ABRUPTO

30.9.04


SCRITTI VENETI 2

Em frente ao Palacio dos Doges roda-se um filme sobre Casanova. Um pouco a frente de onde ela costumava estar, - entre as colunas de S. Marcos e S. Teodoro -, ergueu-se uma forca de brincar. Uma centena de figurantes vestidos a epoca acenam. Uma carruagem dourada esta parada em frente a um palanque com dignatarios - talvez do Conselho dos Dez. Aparato de gruas e microfones e maquinas de filmar. Os turistas a volta, as centenas. Acho que nem que o filme fosse genial o ia conseguir ver, depois de o ter visto assim.

(Sem acentos)

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SCRITTI VENETI 1

Na noite, tarde, debaixo de uma Lua total, coberta apenas por um véu ligeiro de humidade, com tudo silencioso, num pequeno barco. O canal desdobra-se num cenário quase impossivel de beleza morta, palazzo atras de palazzo. Esta terra verdadeiramente não existe. Não pode existir.

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29.9.04


SCRITTI VENETI

a seguir, escritos da Terra do Leão.

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COISAS SIMPLES


Helmut Westhoff

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EARLY MORNING BLOGS 324

Aubade
(Philip Larkin)

Labuto ao dia e à noite me embebedo.
Acordo às quatro e fito o mudo vão.
Clareia a fímbria das cortinas cedo.
Sempre ali está, vejo por ora, e à mão,
a morte inquieta, um dia já mais perto,
a impedir de pensar salvo por certo
em como, e quando e onde hei-de morrer.
Bem árida a questão: pavor absorto
de morrer e 'star morto,
lampeja ainda e prende a estarrecer.

A mente esvai-se a olhar. Não em remorso
(bem por fazer, amor por dar, mal gasto
o tempo) ou em perfídia, porque o esforço
de uma só vida é longo a largar lastro
dos erros do começo, e talvez falhe;
mas no vácuo total que sempre calhe
à segura extinção indo em jornada
e para todo o sempre. Não 'star cá,
não ser algures e já;
nada é mais certo e mais terrível nada.

É um modo de ter medo que não passa
com truques. Bem tentou a religião,
vasto brocado musical com traça,
para nunca haver morte uma ficção,
e o sofisma que diz, Não pode um ente
que é racional temer o que não sente,
sem ver que é isso o que tememos - sem
ver, provar, ouvir, tactear, cheirar,
nada a pensar, a amar, ligar,
o amorfo do qual não ninguém.

E assim fica no fio da visão
um leve desfocar, o que arrefece
mais cada impulso até à indecisão.
Muita coisa não chega: esta acontece
e quando vem, é só medo em tamanha
furna, quando sem gente nos apanha,
e sem beber. Coragem não vale nada:
só não assusta os outros. Pôr-se à prova
não nos livra da cova.
A morte é igual, gemida ou enfrentada.

Já devagar o quarto a luz destapa.
Qual roupeiro se pode pressentir,
sempre a saber, saber que não se escapa,
e a recusá-la. Um lado terá de ir.
Eis telefones prestes nos fechados
escritórios e acorda sem cuidados
o intrincado mundo que se apraza.
Céu branco como gesso; sol, nem vê-lo.
Trabalho, há que fazê-lo.
Carteiros, quais doutores, de casa em casa.


(Tradução de Vasco Graça Moura, cortesia do próprio tradutor)

*

Bom dia!

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28.9.04


EARLY MORNING BLOGS 323

What Almost Every Woman Knows Sooner or Later


Husbands are things that wives have to get used to putting up with.
And with whom they breakfast with and sup with.
They interfere with the discipline of nurseries,
And forget anniversaries,
And when they have been particularly remiss
They think they can cure everything with a great big kiss,
And when you tell them about something awful they have done they just
look unbearably patient and smile a superior smile,
And think, Oh she'll get over it after a while.
And they always drink cocktails faster than they can assimilate them,
And if you look in their direction they act as if they were martyrs and
you were trying to sacrifice, or immolate them,
And when it's a question of walking five miles to play golf they are very
energetic but if it's doing anything useful around the house they are
very lethargic,
And then they tell you that women are unreasonable and don't know
anything about logic,
And they never want to get up or go to bed at the same time as you do,
And when you perform some simple common or garden rite like putting
cold cream on your face or applying a touch of lipstick they seem to
think that you are up to some kind of black magic like a priestess of
Voodoo.
And they are brave and calm and cool and collected about the ailments
of the person they have promised to honor and cherish,
But the minute they get a sniffle or a stomachache of their own, why
you'd think they were about to perish,
And when you are alone with them they ignore all the minor courtesies
and as for airs and graces, they uttlerly lack them,
But when there are a lot of people around they hand you so many chairs
and ashtrays and sandwiches and butter you with such bowings and
scrapings that you want to smack them.
Husbands are indeed an irritating form of life,
And yet through some quirk of Providence most of them are really very
deeply ensconced in the affection of their wife.


