ABRUPTO

12.2.05


ISTO NÃO É JORNALISMO SÉRIO (2)

As "notícias" da capa do Expresso são outro exemplo do péssimo jornalismo político que se faz em Portugal, já descontando o serviço que esta desinformação presta a uns e prejudica a outros. Ou seja, o Expresso está em campanha, na campanha, mentindo como os jornalistas acusam os políticos de fazer.

Título: Armadilha a Cavaco, ou seja, uma realidade factual pressuposta, um acontecimento. Na "notícia" apenas isto: "A NOTÍCIA do «Público» segundo a qual Cavaco Silva apostava na vitória do PS com maioria absoluta como rampa de lançamento de uma candidatura a Belém terá tido origem na «entourage» de Santana Lopes. É esta a convicção de várias pessoas próximas de Cavaco, como o EXPRESSO apurou." Uma "convicção de várias pessoas próximos de Cavaco", é isto que justifica uma "notícia" destas. Adivinhação pura porque "convicções" não são factos.

Título: Cadilhe desmente Santana. A fonte é José Lello que nega na própria "notícia" ser a fonte. Ou isto é um jogo de espelhos mútuo e negociado e nesse caso seria para desconfiar dado que existe uma parte interessada, ou é mentira pura: "Amigo de longa data de Miguel Cadilhe, o socialista José Lello foi incumbido pelo PS de avaliar o seu sentimento acerca das declarações públicas de Santana. Na informação que transmitiu ao PS, Lello deu conta de que o ex-ministro de Cavaco Silva se mantinha alheado da campanha, estranhara a anúncio do seu nome e que não estava disponível para integrar um eventual Governo liderado por Santana Lopes. Contactado pelo EXPRESSO, Lello respondeu nunca «abordar em público conversas de âmbito privado». Reconhecendo que troca impressões, com alguma frequência, com Cadilhe, Lello disse ser incapaz de «meter o ruído de fundo da política na conversa com um amigo pessoal».

*

Em 1973,frequentava eu o curso de Administração e Gestão de Empresas em Lisboa,e nessa altura quotizava-me com outros colegas para comprarmos diariamente dois jornais:"A República" e o "Diário de Lisboa".Eram os únicos,no tempo da ditadura,que mantinham uma informação digna e independente.Pouco tempo depois sai o "Expresso",e lá tivémos que fazer mais um esforço semanal.Infelizmente "A República" acabou por ser devorada nos excessos da revolução,e o "Diário de Lisboa" acabou por falir por motivos ainda hoje pouco claros.Assistimos hoje, mais de três décadas após o 25 de Abril, à maior campanha de intoxicação a favor de um partido,de que há memória.E quem aparece como o campeão da mentira e da falta de ética?Precisamente o semanário"Expresso".

(Henrique Cabral Garcia)

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A LER

Soy um perro callejero, um grande nome e um blogue diferente, outros mundos, outros conteúdos.

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AR PURO


Nikolay Gay, No Mar de Livorno

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EARLY MORNING BLOGS 428

Em prisões baixas fui um tempo atado



Em prisões baixas fui um tempo atado,
vergonhoso castigo de meus erros;
inda agora arrojando levo os ferros
que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.

Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
que Amor não quer cordeiros, nem bezerros;
vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
parece-me qu'estava assi ordenado.

Contentei-me com pouco, conhecendo
que era o contentamento vergonhoso,
só por ver que cousa era viver ledo.

Mas minha estrela, que eu já'gora entendo,
a Morte cega, e o Caso duvidoso,
me fizeram de gostos haver medo.



(Luís de Camões)

*

Bom dia!

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11.2.05


PARA LAVAR A ALMA

com a pura beleza. A galáxia do Sombrero.

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SE O RIDÍCULO MATASSE

cairiam meia dúzia de raios certeiros nas instituições europeias. Então não é que se lembraram de mandar para o espaço, no bolso dos astronautas europeus que vão à boleia de um foguetão russo no próximo Abril, um exemplar da Constituição europeia… Esqueceram-se foi de uma regra fundamental: tudo o que sobe torna a cair.

*
De facto, astronautas com a Constituição Europeia no bolso tem o seu quê de ridículo. Mas permita-me um reparo : não é sempre verdade que "tudo o que sobe torna a cair".

Se um objecto voador for lançado para "cima" (esta noção é relativa, como se sabe) com uma velocidade superior à chamada velocidade de escape já não torna a cair. Afasta-se indefinidamente.

Estamos a falar, naturalmente, de um objecto voador que se afasta da superfície de um corpo celeste, no caso presente da superfície do nosso planeta. Como a força de atracção gravitacional diminui com a distância, é aceitável supor que para uma velocidade de "subida" suficientemente elevada, o objecto voador consiga passar o ponto em que a força de atracção que tende a trazê-lo de volta já não seja suficiente para o fazer "cair". E assim acontece, de facto.

A velocidade de escape varia com a massa do planeta. Quanto maior a massa do planeta, maior será a respectiva velocidade de escape. No caso da Terra, "bastam" cerca de 11 quilómetros por segundo nos momentos iniciais da partida para que o objecto já não regresse. Ou seja, se queremos que a Constituição Europeia não nos incomode mais, basta lançá-la para o espaço com uma velocidade superior a 11 km/s. Mas sem astronautas a bordo ....
(Jorge Oliveira)

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EARLY MORNING BLOGS 427

I plunge deep within this frozen lake
whose mirrored fastnesses fill up my heart,
where tears drift from frivolity to art
all white and slobbering, and by mistake
are the sky. I'm no whale to cruise apart
in fields impassive of my stench, my sake,
my sign to crushing seas that fall like fake
pillars to crash! to sow as wake my heart
and don't be niggardly. The snow drifts low
and yet neglects to cover me, and I
dance just ahead to keep my heart in sight.
How like a queen, to seek with jealous eye
the face that flees you, hidden city, white
swan. There's no art to free me, blinded so.

(Frank O'Hara)

*

Bom dia!

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DOIS MUNDOS

Num dos raros momentos de verdade da campanha eleitoral, um duplo retrato de tudo, de Portugal, dos políticos, da televisão, da imagem, da palavra: Portas, outra vez de “Paulinho das feiras”, visitando o “povo” do alto do seu hábito de pequeno lorde, e Jerónimo de Sousa, comovido com os velhos resistentes de Alpiarça. No PCP, o nome e a coisa coincidem; no PP, uma representação gera um mundo esquizofrénico.

Num caso, populismo forçado, com a hipocrisia estrutural de um mundo pequeno-burguês yuppie, urbano e cínico, a “descer” ao “povo” sob a forma dos feirantes para gerar imagens “sociais” de televisão; no outro, um Portugal em extinção, pesado de memória e abandono, encurralado por tudo e todos, menos pela sua identidade antiga.

A cena de Alpiarça tem qualquer coisa de tragédia clássica, um percurso de sofrimento profundo demais para se bastar apenas nas palavras de revolta. No fundo, ter que dormir uma noite numa oliveira para fugir à PIDE, parece hoje coisa de pouca monta para quem lê sobre todas as desgraças do século num livro. Mas, naquela sala, não se leu, viveu-se, o que faz toda a diferença. E, naquela sala, há uma forma especial de dignidade, que vem de todas as esperanças perdidas, da pobreza, do mundo duro do trabalho, da perplexidade face ao futuro. Aquela gente vem de um mundo que morreu, mas a sua voz faz parte do coro da polis, que já ninguém ouve. Nem nós.

