ABRUPTO

28.2.05


BIBLIOFILIA: URBS TEMPLUM

Os livros escolares antigos podem ser enganadores porque estão muitas vezes associados a realidades pedagógicas que eles ocultam mais do que revelam. Têm também uma carga de nostalgia identicamente enganadora: os tempos antigos nunca podem ter sido melhores do que os de hoje. Em geral, em regra.

Mas depois suscitam um mal-estar evidente. Os estudantes aprendiam mesmo aquilo? Ou parte daquilo? Ou dez por cento daquilo? Porque se aprendiam sabiam infinitamente mais do que sabem hoje. (Exagero? Talvez não. O problema existe mesmo). Veja-se esta Res Romanae, o livro de latim “para a terceira classe” do antigo “secundário”, datado de 1923. Livro único, “oficialmente aprovado” e escrito por Xavier Rodrigues, professor do Pedro Nunes. Não é apenas um livro de latim, contendo uma gramática, exercícios e textos, mas um “livro-método”, com um longo prefácio metodológico. No seu conjunto, é de facto uma introdução à “res romanae”, à história, religião, organização social, instituições, cultura e literatura dos romanos. Muito para além do que hoje aprendemos sobre Portugal, quanto mais sobre a Roma antiga.

(No livro um desenho do Senado, com a frase: "Urbs templum, inquit Cineas, Senatus concilium regum mihi esse videbatur")

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© José Pacheco Pereira
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