ABRUPTO

28.2.05


AR PURO


Constable

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A INDÚSTRIA DO COMENTÁRIO

1. Há hoje uma indústria de falar / escrever sob a forma de comentário que faz parte das novas tecnologias e é, meus caros amigos e inimigos, uma “indústria de ponta”. É como essa outra tecnologia dos nossos dias a produção do humor, outra “indústria de ponta”, florescente em tempos deprimidos como os nossos. Como acontece numa sociedade industrial moderna, há fluxos entre os diferentes sectores de produção: da política tradicional para o comentário, da publicidade tradicional para o humor como publicidade, das artes do espectáculo para a política, da televisão para a indústria “cor-de-rosa” (outra indústria “de ponta”), da escrita bloguística para a escrita dos jornais. Em todos estes casos há também um vice-versa.

2. Eu faço parte da indústria de falar. Não só, mas também. Pertenço portanto a uma economia assente num mercado aberto onde os bens são escassos. Logo, na minha indústria, a competitividade é feroz e ainda bem. É o que ainda a faz de “ponta”, com todas as felizes ambiguidades do termo. A indústria agrega académicos, empresários, políticos no activo (os que esperam ir a votos no quadro de legítimas ambições) e interessados pela política, jornalistas, escritores, advogados, professores num estatuto de igualdade. Alguns académicos pensam que quando opinam têm regras diferentes dos empresários, mas enganam-se. Na indústria do comentário tudo se mede pela qualidade da opinião, que é obviamente reforçada pelas competências a montante e a jusante, mas não é por elas legitimada. O mesmo tipo de ilusões existe nos políticos e nos jornalistas, mas opinião mede-se contra opinião.

3. Sendo uma indústria altamente competitiva, ainda tem vindo a tornar-se mais “selva” com o alargamento do espaço público com os blogues, que democratiza o acesso ao mercado e acentua ainda mais a competitividade. No mercado ela assenta na qualidade do falar que se mede por dois parâmetros: a audiência e a influência, que podem não ser coincidentes. Há produtos com audiência que não têm influência e vice-versa. É interessante analisar a mesma divergência na blogosfera, onde ela pode ser comparada pela diferença entre os índices de leitura e as citações.

4. Os ludditas querem manter uma closed shop para o comentário (quotas, “contraditório”, elocução apenas partidária, vozes oficiosas, lógica institucional) e reflectem no fundo a sua perda de mercado de audiência e de influência. Há ludditas no jornalismo, nas universidades, nos partidos políticos, nos empresários. Têm a nostalgia de um mundo ordenado, de que eles são ou os produtores da ordem ou os polícias da desordem. Divulgam a ideia que a indústria do comentário produz perversões, subversões e perturbações, em suma, inutilidades perigosas que nenhuma falta fazem. É falso: a indústria do comentário produz controvérsia, racionalidade, e às vezes, imaginação e um olhar fresco. Não é tudo, nem pretende ser tudo, nem se substitui a outras indústrias e actividades cívicas, mas é uma parte indissociável do espaço público da democracia, que sem “opinião” respiraria com dificuldade.

(Continua)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CONTA, PESO E MEDIDA

Conta, Peso e Medida: a ordem matemática e a descrição física do mundo é uma exposição de obras antigas (dos séculos XV e XVI) sobre temas de ciências físico-matemáticas e disciplinas afins que inaugura a 2 de Dezembro de 2004, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, e estará patente ao público até final de Fevereiro de 2005. Com a realização desta exposição a Biblioteca Nacional associa-se às comemorações de 2005, Ano Internacional da Física. “

Fui ver esta exposição à Biblioteca Nacional. Sábado, fim da manhã. A porta principal da BN está toda fechada com um papel branco a indicar a entrada por uma das portinholas laterais. Decifrada primeira parte do labirinto, entramos. À frente vários obstáculos (mesas, vasos e depois umas barreiras “tipo metropolitano”), ao fundo à esquerda um balcão onde, muito a custo e depois de inúmeras perguntas para percebermos como é que funciona, se é ali, se paga ou não, como é que se entra (todas respondidas com enigmáticos monossílabos), nos é aberta a passagem. Avançamos felizes, chamam-me para me dizerem que tenho que entrar num compartimento ao lado e deixar a minha mala num cacifo onde tenho que introduzir uma moeda de 1 Euro - no fim devolvemos - para fechar o cacifo e guardar a chave.

Concluída a operação, partimos à procura da exposição. Novo chamamento: - Tem que ir pelo elevador que é aqui. O espaço é claustrofóbico e pouco convidativo. As crianças têm que se esticar para ver os livros não conseguem ver e … a livraria, aos Sábados está fechada, por isso não pudemos comprar o catálogo da exposição. Aproveitamos para ver a secção de periódicos mas “os meninos não podem entrar”.
- Nem mesmo se não fizermos barulho e não mexermos em nada? Nope! (A outra sala de periódicos, a de acesso livre… está fechada aos Sábados.)

Dizer mal é fácil, bem sei. E é melhor haver esta exposição do que não haver nenhuma. É melhor haver Biblioteca Nacional do que não haver. E a exposição é obviamente interessante, embora eu não conheça ninguém que lá tenha ido. (Ou, se calhar foram mas ainda andam perdidos pelos corredores vazios e bafientos à procura dela.)

Havia um grupo a visitar a exposição guiado por um responsável, penso que da BN. No fim discutiu-se a nossa falta de interesse pelas “artes” de contar, pesar e medir, pelas ciências em geral. Que exposições como esta, para além do gosto pelos livros, podem ajudar a ultrapassar. Isto depois de ultrapassarmos teimosamente todos os obstáculos que a própria Biblioteca Nacional coloca ao nosso interesse pela exposição. É estranho … tanto trabalho para a organizar e depois parece que não querem que lá vamos.
Como sou teimosa, hoje vou lá comprar o catálogo da exposição. (Ah, e a exposição foi prolongada até 5 de Março.)

(R.M.)


*
Congratulando-nos com o relevo dado à exposição Conta Peso e Medida, que tem estado patente na Biblioteca Nacional, e ao respectivo catálogo, permitimo-nos fazer alguns esclarecimentos. Assim:

1 – O guia das várias visitas organizadas que se realizaram foi o Prof. Henrique Leitão, da Faculdade de Ciências de Lisboa, que foi o coordenador científico da exposição e do catálogo.

2 – As crianças não podem entrar na sala de leitura de periódicos, ou em qualquer outra das salas de leitura da Biblioteca, pela simples razão de que tal não é compatível com o interesse dos investigadores que lá se encontram a trabalhar.

3 – O espaço para exposições, não sendo «claustrofóbico», está pensado especificamente para mostras de livros e documentos, muitas vezes raros, o que implica obediência a normas universais em matéria de preservação.

4 – À semelhança do que acontece em bibliotecas congéneres de todo o mundo e em instituições que têm à sua guarda bens patrimoniais, o acesso à Biblioteca Nacional é expressamente condicionado.

5 – A entrada na Biblioteca faz-se por um dos módulos da porta principal, a fim de se resguardar o átrio de entrada, sobretudo durante o Inverno, e não por uma qualquer «portinhola» lateral, que, de resto, não existe, como qualquer visitante poderá confirmar.

Ressalvados estes aspectos, que fazem, afinal, a diferença entre uma biblioteca nacional e uma biblioteca pública ou uma ludoteca, todas as críticas são bem vindas e todos os visitantes, por maioria de razão, bem acolhidos.
(Biblioteca Nacional - Área de Relações Públicas)

*
Embora trabalhe no âmbito dos museus percebo perfeitamente o ponto de vista do senhor R.M. e surpreende-me deveras a resposta da Área de Relações Públicas da Biblioteca Nacional. Seguramente não estão a desempenhar correctamente a Vossa tarefa porque senão:
Teriam a entrada devidamente sinalizada;
Teriam um balcão/bilheteira específico;
Teriam uma sala de exposições temporárias junto à entrada permitindo que o público da exposição não necessitasse de subir os vários pisos da biblioteca (ou circular por outras áreas dela) para chegar à exposição (julgo que a sala da Área de Relações Públicas poderia ser uma excelente escolha, não teve já essa fungão?);
Teriam um local de venda de catálogos integrado na zona da exposição.
Como nada disso existe, fica a sensação de que a Biblioteca Nacional andou a gastar dinheiro dos contribuintes para organizar uma exposição que só serve para distrair os investigadores residentes, nos períodos em que esperam pelos livros mas, nesse caso, não seria mais simples prescindirem de publicitar a iniciativa? De qualquer modo, por favor, não tratem de forma sobranceira quem ainda não tinha tido oportunidade de ir à Vossa instituição, afinal não é ela de nós todos?
(P.B.)

*
Neste Sábado 26/Fev. à tarde, ao sair da exposição referida considerei enviar-lhe umas notas sobre a experiência. A motivação para a escrita seria unicamente o conteúdo em si da exposição e não as contingências do acesso a ela. O impulso para a nota a enviar provinha nessa tarde da emoção vivida na exposição, sobre a qual, com pena, não tinha visto qualquer referência até essa data. Vi que a exposição foi referida, embora o foco de atenção se tenha desviado para um aspecto, importante, mas que no meu caso foi suplantado pelo prazer da visita.

Para quem cresceu a ler divulgação científica (obrigado a Guilherme Valente da Gradiva), a exposição emociona. Mas não só. Ela lança-nos mais informações pela simples observação dos livros. A informação surge nas formas; nas datas de edição; nos detalhes e no esforço das ilustrações técnicas; nas línguas das escritas (Grego, Latim, Castelhano, Italiano - antes de Sábado julgava, erradamente, que Galileu teria sido muito revolucionário na escolha da língua; vi que uns 50 anos antes do "Saggiatore" e dos "Diálogos" já vários faziam a divulgação científica na língua das massas), nas formas das edições (impressionaram-me os pequenos volumes para estudantes universitários quinhentistas). Em suma, a beleza e a utilidade unidas, geradas pelo interesse de alguns e pela necessidade prática de muitos (destaca a construção civil, militar, e a navegação).