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10.2.05


NATUREZA MORTA NOCTURNA

Da esquerda para a direita: uma pilha de jornais e revistas para actualizar uma bibliografia, em cima Digressions on Some Poems by Frank O'Hara, uma carta da Associação de Professors de Filosofia, um comando do cabo por satélite (é assim na província) , um número antigo de A Comuna, uma mão, três canetas, um lápis, um relógio do exército suíço com duas horas, Lisboa e Bruxelas, um saco com moedas de marco esquecidas, uma nota de cem euros para ver como é, uma lupa, um penny para comprar pensamentos, uma pilha de zips, uma estação meteorológica – vinte e cinco graus, cá dentro, quente de mais mas vai arrefecer, dezanove lá atrás, nove lá fora – um dado redondo viciadíssimo, uma tesoura, dois olhos, um teclado, um ecrã, uma janela escura, uma luz ao longe, um radiómetro, um fragmento de lava, uma garrafa de água, sobre um azulejo antigo, outra mão, um telefone desligado, um CD com Pollini a tocar Debussy, um rato, um fio que não leva a parte nenhuma, pequenos ruídos da madeira, ar.

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BIBLIOFILIA: FRANK O'HARA



Collected Poems of Frank O'Hara, Allen Donald (Editor), John Ashberry (Introduction), University of California Press, 1995

Joe Lesueur, Digressions on Some Poems by Frank O'Hara , Farrar Straus Giroux, 2004

Majorie Perloff, Frank O'Hara: Poet among Painters, University of Chicago Press, 1997

Um habitual visitante dos "early morning", que tem esta Autobiographia Literaria

When I was a child
I played by myself in a
corner of the schoolyard
all alone.

I hated dolls and I
hated games, animals were
not friendly and birds
flew away.

If anyone was looking
for me I hid behind a
tree and cried out "I am
an orphan."

And here I am, the
center of all beauty!
writing these poems!
Imagine!

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GRANDES NOMES: PARTIDO REVOLUCIONÁRIO INSTITUCIONAL

Sugestão mexicana de José Carlos Santos. Partido fundado por Plutarco Elías Calles, em 1929, com o objectivo de absorver os milhares de revolucionários que tinham participado na guerra civil mexicana e dar-lhes um instrumento político "institucional". Um problema que têm todos os partidos ou grupos armados, como os republicanos portugueses com os seus "revolucionários civis", a FRETILIN com as FALINTIL, a FRELIMO e o PAIGC com os seus antigos combatentes, que esperam da chegada ao poder uma série de privilégios. O PRI é ainda hoje o mais importante partido mexicano.

*
O Partido fundado por Plutarco Elías Calles designava-se Partido Nacional Revolucionário, mas é, efectivamente o antecessor do PRI.Cerca de dez anos mais tarde (1938) Lázaro Cárdenas mudou o nome para Partdo de la Revolución Mexicana. Só em 1946 adoptará o nome de Partido Revolucionário Institucional. O partido é o mesmo, mas a mudança de nomes reflecte, porém, mudanças na sua orientação política.
(Edmundo Moreira Tavares)

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GRANDES NOMES: EXTRAORDINARY POPULAR DELUSIONS AND THE MADNESS OF CROWDS

Livro do poeta, jornalista e escritor escocês Charles Mackay, publicado em 1841 (com uma segunda edição em 1852).

(José Carlos Santos)

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HÁ VIDA DEPOIS DE 20 DE FEVEREIRO (3) MEMÓRIA CURTA - "TUDO NA VIDA SE RENOVA"

Para os que agora criticam quem critica Santana Lopes convém não ter memória curta. Em Abril de 2000, bem dentro deste ciclo político pós-Cavaco, Santana Lopes dava uma entrevista ao Expresso em que afirmava, preto no branco, a necessidade de criar outro partido e fazia um ultimatum ao PSD: ou mudava o PSD ou ele próprio mudava de partido. Nunca nenhum dos seus opositores actuais afirmou que iria criar outro partido contra o PSD. Toda a entrevista, lembrada pelo Pula, Pula Pulga, é típica do estilo egocentrista, errático e confuso de Santana Lopes, que sempre se pôde perceber, mas a que muitos foram cegos. Esta entrevista não é a única em que o tema da criação de um novo partido é nomeado. Fica aqui como documento a lembrar em 20 de Fevereiro a propósito das "facadas" nas costas.


opção inadiável de Santana


(...)
PEDRO Santana Lopes considera chegado o momento da «clarificação definitiva» no PSD e lança um ultimato: ou o partido muda ou muda ele de partido. Numa extensa entrevista ao EXPRESSO, que será publicada na Revista da próxima semana, o presidente da Câmara da Figueira da Foz volta a agitar as pantanosas águas do maior partido da oposição, não escondendo a impaciência com a situação que resultou do Congresso de Viseu e exigindo que se acabe «com a hipocrisia: todos falam baixo na mudança da liderança do PPD/PSD e, depois, ninguém, ou poucos, fala alto».
Garantindo que não está a defender a demissão de Durão Barroso, admite, no entanto, que não acredita no seu partido com o actual líder: «Conheço-o há muitos anos e não esperava que as coisas corressem tão mal como correram», confessa, remetendo Barroso para o pretérito e assestando as suas baterias em Marcelo Rebelo de Sousa - a quem atribui intenções de voltar a candidatar-se à liderança do PSD e, por isso, não lhe poupa críticas.

Contra a frente «anti-santanista»
Confessando-se estupefacto perante os rumores que referem a constituição de uma «frente-anti-santanista» destinada a evitar que ele chegue à presidência do partido - «Isto atinge as raias do ridículo!», comenta - Santana Lopes tranquiliza os seus adversários: «Quero dizer-lhes que não se preocupem, porque não vou fazer nada por isso». O seu plano, assegura, não tem nada de conspirativo: «A direcção do partido e o partido é que têm de promover, se quiserem, as medidas necessárias para mudar de vida. Se o fizerem, muito bem. Se entenderem que querem continuar com uma liderança do tipo da de Durão Barroso, eu discordo, mas respeito».

O primeiro passo, propõe, é um referendo interno sobre as eleições directas que o congresso de Viseu não aprovou: «Agora é o tempo certo para, com calma e serenidade, fazer o referendo sobre as directas», é o convite que endereça aos dirigentes do partido, garantindo-lhes: «Não faço campanha nem a favor nem contra, só quero saber se o partido quer ou não essas eleições directas, quer ou não mudar de vida, quer ou não deixar de funcionar em circuito fechado». O seu próprio destino, afiança, ficará de uma vez clarificado a partir daí: «Se o partido se começar a encaminhar no sentido das teses que defendo, terão de ser outros a escolher o novo caminho». Se assim não suceder, não hesitará: «Partirei à procura de uma alternativa por caminhos diferentes».

Um novo partido «é inevitável»
O autarca da Figueira considera inadiável a reorganização do centro-direita e está convencido de que esse processo conduzirá inevitavelmente a um novo partido. Se será ele ou não a liderar essa nova formação política, é uma questão cuja resposta deixa nas mãos dos seus companheiros sociais-democratas. O eterno candidato à liderança do PSD explica em detalhe as razões que o levam a rejeitar liminarmente tal estatuto e afirma-se «saturado»: «O PPD/PSD tem de mudar de vida», exige, num tom definitivo que manteve ao longo das mais de três horas de conversa e que só abrandou por uma ou duas vezes ao admitir que a sua indisponibilidade para voltar a candidatar-se à liderança cederia a um sério apelo dos militantes do seu partido em que, todavia, diz não acreditar.

Impaciente, o presidente da Câmara da Figueira da Foz esclarece que «chegou o momento de fazer a reorganização do centro-direita em Portugal». No seu entender, é necessário «construir uma alternativa», dado que «o centro-direita está bloqueado, objectiva e subjectivamente. Objectivamente, porque não há nenhum ponto de convergência entre os vários partidos desse espaço. Subjectivamente, porque, com as lideranças do PPD/PSD e do CDS-PP, essa convergência não é possível». Tal reorganização, admite, acabará por dar um só efeito: «Estou convencido de que é inevitável um novo partido. Resta saber quem o vai fazer».

