ABRUPTO

28.5.05


A FEIRA DO LIVRO NO PORTO

Triste, mais triste, mais baça. Com uma circulação interior pouco fluída, - a saída está escondida -, com uma luz acinzentada, sem alfarrabistas, a única coisa que pode justificar visitar-se mais do que uma Feira do Livro. Isto de não haver alfarrabistas parece-me mais um sinal dos mesquinhos conflitos entre sectores no mercado livreiro, que se esquecem que para chamar o maior número de pessoas às Feiras é preciso diversificar a oferta.Nas bancas, o estado actual da edição portuguesa: pilhas e pilhas de lixo editorial, com capas berrantes e inuendos sexuais, para cobrir literatura light. As poucas coisas boas, na maré do lixo, nem chegam às livrarias pelo também deprimente estado da distribuição e pelas políticas de espaço escasso das próprias livrarias que o dão aos sucessos "leves". Não está brilhante.

ª
Quanto à Feira do livro em si, concordo com «triste» e concordo com «baça», mas não com «mais triste» e «mais baça», pois mantém o mesmo aspecto há vários anos. É agradável, por outro lado, constatar que há editoras que remam contra a maré, tais como, por exemplo, as Edições Caixotim e a Cavalo de Ferro. Por outro lado, aconteceu algo este ano que me divertiu e que me fez lembrar as minhas idas à Feira do Livro nos anos oitenta. Naquele tempo, encontrava à venda todos os anos um livro chamado «A grande catástrofe de 1983», de Boris Cristoff.
Tratava-se de um livro publicado antes de 1983, a anunciar uma grande catástrofe para aquele ano, catástrofe essa que não veio a ter lugar.
O que me divertia era encontrar esse livro à venda durante largos anos após 1983. Quem é que o compraria? O que vi este ano que me trouxe aquilo à memória foi o livro «Onde Está Bin Laden? O Jogo Duplo dos Americanos», de Mohamed Sifaoui. Nesse livro, datado de 2003, o autor explica que provavelmente Bin Laden já foi capturado pelos norte-americanos e que estes tencionariam anunciar a captura apenas poucas semanas antes das eleições presidenciais de 2004, como trunfo eleitoral a favor de George W. Bush, obviamente. Quem é que agora compra um tal livro?

(José Carlos Santos)

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© José Pacheco Pereira
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