O próprio destaque dado na organização do espaço faz crer que o mais apelativo sejam os vários exemplares com as primeiras edições dos livros (leia-se capítulos, hoje) do "Elementos" de Euclides (abertos em figuras do teorema de Pitágoras, nessa altura já a caminho dos 2 milénios) ou o "Almagesto" de Ptolomeu, ou, uma 2ª edição do "De Revolutionibus" de Copérnico, aberto na figura heliocêntrica. Porém, para mim, o que mais funciona é o conjunto e as surpresas. Quando me dirigi para lá pensava que a exposição abarcaria o séc. XVII, ou seja esperava ver alguns "Galileus" ou um "Principia". A exposição foca contudo o séc. XV e, majoritária e necessariamente, os quinhentistas. O que para mim ficou foi a sensação de como os autores dos livros sentiam a necessidade pulsão de os fazer publicar. Na medida da época é certo, mas sente-se a urgência e o desejo da divulgação, na sucessão de datas de publicação, como se a rajada estivesse contida há muito. Havia quase tudo por fazer. Como sempre. Foi bom ver as primeiras edições impressas dum funesto Boécio (muito lembrado por si), de Arquimedes (também assassinado, mas com morte menos brutal - apenas uma espada romana) mas também de Vitelio ou Tartaglia, nomes menos famosos que têm o seu lugar na memória de quem gosta da chamada cultura científica.

O que a leitora relatou é poder-se-ia imaginar fácil de ocorrer, bastando para tal que o segurança do momento fosse do tal tipo monossilábico, uma vez que não vi nada escrito. Tem de se perguntar tudo. Na entrada fica a sensação de se estar a tentar fazer "algo de esquisito". Também eu fui nesse Sábado, mas de tarde. Fui na última hora da exposição, antes de encerrar. Também eu me atrapalhei na porta principal de vidro e no percurso que ela impõe. Logo após a porta de vidro, o que surpreendeu foi a falta de indicações. "Seria aqui mesmo?", dúvida instantânea. Tinha pouco tempo para a hora de fecho, sabia, portanto indiquei sem delongas a um senhor solitário duma empresa de segurança se ainda poderia visitar a tal exposição. Foi simpático, indicando o pouco tempo que faltava. Vi uma série de controlos de acesso do tipo de entrada de supermercados (a imagem de metropolitano também serve, embora não do de Lisboa) mas afinal seria mais simples: o senhor carregou num botão e um acesso lateral abriu-se. "-Entre nesse elevador e prima o 2.", ainda ouvi. Rapidamente estava na exposição. O estranho era o vazio de pessoas. Uma exposição sem ninguém. A 20 minutos do suposto fim, mais duas pessoas surgiram. Vi a exposição até lá surgir em cima o mesmo segurança, novamente simpático, indicando-me que tinha de fechar, já eram 17h. Mas deu-me a boa novidade: "-Olhe que a Direcção decidiu prolongar mais uma semana a exposição". Retirei a última brochura da exposição, folheei o livro de comentários de outros visitantes (li quem notasse o mesmo vazio de gente noutros dias) e desci, agora pelas escadas, tendo desta vez uma menina da segurança a carregar no botão que abriu a portinhola de alumínio. "Perdi-me" novamente na porta-labirinto da saída. Fiz muito bem em ter ido e no fim precisava de mais tempo para ver tudo melhor. Fiquei feliz com o prolongamento da exposição e irei lá voltar durante esta semana. Espero poder comprar um catálogo.

Muito obrigado à organização por terem elaborado esta exposição, mas as notas do leitor P.B. têm sentido. O acesso é invulgar para uma exposição aberta a todo o público. Soube da exposição numa notícia de jornal fui ver mais no site na página da BN. Não esperava ter me sentir um pouco à entrada como um estranho que quer entrar em casa alheia. O que os visitantes sentem não é o excesso de vigilância (eu achei que ela é de menos). É certo que em tanto lado da Europa e EUA até pelo detector de metais passamos, contentes. Mas há gente, rebuliço, setas, sorrisos.
Tal como a leitora R.M., também eu não conheço mais ninguém que lá tenha ido. Como é que a Gradiva subsiste por cá, é que algo que desde criança me pergunto.
(Francisco Monteiro)

*
Não pude nem poderei ver a exposição, mas o que me chamou a atenção no post de RM e na resposta da Bilblioteca Nacional foi a extraordinária presença e força do Abrupto. Presumo, pela maneira como estão redigidos, que os comentários de RM apenas tenham sido enviados para o Abrupto, e não, por exemplo, como um mail para a BN, com cópia para o Abruto. Acho fantástico que quase imediatamente surja uma resposta - boa ou má, neste caso é irrelevante - das Relações Públicas da BN. Isto confirma, se confirmações fossem precisas, que o Abrupto tem realmente uma presença enorme na comunicação. Essa presença implica, por um lado, que os comentários chegam aos "destinatários" e, por outro, que os "destinatários" se vêm obrigados a reagir. Claro que a função do Abrupto não é ser o "muro das lamentações" da sociedade portuguesa, mas tenho razões para desconfiar que se RM se tivesse limitado a enviar um mail ou uma carta à BN com as críticas que suscitou no Abrupto, ficaria talvez sem resposta. Na Suécia esta função é preenchida pelos jornais diários "sérios" têm uma a duas páginas de correio de leitores, onde se publicam cartas, ou excertos, sobre os mais variados assuntos. Umas vezes geram-se debates sobre determinadas questões, outras vezes apresentam-se críticas e, mais raramente, louvores. O certo é que quando se criticam empresas, instituições, serviços públicos, por exemplo, os visados são praticamente "obrigados" a reagir, e muitas vezes a alterar o seu comportamento. É uma arma fabulosa!
(Madalena Ferreira Åhman)

*
Em 12-01-2005 fui á Torre do Tombo ver a Bíblia dos Jerónimos e depois descai e fui ver as exposições que estavam presentes na B.N. Não senti as dificuldades que referiu e fico surpreendido como encarou as medidas de segurança,imperiosas num tipo de instituição que alberga um património valioso e insubstituível,que é de todos nós,e que são assumidas em todas as congéneres,espalhadas pelo Mundo. O único pequeno senão foi os 30 m.que tive de esperar para ver a ex. sobre Portugal e o Oriente,por na altura o Prof.H.J.Saraiva estar a gravar o programa,que dias depois passou na "2". Efectivamente,ás vezes dizer mal é fácil!

PS. Durante os 90 m.de presença na B.N.,fui o único visitante das exposições,mas já estou habituado,pois há quatro ou cinco anos,quando visitei o Museu da Electricidade,percorri-o absolutamente sozinho,ao longo de 3h.

(A.L.B.Barrinhas)

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A LER

Tarde e Mal de Fátima Bonifácio no Público, para quem ainda anda em jogos de desculpabilização e não quer admitir, perceber, compreender, aquilo que de uma vez por todas, de forma claríssima, os portugueses "disseram" numas das eleições mais transparentes na sua interpretação desde o 25 de Abril.

"Chickening Out- Fear and loathing in the academy: Ward Churchill faces the dilemma of the holy whore" por Curtis White no Village Voice.

"Ce mot de "Shoah", par Claude Lanzmann" no Le Monde.

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EARLY MORNING BLOGS 440

Señales del fin del mundo - Primera señal: pierde el gusto.


En cuanto manjares de grande sabor
se mantiene el mundo de necesidad;
el uno es justicia, el otro verdad,
el otro es la fe, el otro el temor.

Y pues perdió el gusto de este su dulzor,
y a tales manjares cobró tal fastío,
ya os juro, señores, neste hábito mío,
que nunca jamás sane su dolor.

¡Oh mundo, señal es de tu perdimiento
perdieres el gusto de tantas dulzuras!
¡Oh evangelios, santas scrituras,
cómo os hacen molinos de viento!

Acudí al mundo, que está en pasamiento,
no puede vivir, ya no gusta nada.

(Gil Vicente)

*

Bom dia!

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BIBLIOFILIA: URBS TEMPLUM

Os livros escolares antigos podem ser enganadores porque estão muitas vezes associados a realidades pedagógicas que eles ocultam mais do que revelam. Têm também uma carga de nostalgia identicamente enganadora: os tempos antigos nunca podem ter sido melhores do que os de hoje. Em geral, em regra.

Mas depois suscitam um mal-estar evidente. Os estudantes aprendiam mesmo aquilo? Ou parte daquilo? Ou dez por cento daquilo? Porque se aprendiam sabiam infinitamente mais do que sabem hoje. (Exagero? Talvez não. O problema existe mesmo). Veja-se esta Res Romanae, o livro de latim “para a terceira classe” do antigo “secundário”, datado de 1923. Livro único, “oficialmente aprovado” e escrito por Xavier Rodrigues, professor do Pedro Nunes. Não é apenas um livro de latim, contendo uma gramática, exercícios e textos, mas um “livro-método”, com um longo prefácio metodológico. No seu conjunto, é de facto uma introdução à “res romanae”, à história, religião, organização social, instituições, cultura e literatura dos romanos. Muito para além do que hoje aprendemos sobre Portugal, quanto mais sobre a Roma antiga.

(No livro um desenho do Senado, com a frase: "Urbs templum, inquit Cineas, Senatus concilium regum mihi esse videbatur")

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: WAKING LIFE

Devido aos tempos que correm aconselho vivamente a visualização do filme "Waking Life" de Richard Linklater, do qual apresento um dos diálogos (ou monólogos) do filme:

(Main character walking down the street with a man who is holding a can of gasoline).

Self-destructive man feels completely alienated, utterly alone. He's an outsider to the human community. He thinks to himself, "I must be insane." What he fails to realize is that society has, just as he does, a vested interest in considerable losses, in catastrophes. These wars, famines, floods and quakes meet well defined needs. Man wants chaos. In fact, he's got to have it. Depressions, strife, riots, murder, all this dread. We're irresistibly drawn to that almost orgiastic state created out of death and destruction. It's in all of us. We revel in it. Sure, the media tries to put a sad face on these things, painting them up as great human tragedies, but we all know the function of the media has never been to eliminate the evils of the world. No! Their job is to persuade us to accept those evils and get used to living with them. The powers that be want us to be passive observers. You got a match? And they haven't given us any other options outside the occasional purely symbolic participatory act of voting. You want the puppet on the right or the puppet on the left? I feel the time has come to project my own inadequacies and dissatisfactions into the socio-political and scientific schemes. Let my own lack of a voice be heard.