Recusando que as suas palavras sejam interpretadas como «uma heterodoxia lesa-pátria ou lesa-partido», desdramatiza: «Tudo na vida se renova - as células do organismo humano estão em renovação permanente. E, no centro-direita, chegou a hora de mudar».

Pronto para uma alternativa
Reconhecendo que a política faz parte da sua vida, e que não saberia viver sem ela, recusa ficar de braços cruzados: «Sei que irei contribuir para a construção da alternativa ao PS. A questão está em saber se, de facto, será no meu partido ou não». Uma pergunta que quer ver respondida quanto antes: «Acho que é bom para o partido e para mim esclarecer isto». Por ele, não tem dúvidas: «Quero construir essa alternativa de centro-direita. Acredito que tenho condições para o fazer».

Uma alternativa que não significa necessariamente uma aliança com o CDS/PP para as legislativas - até porque, no seu entendimento, «se o PPD/PSD for pelo caminho que idealizo, pode ambicionar ganhar sozinho» -, mas que começa por vários acordos nas autárquicas que possibilitem uma mudança da realidade política. É aqui, sublinha, que «há uma necessidade de desbloquear caminhos que estão tapados», porque o que acontece hoje «é que o PPD/PSD e o CDS/PP são oposição um ao outro».

«Este relacionamento entre Durão e Portas é absolutamente inconcebível», condena, acrescentando que «um líder dum partido, por muitos problemas pessoais que tenha com outro, não pode dizer que nunca se sentará à mesa com ele, porque isso é bloquear soluções de futuro que podem ser necessárias». Uma relação diametralmente oposta à sua, que é fácil de perceber pelo que diz de Portas: «Não precisamos de conversar para nos entendermos ou desentendermos. Conhecemo-nos há muitos anos».


CRISTINA FIGUEIREDO e MÁRIO RAMIRES

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O PÚBLICO

procedeu bem ao terceiro dia. Mas o mal está feito e conseguido um efeito sem retorno.

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas BIBLIOFILIA: HOMEM DE UMA SÓ ÁRVORE e APRENDENDO COM S. TOMÁS DE AQUINO ACERCA DA CONSULTA AOS ASTROS.

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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COISAS SIMPLES


Repin, Tolstoy a trabalhar

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EARLY MORNING BLOGS 426

Envoy


Go, little book, and wish to all
Flowers in the garden, meat in the hall,
A bin of wine, a spice of wit,
A house with lawns enclosing it,
A living river by the door,
A nightingale in the sycamore!


(Robert Louis Stevenson, A Child’s Garden of Verses and Underwoods)

*

Bom dia!

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9.2.05


ISTO NÃO É JORNALISMO SÉRIO

Lamento muito porque o Público é o meu jornal, mas esta peça de hoje auto-justificativa da de ontem (hoje assinada apenas por Eunice Lourenço e Helena Pereira) não é jornalismo sério e viola todas as regras deontológicas do Livro de Estilo do jornal. Vejam como é fabricada uma "notícia" que hoje se reduz a uma "interpretação" dos jornalistas a partir de uma opinião antiga conhecida transformada numa notícia actual de apoio eleitoral ao PS (que Cavaco prefere maiorias absolutas tenho-o citado várias vezes recentemente na Quadratura do Círculo, no seu contexto e intenção e nunca como uma tomada de posição pessoal a favor do PS, o que é completamente desonesto). Fica aqui integralmente este exemplo de jornalismo inventado que chega ao ponto de citar uma fonte sobre "o que é que Cavaco pensa":

Ex-primeiro Ministro Incomodado com Notícia do PÚBLICO / Cavaco vai manter silêncio até 20 de Fevereiro

Aníbal Cavaco Silva vai manter silêncio até dia 20, data das eleições, mas ontem mostrou-se incomodado com a notícia do PÚBLICO que tinha por título "Cavaco aposta em maioria absoluta de Sócrates".

O ex-primeiro-ministro não gostou que fosse recordado, nesta altura, que defende que o melhor para o país são executivos de maioria absoluta e que prevê que o PS possa vir a conseguir governar nessas condições. Não gostou também da leitura de que esse cenário será o mais favorável à sua candidatura presidencial, além do facto de o termo "aposta", que era usado no sentido de previsão, estar a ser interpretado como um apoio ao líder socialista.

O ex-líder do PSD considerou que a notícia podia servir para Santana se vitimizar e preocupou-se em que as rádios e a agência noticiosa passassem o "desmentido" antes do que estava anunciado como sendo a "comunicação do primeiro-ministro", marcada para as 15 horas. Como reconheceu ao PÚBLICO um colaborador do ex-primeiro-ministro aquilo é o que Cavaco pensa, mas não pode dizer porque o PSD não entenderia a sua posição. "Ele não é o Freitas", diz o mesmo colaborador, salientando que Cavaco tem as suas convicções, ou seja, que não muda de partido.

Quanto à actual campanha, Cavaco tem mantido o silêncio e "quer continuar a mantê-lo", afirma o mesmo colaborador do antigo primeiro-ministro e eventual candidato às presidenciais de Janeiro de 2006.

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8.2.05


UMA NOTA SUPLEMENTAR PARA OS CÍNICOS

O problema da insídia é que parte da sua eficácia vem do cinismo e cinismo é algo de muito abundante nos meios da comunicação social e na blogosfera. No caso da notícia do Público, que uma leitura atenta revela ser uma construção abusiva e de fraquíssima fundamentação, o mecanismo do cinismo funciona assim: não disse, mas podia ter dito.

Pois é. Eu se fosse cínico, cínico contra cínico, responderia: se disse, não deveria ter dito, porque é uma asneira. Se pensarem bem, e ninguém melhor do que Cavaco Silva o percebe como quem respira, o melhor cenário para uma presidência forte é não haver qualquer maioria absoluta mono-partidária que sustente um governo. Está escrito nos anais da realpolitik que os cínicos costumam perceber.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM DESLUMBRAMENTO FAZ BEM NESTES TEMPOS DE CINZA


Mimas e Saturno com as verdadeiras cores.


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TEMPO DE ANTENA DE SANTANA LOPES PASSADO COMO NOTÍCIA

em todos os telejornais, gravado na residência oficial, e na qualidade do Primeiro-ministro. Estamos em plena América Latina.

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COMO ISTO ESTÁ

Contra Sócrates, boatos; contra Cavaco, a insídia. Como acontece com os boatos, também a insídia fica. Não há retorno.

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BIBLIOFILIA: "À MEMÓRIA DO MEU FILHO"



Outro livro que me foi oferecido tem um significado muito especial. O livro, completamente esquecido, de A. Ferreira Soares, Casa Abatida, reeditado pela Guimarães nos anos cinquenta (?), tem uma dedicatória "à memória do meu filho o médico A. Carlos Ferreira Soares". Não é comum um pai dedicar um livro a um seu filho adulto, nem que este o seja à "memória", ou seja a um morto. Mas António Carlos Ferreira Soares não morreu de morte natural, mas sim assassinado pela PIDE em Julho de 1942.

Com o mesmo amigo que me ofereceu o livro, visitei há muitos anos, antes do 25 de Abril, a sua casa em Nogueira da Regedoura, onde foi morto com uma rajada de metralhadora, uma casa baixa,pouco visível, modesta, onde se mantinha um armário com os seus livros, e onde falei com familiares que o tinham conhecido bem. Um livro especial.

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AS DECLARAÇÕES DE ALBERTO JOÃO JARDIM CONTRA O “SR. SILVA”

revelam o risco real de divisão do PSD que Santana Lopes trouxe para o partido. Isto de há muito me parece um perigo evidente mas que se tem menosprezado. Marques Mendes, Marcelo, Rui Rio, Aguiar Branco, Manuela Ferreira Leite, António Borges, Miguel Cadilhe, Morais Sarmento, e muitos outros, devem-no perceber com clareza e tirar daí as conclusões. A actual direcção do PSD ligada a Santana Lopes incendiará tudo e todos para sobreviver. Cuidado com os idos de Março!

