ABRUPTO

7.2.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES / SCRITTI VENETI

"Romance de viagens, de retornos, de atmosferas exóticas: o Médio Oriente, a Palestina e o Egipto, Jerusalém e Milão. Livro de factos e aventuras singulares seguindo sempre a isotopia ou, se se quiser, as andanças de uma Maria oriental vinda a Veneza a partir de Alexandria onde ainda a aguarda, em frustrada espera, o amor congénito de um Ahmed que, na noite anterior, com ela dormira, enquanto o fantasma do mítico Alexandre representava, em sonho, histórias de conquistas orientais. Tudo isto se passa quase na véspera da chegada de Maria a Veneza, onde agora ela se encontra à beira do Canale della Giudecca para obedecer ao chamamento ambíguo, mortal e erótico de uma Flora que a espera no predestinado Hotel des Bains do Lido e que, por ela, procurará a morte nas águas da laguna.
Mitos de Veneza e mitos de mortes em Veneza revisitada em nome de um inconsciente e ambíguo Tadzio e de um envelhecido Gustav Von Aschenbach, perseguidos nas ruas douradas, crepusculares e já atingidas pela cólera, por um escritor que ama Veneza, até mesmo por este literário e refinado odor de morte. E é assim que o último desencontro de Antonioni e Maria, ele num quarto de hotel, em Milão, e ela numa cama distante, em Tel Aviv, parece simular a união ideal dos dois, embora agora a bordo de um sonho de olhos abertos, como se estivessem de novo juntos "sem sabê-lo, numa navegação ao sabor de uma miragem comum". É talvez a metáfora da consciência aqui atingida por Luís Carmelo, nesta sua recordação-homenagem feita de palavras à cidade da sua saudade. Talvez por Veneza ser, como a vida, apenas e sempre um sonho."

(Luciana Stegagno Picchio sobre No Princípio Era Veneza (1990), enviado pelo autor)

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© José Pacheco Pereira
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