HÁ VIDA DEPOIS DE 20 DE FEVEREIRO (3) MEMÓRIA CURTA - "TUDO NA VIDA SE RENOVA"
Para os que agora criticam quem critica Santana Lopes convém não ter memória curta. Em Abril de 2000, bem dentro deste ciclo político pós-Cavaco, Santana Lopes dava uma entrevista ao Expresso em que afirmava, preto no branco, a necessidade de criar outro partido e fazia um ultimatum ao PSD: ou mudava o PSD ou ele próprio mudava de partido. Nunca nenhum dos seus opositores actuais afirmou que iria criar outro partido contra o PSD. Toda a entrevista, lembrada pelo Pula, Pula Pulga, é típica do estilo egocentrista, errático e confuso de Santana Lopes, que sempre se pôde perceber, mas a que muitos foram cegos. Esta entrevista não é a única em que o tema da criação de um novo partido é nomeado. Fica aqui como documento a lembrar em 20 de Fevereiro a propósito das "facadas" nas costas.
opção inadiável de Santana
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PEDRO Santana Lopes considera chegado o momento da «clarificação definitiva» no PSD e lança um ultimato: ou o partido muda ou muda ele de partido. Numa extensa entrevista ao EXPRESSO, que será publicada na Revista da próxima semana, o presidente da Câmara da Figueira da Foz volta a agitar as pantanosas águas do maior partido da oposição, não escondendo a impaciência com a situação que resultou do Congresso de Viseu e exigindo que se acabe «com a hipocrisia: todos falam baixo na mudança da liderança do PPD/PSD e, depois, ninguém, ou poucos, fala alto».
Garantindo que não está a defender a demissão de Durão Barroso, admite, no entanto, que não acredita no seu partido com o actual líder: «Conheço-o há muitos anos e não esperava que as coisas corressem tão mal como correram», confessa, remetendo Barroso para o pretérito e assestando as suas baterias em Marcelo Rebelo de Sousa - a quem atribui intenções de voltar a candidatar-se à liderança do PSD e, por isso, não lhe poupa críticas.
Contra a frente «anti-santanista» Confessando-se estupefacto perante os rumores que referem a constituição de uma «frente-anti-santanista» destinada a evitar que ele chegue à presidência do partido - «Isto atinge as raias do ridículo!», comenta - Santana Lopes tranquiliza os seus adversários: «Quero dizer-lhes que não se preocupem, porque não vou fazer nada por isso». O seu plano, assegura, não tem nada de conspirativo: «A direcção do partido e o partido é que têm de promover, se quiserem, as medidas necessárias para mudar de vida. Se o fizerem, muito bem. Se entenderem que querem continuar com uma liderança do tipo da de Durão Barroso, eu discordo, mas respeito».
O primeiro passo, propõe, é um referendo interno sobre as eleições directas que o congresso de Viseu não aprovou: «Agora é o tempo certo para, com calma e serenidade, fazer o referendo sobre as directas», é o convite que endereça aos dirigentes do partido, garantindo-lhes: «Não faço campanha nem a favor nem contra, só quero saber se o partido quer ou não essas eleições directas, quer ou não mudar de vida, quer ou não deixar de funcionar em circuito fechado». O seu próprio destino, afiança, ficará de uma vez clarificado a partir daí: «Se o partido se começar a encaminhar no sentido das teses que defendo, terão de ser outros a escolher o novo caminho». Se assim não suceder, não hesitará: «Partirei à procura de uma alternativa por caminhos diferentes».
Um novo partido «é inevitável» O autarca da Figueira considera inadiável a reorganização do centro-direita e está convencido de que esse processo conduzirá inevitavelmente a um novo partido. Se será ele ou não a liderar essa nova formação política, é uma questão cuja resposta deixa nas mãos dos seus companheiros sociais-democratas. O eterno candidato à liderança do PSD explica em detalhe as razões que o levam a rejeitar liminarmente tal estatuto e afirma-se «saturado»: «O PPD/PSD tem de mudar de vida», exige, num tom definitivo que manteve ao longo das mais de três horas de conversa e que só abrandou por uma ou duas vezes ao admitir que a sua indisponibilidade para voltar a candidatar-se à liderança cederia a um sério apelo dos militantes do seu partido em que, todavia, diz não acreditar.
Impaciente, o presidente da Câmara da Figueira da Foz esclarece que «chegou o momento de fazer a reorganização do centro-direita em Portugal». No seu entender, é necessário «construir uma alternativa», dado que «o centro-direita está bloqueado, objectiva e subjectivamente. Objectivamente, porque não há nenhum ponto de convergência entre os vários partidos desse espaço. Subjectivamente, porque, com as lideranças do PPD/PSD e do CDS-PP, essa convergência não é possível». Tal reorganização, admite, acabará por dar um só efeito: «Estou convencido de que é inevitável um novo partido. Resta saber quem o vai fazer».
Recusando que as suas palavras sejam interpretadas como «uma heterodoxia lesa-pátria ou lesa-partido», desdramatiza: «Tudo na vida se renova - as células do organismo humano estão em renovação permanente. E, no centro-direita, chegou a hora de mudar».
Pronto para uma alternativa Reconhecendo que a política faz parte da sua vida, e que não saberia viver sem ela, recusa ficar de braços cruzados: «Sei que irei contribuir para a construção da alternativa ao PS. A questão está em saber se, de facto, será no meu partido ou não». Uma pergunta que quer ver respondida quanto antes: «Acho que é bom para o partido e para mim esclarecer isto». Por ele, não tem dúvidas: «Quero construir essa alternativa de centro-direita. Acredito que tenho condições para o fazer».
Uma alternativa que não significa necessariamente uma aliança com o CDS/PP para as legislativas - até porque, no seu entendimento, «se o PPD/PSD for pelo caminho que idealizo, pode ambicionar ganhar sozinho» -, mas que começa por vários acordos nas autárquicas que possibilitem uma mudança da realidade política. É aqui, sublinha, que «há uma necessidade de desbloquear caminhos que estão tapados», porque o que acontece hoje «é que o PPD/PSD e o CDS/PP são oposição um ao outro».
«Este relacionamento entre Durão e Portas é absolutamente inconcebível», condena, acrescentando que «um líder dum partido, por muitos problemas pessoais que tenha com outro, não pode dizer que nunca se sentará à mesa com ele, porque isso é bloquear soluções de futuro que podem ser necessárias». Uma relação diametralmente oposta à sua, que é fácil de perceber pelo que diz de Portas: «Não precisamos de conversar para nos entendermos ou desentendermos. Conhecemo-nos há muitos anos».