ABRUPTO

7.2.05


A LER

o blogue colectivo do Diário de Campanha da SIC.

Há várias razões pelas quais é interessante seguir o blogue dos jornalistas da SIC que cobrem a campanha, uma iniciativa pioneira em Portugal. Uma, é que no blogue há informação suplementar interessante (por exemplo, no comício do PSD, o facto de Santana Lopes não ouvir os que o precedem e o momento cénico da sua entrada, o retrato físico dos apoiantes transmontanos do PP, a descrição da debandada pós-comício para as camionetas e a banda que o sr. Presidente da Câmara arranjou para o PS); a outra é perceber o papel das opiniões dos jornalistas por detrás no seu relato dos eventos.

Os jornalistas, ao falarem na primeira pessoa, expõem-se assim mais humanamente, mas até que ponto isso condiciona a nossa interpretação que não testemunhamos os eventos e esperamos deles que nos informem? Por exemplo, já se percebeu que Ricardo Costa tem em alta consideração a campanha do PP (no que não é único). Mas será ele capaz de “ver” se ela é eficaz, será ele capaz de registar e relatar tudo aquilo que contraria a sua opinião, como se aferirão os relatos que nos faz com os resultados eleitorais, se estes forem contraditórios? Por exemplo, nenhum partido mais que o PP tem utilizado o governo para fazer campanha eleitoral, o que parece que ninguém vê com o mesmo "escândalo" fácil das tentativas bisonhas do PSD. Dualidade de critérios.

O meu receio não é tanto a opinião pessoal, que prezo e leio com atenção, é o bias que ela pode dar ao relato, assim como o papel de “cegueira” que tem uma teoria, ou uma ideia forte à partida, face ao que acontece depois. Recordo-me que, numa última campanha eleitoral, os comentadores do Público deram sempre mais notas negativas à campanha dos vencedores, e mais positivas à dos derrotados e, embora uma boa campanha não possa ser medida apenas pela sua eficácia, esse elemento tem que ser tido em conta.

Eu preferiria que os jornalistas não tivessem teses à partida, mas que todos os dias flutuassem a sua apreciação em função do que acontece. Eu sei que não é fácil, mas é isso que distingue um jornalista de um comentador, embora cada vez mais os jornalistas se comportem como comentadores. As campanhas eleitorais anteriores estão cheias disso – e não me refiro apenas às simpatias políticas, mas também às simpatias pessoais, às amizades, à empatia e ao conhecimento desigual dos assuntos e das terras, etc. - e, como não se faz nenhuma aferição a posteriori entre o relato (o reporting) e os eventos, e não há tradição de fact checking, depois esquece-se tudo.

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Não acho interessante o Diario de campanha da Sic. Tudo "velho". Basta ver a própria reportagem. Durante o comicio de Castelo Branco do PSD Anabela Neves, dá-se ao luxo de comentar o que se está ouvindo fazendo gracejos! Não é líquido dizer que Santana Lopes não ouve o que os seus antecedores dizeram. EStava certamente vendo e ouvindo a SIC. Tanto assim que durante o discurso se referiu ao que Ricardo Costa tinha acabado de dizer sobre os autocarros e sobre a interpretação que Ricardo Costa tinha dado. Ver a SIC, ler a VISÃO, ou ler o EXPRESSO é completamente igual. Não é necessário ir ler o blogue dos jornalistas da SIC. A unanimidade é tão grande que me pergunto: será que pensam? Ou como Sócrates decoram o discurso?
(Isabel Moreira)

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Algumas notas que me parecem pertinentes a propósito do seu texto sobre o blogue dos jornalistas da SIC:

1 - "O meu receio não é tanto a opinião pessoal, que prezo e leio com atenção, é o bias que ela pode dar ao relato, assim como o papel de “cegueira” que tem uma teoria, ou uma ideia forte à partida, face ao que acontece depois".
Creio perceber aqui alguma incongruência entre o que diz agora e o que disse já vezes sem fim - é aliás um dos seus rituais favoritos - sobre a transparência do jornalismo português. Será que uma acção destas (a criação do blog) não apresenta aos leitores/ouvintes/telespectadores uma imagem mais complexa e (eventualmente) mais próxima do real sobre a actividade? E será que isso não contribui, de forma significativa, para humanizar o exercício da profissão, com todas as limitações, pre-concepções e também vantagens e perspicácia-nascida-da-experiência que isso encerra? E será que não é por algo em torno destas linhas que o Sr. se tem batido de forma tão persistente nos últimos tempos?

2 - "Eu preferiria que os jornalistas não tivessem teses à partida, mas que todos os dias flutuassem a sua apreciação em função do que acontece".
O que JPP prefere não é disputável. Eu também preferiria políticos, médicos, juízes, militares, polícias, arquitectos, historiadores e até mesmo enólogos e cozinheiros que não as tivessem. Mas isso não se passa cá, no mundo real. É portanto, um argumento pouco honesto.

"Eu sei que não é fácil, mas é isso que distingue um jornalista de um comentador" - nem isto é verdade nem a anexação de uma falácia a outra dignificam o texto final. JPP tem - desculpe-me a franqueza - muitas ideias feitas sobre o jornalismo e não se terá ainda concedido o espaço necessário para o encarar (pelo menos) com o distanciamento que para ele deseja. Precisará de ler mais, de ouvir com mais atenção e de conceber a possibilidade do engano (seja por exagero fruto de desconhecimento, como acontece no mais das vezes, seja mesmo por deliberada malícia). O jornalista é - até efectivação das ideias mais vanguardistas de Dan Gillmor - um profissional que apresenta aos seus leitores/ouvintes/telespectadores uma visão dos factos que testemunhou. Sobre mim, leitor/ouvinte/telespectador, tem a vantagem de algumas competências acrescidas, de um código deontológico rigoroso e da experiência em situações semelhantes. É por isso que confio no seu trabalho. Além disso, o jornalista tem a noção clara de que tudo o que faz é e pode ser permanentemente escrutinado. Este é, como muitos outros, um terreno de confiança simultaneamente em causa e partilhada.

3 - Há simpatias pessoais. Haverá, certamente. Que sejam denunciadas por quem não se revê nelas e que sejam apontadas as infracções. Se o processo for honesto, acredito que sai beneficiado o jornalismo e a tal relação de confiança com quem justifica a sua existência. Não se tente, porém, simplificar o que não é. Não se caia no erro de pensar que o jornalismo deve ser apenas recurso tecnológico facilitador do fluxo de informação. Que ele seja muitas vozes, de sinal contrário, sempre e cada vez mais. É sinal de pluralidade e de interesse acrescido no que é comum.

4 - Não conheço pessoalmente nenhum dos jornalistas da SIC envolvidos na cobertura desta campanha eleitoral.
(luis antónio santos)

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© José Pacheco Pereira
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