ABRUPTO

10.2.05


NATUREZA MORTA NOCTURNA

Da esquerda para a direita: uma pilha de jornais e revistas para actualizar uma bibliografia, em cima Digressions on Some Poems by Frank O'Hara, uma carta da Associação de Professors de Filosofia, um comando do cabo por satélite (é assim na província) , um número antigo de A Comuna, uma mão, três canetas, um lápis, um relógio do exército suíço com duas horas, Lisboa e Bruxelas, um saco com moedas de marco esquecidas, uma nota de cem euros para ver como é, uma lupa, um penny para comprar pensamentos, uma pilha de zips, uma estação meteorológica – vinte e cinco graus, cá dentro, quente de mais mas vai arrefecer, dezanove lá atrás, nove lá fora – um dado redondo viciadíssimo, uma tesoura, dois olhos, um teclado, um ecrã, uma janela escura, uma luz ao longe, um radiómetro, um fragmento de lava, uma garrafa de água, sobre um azulejo antigo, outra mão, um telefone desligado, um CD com Pollini a tocar Debussy, um rato, um fio que não leva a parte nenhuma, pequenos ruídos da madeira, ar.

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© José Pacheco Pereira
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