(He pours gasoline all over himself and lights himself on fire.)


("WAKING LIFE," Written and Directed by Richard Linklater)

(Paulo Raimundo)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAIS A APRENDER DO QUE A ENSINAR

A noticia de que António Guterres vai a Bagdad dar uma aula de democracia trás à memória a sua frase vácua de que "é preciso dar uma oportunidade à paz". Por essa altura o seu contributo na guerra contra o terrorismo (um contributo apoiado na descrença quanto a uma democratização do médio oriente). Por sua vez, a esta altura, os Iraquianos já aprenderam que antes de mais nada a democracia se constroi com coragem e persistência. Bem vistas as coisas Guterres tem mais a aprender do que a ensinar.

(João Santos Lima)

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27.2.05


AR PURO


Constable

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EARLY MORNING BLOGS 439

About Face


Because life's too short to blush,
I keep my blood tucked in.
I won't be mortified
by what I drive or the flaccid
vivacity of my last dinner party.
I take my cue from statues posing only
in their shoulder pads of snow: all January
you can see them working on their granite tans.

That I woke at an ungainly hour,
stripped of the merchandise that clothed me,
distilled to pure suchness,
means not enough to anyone for me
to confess. I do not suffer
from the excess of taste
that spells embarrassment:
mothers who find their kids unseemly
in their condom earrings,
girls cringing to think
they could be frumpish as their mothers.
Though the late nonerotic Elvis
in his studded gut of jumpsuit
made everybody squeamish, I admit.
Rule one: the King must not elicit pity.

Was the audience afraid of being tainted
--this might rub off on me--
or were they--surrendering--
what a femme word--feeling
solicitous--glimpsing their fragility
in his reversible purples
and unwholesome goldish chains?

At least embarrassment is not an imitation.
It's intimacy for beginners,
the orgasm no one cares to fake.
I almost admire it. I almost wrote despise.


(Alice Fulton)

*

Bom dia!

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26.2.05


BIBLIOFILIA: QUANDO HAVIA AGRICULTURA...







... faziam-se livros destes: António Luís de Seabra, A Oliveira. Projectos para a sua Cultura Racional. O livro é um pequeno tratado sobre olivicultura publicado em 1935. Duvido que houvesse muitos agricultores com esta capacidade de fazer uma cultura "racional", mas o esforço vinha em conjunto com a publicidade. O livro era uma iniciativa publicitária da CUF e da Imperial Chemical Industries (ICI), uma multinacional dos adubos, ambas grandes investidoras neste tipo de folhetos. Mas a capa denota a irrealidade, com aquelas camponesas vestidas como num rancho folclórico, quase a dançar no trabalho, sem qualquer sinal de esforço físico, como se os seus aventais chegassem para receber as azeitonas. Este mundo irreal é acentuado na contracapa onde um par parece namorar à volta de um cesto de azeitonas. Como se era feliz na agricultura!

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OUVINDO


Brendel, Schubert, Impromptus.

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BIBLIOFILIA: O D'ANNUNZIO DAS DACTILOGRAFAS E DAS MANICURAS


Livros encontrados nuns restos que nunca foram arrumados, vindos de uma casa hoje quase em ruínas. Livros mais que comuns, vulgares, daqueles que se podem comprar por um euro nos alfarrabistas, também aí em fundos dos fundos, que ninguém quer. Mas, para mim, livros e tempo são a mesma coisa, tempo que demora a lê-los e tempo que eles transportam. E quando se abre a porta a esse tempo, ela nunca se fecha.

Veja-se o romance de Guido da Verona, A Que Não se Deve Amar, tradução de António Ferro de Colei che non si deve amare, escrito em 1911. A capa veneziana interessou-me , mas pensei em mais um dos romances cor-de-rosa que eram populares nos anos entre as duas guerras. A edição portuguesa da Empresa Literária Fluminense é de 1928. Foi a capa que me chamou a atenção, com o seu tom fitzgeraldiano, a dama desequilibrada junto de um cavalheiro mais alto, e, nesse desequilíbrio, colando-se a ele numa forma que, à época, seria certamente “desavergonhada”. O vestido e as transparências acentuam todo um movimento erótico. Era literatura para homens ou para mulheres? Não li o livro, não sei, embora suspeite que como a cara do cavalheiro está da mesma cor da senhora, deve ser “a que não se deve amar” que faz perder a cabeça ao cavalheiro, logo é literatura para senhoras. Digo eu, com certezas a mais. Um resumo do romance diz que é uma história de ascensão social – excelente matéria cor-de-rosa – ele jogador e ela “mantenuta per lei”.

Quem seria este Guido da Verona para além de ser de Verona, e ter ar de pseudónimo? Nem uma coisa nem outra. Era de Modena, mais propriamente de Saliceto Panaro, onde nasceu em 1881 e não era pseudónimo. O mais interessante é que era futurista, dandy, jogador (autor de um tratado de jogar á roleta Il trattato delle possibilità impossibili con l'arte di vincere al gioco), e imensamente popular. Classificado como autor de "romanzatura da coltre e da conforto intimo", ou, noutra notável classificação, de «D'Annunzio delle dattilografe e delle manicure», o seu livro mais popular tem também um título que diz tudo Mimì Bluette, fiore del mio giardino. Valeu-lhe de pouco a fama e a popularidade, porque Guido da Verona teve uma vida agitada e, no fim, trágica, passando de amigo dos fascistas a perseguido por eles. Morreu (assassinado? suicida?) esquecido em 1939.

Estão a ver como funciona o tempo? Já estou no meu momento Pitigrilli, outro célebre esquecido. Sic transit...

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COISAS SIMPLES


Bonnard

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EARLY MORNING BLOGS 438

Aos amigos


Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.

- Temos um talento doloroso e obscuro.
construi­mos um lugar de silêncio.
De paixão.


(Herberto Helder)

*

Bom dia!

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25.2.05


SCRITTI VENETI

Quando as criadas se chamavam Colombina e Corallina, e os criados Tiritofolo, se escrevia para o Carnaval de 1751 - ah! o mundo a fermentar para a grande revolução ...– e se começava assim, staccato, ligeiro e rápido, com Rosaura “vestita pomposamente, a sedere ad un tavolino collo specchio in mano”,

COL. Eccomi, signora.
ROS. Guarda, Colombina, questa scuffia mi sta male, non è egli vero?
COL. Mi par che stia bene.
ROS. Oibò, non mi posso vedere.
COL. E pure è quella che vi piaceva tanto. Ieri diceste che non avete mai avuto una scuffia meglio fatta.
ROS. Ieri mi pareva che andasse bene, e oggi no.
COL. Compatitemi, signora padrona, siete un poco volubile.
ROS. Impertinente, così parli di me?
COL. Via, compatitemi, l'ho detto senza intenzione di offendervi.
ROS. Va via di qua.
COL. Non credeva che l'aveste per male. So che mi volete bene, e che da me soffrite qualche barzelletta.
ROS. Non voglio barzellette. Corallina, dove sei? (chiama)
COL. Come, signora, chiamerete la sottocameriera? Farete a me questo torto?
ROS. Mi voglio far servire da chi voglio io, e tu va via di qui.
COL. Vi aveva da dire una cosa per parte del signor Lelio.
ROS. Non voglio sentir parlare di Lelio.
COL. Mi diceste pure ieri, che lo salutassi per parte vostra.
ROS. So che è stato in casa della signora Eleonora, non lo voglio più per nulla.
COL. La signora Eleonora è pur vostra amica.
ROS. Sì, sì, è mia amica! Se verrà da me, ci avrà poco gusto.
COL. Ma, cara signora padrona, io vi voglio bene e vi parlo per vostro bene. Ieri avete fatto tante finezze alla signora Eleonora, avete dette tante belle parole al signor Lelio, e oggi non lo volete sentir nominare. Che concetto volete che si faccia di voi?
ROS. Va via di qua.
COL. Sì, sì, vado. (Vi vuol pazienza, e bisogna compatire il temperamento). (da sé, e parte)


só pode ser Goldoni, La Donna Volubile, e só se pode estar em Veneza.

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NATUREZA MORTA DE PRÍNCIPIO DE TARDE

Da direita para a esquerda: um número das Faces de Eva, quatro comandos (de televisão, DVD, cabo por satélite, e um que devia resumir os outros todos, comprado numa loja chinesa e que, por incompetência, se recusa a cumprir a função), uma agenda de 1959, das Caves Aliança, cheia de papéis dentro. Dentro: uma carta antiga da Juventude Musical Portuguesa, um desenho que ficará para outras naturezas. um folheto de W. Ribeiro da Silva, New York, Andorra e Rio de Janeiro, Comédia Satírica e Quase Realista em três actos. Andorra? Pormenores das personagens, incluindo uma "quite a dish" e um "moralista" com dois cursos superiores:



Uma mão, uma pilha de zips, uma lupa, um lápis do Sofitel, uma reprodução de Warhol, Dance Diagram-Tango, um pedaço de lava, um ecrã, dois olhos, um radiómetro quase parado, uma SonicTape para medir as distâncias, uma estação meteorológica – dezanove graus aqui, dezasseis lá trás, doze lá fora - , um telhado, um gato preto no telhado ao sol, azul do céu sem nuvens, tempo, uma ampulheta invisível, um dado, um pedaço de lava, um azulejo, água, duas canetas, uma mão, um rato, um telefone desligado, um ruído longe, nenhum ruído perto, ar, um Schubert por Brendel. Impromptus. Impromptus.

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BIBLIOFILIA: MICRO-ACTOS MACRO-DIGNIDADE

José Pereira Tavares, Exame de Consciência, Aveiro, Labor, 1999

Este livro, que ninguém quis, quando saiu, distribuir pelas livrarias, e permanece esquecido, é um exemplo notável de como ignoramos e , ao ignorar desprezamos, o melhor que temos. Trata-se das humildes memórias de um professor do Liceu, quando Liceu se escrevia com letra grande e era o local de elite do ensino secundário, onde uma elite de professores ensinava uma elite de alunos, escolhidos obviamente pela sua condição social, que permite um retrato de um tempo que nunca mais voltará. Em muitos aspectos ainda bem. O que convinha era não deitar o menino com a água do banho, ou seja a qualidade do ensino com a sua democratização. Para perceber o que se passou, o estudo do “mundo” dos professores do Liceu, quando esta era uma profissão altamente prestigiada devia ser obrigatório para os professores de hoje. Este livro mostra o mundo cultural, pedagógico e cívico de um típico professor do Liceu, José Pereira Tavares, reitor do Liceu de Aveiro, que vai dos anos vinte até à década de sessenta nas suas recordações. Depois percebe-se a diferença. Pura arqueologia.

