maior parte proclamatório e irrelevante, não acrescenta nada ao que já existe nos tratados anteriores. O que sobra dessa irrelevância é por seu lado relevantíssimo porque introduz lógicas de funcionamento da União que não são neutras em relação ao que existe e definem e consolidam e inovam tendências e formas de funcionamento da União muito diferentes das anteriores. Mas, mesmo a parte do texto irrelevante, colocada no contexto, ganha outro significado.

Por isso, não é de aceitar a mera discussão asséptica do texto constitucional sem a sua interpretação política linha a linha com tudo o que tem sido a União e a política dos estados nacionais que mais tem contribuído para o seu modus operandi. É por isso que não há verdadeiramente “questões internas” nacionais que não possam ser chamadas ao debate da Constituição.

É aliás assim que tem sido feita a discussão pelos defensores do “sim” que não se coíbem de a discutir na base de uma interpretação contextual (por exemplo a questão do “número de telefone da Europa”), ao mesmo tempo que pretendem obrigar os defensores do “não” a não ir mais longe do que a discussão abstracta do texto, repetindo sempre que “isso” (quase tudo) nada tem a ver com a Constituição.

(Continua)

(url)


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

"E quem nos tem enraizado estes hábitos de. desoladora leviandade? O jornal – o jornal, que oferece cada manhã, desde a crónica até aos anúncios, uma massa espumante de juízos ligeiros, improvisados na véspera, à meia-noite, entre o silvar do gás e o fervilhar das chalaças, por excelentes rapazes que rompem pela redacção, agarram uma tira de papel, e, sem tirar mesmo o chapéu, decidem com dois rabiscos da pena sobre todas as coisas da Terra e do Céu. Que se trate de uma revolução do Estado, da solidez de um banco, de uma mágica, ou de um descarrilamento, o rabisco da pena, com um traço, esparrinha e julga. Nenhum estudo, nenhum documento, nenhuma certeza.

Ainda este domingo, meu Bento, um alto jornal de Paris, comentando a situação económica e política de Portugal, afirmava, e com um aprumado saber, que «em Lisboa os filhos das mais ilustres famílias da aristocracia se empregam como carregadores da Alfândega, e ao fim de cada mês mandam receber as soldadas pelos seus Lacaios»! Que dizes tu aos herdeiros das casas históricas de Portugal, carregando pipas de azeite no cais da Alfândega, e conservando criados de farda para lhes ir receber o salário? Estas pipas, estes fidalgos, estes lacaios dos carregadores, formam uma deliciosa e quimérica Alfândega que é menos das Mil e Uma Noites, que das Mil e Uma Asneiras. Pois assim o ensinou um jornal considerável, rico, bem provido de enciclopédias, de mapas, de estatísticas, de telefones, de telégrafos, com uma redacção muito erudita, pinguemente remunerada, que conhece a Europa, pertence à Academia das Ciências Morais e Sociais, e legisla no Senado!

E tu, Bento, no teu jornal, fornecido também de enciclopédias e de telefones, vais com pena sacudida lançar sobre a França e sobre a China, e sobre o desventuroso universo que se torna assunto e propriedade tua, juízos tão sólidos e comprovados como os que aquela bendita gazeta arquivou definitivamente acerca da nossa Alfândega e da nossa fidalguia..."

Etiquetas:


(url)


COISAS SIMPLES


Zurbarán

(url)


UMA NOTA SUPLEMENTAR SOBRE A DISPLICÊNCIA

A displicência é uma das filhas dilectas do relativismo moral e político. Não se pode atacar o relativismo e cultivar a displicência porque isso é pecado. Vem na Bíblia, para os seus cultores apologéticos. É a acedia, a incarnação filosófica da “preguiça”, uma forma de indiferença moral. Dava no ennui para os franceses e no spleen para os britânicos. Aquilo de que fugia o nosso Henrique de Souselas, o que “bocejava” em todo o lado pelo imenso tédio que tudo lhe provocava, e que vai para as terras da Morgadinha.

É capaz de ser muita areia para algumas camionetas. Mas também está no Spectator, é preciso é lê-lo a montante e a jusante, para os lados, um bocado mais. Aqui fica, pois, uma verdadeira nota arrogante e para além disso com um plebeísmo – horror! – sobre camionetas e areia.

(url)


O MAL DA DISPLICÊNCIA

Se se faz o debate é porque se faz o debate, se não se faz o debate é porque não se faz o debate. Se se faz o debate, nunca é esclarecedor, falta sempre alguma coisa, nunca chegam os argumentos, tudo é mau e triste, todos são brutos e feios e porcos. Ninguém é um gentleman inglês, como nós somos, de manhã, ao espelho. Se se discute nunca é por gosto, ou dedicação a uma ideia ou causa, nunca é para esclarecer ou contraditar ou convencer, nunca é por interesse intelectual, é só para ganhar votos, para ter protagonismo, para servir obscuros interesses, por vaidade ou por ignorância presumida, para ajustar contas, ou qualquer sinistra agenda escondida. Ou se é xenófobo, ou racista, ou populista, ou reaccionário, ou revolucionário, ou torcionário, ou “bushista”, ou “lepenista”, ou fascista, ou comunista, ou partidário da “tripa” versus o “coração”, ou medroso ou ignorante. É-se sempre interessado, interesseiro. Sempre, é-se sempre incoerente em qualquer minudência verbal.

Por cima e ao lado, é que se está bem, nem com o sim, nem com o não, sempre à espera de alguém que nos esclareça definitivamente, de algum trabalho alheio que nos ilumine na preguiça, ou pior ainda, já com posição tomada, seja pelo partido, seja pelo grupo, seja pela tribo, seja pela confraria dos cumprimentos mútuos, mas, mantendo a reserva mental e a má fé necessária para castigar o vulgo, e o vulgo são todos aqueles que não são gentlemen ingleses como nós somos, e em particular, essa espécie ainda mais perigosa, daqueles que sabem o que é um gentleman inglês e sabem como nós estamos bem longe de o ser.

(url)


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

"Um inglês, com quem outrora jornadeei pela Ásia, varão douto, colaborador de revistas, sócio de Academias,considerava os franceses todos, desde os senadores até aos varredores, como «porcos e ladrões...». Porquê, meu Bento? Porque em casa de seu sogro houvera um escudeiro, vagamente oriundo de Dijon, que não mudava de colarinho e surripiava os charutos. Este inglês ilustra magistralmente a formação escandalosa das nossas generalizações."

Etiquetas:


(url)


EARLY MORNING BLOGS 508

El instante


¿Dónde estarán los siglos, dónde el sueño
de espadas que los tártaros soñaron,
dónde los fuertes muros que allanaron,
dónde el Arbol de Adán y el otro Leño?
El presente está solo. La memoria
erige el tiempo. Sucesión y engaño
es la rutina del reloj. El año
no es menos vano que la vana historia.
Entre el alba y la noche hay un abismo
de agonías, de luces, de cuidados;
el rostro que se mira en los gastados
espejos de la noche no es el mismo.
El hoy fugaz es tenue y es eterno;
otro Cielo no esperes, ni otro Infierno.


(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

(url)

30.5.05


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 14

SINAIS DA POLÍTICA EM ERAS VIOLENTAS 2



As histórias que estes livros e brochuras contam são todas exemplares da violência que atravessou o século XX. As duas brochuras são propaganda alemã do tempo da guerra editada em português. Uma, é uma resenha do trabalho alemão nos "ersatz", produtos industriais inventados para substituir matérias-primas a que os alemães não tinham acesso durante o conflito. O livro tem no fim uma série de páginas de publicidade comercial de empresas alemãs ligadas a este esforço que incluem a AEG, a Krebs, a gigante química e farmacêutica Merck, a Siemens, as fábricas de vidros de Jena. Entre os produtos-"ersatz" estavam a baquelite, lãs de celulose, borracha sintética, vidro "Plexi", ligas cerâmicas e de alumínio e zinco.

