ABRUPTO

18.2.05


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA SOBRE O ARREPENDIMENTO DE DEUS

Muito honrastes, Senhor, ao homem na criação do mundo, formando-o com vossas próprias mãos, informando-o e animando-o com vosso próprio alento, e imprimindo nele o caráter de vossa imagem e semelhança. Mas parece que logo, desde aquele mesmo dia, vos não contentastes dele, porque de todas as outras coisas que criastes, diz a Escritura que vos pareceram bem: Vidit Deus quod esset bonum — e só do homem o não diz. Na admiração desta misteriosa reticência andou desde então suspenso e vacilando o juízo humano, não podendo penetrar qual fosse a causa por que, agradando-vos com tão pública demonstração todas as vossas obras, só do homem, que era a mais perfeita de todas, não mostrásseis agrado. Finalmente, passados mais de mil e setecentos anos, a mesma Escritura, que tinha calado aquele mistério, nos declarou que vós estáveis arrependido de ter criado o homem: Poenituit eum quod hominem fecisset in terra — e que vós mesmo dissestes que vos pesava: Poenitet me fecisse eos — e então ficou patente e manifesto a todos o segredo que tantos tempos tínheis ocultado. E vós, Senhor, dizeis que vos pesa e que estais arrependido de ter criado o homem, pois essa é a causa por que logo, desde o princípio de sua criação vos não agradastes dele nem quisestes que se dissesse que vos parecera bem, julgando, como era razão, por coisa muito alheia de vossa Sabedoria e Providência, que em nenhum tempo vos agradasse nem parecesse bem aquilo de que depois vos havíeis de arrepender e ter pesar de ter feito: Poenitet me fecisse.

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© José Pacheco Pereira
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