Mas há mais. José Pereira Tavares era um republicano conservador, o último homem a que se podia chamar um subversivo, detendo aliás um lugar de reitor que implicava um módico de confiança política do regime salazarista. Mas os homens são como são, e este tinha a dignidade simples e intacta. Nestas memórias conta um episódio de 1951, um ano de grande radicalismo da ditadura, no princípio da guerra-fria. Eis como este pequeno acto, quase anónimo, – tudo isto se passa convém lembrar para os dias de hoje, sem ninguém saber - , nos mostra a respiração da dignidade.
" Ora em 13 de Janeiro de 1951, recebi eu, como entidade oficial, um "Manifesto" da Comissão Executiva da União Nacional, acompanhado da seguinte circular da Comissão Distrital de Aveiro:

"Junto se remetem a V. Exa alguns exemplares do "Manifesto" elaborado pela Comissão Executiva da U. Nacional, agradecendo o favor de lhe dar a maior difusão possível entre o pessoal que se encontra sobre (sic) as ordens de V. Ex. Esta Comissão Distrital muito grata ficaria se se dignasse enviar-lhe uma lista "com indicação do nome, ano de nascimento, profissão e morada" dos indivíduos que desejarem inscrever-se na U.N., para em seguida enviar a V. Exa os respectivos boletins de inscrição. Etc, etc. - Gaspar Ferreira, Francisco José Matias, Arménio Martins".

Na "Lista de inscrição" lia-se o seguinte: "Os cidadãos abaixo assinados declaram por sua honra, sem que a isso hajam sido coagidos, que apoiam leal e desinteressadamente a situação criada pelo 28 de Maio de 1926, concordando com as ideias e intuitos com que se organizou esse movimento e com a orientação indicada pelo Governo no manifesto à Nação publicado no primeiro aniversàrio do mesmo. Mais declaram que, quaisquer que tenham sido os seus ideais políticos, os põem de parte, olhando apenas ao progresso e engrandecimento da Pátria, que exige, neste momento critico da nossa História, a união e o esforço desinteressado e leal de todos os seus filhos, para o que oferecem o seu apoio e colaboração".

Os professores do Liceu ficaram alarmados, supondo que era obrigatória a sua filiação. Acalmei-os e prometi indagar dos propósitos dos indivíduos que subscreviam a circular. No dia 18 de Janeiro, escrevi ao Cor. Gaspar Ferreira, nos seguintes termos:

"Exmo Sr. Cor. Gaspar Ferreira, meu mt. prezado Amigo:

Recebi a circular da Comissão Distrital da U. Nacional de Aveiro, convidando-me a enviar a lista dos meus subordinados que desejem nela inscrever-se.

Respondendo par mim, venho pedir a V. Exa se digne informar-me sobre se, não me inscrevendo, seriam postos em dúvida o meu nacionalismo e o meu patriotismo.

Sabe V. Ex. mt. bem os motivos por que me recusei a ingressar na U.N., quando ela, sendo V. Exa Governador Civil, foi criada; e também não ignora que esses motivos ainda subsistem. A minha posição de cidadão português sem partido não obstou a que, sem eu o desejar, me convidasse pessoalmente, em Outubro de 1940,0 Sr. Ministro da Educação Nacional (Dr. Mário de Figueiredo) para de novo assumir o cargo de reitor do Liceu, que é lugar em que só são investidos indivíduos da confiança do Governo. Venho desempenhando essas funções há dez anos completos, sinal de que se reconhece que à frente do Liceu está um português incapaz de trair a sua Pátria, ou de insuflar no espírito da Mocidade, cuja educação cívica superiormente dirige, sentimentos que não sejam de puro nacionalismo.

No Manifesto, apela-se para o meu patriotismo. Ora a mim repugna-me ter de o afirmar com a inscrição num partido em que Monárquicos e Integralistas, em vez de se limitarem a colaboração com o Governo, aproveitam a ensejo para fazerem propaganda das suas ideias politicas, a sombra de instituições cuja existência não está em causa.

Desejaria, portanto, continuar a ser português tal qual o tenho sido sempre, isto é, sem subordinação a qualquer partido. Nem por isso deixarei de aplaudir abertamente, como sempre tenho feito, tudo quanto de bom ou de óptimo os Governos de Salazar façam e nem por isso deixarei de continuar a orgulhar-me da minha qualidade de português e de patriota.

Se porém, a minha escusa em inscrever-me na U.N. pudesse ser interpretada par alguém com a confissão tácita de que não sou nacionalista, inscrever-me-ia; mas a U.N. nada lucraria com isso, visto que a minha inscrição equivaleria somente a uma declaração anticomunista, como as que, por mais de uma vez, por força de leis do meu País, tive de fazer, como funcionário público, perante o Governo".

Como o portador da carta não tivesse encontrado o Cor. Gaspar Ferreira, no dia seguinte lha li, para que me esclarecesse.

A resposta foi a de que a filiação dos funcionários na U. Nacional não era obrigatória e pediu-nos considerasse a circular como não recebida.

Ficaram satisfeitíssimos os meus colaboradores. Na lista das inscrições só veio a figurar uma assinatura."

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COISAS COMPLICADAS


Corot

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EARLY MORNING BLOGS 237

The Half-People


A man can wander out by himself,
far away from the others and, if he has
enough room, grow into a giant.
Dwarfs live in crowded places
making tools so small human hands fumble
when they try to use them.
Then there are the half-people,
those with whole heads and whole genitals,
but with only one leg and one arm.
They hop around, longing for the twins
of themselves. They hop around like stripes
peeled from the hides of majestic animals.


(Denise Duhamel)

*

Bom dia!

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24.2.05


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: ENCELADUS, ESPELHO MEU



- Porque brilha tanto Enceladus?

- Porque parece ter neve, brilha como a neve.

- Pode-se "ir à neve" em Enceladus?

- Pode, mas com muito cuidado e daqui a alguns anos. Ainda não está nos folhetos das agências, mas lá chegará o tempo.

- E há festas, e pode-se escorregar?

- Há e pode-se escorregar, mas devem-se evitar os vulcões de água.

- O que é um "vulcão de água"?

- A água nasce do chão como a lava num vulcão.

- E é mau?

- Não. É bom. os vulcões são bons, só são às vezes muito perigosos.

- Acho que vou marcar a viagem...

- ...para daqui a muito tempo. Mas reserve, reserve. Só tem que deixar o sinal.

- Eu deixo o sinal.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DOIS POETAS



Acabei de ler, no ABRUPTO, um soneto de Frei Agostinho da Cruz. Dado que os irmãos poetas - Frei Agostinho da Cruz e Diogo Bernardes - nasceram em Ponte da Barca, envio uma fotografia do monumento existente no denominado Jardim dos Poetas e onde se podem ler duas quadras, datas e locais de nascimento e morte.

(A.Oliveira)

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A LER

no Jornalismo e Comunicação A venda da Lusomundo Media: mais do que um negócio,

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JORNALISMO CUIDADO

No Jornal de Notícias desta Segunda-Feira, na última página eram apresentadas quatro ou cinco citações de blogues, entre os quais o Abrupto, o Barnabé, a Causa Nossa e outros que não me recordo. Tinha o nome do blog, em formato URL, e por baixo a citação.

A citação do Abrupto era a seguinte :

O PS está à altura deste resultado?
Eu acho que o resultado é em si mesmo gerador de responsabilidade.Que absurdo seria face a tão grande capital de esperança falhar...o golo.O inimigo era a abstenção e foi vencido.A campanha suja veio a seguir e podia ter liquidado humana e politicamente Sócrates.Foi derrotada. A responsabilidade é acrescida, mas foi forjada neste quadro difícil. Por isso
confio e acredito.

Como V. sabe melhor do que eu, estas palavras são do José Magalhães. Acontece que o jornal não identificou o autor, levando por isso a pensar que o autor das mesmas era o autor do blog.

Na minha opinião, isto não foi inocente. O "jornalista" que seleccionou os textos, de certeza que leu o nome de José Magalhães no fim do texto e até o motivo porque estava ele ali a escrever, mas optou por não o identificar. As razões deste "lapso" para mim são claras: As pessoas que não lêem os blogues, e que são a esmagadora maioria, muitas delas pelo menos já ouviram falar do Abrupto como sendo o "blog do Pacheco Pereira". Assim o objectivo escondido era atribuir-lhe a si o "confio e acredito" que o "PS está à altura do resultado".
Obviamente que a seguir não vão confirmar se é verdade ou não. Primeiro porque é suposto ser uma citação, segundo, como é conhecida a sua discordância face a Santana Lopes, são levadas a pensar que até pode ser verdade o que estão a ler e que de facto até acredita no Sócrates.

Como não vi qualquer referência no Abrupto a isto, só posso presumir que, ou não tomou conhecimento ou não deu importância. Se é o segundo caso, pelo menos fica registada a minha indignação perante este "jornalismo".

(Mário Almeida)

Não vi. Obrigado por me ter informado.

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COISAS SIMPLES


Zurbarán

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EARLY MORNING BLOGS 436

For Once, Then, Something


Others taunt me with having knelt at well-curbs
Always wrong to the light, so never seeing
Deeper down in the well than where the water
Gives me back in a shining surface picture
My myself in the summer heaven, godlike
Looking out of a wreath of fern and cloud puffs.
Once, when trying with chin against a well-curb,
I discerned, as I thought, beyond the picture,
Through the picture, a something white, uncertain,
Something more of the depths—and then I lost it.
Water came to rebuke the too clear water.
One drop fell from a fern, and lo, a ripple
Shook whatever it was lay there at bottom,
Blurred it, blotted it out. What was that whiteness?
Truth? A pebble of quartz? For once, then, something.


(Robert Frost)

*

Bom dia!