A Vida Continua!
refere uma história bem mais trágica, até porque data de 1944: as destruições das cidades alemãs no fim da guerra. Na contra-capa interior uma citação de Hitler "as centenas de milhar daqueles que por acção das bombas perderam os seus haveres são a guarda avançada da vingança."

O "forçado", uma típica edição anticomunista do início da guerra fria, contendo o "verdadeiro depoimento do cardeal Mindszenty", o cardeal hungaro que foi feito prisioneiro pelos comunistas. A edição portuguesa é de 1949.

(url)


APRENDENDO COM EÇA DE QUEIRÓS

"A tua ideia de fundar um jornal é daninha e execrável. Lançando, e em formato rico, com telegramas e crónicas, uma outra «dessas folhas impressas que aparecem todas as manhãs», como diz tão assustada e pudicamente o arcebispo de Paris, tu vais concorrer para que no teu tempo e na tua terra se aligeirem mais os juízos ligeiros, se exacerbe mais a vaidade, e se endureça mais a intolerância. juízos ligeiros, vaidade, intolerância – eis três negros pecados sociais que, moralmente, matam uma sociedade! E tu alegremente te preparas para os atiçar.

Inconsciente como uma peste, espalhas sobre is almas a morte. já decerto o Diabo está atirando mais brasa para debaixo da caldeira de pez em que, depois do julgamento, recozerás e ganirás, meu Bento e meu réprobo! Não penses que, moralista amargo, exagero, como qualquer S. João Crisóstomo. Considera antes como foi incontestavelmente a Imprensa, que, com a sua maneira superficial, leviana e atabalhoada de tudo afirmar, de tudo julgar, mais enraizou no nosso tempo o funesto hábito dos juízos ligeiros. Em todos os séculos decerto se improvisaram estouvadamente opiniões: o Grego era inconsiderado e gárrulo, já Moisés, no longo deserto, sofria com o murmurar variável dos Hebreus; mas nunca, como no nosso século apressado, essa improvisação impudente se tornou a operação natural do entendimento. Com excepção de alguns filósofos escravizados pelo método, e de alguns devotos roídos pelo escrúpulo, todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar.

É com impressões fluidas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou – apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que soberana facilidade declaramos «Este é uma besta! Aquele é um maroto!» Para proclamar «É um génio!» ou «É um santo!» oferecemos uma reSistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz de um céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios.

Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há acção individual ou colectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda. E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo. "

Etiquetas:


(url)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM BRILHOZINHO NOS OLHOS


Titã e Rea

Todos eles, todos eles, malvados, sedutores, malandros, aturdidos, admirados, impudicos, envergonhados, apanhados, exibicionistas, têm este brilhozinho nos olhos, uma claridade que se mostra, um fragmento de luz, para nos intrigar.

(url)


COISAS SIMPLES / GRANDES CAPAS


(url)


EARLY MORNING BLOG 507

De nada se sabe


La luna ignora que es tranquila y clara
Y ni siquiera sabe que es la luna;
La arena, que es la arena. No habrá una
Cosa que sepa que su forma es rara.
Las piezas de marfil son tan ajenas
Al abstracto ajedrez como la mano
Que las rige. Quizá el destino humano
De breves dichas y de largas penas
Es instrumento de otro. Lo ignoramos;
Darle nombre de Dios no nos ayuda.
Vanos también son el temor, la duda
Y la trunca plegaria que iniciamos.
¿Qué arco habrá arrojado esta saeta
que soy? ¿Qué cumbre puede ser la meta?


(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

(url)


ESQUERDA / DIREITA

O referendo francês é mais um exemplo da esterilidade em querer pensar tudo em termos da dicotomia esquerda / direita. Acrescento-o a uma já longa lista de questões, de issues que mostram o esgotamento heurístico do dualismo reducionista.

(url)


HÁ QUEM NÃO APRENDA NADA

Esta insistência em “continuar” com a Constituição contra tudo e contra todos, afirmada por Jean-Claude Juncker., Durão Barroso e Freitas do Amaral, mostra a cegueira e a falta de espírito democrático (e na vez dele, espírito burocrático) com que se pretende impor uma solução indesejada. Por um lado, não querem perder a face, por outro, não sabem sair do sarilho em que se meteram. Mas o que mais falta é bom senso, porque qualquer pessoa que pense percebe logo que esta é uma atitude que só aprofundará a crise para que empurraram a Europa. Alguém pensa que sem a França, a Holanda e o Reino Unido, pelo menos, é possível haver uma União Europeia assente nesta Constituição?

(url)


TEMOS DIREITO A VOTAR “NÃO” OU NÃO PODEMOS?

Reproduzo aqui o que escrevi há mais de um mês sobre o referendo francês. Não preciso de mudar uma linha.

Como os dinamarqueses, os irlandeses e os suecos no passado, os franceses não podem votar “não” em matérias europeias. Como os portugueses num futuro próximo, também lhes vai ser descrito o apocalipse que cairá sobre eles se votarem “não”. A Europa é muito democrática, mas só se lhe pode dizer “sim”, nunca “não”, e os cidadãos dos países europeus tem o nefasto hábito de o fazer ou de então ficar em casa em massa, deixando “sins” mirrados e perplexos.

O vilipêndio dos que querem votar “não” começa antes de votarem. O voto “sim” é sempre o iluminado, o progressista, o que aposta no futuro, o dos que não tem medo. O “não” nunca é um “não” ao modo como está a ser construída a Europa, é sempre uma mesquinha soma de pequenos interesses corporativos e nacionais, sempre uma manifestação de vistas curtas da política interna de cada país, sempre menor.

Não tenho nenhuma simpatia política e ideológica pelas razões que levam muitos franceses a votar “não” à Constituição europeia porque não querem abrir o seu mercado à competição e à mão-de-obra de serviços mais baratos permitido pela directiva Bolkestein. Os franceses querem sempre “excepções”, na cultura e no “social”. Apoiados por tudo o que é esquerda europeia que entende, e bem, que o “modelo social europeu” assenta na closed shop, mobilizaram-se para combater aquilo que chamam a “deriva neo-liberal” da Europa, personificada no Frankenstein-Bolkestein e no nosso pobre José Manuel Barroso, apanhado no tiro cruzado.

Mas não é isso que é democrático, votar sim ou não conforme entendemos que uma lei ou directiva nos atinge e afecta? E não é um sofisma pretender que o voto nobre nos “princípios” da Constituição está “acima” moral e politicamente das políticas que dela decorrem e que ela, com todo o seu upgrade dos poderes burocráticos, potencia?

(De A LAGARTIXA E O JACARÉ, na Sábado, Abril 2005)

(url)

29.5.05


NADA SERÁ COMO DANTES...

...se se confirmarem os resultados franceses. Está aberto o caminho a repensar-se a União de forma diferente da dos últimos anos, mais democrática, mais solidária, menos ambiciosa e mais prudente. Melhor para todos os europeus, melhor para a Europa.

(Continua no SÍTIO DO NÃO.)

(url)


COISAS COMPLICADAS


Giotto, A expulsão dos demónios de Arezzo

(url)


EARLY MORNING BLOGS 506

Le jeune homme et le vieillard


De grâce, apprenez-moi comment l'on fait fortune,
Demandait à son père un jeune ambitieux.
Il est, dit le vieillard, un chemin glorieux,
C'est de se rendre utile à la cause commune,
De prodiguer ses jours, ses veilles, ses talents,
Au service de la patrie.
- Oh ! Trop pénible est cette vie,
Je veux des moyens moins brillants.
- Il en est de plus sûrs, l'intrigue... -elle est trop vile,
Sans vice et sans travail je voudrais m'enrichir.
- Eh bien ! Sois un simple imbécile,
J'en ai vu beaucoup réussir.

(Florian)

*

Bom dia!