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A CAMINHO DE UM ESTADO PALESTINIANO

e a caminho da paz, precária que seja. Um bom caminho. Não queria deixar de o registar, no meio das turbulências menores que há por cá. Pode ser, pode ser, com todas as reservas o digo, que este possa ser o primeiro fruto positivo da política americana no Médio Oriente, cujo eixo central foi a derrota de Saddam. Porque o "road map" é o outro lado da invasão e ocupação do Iraque.

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MAS QUE FALTA DE SENTIDO DE ESTADO…

Santana Lopes comenta questões eleitorais (nem sequer grandes questões, mas questiúnculas de campanha, manipulações orientadas a propósito de Cavaco Silva, ataques a Freitas do Amaral e José Sócrates, etc.) como Primeiro-ministro em S. Bento, numa conferência usando os meios do Estado e o lugar do Estado, num dia em que disse não ir fazer campanha por causa do Carnaval. Estará assim presente, em matéria estritamente eleitoral e partidária, em todos os noticiários, falando como Primeiro-ministro. Já não falo da ilegalidade de tudo isto, mas da falta de dignidade e de sentido de estado…Já não há Comissão Nacional de Eleições, nem Presidente da República, nem leis, nem tribunais? Pode-se fazer o que se quer? Se calhar pode.

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BIBLIOFILIA: HOMEM DE UMA SÓ ÁRVORE


Uns amigos do Abrupto ofereceram-lhe livros, o Presente de Ouro. Um, familiar do Gen. João de Almeida, militar colonial, governador do Sul da Angola, aí activo nas campanhas de "pacificação" e definição da fronteira, autor de alguma da melhor bibliografia sobre Angola, o "império" e sobre a história das edificações militares portuguesas, ofereceu-me dezenas de obras do general, algumas verdadeiras preciosidades. Um aspecto interessante é a marca pessoal, espécie de ex-libris, com que o general marcava as suas obras na frente e verso: uma árvore solitária junto de um rio. Era o que ele nos queria dizer sobre ele e a sua atribulada vida. Era um homem de uma só árvore, o rio é que mudava.

*
(...)bibliofilia sobre os livros do meu avô.
Na altura não se prorporcionou,mas à laia de esclarecimento,esta marca funcionava mesmo como ex-libris,associado à frase "Ao serviço do Império".Para ele o seu ex-libris,representava através da arvore,um carvalho lusitano,a pátria,Portugal,solidamente enraizada;através da água,assim como o rio que corre para o mar,tambèm a nossa expansão ultramarina que correria para todo o mundo,num sentido universalista;a águia,teria um outro significado,que eu já não sei qual seria.
Assim a sua interpretação do ex-libris não será a da intenção original do autor,mas aos nossos olhos de hoje,acho que a sua leitura ,mesmo sendo um pouco "romântica",também é possível,situando-nos na época e na ideologia do autor,que para alèm de militar e colonialista foi um monárquico convicto ao longo de toda a sua vida,vindo mesmo a sofrer directa,pessoal e familiarmente,por tal,sublinhando aquilo que menciona "a sua atribulada vida",(por duas vezes exilado,demitido por julgamento militar do Exército,com o que isso significou de perda de rendimentos,que o levou para fazer pela vida a andar por Marrocos,Brasil,Inglaterra e França),sendo assim um homen de uma só árvore,uma só convicção...por muito reácionária que tenha sido,e que tenha sido no sentido contrário da evolução do seu/nosso tempo.
(Alexandre Almeida)

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OUVINDO OLIVIER MESSIAEN


Quatuor Pour la Fin du Temps tocado pelo Ensemble Walter Boeykens.

Ao meu lado direito, na igreja da aldeia, tocam os sinos para mais um funeral. Um a um, este Inverno belo e frio mata os velhos. Anteontem um, ontem outro, hoje outro. Algumas figuras que passavam pelas ruas, com a regularidade do vazio dos últimos dias, desaparecem para o lado das sombras. A V. da M. do lado de lá está cada vez mais habitada. Passarão eles, o sr. C., a sra. M., pela mesma rua, onde eu ainda não estou para lhes dar os "bons dias"? Terão eles agora os "bons dias" que nunca tiveram na vida?

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas APRENDENDO COM S. TOMÁS DE AQUINO ACERCA DA CONSULTA AOS ASTROS e A LER sobre o blogue colectivo dos jornalistas da SIC.

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AR PURO / SCRITTI VENETI


Turner

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EARLY MORNING BLOGS 425

John Horace Burleson


I won the prize essay at school
Here in the village,
And published a novel before I was twenty-five.
I went to the city for themes and to enrich my art;
There married the banker’s daughter,
And later became president of the bank—
Always looking forward to some leisure
To write an epic novel of the war.
Meanwhile friend of the great, and lover of letters,
And host to Matthew Arnold and to Emerson.
An after dinner speaker, writing essays
For local clubs. At last brought here—
My boyhood home, you know—
Not even a little tablet in Chicago
To keep my name alive.
How great it is to write the single line:
“Roll on, thou deep and dark blue Ocean, roll!”


(Edgar Lee Masters)

*

Bom dia, de Spoon River!

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7.2.05


APRENDENDO COM S. TOMÁS DE AQUINO ACERCA DA CONSULTA AOS ASTROS

Antes de tudo, é necessário que saibas que a virtude dos corpos celestes se estende à moção dos corpos inferiores. Com efeito, disse Santo Agostinho no livro quinto d´A Cidade de Deus: “Definitivamente, nem sempre é absurdo dizer que determinados astros podem ocasionar mudanças nos corpos”. E assim, se alguém recorre aos julgamentos dos astros para conhecer de antemão certos efeitos corporais, como a tempestade ou a serenidade do tempo, o vigor ou a fraqueza de um corpo, a fecundidade ou infecundidade das colheitas, e coisas similares, que dependam de causas corporais e naturais, não parece haver pecado. Pois, todos os homens recorrem a alguma observação dos corpos celestes em vista de conhecer efeitos deste tipo: os agricultores semeiam e colhem em períodos exatos após a observação do movimento do sol; os marinheiros evitam navegar quando a lua está cheia ou nas noites sem lua; os médicos examinam as doenças em dias específicos, determinados pelo curso do sol e da lua. Donde não há inconveniente na consulta aos astros com relação a efeitos corporais, fundada na observação de estrelas menos evidentes.

Mas é preciso absolutamente compreender que a vontade do homem não está sujeita à necessidade dos astros; de outro modo, pereceria o livre arbítrio, e sem este, não se poderiam atribuir as boas ações ao mérito do homem, nem as más à sua culpa. E, por esta razão, todo cristão deve ter por certo que o que depende da vontade do homem — todas as obras humanas são desta espécie — não está submetido à vontade dos astros. Por isso lemos nas Escrituras (Jr. 10, 2): Não vos espanteis com os sinais dos céus; porque com eles os gentios se atemorizam.


*
O meu nome é Ricardo Fidalgo, tenho 31 anos e exerço a profissão de Astrólogo, cumulativamente com a de Advogado.

Gostaria de lhe deixar uma frase que, de uma maneira geral, é aceite pela comunidade astrológica quando se debate a questão das previsões astrais: o que se prevê não é o resultado. É o desafio a enfrentar. Pelo que o livre arbitrio não é, em nenhum momento, posto em causa. Agora, o que pode, e muitas vezes assim sucede, acontecer é que face a determinado tipo de desafio o ser humano reaja de uma determinada maneira padronizada, sem que tal queira significar que em todos os casos tenhamos a mesma reacção.