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22.2.05


COISAS SIMPLES


A. Zorn

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EARLY MORNING BLOGS 435

Da Oração


Doce quietação de quem vos ama,
Em serviços, Senhor, que tanto quanto
Amado sois, tão longe o fim de tanto,
Subindo mais, e mais, mais se derrama:

Ardendo por arder em viva chama
De amor do vosso amor, a voz levanto;
Sinto, suspiro, choro, colho, e planto
Ao som doutra suave que me chama.

Onde se vai, Senhor, quem vos ofende?
Donde levais, Deus meu, a quem vos segue?
Onde fugir se pode uma de duas?

Morto por quem o mata que pretende,
Ou que extremos de amor há que nos negue
Quem culpas nossas chama ofensas suas?


(Frei Agostinho da Cruz)

*

Bom dia, com chuva!

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JORNALISMO DE BULLDOZER

Mais uma vez o Público não diz a verdade. Nunca afirmei numa entrevista na Antena 1 que apoiava qualquer candidato à liderança do PSD, embora tenha elogiado a iniciativa de Marques Mendes que considero "corajosa". Mas fiz a distinção clara entre os dois actos - apoiar o candidato e apoiar a iniciativa - o que pelos vistos os jornalistas do Público não entendem porque não lhes facilita a notícia. Parece que não vale a pena fazer distinções, porque o jornalismo de bulldozer apaga tudo para nos dar o maravilhoso mundo a preto e branco. Como qualquer pessoa avisada espero para ver quais vão ser os candidatos que se vão apresentar para depois escolher, sem com isso deixar de valorizar o mérito de eles aparecerem. Felizmente o Abrupto ainda me permite ser dono da minha palavra a várias cores e não a preto e branco.

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21.2.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE OS VOTOS EM BRANCO

Os votos em branco, que Ricardo Carvalho (21:23 VOTOS EM BRANCO) incorrecta e abusivamente associa a um virtual "Partido de Saramago", merecem, efectivamente, uma leitura política. Que lamentavelmente ninguém parece interessado em fazer neste rescaldo de clubite partidária. Muitos terão encontrado no voto branco a única saída para o protesto contra o partido que deixou chegar à sua presidência e aceder ao (des)governo de Portugal um homem como Santana Lopes, que, na verdade, já todos "sabíamos quem era".

(Helena Rodrigues)

*

O voto em branco é um direito, e não foge ao cumprimento da obrigação cívica de votar. É a 6ª "força política", e a 1ª sem assento parlamentar. Muito diferente da abstenção e do voto nulo, o voto em branco é a autêntica expressão de quem está totalmente desiludido com as opções que lhe são apresentadas.

De entre os vários argumentos que tenho ouvido contra o voto em branco, há apenas um que subscrevo: os boletins de voto em branco podem ser usados fraudulentamente, sendo convertidos fácilmente em votos em um qualquer partido.

Sugestão: acrescentar uma opção de voto em branco nos buletins de voto.

(Luis Vaz de Carvalho)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FALAR

Por tudo aquilo que foi dito durante esta campanha (e outras) e por tudo aquilo que ainda vai ser dito -

"Talking and eloquence are not the same: to speak and to speak well are two things. A fool may talk, but a wise man speaks." - Ben Jonson

(Abel Gomes)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "MODELO NÓRDICO" (2ª série)

Na Dinamarca o Partido que o leitor Nuno Furtado chamou de centro-direita é-o apenas na conjuntura dinamarquesa, que é muito mais "à esquerda" que em Portugal. Este partido propôs-se a não aumentar os impostos (IRS médio por habitante :42% excluindo a Segurança Social, 25% de IVA em todos os produtos, 180% de Imposto Automóvel).
Este erro de olhar direita vs esquerda, independentemente de onde está o "centro" está a ser cometido também pelos meios de comunicação, quando comparam os resultados eleitorais com os de 1974, dando a impressão que o país é agora mais "de esquerda". Ao menos o Dr. Paulo Portas não cometeu este erro: explicitou que em nenhum país civilizado um partido democrata-cristão era menos votado que um partido trotskista. Enganou-se, ou tentou-nos enganar: O equivalente dinamarquès do CDS-PP é o Partido Democrata-Cristão (que ainda assim nao defende a penalização do aborto) que desta feita perdeu todos os deputados que ainda tinha. O equivalente dinamarquês do Bloco de Esquerda (Ehendslisten) tem agora 4% dos votos.

(Rodrigo Gouveia Oliveira, Copenhaga)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O MEU ACTO CÍVICO

Paro uns segundos à porta da sala 2 e olho lá para dentro. O suficiente para os membros da mesa de voto olharem para mim com ar expectante. Vai entrar ou fica a ver? Continuo pelo corredor, a minha secção é a nº 13, na sala 4, mas foi na sala 2 que fiz a primária, da 1ª à 4ª classe. À porta da sala 4 - 13ª secção de voto, volto a parar, verifico o cartão, sim é aqui, mas paro a olhar devagar para o poster que representa o boletim de voto que vou preencher daqui a uns momentos. Percorro a lista, com a pequena esperança de uma surpresa, no boletim ou em mim... que não acontece.
Entro, cumprimento a mesa, entrego BI e cartão eleitor, pego no boletim, dirijo-me para a câmara de voto. Olho para baixo, uma natureza morta!
Uma mão, um boletim, uma caneta bic cristal, presa por um cordel...
Dobro o boletim em quatro, insiro-o na urna, pego nos cartões e vou-me embora. Esqueço-me de olhar para dentro da sala 2.

(Ricardo Resende)

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UMA PARTE MUITO SIGNIFICATIVA

das quase duzentas mensagens que hoje recebi vem de militantes do PSD que perguntam o que podem fazer face ao descalabro do seu partido e muitas de pessoas que pretendem inscrever-se no PSD para ajudarem ao mesmo objectivo. Nada lhes posso dizer de imediato, a não ser que sim, que se inscrevam, e que sim, que se mobilizem. Aos que me pedem para subscrever a sua proposta, fa-lo-ei certamente.

Mas, o Abrupto não é mais do que uma página pessoal, em que a discussão política tem tido um papel maior do que o seu autor desejaria. Tenho, no entanto, em conta que a conjuntura é especial e acentua a necessidade de uma discussão política numa área em que ela tem estado afastada pelo praticismo eleitoralista e pelo populismo grosseiro, que conduziram o PSD ao desastre de ontem. Isso explica os números excepcionais de "pageviews" que o Abrupto tem vindo a ter, aproximando-se hoje das 20000.

Penso que , em breve, todos poderão ter o papel que desejam com o aparecimento de candidaturas ao Congresso extraordinário e dentro das estruturas do partido e no debate dentro e fora, dar a sua contribuição. Uns votando, os que já cá estão, outros ajudando na campanha eleitoral interna, os que agora se inscrevem. A democratização do PSD passa também por aqui.

(Nestas circunstâncias compreenda-se a minha completa impossibilidade de responder individualmente a todas essas cartas. Tenho neste momento, desde a fundação do Abrupto, 7461 mensagens por responder…)

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O TEMPO MUDOU

já choveu, um vento agreste bate na janela, as árvores não param, um ruído novo acrescenta-se aos habituais. Está na hora de partir ou de chegar?

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COISAS COMPLICADAS


Grosz

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PROPOSTAS: DIRECTAS JÁ

Seria saudável que o maior número de militantes fosse chamado a decidir, porque só assim se pode minimizar (e apenas minimizar) o peso das estruturas que se vão enquistar na escassez dos recursos e nos compromissos recentes que os garantiram. É cómodo pensar que haverá uma sequência sem ruptura de unanimismos: os que apoiaram Marcelo, depois apoiaram Barroso, e depois Santana e agora apoiarão quem vier. Não penso que vá ser assim tão simples, porque a maleabilidade interna é cada vez menor e a fraqueza alimenta a rigidez.

Neste contexto, e caminhando-se para a oposição, as autarquias são mais seguras, daí o peso e influência dos autarcas, sendo as estruturas locais são cada vez mais dependentes do poder autárquico e modeladas por ele. Resultado do desprezo pelo partido em si que, desde Cavaco, é norma nos dirigentes nacionais, com a fugaz tentativa da “refiliação” de Marcelo / Rio como excepção, a depauperação da qualidade política do aparelho partidário foi-se degradando. Desde meados dos anos noventa, o partido perdeu o contacto com as forças vivas do seu eleitorado natural e nacional, os self made man de hoje, nas universidades, nas empresas, na vida pública, a favor de uma “autarcização” de todas as suas estruturas.

Por tudo isto, um qualquer sistema de directas era hoje vantajoso para a democracia da escolha e para garantir que partido e sociedade civil não vão cada um para o seu canto, como aconteceu nos últimos seis meses. Eu fui o primeiro dirigente do PSD a ser eleito por eleições directas, – já ninguém se lembra mas a Distrital de Lisboa foi a primeira a fazer directas após alterações estatutárias com uma participação excepcional dos militantes, acabando com o sistema de eleição por delegados em assembleia –, e tinha então algumas reservas quanto ao alargamento do método a nível da direcção nacional do partido. A razão estava na mediatização das escolhas que inevitavelmente decorria das directas, que me parecia favorecer apenas os candidatos com mais televisão. Essa objecção permanece, mas, depois da última experiência do PS entre Sócrates e Alegre, parece-me a única maneira de fazer entrar algum debate de ideias e propostas no ambiente muito claustrofóbico das estruturas partidárias e mobilizar muitos militantes afastados da vida do partido.

Se se pretende renovar o PSD, depois de 20 de Fevereiro, dever-se-ia lutar não apenas por um congresso extraordinário mas por um processo que implicasse uma demissão colectiva de todas as estruturas distritais e eleições simultâneas para essas estruturas pelo método das directas em conjunção com a escolha de delegados para o Congresso. Não é impossível de fazer com os actuais estatutos, e daria um abanão a todo o partido, fazendo participar o maior número de militantes numa escolha que irá ser decisiva para a sobrevivência do PSD como grande partido nacional.

(de um artigo do Público)

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FALAS

Num dos tradicionais modelos socialistas europeus - a Dinamarca - foi recentemente reconduzido um governo de centro direita, com reiterado apoio popular. A Dinarmaca é actualmente a economia mais saudável do mundo, a sociedade mais justa do mundo - uma lição. E nós ainda andamos a brincar às "revoluções" e às esquerdas ditas modernas. Que triste complexo de esquerda que nunca mais morre.

