ABRUPTO

21.2.05


FALAS

Num dos tradicionais modelos socialistas europeus - a Dinamarca - foi recentemente reconduzido um governo de centro direita, com reiterado apoio popular. A Dinarmaca é actualmente a economia mais saudável do mundo, a sociedade mais justa do mundo - uma lição. E nós ainda andamos a brincar às "revoluções" e às esquerdas ditas modernas. Que triste complexo de esquerda que nunca mais morre.

(Nuno Furtado)

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Lágrima no canto do olho
É o que sinto quando vou votar.
Sinto uma enorme alegria ao ver dezenas e dezenas de pessoas voltar à escola, para participar na vida de todos, para decidir do seu destino comum.

Espero que o voto electrónico venha um dia ajudar a reduzir a abstenção, permitindo que se vote em qualquer local onde se instale um écran táctil, recolhendo o voto dos acamados, facilitando a vida cívica a quem tem deficiências.
Mas espero também que não se chegue a votar maioritariamente por telemóvel ou pela internet, afastando os cidadãos destes momentos (raros) de reunião, de reunião física, em que todos se movem por todos e se olham nesse processo.

Depois, no regresso do voto, começa normalmente a sobressair em mim o sentimento incómodo do sentido da decisão. Mas isso são outras histórias, com outras lágrimas.

(Artur Furtado)

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O facto da esquerda ter ganho não foi um objectivo mas sim uma consequência.
A consequência dos portugueses quererem uma mudança. Não pensem os partidos de esquerda que os portugueses voltaram a acreditar em ideologias, que os portugueses voltaram a perceber os valores que separam as cores na assembleia.

As únicas cores que os portugueses conhecem são as cores dos cartões dos árbitros e foi esse o papel que ontem, nas eleições, desempenharam. Não hesitarão por isso em dar um vermelho directo e expulsar o PS se neste mandato que se vai iniciar não se atingirem o que agora a moda política chama de objectivos.

A esquerda que não se iluda. Que não se perca em brindes à simpatia de quem é tão humano que até perde a voz, ou de quem é tão moderno que até promete empregos em economias de mercado com a credibilidade de quem promete chuva no deserto.

(João Diogo)

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A matemática é uma ferramenta que nos indica valores concretos para diversas coisas. Transforma em números aquilo que constatamos com a observação formal dos diversos sentidos.



Em tempos de eleições ela nos ajuda a medir, com frieza, elementos sensoriais tão abstractos quanto a esperança, a aprovação, a desaprovação, a mudança, a legitimidade, a responsabilidade e, sobretudo, a vitória e a derrota.



Dos números retirados dos resultados eleitorais nas legislativas que ontem se realizaram, poderemos concluir muitas coisas e formular muitas questões. Mas uma questão, em particular, me faz pensar: se, para o PP (Paulo Portas), uma diminuição de 14,29% no número de deputados eleitos, em relação às últimas legislativas, é o suficiente para sair do cargo de líder do seu partido, porque para Santana Lopes uma diminuição de 28,43%, portanto um número duas vezes superior do que o atingido pelo líder do PP (Partido Popular), não significa necessariamente a mesma tomada de atitude?

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Mas ainda existem outras questões que se podem formular: Por que para um, a falha de 100% dos objectivos leva a uma determinada atitude, enquanto para outro não? Será que para o outro a derrota, com uma diminuição significativa da força política de seu partido, não significa 100% de falha dos seus objectivos que, pelo que me lembro, era só o da vitória? Se não, quais seriam estes objectivos que se prolongam para além eleições?

Mais caricato do que o defunto discutir com os “amigos” sobre seu destino político carregando a alça do próprio caixão, seria um “zumbi” político buscando vingança contra aqueles que não quiseram posar para a fotografia.

Uma última questão, embora especulativa: quereria agora o Pedro criar instabilidade dentro do PSD o suficiente para inviabilizar a candidatura de Cavaco Silva às presidenciais? Pelo menos seria uma atitude coerente com a meninice guerreira. A democracia deste país precisa de um PSD forte.

(Edgard Costa)

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O PSD mereceu esta derrota. O PS não fez nada por merecer a vitória.