Li alguns posts seus relacionados com Astrologia, e gostava de lhe dizer que a comunidade astrológica a nivel mundial cresce, não só em numero, mas tambem em profissionalismo e em capacidade de testar criticamente qualquer método (e existem muitos) astrológico de modo exaustivo. Claro que isso não resolve a questão de “acreditar” ou não na Astrologia enquanto método eficiente. Para isso, só há uma solução, para quem nisso tiver interesse: pegar em livros. Lê-los. Testar ao máximo o que se leu. E assim continuar durante um bom par de anos. Caso contrário vamos continuar com o tipo de atitude que vejo, por exemplo, numa televisão como a TVI, que num dia leva um Astrólogo ao Jornal da noite, e no seguinte transmite uma reportagem a desacreditar a Astrologia.

E já agora, nunca é demais realçar, que Astrologia é uma coisa, Bruxaria, Tarot, Reiki, Quiromância, e por aí fora, coisas totalmente distintas. Sem menosprezar qualquer das outras áreas em causa, meter tudo no mesmo saco só serve para confundir ainda mais quem não faz a minima ideia do que é Astrologia, e de como funciona.
(Ricardo Fidalgo)

*
Perante textos como aquele que o seu leitor Ricardo Fidalgo lhe enviou, referente à Astrologia, fico sempre com a mesma dúvida: terá ele porventura lido livros sobre Bruxaria, Tarot, Reiki, Quiromância e por aí fora, testado ao máximo o que leu e assim continuado durante um bom par de anos para concluir que são «coisas totalmente distintas» da Astrologia? Caso contrário, como é que ele sabe?
(José Carlos Santos)

*
Li o suficiente para ter a certeza de que o(s) método(s) astrológico(s) é(são) totalmente distinto(s). Não é necessário ler muitos livros para tirar essa conclusão. E reafirmo o que já disse: não pretendo, de forma nenhuma, menorizar qualquer das outras áreas mencionadas, sobre elas não me pronunciando dado faltar-me o conhecimento aprofundado, teórico e prático, que tal exigiria. Não faz mal nenhum termos opiniões abstractas sobre o que quer que seja. Mas ás vezes convinha descer á terra, meter mãos á obra, e Conhecer aquilo de que se quer falar. Conhecer, mesmo! E a informação está disponivel, não há nada de oculto.
(Ricardo Fidalgo)

*
No seu comentário ao texto de S. Tomás de Aquino, o Sr. Ricardo Fidalgo (...) começa bem quando nos adverte que o número crescente de ignorantes que aderem à comunidade astrológica não serve de critério para a credibilizar, mas acaba mal, ao insinuar que o estudo da astrologia e o teste das suas previsões nos convenceriam da sua real natureza de ciência. Erro puro.

Comecemos pelas previsões:

Um dos ensinamentos elementares da estatística é o de que é extraordinariamente provável a ocorrência conjunta de dois factos improváveis. E se a associação entre os dois factos é estabelecida a posteriori, então deixa de ser uma probabilidade, para passar a ser uma certeza.

Ilustremos o que pretendo dizer. Logo a seguir ao 11 de Setembro, circularam pela net mails que salientavam as impressionantes coincidências registadas. Tão impressionantes, que não poderiam ser meras coincidências. Lembro-me que se dizia nesses mails, entre outros disparates, que o atentado tinha ocorrido no dia 11, precisamente o número formado pelo desenho das Torres e o número de letras contido na expressão “New York City”. O que não poderia deixar de envolver uma espécie de enorme sinal dos céus.

Obviamente que se o atentado tivesse ocorrido no dia 2, se diria que as Torres formavam o número 2 romano e se fosse no dia 7, quem passava a ter 7 letras era a simples expressão “New York”.

Quando se quer associar, pode-se associar qualquer coisa.

Aquando do atentado de que foi vítima Ronald Reagan, li na altura um artigo qualquer que salientava a trágica fatalidade de todos os presidentes dos EUA eleitos em ano zero (Reagan tinha sido eleito em 1960) estarem condenados a não completar o mandato. No artigo dizia-se “todos” e citava-se Kennedy (eleito em 1960). Não sei se aquela afirmação era verdadeira. Com o próprio Reagan e com Bush deixou de o ser*. Mas mesmo que o fosse isso não tinha nada de extraordinário. Em duzentos anos de História, terá havido uma dezena de presidentes dos EUA eleitos em ano zero. Esses presidentes, de certeza absoluta, têm milhares de coisas em comum. Que uma delas seja terem morrido antes de concluído o mandato é apenas mais uma. Tanto mais quanto é certo ser a morte segura e que todos eles dispuseram de 4 anos para cumprir o destino.

Todo este discurso, para concluir que não são meia dúzia de pseudo-previsões correctas (no meio de milhares de outras falhadas e habilmente esquecidas) que fazem da astrologia uma ciência. Sobretudo quando nessas previsões cabe tudo. Dizer-se que o Papa vai morrer em 2005 não é lá grande previsão (embora também o não fosse desde há uma boa meia dúzia de anos). Mas a maioria dos astrólogos limita-se a anunciar que vai morrer uma importante personalidade da Igreja Católica, o que não passa de uma banalidade.

Mesmo que um astrólogo tivesse acertado na previsão do dia, hora e dimensão do tsunami que varreu o oriente no fim do ano passado (um facto com a dimensão trágica daquele não podia deixar de estar inscrito nos astros com toda a clareza e visibilidade, para quem o soubesse ler), isso não bastaria para fazer da astrologia uma ciência.

Em primeiro lugar, era necessário que todos os astrólogos o tivessem previsto ou que, pelo menos, tivessem sabido reconhecer a sua inevitabilidade quando algum deles o anunciasse. É assim que se passa na verdadeira ciência. Um eclipse que é previsto por um astrónomo pode ser previsto e confirmado por todos. Ora, cada astrólogo faz as suas previsões e raramente (nunca, quando se desce ao nível do concreto) elas são coincidentes.

Em segundo lugar, não basta uma previsão certa. Todas as previsões têm que ser certas. Se uma só observação astronómica puser em causa as previsões decorrentes da teoria da relatividade de Einstein, esta será imediatamente posta em causa, como o foi a teoria da gravidade de Newton.

Contudo, a astrologia farta-se de falhar, sem que nenhum astrólogo a ponha em causa as suas bases.

É certo – como se apressarão a observar-me alguns – que a meteorologia também falha as suas previsões e eu não ponho em causa a sua natureza de ciência. Simplesmente, a meteorologia é (ao contrário da astrologia) a primeira a reconhecer a sua incapacidade para fazer previsões fiáveis. Por outro lado, os seus métodos são públicos e transmissíveis. Sabe-se quais as bases em que se fundam as previsões e a natureza incompleta dessas bases, que torna aquelas falíveis. Mas dois especialistas em meteorologia, partindo das mesmas observações, chegam às mesmas previsões. Não assim na astrologia, onde, com base nos mesmo dados, cada um chega às mais variadas conclusões.

Finalmente, a acabar, uma nota sobre o ónus da prova: é comum ouvir-se por aí, a propósito da astrologia, que não devemos desprezar uma ciência que não conhecemos e que ninguém provou que ela era falsa.

O ónus da prova cabe à astrologia, não à ciência. É a astrologia que tem que provar que é verdadeira, não a ciência, que ela é falsa. Eu posso sustentar a tese que cada um de nós é permanentemente seguido por um gnomo verde que só o próprio pode ver, mas que desaparece assim que tentamos voltar-nos, para o observar. Ninguém jamais demonstrará a falsidade desta tese.

* Os astrólogos dirão que, crente na astrologia, Reagan tomou as providências adequadas para quebrar o enguiço, não conseguindo evitar o atentado contra si mesmo, mas conseguindo evitar nele a própria morte e quebrando por essa via definitivamente o dito enguiço.
(António Cardoso da Conceição)

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A LER

o blogue colectivo do Diário de Campanha da SIC.

