ABRUPTO

21.2.05


PROPOSTAS: DIRECTAS JÁ

Seria saudável que o maior número de militantes fosse chamado a decidir, porque só assim se pode minimizar (e apenas minimizar) o peso das estruturas que se vão enquistar na escassez dos recursos e nos compromissos recentes que os garantiram. É cómodo pensar que haverá uma sequência sem ruptura de unanimismos: os que apoiaram Marcelo, depois apoiaram Barroso, e depois Santana e agora apoiarão quem vier. Não penso que vá ser assim tão simples, porque a maleabilidade interna é cada vez menor e a fraqueza alimenta a rigidez.

Neste contexto, e caminhando-se para a oposição, as autarquias são mais seguras, daí o peso e influência dos autarcas, sendo as estruturas locais são cada vez mais dependentes do poder autárquico e modeladas por ele. Resultado do desprezo pelo partido em si que, desde Cavaco, é norma nos dirigentes nacionais, com a fugaz tentativa da “refiliação” de Marcelo / Rio como excepção, a depauperação da qualidade política do aparelho partidário foi-se degradando. Desde meados dos anos noventa, o partido perdeu o contacto com as forças vivas do seu eleitorado natural e nacional, os self made man de hoje, nas universidades, nas empresas, na vida pública, a favor de uma “autarcização” de todas as suas estruturas.

Por tudo isto, um qualquer sistema de directas era hoje vantajoso para a democracia da escolha e para garantir que partido e sociedade civil não vão cada um para o seu canto, como aconteceu nos últimos seis meses. Eu fui o primeiro dirigente do PSD a ser eleito por eleições directas, – já ninguém se lembra mas a Distrital de Lisboa foi a primeira a fazer directas após alterações estatutárias com uma participação excepcional dos militantes, acabando com o sistema de eleição por delegados em assembleia –, e tinha então algumas reservas quanto ao alargamento do método a nível da direcção nacional do partido. A razão estava na mediatização das escolhas que inevitavelmente decorria das directas, que me parecia favorecer apenas os candidatos com mais televisão. Essa objecção permanece, mas, depois da última experiência do PS entre Sócrates e Alegre, parece-me a única maneira de fazer entrar algum debate de ideias e propostas no ambiente muito claustrofóbico das estruturas partidárias e mobilizar muitos militantes afastados da vida do partido.

Se se pretende renovar o PSD, depois de 20 de Fevereiro, dever-se-ia lutar não apenas por um congresso extraordinário mas por um processo que implicasse uma demissão colectiva de todas as estruturas distritais e eleições simultâneas para essas estruturas pelo método das directas em conjunção com a escolha de delegados para o Congresso. Não é impossível de fazer com os actuais estatutos, e daria um abanão a todo o partido, fazendo participar o maior número de militantes numa escolha que irá ser decisiva para a sobrevivência do PSD como grande partido nacional.

(de um artigo do Público)

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© José Pacheco Pereira
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