ABRUPTO

21.5.05


AFINAL HÁ LENDAS URBANAS QUE SÃO VERDADEIRAS 13


SINAIS DA POLÍTICA EM ERAS VIOLENTAS


Polícia Portuguesa era a revista oficial da PSP e, como a capa com os velhos sinaleiros de cabeça de giz (tempus edax rerum, mais uma vez) mostra, uma típica revista corporativa do Estado Novo. Este número tem no entanto um reclame da Mercedes que me recordou um velho conhecido meu e de muitos manifestantes antes do 25 de Abril, o carro de água. Antes do 25 de Abril, o carro de água era a menos assustadora realidade do vendaval repressivo que era atirado para cima dos manifestantes. As manifestações duravam meia dúzia de minutos e pouco mais eram do que ajuntamentos breves. Logo a seguir, vinha a polícia de choque a bater, nalguns casos com cães, depois a PIDE fazia prisões selectivas, e por fim o carro da água varria o que sobrava nos passeios. Os passeios eram um elemento fundamental nas manifestações porque era o engrossar dos ajuntamentos nos passeios que era preliminar ao breve acto de ir para o meio da rua. Para além disso, muita gente que não queria arriscar-se a manifestar, mas entendia que lá devia estar, andava lentamente pelos passeios. Uma última nota sobre o carro de água: eu e mais gente íamos para as manifestações com o "traje" apropriado, ou seja, roupa que se podia estragar. A polícia misturava tinta azul ou azul de metileno na água do carro com o duplo objectivo punitivo de sujar a roupa com uma tinta resistente à lavagem e identificar os manifestantes.


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© José Pacheco Pereira
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