Há várias razões pelas quais é interessante seguir o blogue dos jornalistas da SIC que cobrem a campanha, uma iniciativa pioneira em Portugal. Uma, é que no blogue há informação suplementar interessante (por exemplo, no comício do PSD, o facto de Santana Lopes não ouvir os que o precedem e o momento cénico da sua entrada, o retrato físico dos apoiantes transmontanos do PP, a descrição da debandada pós-comício para as camionetas e a banda que o sr. Presidente da Câmara arranjou para o PS); a outra é perceber o papel das opiniões dos jornalistas por detrás no seu relato dos eventos.

Os jornalistas, ao falarem na primeira pessoa, expõem-se assim mais humanamente, mas até que ponto isso condiciona a nossa interpretação que não testemunhamos os eventos e esperamos deles que nos informem? Por exemplo, já se percebeu que Ricardo Costa tem em alta consideração a campanha do PP (no que não é único). Mas será ele capaz de “ver” se ela é eficaz, será ele capaz de registar e relatar tudo aquilo que contraria a sua opinião, como se aferirão os relatos que nos faz com os resultados eleitorais, se estes forem contraditórios? Por exemplo, nenhum partido mais que o PP tem utilizado o governo para fazer campanha eleitoral, o que parece que ninguém vê com o mesmo "escândalo" fácil das tentativas bisonhas do PSD. Dualidade de critérios.

O meu receio não é tanto a opinião pessoal, que prezo e leio com atenção, é o bias que ela pode dar ao relato, assim como o papel de “cegueira” que tem uma teoria, ou uma ideia forte à partida, face ao que acontece depois. Recordo-me que, numa última campanha eleitoral, os comentadores do Público deram sempre mais notas negativas à campanha dos vencedores, e mais positivas à dos derrotados e, embora uma boa campanha não possa ser medida apenas pela sua eficácia, esse elemento tem que ser tido em conta.

Eu preferiria que os jornalistas não tivessem teses à partida, mas que todos os dias flutuassem a sua apreciação em função do que acontece. Eu sei que não é fácil, mas é isso que distingue um jornalista de um comentador, embora cada vez mais os jornalistas se comportem como comentadores. As campanhas eleitorais anteriores estão cheias disso – e não me refiro apenas às simpatias políticas, mas também às simpatias pessoais, às amizades, à empatia e ao conhecimento desigual dos assuntos e das terras, etc. - e, como não se faz nenhuma aferição a posteriori entre o relato (o reporting) e os eventos, e não há tradição de fact checking, depois esquece-se tudo.

*
Não acho interessante o Diario de campanha da Sic. Tudo "velho". Basta ver a própria reportagem. Durante o comicio de Castelo Branco do PSD Anabela Neves, dá-se ao luxo de comentar o que se está ouvindo fazendo gracejos! Não é líquido dizer que Santana Lopes não ouve o que os seus antecedores dizeram. EStava certamente vendo e ouvindo a SIC. Tanto assim que durante o discurso se referiu ao que Ricardo Costa tinha acabado de dizer sobre os autocarros e sobre a interpretação que Ricardo Costa tinha dado. Ver a SIC, ler a VISÃO, ou ler o EXPRESSO é completamente igual. Não é necessário ir ler o blogue dos jornalistas da SIC. A unanimidade é tão grande que me pergunto: será que pensam? Ou como Sócrates decoram o discurso?
(Isabel Moreira)

*
Algumas notas que me parecem pertinentes a propósito do seu texto sobre o blogue dos jornalistas da SIC:

1 - "O meu receio não é tanto a opinião pessoal, que prezo e leio com atenção, é o bias que ela pode dar ao relato, assim como o papel de “cegueira” que tem uma teoria, ou uma ideia forte à partida, face ao que acontece depois".
Creio perceber aqui alguma incongruência entre o que diz agora e o que disse já vezes sem fim - é aliás um dos seus rituais favoritos - sobre a transparência do jornalismo português. Será que uma acção destas (a criação do blog) não apresenta aos leitores/ouvintes/telespectadores uma imagem mais complexa e (eventualmente) mais próxima do real sobre a actividade? E será que isso não contribui, de forma significativa, para humanizar o exercício da profissão, com todas as limitações, pre-concepções e também vantagens e perspicácia-nascida-da-experiência que isso encerra? E será que não é por algo em torno destas linhas que o Sr. se tem batido de forma tão persistente nos últimos tempos?

2 - "Eu preferiria que os jornalistas não tivessem teses à partida, mas que todos os dias flutuassem a sua apreciação em função do que acontece".
O que JPP prefere não é disputável. Eu também preferiria políticos, médicos, juízes, militares, polícias, arquitectos, historiadores e até mesmo enólogos e cozinheiros que não as tivessem. Mas isso não se passa cá, no mundo real. É portanto, um argumento pouco honesto.

"Eu sei que não é fácil, mas é isso que distingue um jornalista de um comentador" - nem isto é verdade nem a anexação de uma falácia a outra dignificam o texto final. JPP tem - desculpe-me a franqueza - muitas ideias feitas sobre o jornalismo e não se terá ainda concedido o espaço necessário para o encarar (pelo menos) com o distanciamento que para ele deseja. Precisará de ler mais, de ouvir com mais atenção e de conceber a possibilidade do engano (seja por exagero fruto de desconhecimento, como acontece no mais das vezes, seja mesmo por deliberada malícia). O jornalista é - até efectivação das ideias mais vanguardistas de Dan Gillmor - um profissional que apresenta aos seus leitores/ouvintes/telespectadores uma visão dos factos que testemunhou. Sobre mim, leitor/ouvinte/telespectador, tem a vantagem de algumas competências acrescidas, de um código deontológico rigoroso e da experiência em situações semelhantes. É por isso que confio no seu trabalho. Além disso, o jornalista tem a noção clara de que tudo o que faz é e pode ser permanentemente escrutinado. Este é, como muitos outros, um terreno de confiança simultaneamente em causa e partilhada.

3 - Há simpatias pessoais. Haverá, certamente. Que sejam denunciadas por quem não se revê nelas e que sejam apontadas as infracções. Se o processo for honesto, acredito que sai beneficiado o jornalismo e a tal relação de confiança com quem justifica a sua existência. Não se tente, porém, simplificar o que não é. Não se caia no erro de pensar que o jornalismo deve ser apenas recurso tecnológico facilitador do fluxo de informação. Que ele seja muitas vozes, de sinal contrário, sempre e cada vez mais. É sinal de pluralidade e de interesse acrescido no que é comum.

4 - Não conheço pessoalmente nenhum dos jornalistas da SIC envolvidos na cobertura desta campanha eleitoral.
(luis antónio santos)

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NATUREZA MORTA CREPUSCULAR

Da esquerda para a direita: a mesma pilha de jornais e revistas, em cima a Revista de História das Ideias, sobre a pilha um disco de Haydn já ouvido, um jogo de computador antigo Command and Conquer Generals, um bilhete do metro do Porto que diz Andante, a mão esquerda, uma lupa, uma caneta, uma tesoura, um lápis, zips, uma reprodução de um quadro de Corot para colocar no Abrupto, um texto de um autor antigo que começa assim “Deixei de ter confiança, daí o silêncio”, outro texto com um fragmento de uma carta de Heloísa a Abelardo

Se efectivamente tenho de confessar a fraqueza do meu coração, em mim não encontro arrependimento que possa apaziguar Deus e sempre O acuso de grande crueldade para contigo. Rebelde à Sua vontade, não faço mais que ofendê-l'O com o murmúrio da minha indignação, em vez de tentar serená-l'O pela minha penitência. Pode falar-se de penitência, seja qual for o tratamento infligido ao corpo, quando a alma ainda mantém a vontade de pecar e arde nos mesmos e antigos desejos? É fácil, sem dúvida, confessar as suas faltas e acusar-se ou submeter até ao seu corpo a macerações externas; mas bem difícil é arrancar a sua alma aos desejos das mais doces volúpias.