(url)

28.5.05


GRANDES CAPAS


(url)


A FEIRA DO LIVRO NO PORTO

Triste, mais triste, mais baça. Com uma circulação interior pouco fluída, - a saída está escondida -, com uma luz acinzentada, sem alfarrabistas, a única coisa que pode justificar visitar-se mais do que uma Feira do Livro. Isto de não haver alfarrabistas parece-me mais um sinal dos mesquinhos conflitos entre sectores no mercado livreiro, que se esquecem que para chamar o maior número de pessoas às Feiras é preciso diversificar a oferta.Nas bancas, o estado actual da edição portuguesa: pilhas e pilhas de lixo editorial, com capas berrantes e inuendos sexuais, para cobrir literatura light. As poucas coisas boas, na maré do lixo, nem chegam às livrarias pelo também deprimente estado da distribuição e pelas políticas de espaço escasso das próprias livrarias que o dão aos sucessos "leves". Não está brilhante.

ª
Quanto à Feira do livro em si, concordo com «triste» e concordo com «baça», mas não com «mais triste» e «mais baça», pois mantém o mesmo aspecto há vários anos. É agradável, por outro lado, constatar que há editoras que remam contra a maré, tais como, por exemplo, as Edições Caixotim e a Cavalo de Ferro. Por outro lado, aconteceu algo este ano que me divertiu e que me fez lembrar as minhas idas à Feira do Livro nos anos oitenta. Naquele tempo, encontrava à venda todos os anos um livro chamado «A grande catástrofe de 1983», de Boris Cristoff.
Tratava-se de um livro publicado antes de 1983, a anunciar uma grande catástrofe para aquele ano, catástrofe essa que não veio a ter lugar.
O que me divertia era encontrar esse livro à venda durante largos anos após 1983. Quem é que o compraria? O que vi este ano que me trouxe aquilo à memória foi o livro «Onde Está Bin Laden? O Jogo Duplo dos Americanos», de Mohamed Sifaoui. Nesse livro, datado de 2003, o autor explica que provavelmente Bin Laden já foi capturado pelos norte-americanos e que estes tencionariam anunciar a captura apenas poucas semanas antes das eleições presidenciais de 2004, como trunfo eleitoral a favor de George W. Bush, obviamente. Quem é que agora compra um tal livro?

(José Carlos Santos)

(url)


EARLY MORNING BLOGS 505

Le rossignol et le prince


Un jeune prince, avec son gouverneur,
Se promenait dans un bocage,
Et s'ennuyait suivant l'usage ;
C'est le profit de la grandeur.
Un rossignol chantait sous le feuillage :
Le prince l'aperçoit, et le trouve charmant ;
Et, comme il était prince, il veut dans le moment
L'attraper et le mettre en cage.
Mais pour le prendre il fait du bruit,
Et l'oiseau fuit.
Pourquoi donc, dit alors son altesse en colère,
Le plus aimable des oiseaux
Se tient-il dans les bois, farouche et solitaire,
Tandis que mon palais est rempli de moineaux ?
C'est, lui dit le mentor, afin de vous instruire
De ce qu'un jour vous devez éprouver :
Les sots savent tous se produire ;
Le mérite se cache, il faut l'aller trouver.


(Florian)

*

Bom dia!

(url)

27.5.05


COISAS SIMPLES


Andrew Wyeth

(url)


EARLY MORNING BLOGS 504

La fable et la vérité


La vérité, toute nue,
Sortit un jour de son puits.
Ses attraits par le temps étaient un peu détruits ;
Jeune et vieux fuyaient à sa vue.
La pauvre vérité restait là morfondue,
Sans trouver un asile où pouvoir habiter.
à ses yeux vient se présenter
La fable, richement vêtue,
Portant plumes et diamants,
La plupart faux, mais très brillants.
Eh ! Vous voilà ! Bon jour, dit-elle :
Que faites-vous ici seule sur un chemin ?
La vérité répond : vous le voyez, je gèle ;
Aux passants je demande en vain
De me donner une retraite,
Je leur fais peur à tous : hélas ! Je le vois bien,
Vieille femme n'obtient plus rien.
Vous êtes pourtant ma cadette,
Dit la fable, et, sans vanité,
Partout je suis fort bien reçue :
Mais aussi, dame vérité,
Pourquoi vous montrer toute nue ?
Cela n'est pas adroit : tenez, arrangeons-nous ;
Qu'un même intérêt nous rassemble :
Venez sous mon manteau, nous marcherons ensemble.
Chez le sage, à cause de vous,
Je ne serai point rebutée ;
à cause de moi, chez les fous
Vous ne serez point maltraitée :
Servant, par ce moyen, chacun selon son goût,
Grâce à votre raison, et grâce à ma folie,
Vous verrez, ma sœur, que partout
Nous passerons de compagnie.


(Florian)

*

Bom dia!

(url)

26.5.05


A CONSTITUIÇÃO QUE NUNCA TEM NADA A VER COM AS RAZÕES PELAS QUAIS SE LHE DIZ “NÃO”

São estas pequenas coisas, que passam desapercebidas, que manipulam a opinião pública: no noticiário da 2, a pretexto das manifestações dos agricultores e vinhateiros franceses que apelavam ao “não”, a jornalista-locutora diz que o “não” cresce em França “por coisas que nada têm a ver com a Constituição Europeia”, um juízo de valor não uma notícia. “Por coisas que nada têm a ver com a Constituição Europeia”? Esta agora! Então a Constituição não tem a ver com tudo? Então o governo da Europa, as suas políticas e os seus efeitos, nada têm a ver com o texto constitucional?

A descrição da Constituição pelos seus defensores oscila, ao sabor das circunstâncias, entre um angelismo absoluto – a Constituição nada tem a ver com a UE tal como ela é de facto, nem com as políticas europeias – ou como um upgrade político salvífico da UE que dará uma nova dimensão a todas as políticas europeias. Não, as “coisas que nada têm a ver com a Constituição Europeia”, não são mesmo nenhumas, todas têm a ver, por muito que isso custe aos que queriam que os europeus votassem no texto de um documento puramente angélico, uma nuvem benfazeja, pairando no mundo jurídico das regras abstractas, escritas pelos Melhores em nome do Bem.

(Colocado igualmente no SÍTIO DO NÃO.)

(url)


INTENDÊNCIA

Mais entradas na bibliografia dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO e actualização do SÍTIO DO NÃO.

Publicada no Público uma nova versão de OS CINQUENTA MOMENTOS POLÍTICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL de que saiu a 1ª PARTE (1974-1985), com a seguinte nota : "Esta lista teve origem no Abrupto onde conheceu três versões, alteradas e acrescentadas pelos leitores e pelas críticas e sugestões de outros blogues. Nesse sentido, sendo de minha responsabilidade individual, é também uma obra colectiva. No Abrupto sairá, posteriormente à sua publicação no Público, a versão final com a lista das contribuições, e as ligações que o texto do jornal não permite fazer."

O que será feito depois da 2ª PARTE.

(url)


GRANDES CAPAS


(url)


EARLY MORNING BLOGS 503

Lines on Retirement, after Reading Lear


for Richard Pacholski

Avoid storms. And retirement parties.
You can’t trust the sweetnesses your friends will
offer, when they really want your office,
which they’ll redecorate. Beware the still
untested pension plan. Keep your keys. Ask
for more troops than you think you’ll need. Listen
more to fools and less to colleagues. Love your
youngest child the most, regardless. Back to
storms: dress warm, take a friend, don’t eat the grass,
don’t stand near tall trees, and keep the yelling
down—the winds won’t listen, and no one will
see you in the dark. It’s too hard to hear
you over all the thunder. But you’re not
Lear, except that we can’t stop you from what
you’ve planned to do. In the end, no one leaves
the stage in character—we never see
the feather, the mirror held to our lips.
So don’t wait for skies to crack with sun. Feel
the storm’s sweet sting invade you to the skin,
the strange, sore comforts of the wind. Embrace
your children’s ragged praise and that of friends.
Go ahead, take it off, take it all off.
Run naked into tempests. Weave flowers
into your hair. Bellow at cataracts.
If you dare, scream at the gods. Babble as
if you thought words could save. Drink rain like cold
beer. So much better than making theories.
We’d all come with you, laughing, if we could.