(Nuno Furtado)

*

Lágrima no canto do olho
É o que sinto quando vou votar.
Sinto uma enorme alegria ao ver dezenas e dezenas de pessoas voltar à escola, para participar na vida de todos, para decidir do seu destino comum.

Espero que o voto electrónico venha um dia ajudar a reduzir a abstenção, permitindo que se vote em qualquer local onde se instale um écran táctil, recolhendo o voto dos acamados, facilitando a vida cívica a quem tem deficiências.
Mas espero também que não se chegue a votar maioritariamente por telemóvel ou pela internet, afastando os cidadãos destes momentos (raros) de reunião, de reunião física, em que todos se movem por todos e se olham nesse processo.

Depois, no regresso do voto, começa normalmente a sobressair em mim o sentimento incómodo do sentido da decisão. Mas isso são outras histórias, com outras lágrimas.

(Artur Furtado)

*

O facto da esquerda ter ganho não foi um objectivo mas sim uma consequência.
A consequência dos portugueses quererem uma mudança. Não pensem os partidos de esquerda que os portugueses voltaram a acreditar em ideologias, que os portugueses voltaram a perceber os valores que separam as cores na assembleia.

As únicas cores que os portugueses conhecem são as cores dos cartões dos árbitros e foi esse o papel que ontem, nas eleições, desempenharam. Não hesitarão por isso em dar um vermelho directo e expulsar o PS se neste mandato que se vai iniciar não se atingirem o que agora a moda política chama de objectivos.

A esquerda que não se iluda. Que não se perca em brindes à simpatia de quem é tão humano que até perde a voz, ou de quem é tão moderno que até promete empregos em economias de mercado com a credibilidade de quem promete chuva no deserto.

(João Diogo)

*

A matemática é uma ferramenta que nos indica valores concretos para diversas coisas. Transforma em números aquilo que constatamos com a observação formal dos diversos sentidos.



Em tempos de eleições ela nos ajuda a medir, com frieza, elementos sensoriais tão abstractos quanto a esperança, a aprovação, a desaprovação, a mudança, a legitimidade, a responsabilidade e, sobretudo, a vitória e a derrota.



Dos números retirados dos resultados eleitorais nas legislativas que ontem se realizaram, poderemos concluir muitas coisas e formular muitas questões. Mas uma questão, em particular, me faz pensar: se, para o PP (Paulo Portas), uma diminuição de 14,29% no número de deputados eleitos, em relação às últimas legislativas, é o suficiente para sair do cargo de líder do seu partido, porque para Santana Lopes uma diminuição de 28,43%, portanto um número duas vezes superior do que o atingido pelo líder do PP (Partido Popular), não significa necessariamente a mesma tomada de atitude?

*

Mas ainda existem outras questões que se podem formular: Por que para um, a falha de 100% dos objectivos leva a uma determinada atitude, enquanto para outro não? Será que para o outro a derrota, com uma diminuição significativa da força política de seu partido, não significa 100% de falha dos seus objectivos que, pelo que me lembro, era só o da vitória? Se não, quais seriam estes objectivos que se prolongam para além eleições?

Mais caricato do que o defunto discutir com os “amigos” sobre seu destino político carregando a alça do próprio caixão, seria um “zumbi” político buscando vingança contra aqueles que não quiseram posar para a fotografia.

Uma última questão, embora especulativa: quereria agora o Pedro criar instabilidade dentro do PSD o suficiente para inviabilizar a candidatura de Cavaco Silva às presidenciais? Pelo menos seria uma atitude coerente com a meninice guerreira. A democracia deste país precisa de um PSD forte.

(Edgard Costa)

*

O PSD mereceu esta derrota. O PS não fez nada por merecer a vitória.

O moral da história destes resultados é simples: Nestes 2 anos e meio, a coligação apresentou um projecto global sério e ambicioso. Mas houve três áreas centrais em que falhou por incompetência: economia, educação e justiça. Muitos do quadros do PSD recusaram-se a colaborar com o governo, porque iam ser tempos difíceis. No momento mais complicado, atiraram Santana Lopes para o meio da arena e desapareceram de cena. É certo que Santana Lopes também ajudou à festa. O resultado é justo por duas razões: o PSD mereceu a derrota; o PS, que nos colocou nesta crise, merece agora ter a responsabilidade absoluta de nos tirar dela.

(José)

*

Uma nota à margem das eleições. Ontem quando fui votar no Liceu Filipa de Lencastre fiquei impressionando com a quntidade de velhos (com todo o respeito...). A minha mulher votou mais tarde e comentou o mesmo. Jantei em casa de uns amigos que fizeram o mesmo comentário (um votou no palácio Galveias outro no Liceu Camões). É dramático assistir ao envelhecimento de Lisboa, numa zona dita "nobre", mas mais estranho é cicular por estas zonas e verificar a quantidade de edifícios devolutos, entaipados, a cair ou que à noite têm apenas uma luz solitário perdida numa qualquer janela suja. Talvez ainda seja estranho falar hoje de autarquicas, mas não encontro paralelo em nenhuma cidade importante europeia, muito menos numa capital, e também não vejo ideias no horizonte...

(João Gundersen)

*

Citação de Pierre Desproges, humorista francês:
L'enfant croit au Père Noël.
L'adulte n'y croit pas, il vote.

(João A. de Carvalho)

*

Abram as janelas e olhem para as ruas. Não há uma caravana, não há uma buzina e nem sequer uma bandeira.

Não há sequer contentamento, quanto mais alegria.

É a vitória de um mal menor. É esse Governo que temos, o de um mal menor.

Se calhar é o que merecemos.

(M. Gouveia)

*

Não pela maioria do PS - já se esperava
Não pela subida da esquerda - era inevitável
Não pela derrota do PSD - contribuí para ela
Não por ninguém nos ligar a nós, que exercemos o dever cívico em "branco" e que duplicamos - já é habitual
Mas porque nem com o custo de ter entregue o "ouro ao bandido" ao votar como votei, o líder do partido com que eu me identifico continua "cego" e não é capaz de assumir que não têm condições nem qualidades para ocupar o cargo que ocupa!

(Alexandre Feio)

*

Parece incrivel que estas palavras de Alfredo de Magalhães abaixo transcritas sejam de uma actualidade preocupante, parece que nada mudou nestes ultimos 85 anos.

Chegou a altura de deixar o recato dos nossos sofás e passar à acção, o futuro constroí-se com o contributo de muitos e nunca de um só. Por minha parte e pela primeira vez, decidi-me a filiar-me no PSD.
E necessário refundar o Partido.
É necessário correr com aqueles que rebaixaram o Partido "aos ultimos degraus da abjecção".
É necessário deixar de brincar aos partidos e aos paises.
Posso estar a ser lírico, mas não vejo outra alternativa.

Alfredo de Magalhães (Numa carta ao general Simas Machado sobre a morte de Basilio Teles em 1923.

"Esta gente portuguesa, toda ela, de alto a baixo, vai descendo vertiginosamente os últimos degraus da abjecção. Nada me surpreende. É a miséria integral. Algumas das individualidades que ainda ofuscam os olhos da nossa parvolândia com o esplendor da sua celebridade, tenho-as na conta de malandros da pior estôpa. Com suas falas e maneiras graves, e o competente pigarro da respeitabilidade convencional, elas são o modelo vivo da hipocrisia e da velhacaria triunfante, já se vê - bem comidos e bem bebidos - Modelos que este bom povo, corrompido até ao tutano da alma, vai seguindo e imitando fielmente, com tal ou qual nota de escândalo.[...] Tudo lama!
Esperança? Só a tenho no Dilúvio Universal.[...] Em Política só triunfam os homens de acção, Não basta ter caco. Em Portugal é mesmo preferivel ter cascos ....
"

(Luís Bonifácio)

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SÁ CARNEIRO

Só houve um comentário que ontem não pude fazer, que ontem pensei e hoje escrevo: Santana Lopes, mais do que ninguém, usa o nome de Sá Carneiro para se apresentar como seu herdeiro. A atitude que tomou ontem de não se demitir e insistir em aumentar o fogo e as cinzas em que deixou o partido, é o exacto oposto daquela que Sá Carneiro tomaria. É nestas alturas que se vê a dimensão dos homens.

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SOBRAS

com sentido. No meio do esforço para manter o blogue "aberto" no meio da mesa dos comentadores da SIC, escaparam-me muitas cartas e comentários que agora vou ler, escolher e publicar. Depois passar-se-á à frente.

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DE REGRESSO

num mundo que não é muito diferente. Mudou para já a conjuntura, e essa mudou muito. Falta aproveitar a mudança da conjuntura para criar condições para intervir na estrutura.

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20.2.05


TENHAM MEDO, TENHAM MUITO MEDO

pelo PSD nas autárquicas e nas presidenciais.

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A ÚNICA COISA

que não mudou nesta noite: Santana Lopes.

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GUERRA CIVIL

é o que Santana Lopes deseja e para a qual se vai preparar com o gosto pela politiquice interna que o caracteriza.

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COMEÇARAM

os truques. Nenhuma responsabilidade real.

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GOVERNO SOMBRA

É certo que é tempo de reconstruir a oposição. Mas uma oposição centrada num governo sombra competente e que acompanhe e fiscalize as políticas do PS. É tempo de acabar com investidas avulso e inconsequentes de guerreiros (sejam eles meninos ou não).

(Fernando )

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AMANHÃ

Portugal virou demasiado à esquerda. A minha maior tristeza nao é a maioria do
PS, sao os milhares de jovens que votaram BE e PCP. Venho de uma area muito de
esquerda em Portugal, a ciencia. Para que daqui a quatro anos seja diferente é
também aqui que o PSD deve entrar. Tenho 24 anos e amanha inscrevo-me no PSD.

(A.Antunes)

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FUTURO

Este resultado pode ter o condão de evitar uma guerra civil ou um cisma no PSD. É mau de mais para que a actual liderança se procure manter contra "ventos e marés".

A falta de entusiasmo nas ruas (pelo menos na cidade em que resido) prova, mais uma vez, que foi mais uma derrota do PSD do que uma vitória do PS. Este, tem todas as condições para se reorganizar, rever aspectos da sua organização que funcionam menos bem, que permitiram a subida a cargos de responsabilidade de gente medíocre, eleger uma liderança à altura da história e tradição deste partido e voltar a ser a voz reformista de que este país tanto necessita.