, um “leitor” com um livro aberto de pedra, água, um telefone sem som, um dado viciado, uma pequena estação meteorológica com relógio –dezasseis e doze, dezoito graus dentro da sala, perto de mim, quinze graus lá ao fundo, lá fora oito – azul e branco do céu em frente, um cúmulo-nimbo ameaçador que se vai dissipando, verde das árvores mais escuro, o vermelho dos telhados mais tijolo, um ecrã com texto, os mesmos dois olhos, um rato, uma ligação Bluetooth desligada, a mão direita, algumas moléculas de laranja no ar.

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OUVINDO HAYDN POR BRENDEL


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NATUREZA MORTA MATINAL

Da esquerda para a direita: uma pilha de jornais e revistas com artigos marcados para fazer uma bibliografia, em cima um comando para uma televisão apagada, a mão esquerda, uma lupa, uma caneta, uma tesoura, um lápis, cinco ou seis zips, postais, um papel com uma password escrita à pressa, uma carta, um “leitor” com um livro aberto de pedra, água, um telefone silencioso, sem som, um dado viciado, uma pequena estação meteorológica com relógio – dez e cinquenta e cinco, dezanove graus dentro da sala, perto de mim, quinze graus lá ao fundo, lá fora seis ou sete – azul do céu em frente, verde das árvores, vermelho dos telhados, um ecrã com texto, dois olhos, um rato, uma ligação Bluetooth desligada, a mão direita.

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GRANDES NOMES: "GEMIDOS DA ALMA PENITENTE PARA OS PRINCIPIANTES"

uma das (outro grande nome) "Orações Jaculatórias, Ou Setas Espirituais para Atirar ao Céu e Ferir o Coração de Deus" do Padre Manuel Bernardes. Aqui está uma dessas "setas":

"Não entreis, Senhor, em juízo com vosso servo; porque nenhum vivente se justificará diante de vós. De mil cargos que me fizerdes, não poderei responder a um só. Todo me entrego nos braços de vossa misericórdia.

Que maldade há no mundo tão execrável, que eu não esteja pronto para a cometer? Senhor, amarrai com as cadeias de vosso santo temor as fúrias de minha liberdade; porque sou capaz de tornar a crucificar-vos.

Isto me pasma, Senhor: como não respeitei vossa presença! Como não temi vossa indignação! Como me não compadeci de vossas dores! Como pisei vosso Sangue! Como não correspondi a tanto amor! Não pode haver maior cegueira.

Pecaste, alma minha: diz-me, agora, que fruto tiraste do teu pecado? Amaste as criaturas mais que ao Criador: que te ficou rendendo esta desordem? Perda da amizade de Deus, e do direito à sua glória, remorso de consciência, costume de tornar a pecar, escravidão ao demônio, reato da culpa, dívida da pena eterna. Oh, quem dera rios de lágrimas a meus olhos, para lamentar tão grave desgraça!

Vinde, vinde, Senhor, ao meu coração; formai um azorrague das cordas de vosso amor e temor, e lançai daqui todos os maus afetos que profanam a vossa casa.

Rogo-vos, meu Jesus, por aquele primeiro leite que bebeste nos peitos virginais de vossa Mãe Santíssima; e por aquelas sagradas primícias de vosso Sangue, que derramastes na Circuncisão, que não permitais que jamais caia de vossa graça nem esteja um ponto fora dela.

Pequei mais que o número das areias do mar. Porém, Senhor, as vossas misericórdias não têm número. Em vós ponho toda a minha esperança: não padecerei confusão eterna.

Eu a pecar; vós, Senhor, a perdoar-me. Eu a fazer-vos injúrias; vós a fazer-me benefícios. O certo é, Senhor, que cada um obra como quem é. Bendita seja vossa paciência, que tanto me esperou.

Muito agravado estais de mim, e vos sobra razão. Oh, quem para aplacar-vos tivera as lágrimas de uma Madalena, as penitências de uma Egipcíaca, os gemidos de um Agostinho, a compunção de um S. Pedro!

Ah, pecador atrevido e infame! Tu foste o que açoutaste a Jesus, tu o que o coroaste de espinhos; o que lhe lançaste salivas no rosto, o que o pregaste na Cruz. Como te não confundes?
"

Como te não confundes?

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COISAS SIMPLES


Kuzma Petrov-Vodkin

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EARLY MORNING BLOGS 424

Chinoiserie


Ce n’est pas vous, non, madame, que j’aime,
Ni vous non plus, Juliette, ni vous,
Ophélia, ni Béatrix, ni même
Laure la blonde, avec ses grands yeux doux.

Celle que j’aime, à présent, est en Chine;
Elle demeure avec ses vieux parents,
Dans une tour de porcelaine fine,
Au fleuve Jaune, où sont les cormorans.

Elle a des yeux retroussés vers les tempes,
Un pied petit agrave; tenir dans la main,
Le teint plus clair que le cuivre des lampes,
Les ongles longs et rougis de carmin.

Par son treillis elle passe sa tête,
Que l’hirondelle, en volant, vient toucher;
Et, chaque soir, aussi bien qu’un poète,
Chante le saule et la fleur du pêcher.


(Théophile Gautier)

*

Bom dia!

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NUMA CAMPANHA ELEITORAL

não são os comícios que revelam alguma coisa, que não seja o dinheiro que se está disposto a gastar, e a capacidade e o profissionalismo da organização. Só, e só duas coisas são reveladoras: o comportamento da rua urbana, a mais de cinco metros do candidato, e as janelas e varandas das casas nas grandes cidades. Quem já fez campanhas sabe que é aí que se encontra a outra face das sondagens.

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O MAR, A CHUVA AO LONGE,HOJE


(R.)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES / SCRITTI VENETI

"Romance de viagens, de retornos, de atmosferas exóticas: o Médio Oriente, a Palestina e o Egipto, Jerusalém e Milão. Livro de factos e aventuras singulares seguindo sempre a isotopia ou, se se quiser, as andanças de uma Maria oriental vinda a Veneza a partir de Alexandria onde ainda a aguarda, em frustrada espera, o amor congénito de um Ahmed que, na noite anterior, com ela dormira, enquanto o fantasma do mítico Alexandre representava, em sonho, histórias de conquistas orientais. Tudo isto se passa quase na véspera da chegada de Maria a Veneza, onde agora ela se encontra à beira do Canale della Giudecca para obedecer ao chamamento ambíguo, mortal e erótico de uma Flora que a espera no predestinado Hotel des Bains do Lido e que, por ela, procurará a morte nas águas da laguna.
Mitos de Veneza e mitos de mortes em Veneza revisitada em nome de um inconsciente e ambíguo Tadzio e de um envelhecido Gustav Von Aschenbach, perseguidos nas ruas douradas, crepusculares e já atingidas pela cólera, por um escritor que ama Veneza, até mesmo por este literário e refinado odor de morte. E é assim que o último desencontro de Antonioni e Maria, ele num quarto de hotel, em Milão, e ela numa cama distante, em Tel Aviv, parece simular a união ideal dos dois, embora agora a bordo de um sonho de olhos abertos, como se estivessem de novo juntos "sem sabê-lo, numa navegação ao sabor de uma miragem comum". É talvez a metáfora da consciência aqui atingida por Luís Carmelo, nesta sua recordação-homenagem feita de palavras à cidade da sua saudade. Talvez por Veneza ser, como a vida, apenas e sempre um sonho."

(Luciana Stegagno Picchio sobre No Princípio Era Veneza (1990), enviado pelo autor)

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6.2.05


CAMPANHA ELEITORAL ANTIGA


Hogarth (enviado por Artur Magalhães)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O VOTO DIFÍCIL (2ª série)

Aproveito, ainda que algo desactualizado, para chamar a sua atenção para outra situação relativa ao voto emigrante.