(David Wright)

*

Bom dia!

(url)

25.5.05


GRANDES CAPAS



Grande capa, grande livro necessário para os dias de hoje. Talvez acrescentar "fabricar um blogue", no capítulo da Solarine, insecticidas e espelhos...

(url)


INTENDÊNCIA

Actualizados os ESTUDOS SOBRE COMUNISMO e a sua eterna bilbiografia.

Actualizado o SÍTIO DO NÃO com mais "nãos" e "sins". Chamo a atenção para este texto O "NÃO" DE MICHEL ONFRAY.

Colocado no VERITAS FILIA TEMPORIS o artigo que escrevi há uma semana no Público, agora sem ligações, sobre as manobras do défice ATENÇÃO: OPERAÇÃO DE PROPAGANDA EM CURSO.

Ufa, já chega!

(url)


EARLY MORNING BLOGS 502

This Is Just To Say

I have eaten
the plums
that were in
the icebox

and which
you were probably
saving
for breakfast

Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold


(William Carlos Williams)

*

Bom dia!

*

Rui Amaral chamou a atenção para uma tradução no Quartzo, Feldspato & Mica de João Luís Barreto Guimarães e ainda inédita fora da rede.

ERA SÓ PARA DIZER

Eu comi
as ameixas
que estavam
no frigorifico

as quais
estavas provavelmente
a guardar
para o pequeno almoço

Perdoa-me
estavam deliciosas
tão doces
e tão frias

(url)

24.5.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES
AR PURO E FUTEBOLÂNDIA


Penso que o Abrupto (...) vai gostar de fazer saber ao país que não se vive só de futebol, nestes dias... o João Garcia é um alpinista português que, no passado Sábado, subiu ao 4º cume mais alto do Mundo (Lhotse, 8516m). Foi o primeiro português que pisou o Everest em 1999, facto que lhe deu a notoriedade actual porque sofreu um grave acidente e também porque nele perdeu o seu melhor amigo. Como no passado Sábado tudo correu bem e o João não teve acidente nenhum, foi notícia ontem, no jornal da SIC, durante 2 minutos, e ninguém festejou coisa nenhuma, a não ser a família e os amigos dele!

Este homem já subiu seis dos catorze cumes mais altos do Mundo, o que é notável se pensarmos que até hoje apenas doze criaturas foram capazes de o fazer... Quando se vai à lua e a mais uma série de lugares, o que é que isto tem de especial? Estes catorze cumes têm altitudes superiores a oito mil metros, onde a parca oxigenação do cérebro luta com a racionalidade necessária para não cometer nenhum erro. Erros, descuidos ou cálculos imperfeitos pagam-se com a vida! A uma altitude em que é preciso inspirar oito vezes para conseguir dar um passo... é caso para dizer que temos um héroi nacional! Um requinte: quando subiu ao Everest, juntou-se a uma pequena elite de aproximadamente oitenta pessoas que o conseguiram fazer sem recurso a oxigénio artificial, entre os aproximadamente 2 milhares de pessoas que já lá foram.

(...)

Nunca terei seguramente capacidade para entender o que é que motiva o João a desafiar a morte repetidamente, mas fico orgulhosa por saber que há um homem que leva Portugal ao topo do Mundo, a troco de algo que só ele entende.

Acredito que o caro JPP também esteja orgulhoso do João Garcia, um herói nacional genuíno, só comparável aos nossos navegadores quinhentistas... que, por ares não antes respirados e mais do que permite a força humana, em lugares remotos conseguiu marcar, a presença do grande Portugal!

Portugal queixa-se de tudo. Depois comemora tudo. E volta tudo ao habitual queixume.... O João não é comemorado, mas não se queixa. E volta a planear a nova subida, para levar Portugal ao tecto do Mundo.

Mais factos e opiniões no site do jornal Público e no blogue que alguns amigos dele iniciaram há uns dias, para lhe dar leitura de cabeçeira quando ele chegar ao aeroporto da Portela e, mais uma vez, ser um notável desconhecido!

(Sofia Pereira)

(url)


OS LIVROS DA SÁBADO

A DIOGNETO



Em 1436, Tomaz de Arezzo, um monge italiano que estava a estudar grego em Bizâncio, comprou peixe num mercado. Bizâncio estava nos seus últimos anos “gregos” antes de ser ocupada pelo sultão e os seus turcos. Quando chegou a casa verificou que o embrulho do peixe era um manuscrito muito antigo que ele não conhecia. Voltou a correr para o mercado e comprou as folhas que sobravam e se destinavam a embrulhar mais peixe. Tinha recuperado uma compilação de obras atribuídas a S. Justino, um filosofo do século II que se tinha convertido à nova religião e se tornara no primeiro apologista do cristianismo. Entre elas vinha uma que era completamente desconhecida e de autor anónimo, uma carta a um tal Diogneto, um pagão culto e curioso que mostrava interesse em saber:

“Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos reconhecem, nem observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para com os outros; e, finalmente, por que esta nova estirpe ou género de vida apareceu agora e não antes. “

O anónimo apologista começa assim a resposta:

“Aprovo este teu desejo e peço a Deus, o qual preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa aquele que falou.” (*)

A livraria Alcalá, que tem uma notável colecção de documentos cristãos primitivos, publicou o breve texto do século II numa edição bilingue anotada e comentada por Isidro Pereira Lamelas. Não se assustem com o carácter erudito da edição, porque vale a pena mergulharem na voz original do cristianismo, quando ela era ainda fresca e pura e “falava”, por cima das diferenças, com um pagão de boa vontade e crente nos seus deuses. Em poucos textos como este se percebe a força e o impacto que a nova religião, vinda do judaísmo, teve no mundo clássico greco-latino.

(*) Uso uma tradução diferente porque no momento em que escrevo não tenho o “meu” Diogneto ao lado.

(url)

23.5.05


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: OS ANÉIS VISTOS COM OUTROS OLHOS



Cada vez olhando melhor, de mais perto e com outra luz.

(url)


INTENDÊNCIA

Mais actualizações na bibliografia dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

(url)


FUTEBOLÂNDIA

Estamos assim, pobretes mas alegretes. Arruaceiros e épicos. A televisão pública dá o exemplo: depois de vinte minutos de não-notícia (a parte informativa do futebol não dava num país civilizado mais de dois ou três minutos), lá se lembrou que havia uma coisa chamada défice. Inebriados pela habituação, os telespectadores devem ter ido a correr para a SIC e a TVI. A TVI titulava a "Festa dos Heróis" e ao lado a palavra "balneário". Os "heróis", já não me lembra o que significava esta palavra antes da instauração do regime da Futebolândia, eram uns homens em trajos menores aos saltos e muita intimidade corporal. A SIC passou a falar do défice dez minutos depois, a TVI ainda estava aos saltos.

*
Hoje de manhã, quando vinha trabalhar – a ouvir o rádio do carro, como habitualmente - dei por mim a matutar nas duas grandes notícias, o défice e a bola.

E pensava: «Este maravilhoso entusiasmo, esta força emotiva, este imenso sentido de pertença, este espírito de sacrifício (gente que anda centenas de quilómetros, que gasta sem contar, que fica a pé até às 4 da manhã, para ver os artistas) não poderiam ser atrelados à carroça desconjuntada da nossa economia, do “Estado a que isto chegou”, e de qualquer forma, ao serviço de uma causa de recuperação económica e de progresso moral e material da Pátria?»

(Sou antiquado, ainda penso Pátria, recuso-me a ser apenas “deste país”)

No mesmo fôlego, a Rádio informou-me dos passeios cobertos de lixo, de latas de cerveja vazias, de garrafas de cerveja partidas, de gente que não iria trabalhar ou à escola, porque “tinha valido a pena”…

E de repente, tive a minha resposta: Não, não é possível…

Toda essa força é apenas uma manifestação tribal, uma adoração e um sacrifício ao totem, ao que dá sentido ao que não tem sentido, à incapacidade e à impotência.