Para já, as eleições presidenciais deverão ser encaradas com a máxima seriedade. Porque o país precisará de um presidente competente e com sentido de estado. E porque o poder alcançado pelo PS poderá encurralar o PSD para uma situação de irrelevância se perder as eleições presidenciais e autárquicas que se avizinham.

(Ricardo Prata)

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AGORA

é tempo de reconstruir a oposição.

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A SUCESSÃO IMPOSSÍVEL

Leio esta notícia: O economista António Borges rejeitou este domingo a
possibilidade de avançar com uma candidatura à liderança do PSD, afirmando
que Manuela Ferreira Leite é a "candidata ideal" para disputar a Pedro
Santana Lopes a presidência do partido.

Entrevistado pela rádio TSF, o ex-vice-governador do Banco de Portugal
afastou a possibilidade de vir a candidatar-se à liderança do PSD, afirmando
não ter "nem curriculum, nem experiência" para conduzir o partido.

"O PSD já sofreu muito por ter [na sua liderança] pessoas mal preparadas e
sem experiência", disse António Borges, que falava após terem sido
divulgadas as projecções das televisões que dão maioria absoluta ao PS nas
legislativas antecipadas."

Muito curioso: significa impotência para remover Santana. O partido que
perdeu 30 deputados tinha perdido já as condições de saúde política
necessárias para governar e ser o que era.Foi objecto de um take-over
santanista.E agora PSL está grudado ao casulo que construíu - o seu bunker,
onde se toca o guerreiro-menino para as horas em que o líder está infeliz

José Magalhães

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DERROTA DO PP

Não tenho nenhum problema em reconhecer que o CDS falhou alguns dos seus
objectivos. Ainda é cedo, contudo, para saber exactamente quais.
ALX

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NO FIM

resultados devem ser comparados com resultados e não com sondagens.

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VITÓRIA?

Vitória? Que vitória?

O BE rejubila, mas percebe-se mal por que razão. Cresceu, mas tornou-se
irrelevante para o PS, não vai condicionar nada, vai continuar a pregar com
aquele ódio a tudo o que funciona, disfarçado de nova moral.
ALX

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PENA

Não sei porquê, mas de quem sinto mais pena neste momento é dos melhores
ministros que este governo conseguiu ter. Não merecem ficarem associados
a esta derrota estrondosa.

(José Carlos Santos)

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VOTOS EM BRANCO

Não esquecer os votos em branco, o “Partido de Saramago”.

Com a abstenção a descer tornam-se até mais importantes.
Pelo que vejo nos resultados até agora apurados quase que dobram! Um resultado histórico aqui também.

É ao fim ao cabo o 6º partido, o maior dos pequenos partidos.

(Ricardo Carvalho)

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OBJECTIVOS DO PP

Gostaria de relembrar aqui, aquilo que foram os objectivos do PP, e que
foram sorrateiramente alterando ao longo do tempo de campanha:

1) Ficar à frente dos votos PCP+BE juntos. Resultado: DERROTA TOTAL.

2) Ficar como terceiro partido. Resultado: DERROTA TOTAL.

3) Ficar acima dos 10%. Resultado. DERROTA TOTAL.

Na realidade o que sobra? Muito provávelmente ficar com os mesmo votos do
BE. Nos 6-7 %.
Não deveriam antes tirar ilações sobre a liderança e o futuro de Paulo
Portas à frente do PP?
Não é este facto uma evidente derrota do PP ? Ou a derrota é só do PSD !?

(V. Ramos)

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RESPONSABILIDADE

O PS está à altura deste resultado?
Eu acho que o resultado é em si mesmo gerador de responsabilidade.Que
absurdo seria face a tão grande capital de esperança falhar...o golo.O
inimigo era a abstenção e foi vencido.A campanha suja veio a seguir e podia
ter liquidado humana e politicamente Sócrates.Foi derrotada. A
responsabilidade é acrescida, mas foi forjada neste quadro difícil. Por isso
confio e acredito.

José Magalhães

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CONTRADIÇÕES

O PS ganha estas eleições no momento em que precisa de aplicar soluções
drasticamente contrárias à sua índole. Vamos ver o que isto dá mais depressa
do que parece.

ALX

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ADJECTIVOS

Das eleições: Um problema de adjectivos.

A Ana Drago diz que o BE tem uma vitória esmagadora.
Só falta descobrir o esmagado.

(Ana Melo Baptista)

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O ABRUPTO OU A VOZ DO "TREINADOR DE BANCADA"

e se experimentassem discutir os problemas de política em vez de continuar a olhar para a rama?

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TANBÉM O JOSÉ MAGALHÃES NO ABRUPTO

A vitória do PS foi contra muita coisa: inércia, depressão, lixo, campanhas
negras, défice de informação, medo de existir (Gil dixit!).Se não foi algo
foi...de mão beijada!-
Pacheco Pereira apenas acha que o PSD foi fraco de mais e que a luta foi
uma vergonha.
E foi. Mas podia ter surtido efeito se o PS tivesse reagido mal....E podia
ter posto as pessoas enojadas a ponto de não ir às urnas.E assim ocorreu,
mas ...junto de gente do PSD e da direita que recusa jogo sujo (isso tb
existe, deo gratias!).

José Magalhães

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ANTÓNIO LOBO XAVIER: PENSAR NAS PRESIDENCIAIS

a dimensão da derrota da direita é de tal ordem que já não estou realmente aqui, estou a pensar nas presidenciais.
(ALX)

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ANTÓNIO LOBO XAVIER

que está ao meu lado e não tem blogue vai escrever no Abrupto

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A DESCIDA

do PP não é para mim surpresa. A campanha do PP e o seu "sucesso" é um exemplo típico de "pack journalism" (exprimi reservas no Abrupto em tempo devido), esquecendo que uma coisa são as elites outra o eleitorado. O eleitorado do "Paulinho das feiras" não é o do "Ministro" absoluto. Para além do mais o que é que significa colocar um cartaz dizendo "classe média"?

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A CONFIRMAREM-SE

estas sondagens, verifica-se que as eleições foram um plebiscito sobre o Primeiro-ministro. Não há volta a dar a esta realidade. Sócrates recebeu uma vitória de mão beijada, que não era difícil de antever a não ser pela cegueira de muitos dos apoiantes de Santana Lopes que, no seu culto da personalidade, nunca admitiram os erros evidentes e a crise para que conduziram o PSD.

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E AGORA

José?

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VEM AÍ

a hecatombe.

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NESTA SITUAÇÃO

é que se percebe o anacronismo da legislação sobre o "silêncio" eleitoral, completamente alheia à realidade da comunicação dos dias de hoje.

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TALVEZ

possa colocar em linha algumas opiniões dos leitores do Abrupto, com as regras do costume e sem compromisso.

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OS DADOS FORAM LANÇADOS

e cairam como os dominós.

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PODE SER

pode ser, pode ser, que dumas eleições inesperadas, perplexas, incómodas, resultem muito mais mudanças do que as que eram esperadas. Deus escreve direito(?) com linhas tortas, ou, para incréus, a toupeira da história aparece onde não se espera.

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NOVAS

haverá.

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O MAIS BIZARRO DOS LUGARES

para fazer o Abrupto: a mesa dos comentadores da SIC. Vamos ver se consigo, por entre a chuva, escrever alguma coisa nesta noite de pequenas revoluções partidárias. Vai ser muito animado.

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COISAS COMPLICADAS


"Tomás duvidando", ícone do século XV da escola de Novgorod.

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INTENDÊNCIA 2

Não sei como ficou o resultado final da conversa que, ontem, eu e Eduardo Lourenço tivemos, para o número da Capital de hoje. Mas o Abrupto tem muita honra de o ter tido, aqui, sentado, entre os objectos da natureza morta de fim de manhã, a ver um ecrã onde, então, a “indolência” de Bonnard ocupava todo o espaço.

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NATUREZA MORTA DE FIM DE MANHÃ

Da esquerda para a direita. Uma pequena pilha de revistas e jornais para fazer uma bibliografia, um catálogo de uma exposição de 2003 de quadros de Avelino Cunhal, um disco com os quartetos para flauta de Mozart, uma mão, um cartão de eleitor, uma lupa, um molho de chaves, uma lâmpada de 60 w, um livro de Adorno com ensaios sobre música, a biografia de Graham Greene, volumes II e III, o II paperback, o III hardback, uma tesoura, um bloco do Porto Palácio Hotel, um postal de Anders Zorn, uma pilha de zips, uma caneta, um lápis do Sofitel, um telemóvel ligado, uma estação meteorológica – dezassete graus aqui, um pouco frio, dezasseis lá trás, nove lá fora, - um papel do Clube do Mato, uma jarra com água, dois olhos, um ecrã, Der erste Blick aus dem Fenster am Morgen, um pedaço de lava recente, um radiómetro andando muito devagar, uma maçã, um papel com anotações de sondagens, um agrafador, um telefone desligado, um esquecimento, um azulejo da Paula Rego, uma mão, um rato, meia dúzia de palavras, ar, uma sombra vaga, mais nada.

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INTENDÊNCIA

O poema de Brecht "Vergnügungen/ Prazeres", publicado ontem no Abrupto, com tradução original de Madalena Ferreira Åhman em O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COISAS SIMPLES ... OU PRAZERES.

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COISAS COMPLICADAS


Repin

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EARLY MORNING BLOGS 434

There once was a woman named Bright
Who travelled much faster than light:
She set out one day
In a relative way,
And returned on the previous night.


(Limerick anónimo)

*

O nosso risco de hoje. Bom dia!