Resido em Moçambique e aqui não temos direito a votar nas eleições para o Parlamento Europeu. Confesso o meu desconhecimento das causas. Será isso devido a legislação específica e proibitiva? Ou a mero esquecimento? Noto que os emigrantes portugueses em países da UE podem votar nos países residentes. E que cidadãos nacionais de outros Estados-membros (ex. Espanha) o podem fazer fora da UE.

Também quanto aos referendos será possível votar? Por exemplo, será política e legalmente legítimo impedir um emigrado de votar no referendo sobre a Constituição Europeia?

(José Pimentel Teixeira)

*

No meu blogue tenho publicado uma série de artigos sobre o voto dos emigrantes e o tratamento reservado aos idadãos nas embaixadas como aquele que publicou no seu blogue da autoria da Cláudia Monteiro. Emigrante em Helsínquia, não tenho, felizmente, muitas razões de queixa da minha embaixada - e eu não tenho por hábito queixar-me daquilo com que vou a contar, um serviço burocrático e lento, ao sabor dos humores dos funcionários. Outros não tiveram tanta sorte e contaram as suas experiências no na mailing list da comunidade, como a minha amiga que esteve à espera, dentro da embaixada durante duas horas para ser atendida. Daí telefonou duas vezes para lhes recordar que ela estava lá dentro à espera. E diz, "no fim apareceu-me um senhor que me disse que não fazia a menor ideia que eu ali estava à espera."

Sobre as eleições, gostaria de ter sido informado sobre a necessidade de recenseamento eleitoral - um acto necessário e que, ao contrário do que eu pensava não é feito redundante pelo registo no consulado. Nas várias visitas que fiz nunca para tal foi alertado, nenhuma das comunicações da embaixada enviadas para minha casa continha tal informação e o website não existe.
Mais, nos 9 dias utéis de que disponha entre a convocação de eleições e o fim do prazo para inscrição para estas eleições (60 dias antes da eleição) era-me impossivel obter toda a documentação necessária para me poder recensear, nomeadamente um novo Bilhete de Identidade deonde constasse a minha morada no estrangeiro. O processo leva meses, quando não anos para concluir.

António Dias


*

Gostaria de poder votar. Infelizmente não posso.
Vivo no estrangeiro e não estou recenseado no posto consular mais próximo.
Bem, até aqui é aceitável, correcto?
O facto é que não estou recenseado porque não me consigo recensear pura e simplesmente...
A embaixada só permite que me registe se me apresentar, presencialmente, com o meu bilhete de identidade, que obviamente tenho (BI, passaporte, carta de condução, etc...), junto com um atestado oficial de residência, passado pelas entidades do país em que me encontro.
O problema é que eles só passarão esse atestado caso eu me registe na segurança social de cá, o que não posso, pois estou a fazer doutoramento e não consigo por ser um cidadão estrangeiro estudante, como tal, "passageiro".
Em virtude disso não me fornecem um atestado de residência.

E, apesar de eu ir fisicamente apresentar-me para me recensear no consulado, tal como fiz há uns anos atrás na junta de freguesia onde residia em Portugal, por alguma razão, os serviços consulares portugueses querem uma prova em como resido na cidade do país onde digo residir, coisa que nunca me foi exigida em Portugal.
Não sei, terão medo, que eu me registe aqui e, de alguma forma, o meu registo em Portugal se mantenha activo, não seja anulado e eu aproveite para votar aqui, apanhar um avião para Portugal, sair do aeroporto e ir a correr muito até à cidade onde residia em Portugal e chegar lá a tempo de votar uma segunda vez?
Será isso? Francamente não sei...
Só sei que gostaria de exercer o meu DIREITO DE VOTO COMO PORTUGUÊS QUE SOU!
E que esse direito me é negado por estar fora de Portugal.
É essa a realidade.

Um amigo meu, espanhol, chegou cá há 3 semanas, registou-se e recenseou-se e já pode votar. Também é estudante. De Erasmus, não de doutoramento, mais passageiro ainda do que eu. Não lhe foi pedido nada mais que a identificação e, obviamente, o direito de votar foi-lhe dado (e, claro, anulado na localidade dele em Espanha).
E, adicionalmente, está devidamente registado na Embaixada Espanhola.
Eu, estou aqui há quase ano e meio e ainda nem sequer me consegui registar na embaixada portuguesa. Se for assaltado e ficar sem documentos, não faço ideia sequer de como provar que sou eu, pois nem registado na embaixada estou... não consigo!
Isto até se poderia olhar com outros olhos, se acontecesse num país remoto tipo Bangladesh ou Mongólia. Mas não.

Eu vivo em Bruxelas, "capital" da União Europeia, há ano e meio, basicamente em situação ilegal (não registado no país de acolhimento, não registado na embaixada portuguesa... quem sou eu senão um ilegal?!).

E sou um estrangeiro para a Bélgica e, pior, um estrangeiro para Portugal (pelo menos no que toca a direitos constitucionais). Esse meu amigo espanhol, porque é que ele é tratado como um Espanhol pleno pelo país dele? Porque eu não tenho o mesmo direito que ele? Porque é que nem sequer sou um Europeu como ele é, já que nem em eleições europeias posso votar? Não devia estar na "Europa"? Não deveria ser facilitado o registo e recenseamento dos Europeus na Europa?

Querem mobilidade por parte dos Europeus mas impôem todos os entraves burocráticos imagináveis à mesma... Querem que os Portugueses não se abstenham de votar, o voto é um dever democrático, dizem os políticos, mas impedem-me de votar. Porque é que o meu amigo Espanhol tem direito a voto e eu não? Porque é que ele só precisa de mostar a cara e o BI, como faria em Espanha, e eu não?

(Ivo Martins)

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INTENDÊNCIA

Continua a actualização dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO. Estão a ser completadas as bibliografias de 2003 (tinham escapado alguns artigos) e de 2004, assim como as listas biográficas. Algum material fotográfico inédito (ou pouco conhecido) sobre o 18 de Janeiro de 1934 será inserido a seguir.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VERIFICAÇÕES, FACTOS E DEBATE

Hugo Filipe aceitou a sugestão de verificar os factos e números citados no debate. Aqui vão duas das verificações:
Estou a ler a transcrição e comecei pelos números das receitas que Santana Lopes citou. Devo dizer-lhe que são verdadeiros. Ver (pág.4, 5...)

Santana: IRC sobe 21% ; IRS sobe 5% ; IVA sobe 6% ; Impostos TOTAL : 33 mil milhões de euros

Facto: IRC sobe 20,7% ; IRS sobe 5% ; IVA sobe 6,3% ; Impostos TOTAL : 33 mil 115 milhões de euros.
*
Santana Lopes afirma que as despesas correntes cresciam ao ritmo de 10% ao ano. Após consultar as contas gerais do estado desde 1995 até 2001, só por uma vez isso aconteceu 1999-2000 onde as despesas cresceram 10,2%, nos outros anos foram semelhantes ou mais baixas do que actualmente.

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AR PURO


H. Thoma

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EARLY MORNING BLOGS 423

Nous n’irons plus au bois

Nous n’irons plus au bois, les lauriers sont coupés.
Les Amours des bassins, les Naïades en groupe
Voient reluire au soleil en cristaux découpés
Les flots silencieux qui coulaient de leur coupe.
Les lauriers sont coupés, et le cerf aux abois
Tressaille au son du cor; nous n’irons plus au bois,
Où des enfants charmants riait la folle troupe
Sous les regards des lys aux pleurs du ciel trempés.
Voici l’herbe qu’on fauche et les lauriers qu’on coupe.
Nous n’irons plus au bois, les lauriers sont coupés.


(Théodore de Banville)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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