Não é enformada por um resquício de racionalismo, não há possibilidade de lhe dar uma direcção e um significado outro, que não o da emergência (temporária?) vitoriosa do primevo que existe em todos nós, sobre o verniz de civilização que geralmente nos cobre.

Séculos de filosofia e estudo, pré-socráticos, helenistas, aristotélicos, hebraicos, muçulmanos, medievos, renascentistas, cartesianos… por aí fora, até ontem à noite. Lixo tão inútil, como as garrafas de cerveja partidas pelos passeios… E viva o Benfica!

(Luis)

(url)


AR PURO


John Ruskin, Cascade de la folie

(url)


EARLY MORNING BLOGS 501

Break of Day


Stay, O sweet, and do not rise ;
The light that shines comes from thine eyes ;
The day breaks not, it is my heart,
Because that you and I must part.
Stay, or else my joys will die,
And perish in their infancy.


(John Donne)

*

Bom dia!

(url)

22.5.05


PORTUGAL,O REINO DA FUTEBOLÂNDIA

(Em directo na TVI) Com a delicadeza de estilo, respeito cívico, espírito desportivo, bons costumes, e fino linguajar que o caracteriza.

(url)


POR QUE RAZÃO OS GOVERNANTES E A INTELLIGENTSIA FRANCESA SE DÃO MAL COM O GOOGLE

No Le Monde de hoje mais uma evidente explicação das razões porque as consultas de endereços no Google fornecem tão poucos resultados franceses. Se eu procurar um blogue, um software (logiciel na terminologia da Commission générale de terminologie et de néologie) para blogues, procuro em blog, weblog, blogue ou "bloc-notes"?


Ne dites plus jamais blog mais bloc-notes


Ne dites plus jamais blog ! La Commission générale de terminologie et de néologie a publié au Journal officiel du 20 mai un avis établissant une liste de termes et d'expressions destinés à supplanter les anglicismes sur Internet. Ainsi, "bloc-notes", que l'on pourra accepter sous sa forme abrégée "bloc", désignera "un site sur la Toile, souvent personnel, présentant en ordre chronologique de courts articles ou notes, généralement accompagnés de liens vers d'autres sites", soit un blog.
D'autres expressions anglo-saxonnes familières aux internautes ont désormais leur équivalent en français. La commission propose de traduire un "hoax" (une fausse information) par un "canular". Le "worm", ce logiciel malicieux qui se transmet par le Réseau et perturbe le fonctionnement des systèmes, devient logiquement un "ver". Quant au "splash screen", qui s'affiche à l'écran pendant le chargement d'un fichier, d'un programme ou d'un logiciel, il faudra dorénavant dire "fenêtre d'attente".

(url)


COISAS COMPLICADAS



Larry Rivers, Constitution

(url)


EARLY MORNING BLOGS 500

Perdre le Midi quotidien


Perdre le Midi quotidien ; traverser des cours, des arches, des ponts ; tenter les chemins bifurqués ; m'essouffler aux marches, aux rampes, aux escalades ;

Éviter la stèle précise ; contourner les murs usuels ; trébucher ingénument parmi ces rochers factices ; sauter ce ravin ; m'attarder en ce jardin ; revenir parfois en arrière,

Et par un lacis réversible égarer enfin le quadruple sens des Points du Ciel.

*

Tout cela, – amis, parents, familiers et femmes, – tout cela, pour tromper aussi vos chères poursuites ; pour oublier quel coin de l'horizon carré vous recèle,

Quel sentier vous ramène, quelle amitié vous guide, quelles bontés menacent, quels transports vont éclater.

*

Mais, perçant la porte en forme de cercle parfait ; débouchant ailleurs : (au beau milieu du lac en forme de cercle parfait, cet abri fermé, circulaire, au beau milieu du lac, et de tout,)

Tout confondre, de l'orient d'amour à l'occident héroïque, du midi face au Prince au nord trop amical, – pour atteindre l'autre, le cinquième, centre et Milieu.

Qui est moi.


(Victor Segalen)

*

Bom dia!

(url)

21.5.05


A VER / LER

A Cidade Surpreendente, um blogue surpreendente com as cores do Porto e só lá no Alto se sabe como são difíceis de ver e mostrar.

Uma serpente negra na Astronomy Picture of the Day.

(url)


MORREU PAUL RICOEUR

para que se recorde, agora que entrou para a "memória" que tão bem compreendeu.

A ler o artigo sobre Ricoeur na Stanford Encyclopedia of Philosophy.

(url)


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 13


SINAIS DA POLÍTICA EM ERAS VIOLENTAS


Polícia Portuguesa era a revista oficial da PSP e, como a capa com os velhos sinaleiros de cabeça de giz (tempus edax rerum, mais uma vez) mostra, uma típica revista corporativa do Estado Novo. Este número tem no entanto um reclame da Mercedes que me recordou um velho conhecido meu e de muitos manifestantes antes do 25 de Abril, o carro de água. Antes do 25 de Abril, o carro de água era a menos assustadora realidade do vendaval repressivo que era atirado para cima dos manifestantes. As manifestações duravam meia dúzia de minutos e pouco mais eram do que ajuntamentos breves. Logo a seguir, vinha a polícia de choque a bater, nalguns casos com cães, depois a PIDE fazia prisões selectivas, e por fim o carro da água varria o que sobrava nos passeios. Os passeios eram um elemento fundamental nas manifestações porque era o engrossar dos ajuntamentos nos passeios que era preliminar ao breve acto de ir para o meio da rua. Para além disso, muita gente que não queria arriscar-se a manifestar, mas entendia que lá devia estar, andava lentamente pelos passeios. Uma última nota sobre o carro de água: eu e mais gente íamos para as manifestações com o "traje" apropriado, ou seja, roupa que se podia estragar. A polícia misturava tinta azul ou azul de metileno na água do carro com o duplo objectivo punitivo de sujar a roupa com uma tinta resistente à lavagem e identificar os manifestantes.


(url)


EARLY MORNING BLOGS 499

EL ESCUCHADOR (GUSTAVO ADOLFO BÉCQUER)


Mueve el viento.
Mueve el velo
quedo.

Mueve el aire.
Mueve el arce.
Vase.

Luz sin habla.
Voz callada.
Clara.

Sombra justa.
Suena muda.
Luna.

Y él la escucha.


(Vicente Aleixandre)

*

Bom dia!

(url)

20.5.05


OS LIVROS DA SÁBADO

GOSTAR DE PORTUGAL

Gostar de Portugal de uma forma escorreita, escrever sobre Portugal de muito próximo, ter de Portugal uma intimidade feita de andar a pé pelas suas terras, observar, desenhar, anotar foi o que fez durante a sua vida Fernando Galhano. O livro Páginas de Cultura e Arte, antologia dos artigos e desenhos publicados no Comércio do Porto nos anos sessenta e editados pela Caixotim, é um excelente retrato desse gosto, tão raro entre nós. O que impressiona nos textos e desenhos de Fernando Galhano é a sua elegância e leveza estética, o fluir do olhar com rigor sobre coisas que já não iremos mais ver: uma rapariga a moer o cereal para preparar umas papas numa aldeia serrana, uma cozinha rural, uma trovoada no rio Douro, um rio que quem o conhece tem medo dele, fragmentos de um Portugal que é hoje o “país estrangeiro” do nosso passado.

Galhano fazia parte de um pequeno grupo de portugueses que transformaram esse gosto em estudo, em literatura e arte, e que sem eles, não existiria para nós. O salazarismo pretendeu apropriar-se desta movimento de recolha das coisas pátrias para o elevar a uma apologia do mundo rural e marítimo, que pouco mais era do que uma apologia da pobreza. Mas esta geração de homens – Ernesto Veiga de Oliveira, Benjamim Pereira, Jorge Dias, Orlando Ribeiro, a equipa de Keil do Amaral coligiu a Arquitectura Popular Portuguesa, Lopes Graça e Giacometti, e alguns outros - sobreviveu a essa apropriação ideológica do seu trabalho.