O moral da história destes resultados é simples: Nestes 2 anos e meio, a coligação apresentou um projecto global sério e ambicioso. Mas houve três áreas centrais em que falhou por incompetência: economia, educação e justiça. Muitos do quadros do PSD recusaram-se a colaborar com o governo, porque iam ser tempos difíceis. No momento mais complicado, atiraram Santana Lopes para o meio da arena e desapareceram de cena. É certo que Santana Lopes também ajudou à festa. O resultado é justo por duas razões: o PSD mereceu a derrota; o PS, que nos colocou nesta crise, merece agora ter a responsabilidade absoluta de nos tirar dela.

(José)

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Uma nota à margem das eleições. Ontem quando fui votar no Liceu Filipa de Lencastre fiquei impressionando com a quntidade de velhos (com todo o respeito...). A minha mulher votou mais tarde e comentou o mesmo. Jantei em casa de uns amigos que fizeram o mesmo comentário (um votou no palácio Galveias outro no Liceu Camões). É dramático assistir ao envelhecimento de Lisboa, numa zona dita "nobre", mas mais estranho é cicular por estas zonas e verificar a quantidade de edifícios devolutos, entaipados, a cair ou que à noite têm apenas uma luz solitário perdida numa qualquer janela suja. Talvez ainda seja estranho falar hoje de autarquicas, mas não encontro paralelo em nenhuma cidade importante europeia, muito menos numa capital, e também não vejo ideias no horizonte...

(João Gundersen)

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Citação de Pierre Desproges, humorista francês:
L'enfant croit au Père Noël.
L'adulte n'y croit pas, il vote.

(João A. de Carvalho)

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Abram as janelas e olhem para as ruas. Não há uma caravana, não há uma buzina e nem sequer uma bandeira.

Não há sequer contentamento, quanto mais alegria.

É a vitória de um mal menor. É esse Governo que temos, o de um mal menor.

Se calhar é o que merecemos.

(M. Gouveia)

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Não pela maioria do PS - já se esperava
Não pela subida da esquerda - era inevitável
Não pela derrota do PSD - contribuí para ela
Não por ninguém nos ligar a nós, que exercemos o dever cívico em "branco" e que duplicamos - já é habitual
Mas porque nem com o custo de ter entregue o "ouro ao bandido" ao votar como votei, o líder do partido com que eu me identifico continua "cego" e não é capaz de assumir que não têm condições nem qualidades para ocupar o cargo que ocupa!

(Alexandre Feio)

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Parece incrivel que estas palavras de Alfredo de Magalhães abaixo transcritas sejam de uma actualidade preocupante, parece que nada mudou nestes ultimos 85 anos.

Chegou a altura de deixar o recato dos nossos sofás e passar à acção, o futuro constroí-se com o contributo de muitos e nunca de um só. Por minha parte e pela primeira vez, decidi-me a filiar-me no PSD.
E necessário refundar o Partido.
É necessário correr com aqueles que rebaixaram o Partido "aos ultimos degraus da abjecção".
É necessário deixar de brincar aos partidos e aos paises.
Posso estar a ser lírico, mas não vejo outra alternativa.

Alfredo de Magalhães (Numa carta ao general Simas Machado sobre a morte de Basilio Teles em 1923.

"Esta gente portuguesa, toda ela, de alto a baixo, vai descendo vertiginosamente os últimos degraus da abjecção. Nada me surpreende. É a miséria integral. Algumas das individualidades que ainda ofuscam os olhos da nossa parvolândia com o esplendor da sua celebridade, tenho-as na conta de malandros da pior estôpa. Com suas falas e maneiras graves, e o competente pigarro da respeitabilidade convencional, elas são o modelo vivo da hipocrisia e da velhacaria triunfante, já se vê - bem comidos e bem bebidos - Modelos que este bom povo, corrompido até ao tutano da alma, vai seguindo e imitando fielmente, com tal ou qual nota de escândalo.[...] Tudo lama!
Esperança? Só a tenho no Dilúvio Universal.[...] Em Política só triunfam os homens de acção, Não basta ter caco. Em Portugal é mesmo preferivel ter cascos ....
"

(Luís Bonifácio)

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