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19.2.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COISAS SIMPLES ... OU PRAZERES

Vergnügungen Prazeres

Der erste Blick aus dem Fenster am Morgen O primeiro olhar pela janela de manhã
Das wiedergefundene alte Buch O velho livro reencontrado
Begeisterte Gesichter Caras entusiasmadas
Schnee, der Wechsel der Jahreszeiten Neve, a mudança das estações
Die Zeitung O jornal
Der Hund O cão
Die Dialektik A dialéctica
Duschen, Schwimmen Tomar duche, nadar
Alte Musik Música antiga
Bequeme Schuhe Sapatos confortáveis
Begreifen Compreender
Neue Musik Música nova
Schreiben, pflanzen Escrever, plantar
reisen, singen Viajar, cantar
Freundlich sein Ser amável


(Bertold Brecht, lembrança de Maria Emília Malta, e tradução para o Abrupto de Madalena Ferreira Åhman)

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COISAS SIMPLES


Bonnard, Indolence

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EARLY MORNING BLOGS 433

Sagesse


Le ciel est, par-dessus le toit,
Si bleu, si calme!
Un arbre, par-dessus le toit,
Berce sa palme.

La cloche dans le ciel qu’on voit
Doucement tinte.
Un oiseau sur l’arbre qu’on voit
Chante sa plainte.

Mon Dieu, mon Dieu, la vie est là,
Simple et tranquille.
Cette paisible rumeur-ia
Vient de la ville.

—Qu’as-tu fait, ô toi que voilà
Pleurant sans cesse,
Dis, qu’as-tu fait, toi que voilà,
De ta jeunesse?


(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

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18.2.05


COMEÇOU

o silêncio.

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA SOBRE O ARREPENDIMENTO DE DEUS

Muito honrastes, Senhor, ao homem na criação do mundo, formando-o com vossas próprias mãos, informando-o e animando-o com vosso próprio alento, e imprimindo nele o caráter de vossa imagem e semelhança. Mas parece que logo, desde aquele mesmo dia, vos não contentastes dele, porque de todas as outras coisas que criastes, diz a Escritura que vos pareceram bem: Vidit Deus quod esset bonum — e só do homem o não diz. Na admiração desta misteriosa reticência andou desde então suspenso e vacilando o juízo humano, não podendo penetrar qual fosse a causa por que, agradando-vos com tão pública demonstração todas as vossas obras, só do homem, que era a mais perfeita de todas, não mostrásseis agrado. Finalmente, passados mais de mil e setecentos anos, a mesma Escritura, que tinha calado aquele mistério, nos declarou que vós estáveis arrependido de ter criado o homem: Poenituit eum quod hominem fecisset in terra — e que vós mesmo dissestes que vos pesava: Poenitet me fecisse eos — e então ficou patente e manifesto a todos o segredo que tantos tempos tínheis ocultado. E vós, Senhor, dizeis que vos pesa e que estais arrependido de ter criado o homem, pois essa é a causa por que logo, desde o princípio de sua criação vos não agradastes dele nem quisestes que se dissesse que vos parecera bem, julgando, como era razão, por coisa muito alheia de vossa Sabedoria e Providência, que em nenhum tempo vos agradasse nem parecesse bem aquilo de que depois vos havíeis de arrepender e ter pesar de ter feito: Poenitet me fecisse.

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as bibliografias de 2003 e 2004 nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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BIBLIOFILIA








Não sei se a tradução do russo é boa, embora pense que é a primeira feita directamente do original, a capa é péssima, mas o livro é uma obra-prima do Tolstoi tardio, num registo poético pouco comum. É também um livro fundamental para se perceber a guerra da Chechénia.

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NOTAS CHEKOVIANAS

Uma boa pergunta: "devem actores negros representar Chekov?" e uma boa resposta.

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OUVINDO BRAHMS


O Quinteto para Piano e Cordas Op. 34 com Pollini ao piano.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "MODELO NÓRDICO"

Outra coisa que me assustou, aqui a 3500km de distância, foi a declaração de Sócrates numa conferência do DE há uns dias, defendendo o chamado "modelo nórdico" de Estado-social. Eu ainda admito que o português comum, menos avisado, ainda acredite que se vive nos países nórdicos como há 30 anos, mas quem (ao que tudo indica) vai ser o próximo primeiro ministro de Portugal tem obrigação de estar melhor informado e de já ter percebido que os países nórdicos (sobretudo o maior deles, a Suécia) andam há dez ou vinte anos a tentar livrar-se do famoso modelo que, como se diz em bom português, foi "chão que já deu uvas" (e nem sei se deu muitas...). Comprovou-se que era insustentável, e se tornava cada vez mais insustentável. Ser agora defendido para Portugal é prova de que se mantém o desfasamento do país relativamente à Europa, ou da mais completa hipocrisia por parte do futuro primeiro ministro. Qualquer das hipóteses é preocupante.

(Madalena Ferreira Åhman)

*
Subscrevo as preocupações da leitora Madalena Ferreira Ahman relativamente ao denominado "modelo nórdico" de José Sócrates. Apesar de nunca ter vivido na Suécia, conheço bem a Holanda (país que chegou a ter um "estado social" comparável) onde vivi cerca de trinta anos. No entanto, e da mesma forma do que na Suécia, a sua sustentabilidade começou a ser posta em causa na década de oitenta. O problema é que Portugal (os portugueses) nunca chegaram a conhecer um sistema social (welfare state) comparável a qualquer dos países nórdicos, pesem algumas das medidas introduzidas no pós 25 de Abril. Ou seja, o que os países nórdicos fizeram e já começaram a "desmantelar", ainda hoje é infinitamente superior ao tímido sistema social português. Donde, os portugueses, não podem sequer acabar com algo que mal começou...resta acrescentar que, para além do modelo económico, os paises nórdicos tem ainda uma coisa chamada "ética protestante", que não explicando tudo, ajuda bastante...basta ler o Max Weber e a "ética protestante do capitalismo" para percebermos a razão de avanço de uns e o atraso de outros...
(Rui Mota)

*
A razão de evocação do referido modelo por J. Sócrates terá origem num livro denominado "O Futuro da Europa Social"( 1ª ed. Set 2000, Celta Editora ), da autoria de Maurizio Ferrara, Anton Hemerijck e Marin Rhodes, livro que nasce de uma solicitação do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, sendo ao tempo ministro Eduardo ferro Rodrigues, enquadrado na presidência da União Europeia, no âmbito do Trabalho e Assuntos Sociais.
Naquele são referidos os quatro modelos de estado-providência considerados pelos autores, a saber: nórdico, anglo-saxónico, continental e de sul.
É particularmente constatado que o elevado nível de apoio às políticas sociais - na tradição e cultura "folkhemmet": o Estado-providência é a "casa do povo" - têm sido objecto de reformas, direccionadas para a resolução de problemas concretos , sem controvérsias de fundo em torno de perspectivas e cenários alternativos.
Acrescenta que as reformas dos anos 90 conduziram a uma retracção do modelo escandinavo e a uma reorganização do sistema de incentivos. mas logo refere que a arquitectura que lhe está subjacente permaneceu em larga medida intacta, mostrando que um Estado-providência avançado e universalista não é uma desvantagem quando surge uma crise económica repentina e inesperada. O problema essencial que apresentam será de "flexibilidade", ou seja, poucas condições para uma expansão de serviços privados no extremo inferior do mercado de trabalho.
As despesas sociais em 1995, para Suécia, Dinamarca e Finlândia eram ,respectivamente: 33%; 32,1%; 32%. A tributação, em % do PIB era de: 53%; 52%; 47%. No mesmo período , os indicadores médios para a UE a 15 eram, respectivamente, 26% e 43%.
Os níveis de apoio social do Estado-providência escandinavo continuam elevados, mesmo sofrendo alguns cortes desde as primeiras reformas em 1991-92, mas as razões que na generalidade são aceites como boas para justificar a capacidade interventiva do estado na diminuição da exclusão social e reintegração do cidadão na vida activa e em sociedade são as seguintes: elevado nível de igualitarismo económico na população; baixíssimos níveis de clientelismo e corrupção; predominância de programas "welfare" de aplicação geral, não descriminatórios.
A principal fonte de receita dos países escandinavos são os impostos. Estamos a falar de economias de elevada capacidade industrial e, mais importante, de produção e exportação de produtos com componente tecnológica avançadíssima. Em suma, indústria de ponta.
Estaremos acaso em condições, em Portugal, de preconizar a aplicação de um modelo semelhante, quando nem a vizinha Espanha tem condições para o fazer? (para não falar na França ou Alemanha).
(João Fernandes)

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COISAS SIMPLES


Matisse

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EARLY MORNING BLOGS 432

Cão


Cão passageiro, cão estrito
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão ali, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moido de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção,
cão pré fabricado,
cão espelho, cão cinzeiro, cão botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!


(Alexandre O'Neill)

*

Bom dia!

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O CORREIO DO ÓDIO

1.Por acaso até reparei nessa sua bacorada.É mais um dos casos em que a sua mente 'abrupta'se tem empenhado,com vista a favorecer a Rosinha dos olhos verdes,tentando vilipendiar o CDS,com reflexo no seu ódio de estimação:Dr.PEDRO SANTANA LOPES!
2.Já aqui o tenho intimado a definir-se:não se assuma como militante mas como 'infiltrado'no PSD que tantas mordomias lhe deu,a ponto de o ter ido buscar a uma triste figura de professor de filosofia de Boticas para deputado não só na AR como na Europa,com todas as mordomias que lhe acarretaram!
3.No que respeita ao outro 'submarino',o tal Cavaco ou Silva como queiram,está tudo dito:ele só olha para o seu umbigo!Espero que os verdadeiros militantes e simpatizantes do PSD saibam dar-lhe a resposta adequada!
Por último:tenha vergonha!Demita-se!Não se atreva mais a dizer que é do PSD!Traidores como você já temos que baste!Traidores armados em pensadores e intelectuais!Veja se consegue fazer algo mais importante do que comer à custa do partido e de quem trabalha!Porque você é um parasita!

(Alberico Lopes)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: POEIRA DE 18 DE FEVEREIRO

Eram 4 da tarde do dia 18 de Fevereiro de 1930. No observatório de Lowell em Flagstaff, no Arizona, um jovem astrónomo chamado Clyde William Tombaugh, descobriu numa placa fotográfica um objecto de magnitude 14,9 que parecia ter-se movido ligeiramente em relação ao fundo estelar. Desconfiado que pudesse ser o novo planeta que tanto procurava, pesquisou em placas anteriores a ver se encontrava o objecto em questão. Sabendo o que procurava não teve problemas em descobri-lo e em traçar o seu trajecto por entre as estrelas. Acabava de descobrir Plutão.

(José Matos)

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© José Pacheco Pereira
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