Politicamente eram muito diferentes, havia comunistas e gente próxima do regime salazarista, mas olhavam para Portugal de uma forma que podemos reconhecer não só como nossa, mas também como nos fazendo falta hoje, quando a destruição acelerada da paisagem e do habitat já está em grande parte consumada. Um Portugal que já estava a acabar no seu tempo foi assim salvo in extremis para a nossa memória. Eles ouviram por nós os últimos velhos que ainda cantavam uma última canção tradicional antes da rádio e televisão impregnarem os ouvidos, fotografaram as velhas casas, palheiros e espigueiros, os utensílios de trabalho, recolheram as lendas, os provérbios, as práticas culturais e de trabalho de lavradores, pastores e pescadores, caminharam por caminhos que nós, criminosamente, estamos a fazer com que vão dar a parte nenhuma.

*

Escrevo-lhe para retificar um nome saído neste seu post, a saber, Benjamim Pereira era e é, por que está vivo e de boa saúde, um etnógrafo do famigerado e brilhante grupo de Jorge Dias, e não Benjamim Ribeiro, como consta.[corrigido] Recomendo o livro Etnografias Portuguesas (1870-1970). Cultura Popular e Identidade Nacional de João Leal publicado na colecção da Dom Quixote, Portugal de Perto, que aborda o trabalho deste grupo de etnógrafos bem como o tema da arquitectura desde Raul Lino ao trabalho de Keil do Amaral, entre outros assuntos.

(Sérgio Alves)

(url)


INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

(url)


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 12

QUANDO O MUNDO TINHA ORDEM E OS MAUS ERAM MESMO MAUS






Numa altura em que mais umas toneladas chegam (uma e meia presumo), estas capas de livros de "maus".

(url)


EARLY MORNING BLOGS 498

Why It Often Rains in the Movies


Because so much consequential thinking
happens in the rain. A steady mist
to recall departures, a bitter downpour
for betrayal. As if the first thing
a man wants to do when he learns his wife
is sleeping with his best friend, and has been
for years, the very first thing
is not to make a drink, and drink it,
and make another, but to walk outside
into bad weather. It's true
that the way we look doesn't always
reveal our feelings. Which is a problem
for the movies. And why somebody has to smash
a mirror, for example, to show he's angry
and full of self-hate, whereas actual people
rarely do this. And rarely sit on benches
in the pouring rain to weep. Is he wondering
why he didn't see it long ago? Is he wondering
if in fact he did, and lied to himself?
And perhaps she also saw the many ways
he'd allowed himself to be deceived. In this city
it will rain all night. So the three of them
return to their houses, and the wife
and her lover go upstairs to bed
while the husband takes a small black pistol
from a drawer, turns it over in his hands,
then puts it back. Thus demonstrating
his inability to respond to passion
with passion. But we don't want him
to shoot his wife, or his friend, or himself.
And we've begun to suspect
that none of this is going to work out,
that we'll leave the theater feeling
vaguely cheated, just as the movie,
turning away from the husband's sorrow,
leaves him to be a man who must continue,
day after day, to walk outside into the rain,
outside and back again, since now there can be
nowhere in this world for him to rest.


(Lawrence Raab)

*

Bom dia!

(url)

19.5.05


COISAS SIMPLES



(Kuzma Petrov-Vodkin)

(url)


CONTRA O VOTO "BOM" E O VOTO "MAU"

Os votos num referendo, no caso que agora nos interessa no referendo europeu, são necessariamente transversais. Admito que as decisões partidárias a favor do “sim” afectem muitos militantes e eleitores e que estes votem em concordância. É aliás para potenciar este efeito que se escolheu fazer o referendo europeu acoplado às eleições autárquicas que desfavorecem o debate, e não nas presidenciais que o potenciavam. Mas há muito voto solto e livre e muita gente votará apenas pelas razões do “sim” e do “não”.

Os partidários do “sim” têm sistematicamente desvalorizado aquilo que consideram só existir do lado do “não”: uma convergência de votações por motivos muito diversos, alguns que parecem pouco recomendáveis. Mas esta chantagem política que atribui ao “sim” uma limpidez política e moral superior ao “não” tem que ser liminarmente recusada. O voto “sim” como o voto “não” tem clarezas e ambiguidades, mas depois do debate, se houver debate contra o falso consenso, os votos valem o mesmo.

O meu voto “não” misturar-se-á com outros “nãos” diferentes dos meus, alguns dos quais são por razões que recuso. Eu pessoalmente não me reconheço nas razões do PCP e do BE para votarem não, nem nas de grupos nacionalistas da direita radical para votarem no mesmo sentido. Entendo que o debate deve ter outras componentes e outros intervenientes e não ficar preso aos dilemas da visão “social” de comunistas e bloquistas e do soberanismo extremado dos nacionalistas. Mas isso não me condiciona, nem me impede de discutir todas as razões com todos, desde que sejam dados argumentos e não imprecações. Se desejo que um número significativo de “nãos” se expresse eu aceito o princípio básico que em democracia e nas urnas os votos são exactamente iguais e exactamente oriundos do mesmo acto de liberdade.

E mais: darão um sinal político mais inequívoco do que as razões que os justificaram a montante e a jusante – e esse sinal é que assim, com esta Constituição, toda a agenda que gravita à sua volta, e as suas consequências, não se constrói uma Europa de paz, progresso material e liberdade. O “sim” não garante que assim seja, o “não” ajuda a que se volte para trás da insensatez imprudente dos últimos anos e se faça melhor e diferente.

(Nota colocada também no SÍTIO DO NÃO.)

(url)


EARLY MORNING BLOGS 497

WHEN HALF THE TIME THEY DON'T KNOW THEMSELVES...


Old cathedrals, old markets, good and firm things
And old streets, one always feels intercepted
As they walk quickly past, no nonsense, cabbages
And turnips, the way they get put into songs:

One needn't feel offended
Or shut out just because the slow purpose
Under it is evident,
Because someone is simply there.

Yet it's a relief to look up
To the moist, imprecise sky,
Thrashing about in loneliness,
Inconsolable...

There has to be a heart to this.
The words are there already.
Just because the river looks like it's flowing backwards
Doesn't mean that motion doesn't mean something,
That it's incorrect as a metaphor.

And the way stones sink,
So gracefully,
Doesn't rob them of the dignity
Of their cantankerous gravity.

They are what they are and what they seem.
Maybe our not getting closer to them
Puts some kind of shine on us
We didn't consent to,
As though we were someone's car:
Large, animated, calm.

(John Ashbery)

*

Bom dia!

Etiquetas:


(url)


INTENDÊNCIA

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO , incluindo a bibliografia.

(url)

18.5.05


ESTÁ NA HORA DE ORGANIZAR O MOVIMENTO DO “NÃO” 2

Há um conjunto de blogues e de co-autores de blogues que são a favor do “não” à Constituição Europeia. Não têm as mesmas razões, nem os mesmos argumentos, mas o movimento do “não” tem que ser agregador, não sectário e ter fronteiras largas. A sugestão que faço é criar-se um blogue do “não” para que todos contribuam começando um debate organizado, mesmo que o façam duplicando aí as notas que originalmente publicam nos seus sítios. Para facilitar criei um blogue SÍTIO DO NÃO como sugestão. Não posso, no entanto, garantir aí mais do que colaboração, nunca a gestão solitária do sítio para que não tenho disponibilidade de tempo. Entregarei a casa e as chaves a quem queira seriamente tratar do assunto, ou encerrá-lo-ei caso apareça melhor iniciativa com o mesmo fim.

(url)


COISAS COMPLICADAS



Larry Rivers, John Ashbery working

(url)


ESTÁ NA HORA DE ORGANIZAR O MOVIMENTO DO “NÃO”

Todos aqueles que querem votar “não” e não se revêem no “não” do PCP e do BE à Constituição Europeia, de que estão à espera para organizar um movimento que explique as suas razões aos portugueses? Ou o derrotismo face à gigantesca coligação do “sim”, com todos os partidos e todos os meios, já impera? Os partidários do “sim” usam toda a sua força institucional. O Presidente da República já anda em campanha pelo “sim” nas escolas, mostrando que nesta matéria não se importa de ser presidente só de uma parte dos portugueses. Sócrates, Vitorino, Cavaco, Marcelo, Marques Mendes e Portas virão defender o “sim”. O dinheiro da Comissão e do Parlamento Europeu já flui para encartes, artigos, panfletos e colóquios com os pódios ou as audiências cuidadosamente equilibrados para se parecer que se debate, quando não se debate, ou, quando se debate, não haver exposição pública dos argumentos do “não”. Está na hora de se exigir à rádio e à televisão públicas um acesso igual aos defensores do "sim" e do "não", como é suposto numa democracia.

Senão tudo será, como já é, prudente, sottovoce, regrado e controlado para que o “sim” ganhe pela porta de trás, sub-reptício, a reboque de umas eleições autárquicas em que, está-se mesmo a ver, a questão europeia vai ser muito discutida. Está pois na altura de criar um movimento, um fórum de debate público, um ajuntamento, seja lá o que for, para explicar porque razão se deve pensar duas vezes antes de assinar de cruz um tratado cujas implicações podem ser trágicas para quem deseja uma Europa unida mas uma Europa de nações e não uma híbrida construção transnacional, pouco democrática, subordinada a um directório franco-alemão e a uma burocracia internacional que funciona, como todas as burocracias, para aumentar o seu poder.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 496

anyone lived in a pretty how town

anyone lived in a pretty how town
(with up so floating many bells down)
spring summer autumn winter
he sang his didn't he danced his did

Women and men(both little and small)
cared for anyone not at all
they sowed their isn't they reaped their same
sun moon stars rain

children guessed(but only a few
and down they forgot as up they grew
autumn winter spring summer)
that noone loved him more by more

when by now and tree by leaf
she laughed his joy she cried his grief
bird by snow and stir by still
anyone's any was all to her

someones married their everyones
laughed their cryings and did their dance
(sleep wake hope and then)they
said their nevers they slept their dream

stars rain sun moon
(and only the snow can begin to explain
how children are apt to forget to remember
with up so floating many bells down)

one day anyone died i guess
(and noone stooped to kiss his face)
busy folk buried them side by side
little by little and was by was

all by all and deep by deep
and more by more they dream their sleep
noone and anyone earth by april
wish by spirit and if by yes.

Women and men(both dong and ding)
summer autumn winter spring
reaped their sowing and went their came
sun moon stars rain


(e.e.cummings)

*

Bom dia!

(url)


POBRE PAÍS , O NOSSO
COMEÇOU A FESTA

Já se começou a perceber como o governo Sócrates vai actuar: está em curso uma operação de propaganda e condicionamento a propósito do número do défice, destinada a abrir caminho a medidas que não tocam no essencial da despesa pública aumentando mais uma vez a carga fiscal; tomou-se mais uma medida típica do nosso mundo de redomas proteccionistas selectivas, a inspecção às lojas chinesas (quantos restaurantes portugueses ficariam abertos se houvesse uma massiva inspecção sanitária?); e avançou-se com uma medida perigosa, a nacionalização de parte de uma empresa estrangeira, oferecendo ao estado uma fábrica de comboios, enviando um preocupante sinal aos investidores estrangeiros e abrindo uma nova frente de despesismo. Começou a festa, o mau governo.

(url)

17.5.05


AR PURO


Galáxia M51 fotografada pelo telescópio espacial Hubble.
Para perder a respiração, mesmo com o ar puro, ver aqui em todo o ESPLENDOR,

(url)


EARLY MORNING BLOGS 495

Meaningful Love


What the bad news was
became apparent too late
for us to do anything good about it.

I was offered no urgent dreaming,
didn't need a name or anything.
Everything was taken care of.

In the medium-size city of my awareness
voles are building colossi.
The blue room is over there.

He put out no feelers.
The day was all as one to him.
Some days he never leaves his room
and those are the best days,
by far.

There were morose gardens farther down the slope,
anthills that looked like they belonged there.
The sausages were undercooked,
the wine too cold, the bread molten.
Who said to bring sweaters?
The climate's not that dependable.

The Atlantic crawled slowly to the left
pinning a message on the unbound golden hair of sleeping maidens,
a ruse for next time,

where fire and water are rampant in the streets,
the gate closed—no visitors today
or any evident heartbeat.

I got rid of the book of fairy tales,
pawned my old car, bought a ticket to the funhouse,
found myself back here at six o'clock,
pondering "possible side effects."

There was no harm in loving then,
no certain good either. But love was loving servants
or bosses. No straight road issuing from it.
Leaves around the door are penciled losses.
Twenty years to fix it.
Asters bloom one way or another.


(John Ashbery)

*

Bom dia!

(url)


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 11


AVENTURAS
(Para o Almocreve das Petas.)


(url)

16.5.05


OS LIVROS DA SÁBADO

O CAMINHO DA “CAMINHO”

Quem gosta de livros sabe que a Caminho é uma das melhores editoras portuguesas. Ligada ao PCP, funcionando no seu início como braço civil das Edições Avante!, publicando para os agnósticos e os incréus mais daquilo que a casa mãe publicava para os fiéis, a Caminho nem por isso deixou de “caminhar” para aquilo que é hoje: não apenas uma boa editora, mas uma excelente editora. Dominante em muitas áreas da edição, como o livro infantil e juvenil, a Caminho iniciou uma variante portuguesa de livros de arte muito semelhante no formato e ilustração a uma idêntica colecção da Taschen, numa série dirigida por Bernardo Pinto de Almeida e Armando Alves.
Na colecção saíram já três volumes, sobre Almada, António Carneiro e Alvarez, e como os dois últimos são menos conhecidos do grande público, podem e devem funcionar como descobertas para um Portugal desconhecido. Veja-se, como aperitivo ao mundo genial de Alvarez, o moinho da capa do seu livro. É verdade que Alvarez era meio galego e que aquela paisagem não é portuguesa, mas basta para se perceber como o mundo icónico da pintura fica mais complexo se lhe somarmos coisas como este moinho ou o “Nocturno de Leça” de António Carneiro. Vale a pena.

(Entretanto saíram mais volumes.)

(url)


FORMAS DE SENSIBILIDADE ANTIGAS

AMOR FILIAL


(url)


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 10


DO CAOS PARA A ORDEM O PROGRESSO AVANÇA!

Ordem e progresso.

Livros deitados para se acamarem, amansarem, disciplinarem. Depois serão colocados em pé, pressionados uns contra os outros, numa gaiola em forma de estante, para se socializarem pelo convívio próximo. Estes ainda não se socializam vendo televisão, embora haja lá uma Escrava Isaura, e várias Gabrielas, 007s , E Tudo o Vento Levou. Quem é que disse que uma biblioteca (pública, a Widener acho eu ) respirava de dia e inspirava de noite, com os livros a sairem da estante e a serem devolvidos como o moléculas de ar? Não sei. Esta para já só respira pó.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 494

UNE TÊTE SORT DU MUR


J'ai l'habitude, le soir, bien avant d'y être poussé par la fatigue, d'éteindre la lumière.

Après quelques minutes d'hésitation et de surprise, pendant lesquelles J'espère peut-être pouvoir m'adresser à un être, ou qu'un être viendra à moi, je vois une tête énorme de près de deux mètres de surface qui, aussitôt formée, fonce sur les obstacles qui la séparent du grand air.

D'entre les débris du mur troué par sa force, elle apparaît à l'extérieur (je la sens plus que je ne la vois) toute blessée elle-même et portant les traces d'un douloureux effort.

Elle vient avec l'obscurité, régulièrement depuis des mois.

Si je comprends bien, c'est ma solitude qui à présent me pèse, dont j'aspire subconsciemment à sortir, sans savoir encore comment, et que J'exprime de la sorte, y trouvant, surtout au plus fort des coups, une grande satisfaction.

Cette tête vit, naturellement. Elle possède sa vie.

Elle se jette ainsi des milliers de fois à travers plafonds et fenêtres, à toute vitesse et avec l'obstination d'une bielle.

Pauvre tête !

Mais pour sortir vraiment de la solitude on doit être moins violent, moins énervé, et ne pas avoir une âme à se contenter d'un spectacle.

Parfois, non seulement elle, mais moi-même, avec un corps fluide et dur que je me sens, bien différent du mien, infiniment plus mobile, souple et inattaquable, je fonce à mon tour avec impétuosité et sans répit, sur portes et murs. J'adore me lancer de plein fouet sur l'armoire à glace. Je frappe, je frappe, je frappe, j'éventre, j'ai des satisfactions surhumaines, je dépasse sans effort la rage et l'élan des grands carnivores et des oiseaux de proie, J'ai un emportement audelà des comparaisons. Ensuite, pourtant, à la réflexion, je suis bien surpris, je suis de plus en plus surpris qu'après tant de coups, l'armoire à glace ne se soit pas encore fêlée, que le bois n'ait pas eu même un grincement.


(Henri Michaux)

*

Bom dia!

(url)

15.5.05


MAIS CAPAS DE TRIER PARA LIVROS DE KASTNER
(O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES)



(Enviadas por monika kietzmann.)

(url)


EARLY MORNING BLOGS 493

Porch Swing in September


The porch swing hangs fixed in a morning sun
that bleaches its gray slats, its flowered cushion
whose flowers have faded, like those of summer,
and a small brown spider has hung out her web
on a line between porch post and chain
so that no one may swing without breaking it.
She is saying it’s time that the swinging were done with,
time that the creaking and pinging and popping
that sang through the ceiling were past,
time now for the soft vibrations of moths,
the wasp tapping each board for an entrance,
the cool dewdrops to brush from her work
every morning, one world at a time.


(Ted Koose)

*

Bom dia!

(url)

14.5.05


INTENDÊNCIA

Continua a ser completada a bibliografia dos ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.

Actualizada a nota GRANDES NOMES.

(url)


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 9

VULCANOLOGIA



EMÍLIO NUM QUADRO DE CHIRICO



Esta belíssima capa de Walter Trier, que veio com a edição alemã, tem um ambiente que parece o dos quadros de Chirico. Que se entendesse que dava uma capa apelativa para um livro de literatura juvenil diz alguma coisa sobre a qualidade das edições da época. A edição portuguesa é de 1932. Trier era um convicto opositor de Hitler que saiu da Alemanha e emigrou para Inglaterra, onde trabalhou como desenhador e participou na propaganda anti-nazi. Foi depois para os EUA e para o Canadá. Walt Disney convidou-o a fazer desenhos animados, mas ele recusou. Hoje está quase esquecido.

UM LIVRO REALMENTE ÚTIL



Na capa dá-se o melhor exemplo: "Rende-te! Rends-toi! Do you render! Bendieren Sie sich! (Rendiren Zi zixe!)". Mesmo assim, com este arremedo de transcrição fonética para o alemão. Estamos a ver o nosso soldadinho da I Guerra na Flandres a berrar ao boche "Rendiren Zi zixe!" e ele a obedecer.

UM SALGARI VINTAGE


Edição de 1938.

HOMENS: UM CRIMINOSO, UM INOCENTE, E UM CONDENADO




Não sei se o 411 estava inocente, nem onde é que o Adolfo Coelho, uma espécie de jornalista do Crime da época, foi buscar o boxeur ou o cadastrado que posa com a metralhadora, mas como se vê as queixas contra a justiça são já antigas e produzem abundante literatura.

(url)


COISAS COMPLICADAS


Ícone russo do século XIV

1 Sucedeu que, quando o SENHOR estava para elevar a Elias num redemoinho ao céu, Elias partiu de Gilgal com Eliseu.
2 E disse Elias a Eliseu: Fica-te aqui, porque o SENHOR me enviou a Betel. Porém Eliseu disse: Vive o SENHOR, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim foram a Betel.
3 Então os filhos dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o SENHOR hoje tomará o teu senhor por sobre a tua cabeça? E ele disse: Também eu bem o sei; calai-vos.
4 E Elias lhe disse: Eliseu, fica-te aqui, porque o SENHOR me enviou a Jericó. Porém ele disse: Vive o SENHOR, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim foram a Jericó.
5 Então os filhos dos profetas que estavam em Jericó se chegaram a Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o SENHOR hoje tomará o teu senhor por sobre a tua cabeça? E ele disse: Também eu bem o sei; calai-vos.
6 E Elias disse: Fica-te aqui, porque o SENHOR me enviou ao Jordão. Mas ele disse: Vive o SENHOR, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim ambos foram juntos.
7 E foram cinquenta homens dos filhos dos profetas, e pararam defronte deles, de longe: e assim ambos pararam junto ao Jordão.
8 Então Elias tomou a sua capa e a dobrou, e feriu as águas, as quais se dividiram para os dois lados; e passaram ambos em seco.
9 Sucedeu que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim.
10 E disse: Coisa difícil pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará.
11 E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho.
12 O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, pegando as suas vestes, rasgou-as em duas partes.
13 Também levantou a capa de Elias, que dele caíra; e, voltando-se, parou à margem do Jordão.
14 E tomou a capa de Elias, que dele caíra, e feriu as águas, e disse: Onde está o SENHOR Deus de Elias? Quando feriu as águas elas se dividiram de um ao outro lado; e Eliseu passou.
15 Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que estavam defronte em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vieram-lhe ao encontro, e se prostraram diante dele em terra.


(Biblía, Reis, Cap.2)

(url)


GRANDES NOMES:
O DIREITO DO MAIS FORTE À LIBERDADE / O MEDO CORRÓI A ALMA / LAGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT


G. Proença sugeriu como um grande nome As Lagrimas Amargas de Petra von Kant (Die bitteren Tränen der Petra von Kant) filme de Rainer Werner Fassbinder, e eu acrescento O amor é mais frio que a morte (Liebe ist kälter als der Tod) e, em particular, o título português de "Faustrecht der Freiheit", O Direito do Mais Forte à Liberdade, e O Medo Corrói a Alma (Angst essen Seele auf).

*
Se a evocação de títulos também pode contribuir para reavivar memórias de Fassbinder, sugiro-lhe mais dois: Liebe ist kälter als der Tod/O Amor é Mais Frio que a Morte e Warnung vor einer heilingen Nutte/Cuidado Com Aquela Puta Sagrada. Mas já agora também o de uma outra importante obra do "jovem cinema alemão", Die Artisten in der Zirkuskuppel: Ratlos/Os Artistas sob a Cupúla de Circo - Perplexos de Alexander Kluge.

(Augusto M. Seabra)

(url)


EARLY MORNING BLOGS 492

Rough Country


Give me a landscape made of obstacles,
of steep hills and jutting glacial rock,
where the low-running streams are quick to flood
the grassy fields and bottomlands.
A place
no engineers can master–where the roads
must twist like tendrils up the mountainside
on narrow cliffs where boulders block the way.
Where tall black trunks of lightning-scalded pine
push through the tangled woods to make a roost
for hawks and swarming crows.
And sharp inclines
where twisting through the thorn-thick underbrush,
scratched and exhausted, one turns suddenly
to find an unexpected waterfall,
not half a mile from the nearest road,
a spot so hard to reach that no one comes–
a hiding place, a shrine for dragonflies
and nesting jays, a sign that there is still
one piece of property that won't be owned.


(Dana Gioia)

*

Bom dia!

(url)


VER A NOITE

Amena, como há muito não estava. Os luzeiros brilham devidamente, a lua ainda está pequena, Zéfiro voltou.

(url)

13.5.05


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 8

MAIS MULHERES: A MÃE, A DE CORAÇÃO DE BARRO, A ASSASSINA E A TOUTINEGRA




E A QUE PASSA



(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]