(Ogden Nash)

*

Bom dia!

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27.9.04



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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OS "POPULARES" (2ª série)

"No fundo, a inteligência humanista - as belas-artes e as letras - não sofreram durante o fascismo; a inteligência humanista pôde singularizar-se, aceitar cinicamente o jogo. Onde o fascismo esteve vigilante foi nas relações entre a intellighentsia e o povo; manteve o povo no obscurantismo. O problema que se põe agora é o de sair do privilégio - servil - de que gozávamos, e não o "ir para o povo" mas "ser do povo", viver numa cultura que tenha as suas raízes no povo e não no cinismo dos libertos romanos."

(Cesare Pavese, enviado por MCP)

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EXPLIQUEM-ME

Como é que é possível haver muitas centenas de pessoas a assistir às corridas ilegais, em estradas que toda a gente sabe quais são, sem a polícia o impedir, prender os condutores, tirar-lhes a carta e os carros? Expliquem-me.

*

"Em primeiro lugar quero manifestar alguma preplexidade pelo facto de ultimamente ter publicado alguns comentários dos seus leitores manifestamente superficiais e de baixa qualidade e que, pior, não resistem a simples leitura atenta, contrariamente ao rigor que nos habituou durante tanto tempo.
(...)
Mas vamos aos factos.
Em primeiro lugar o facto não é novo. O JPP deve lembrar-se de na nossa adolescencia já haver os Cooper S, Datsun 1600 SSS, BMW e quejandos, de abas abolachadas, jantes de aluminio de 12 polegadas, "bolantinhos de pau", "baquets" de competição para conduzir no banco de trás, aillerons que não faziam nada, etc que tanto faziam as delicias dos meninos da linha, da Foz ou de Almada para competir até á Costa da Caparica. Na altura não se chamava "tunning" mas era e servia para o mesmo.
Em segundo lugar não é verdade que estes meninos andem sempre no mesmo sítio. Variam, exactamente para fintar a policia. No caso vertente o sitio é conhecido mas é uma estrada particular (o que quer que isto queira dizer) o que obviamente não serve de desculpa.
A policia não tem meios, nem materiais nem humanos, para vigiar todos este sitios ao mesmo tempo (nenhuma policia tem).
Tomemos por exemplo a ponte Vasco da Gama que é um dos lugares preferidos. Normalmente os meninos reunem-se nas imediações (lugar e hora sempre diferentes e combinados por telemovel), arranjam previamente a corrida e dirigem-se para a partida de forma ordeira. Até aí nada a dizer e muito menos a fazer. Chegados ao lugar da partida esta é dada rapidamente e os 16 quilometros da ponte são precorridos em cerca de 4 minutos (a 250 km/hora). Quando o alerta é dado já estão muito para lá de Alcochete.
Acrescente-se ainda que à minima desconfiança de uma espera, mandam um "batedor" para ver se o caminho está livre.
Quer isto dizer que só por sorte a policia os agarra em flagrante, sendo que, neste caso, a única alternativa é uma preseguição em via pública com os riscos inerentes.
(...)
Parece-me isso sim que estas situações constituem aquilo a que Martim Amis qualifica, quer termos dos factos quer em termos das palavras que usamos para os descrever, de "obscenização do quotidiano".
E a propósito que tal falarmos um pouco dos "tunnings" encapotados dos próprios constructores de automoveis, que à revelia das legislações da esmagadora maioria dos países (limites de velocidade) anunciam carros cada vez mais potentes e velozes? Aqui já não é preciso "tunning". Qualquer Mercedes, BMW, AUDI etc vem de fábrica com as caracteristicas necessárias. Legalmente."


(Fernando Frazão)

*

"Tirarem-lhes a carta? O autor do acidente deste fim de semana, que vitimou n pessoas, não tinha carta!!! Como se lhe pode tirar uma coisa que ele não tem?"

(Rui Aguiar)

*

"Por onde tem andado, com quem tem falado?
Porque só com ordem explicita, senão têm medo! A saber:
a) de levarem pancada;
b)encontrarem um "grande" das F.A.;
c)provocarem um acidente ou terem de agir com firmeza contra um desordeiro, e então, é o berreiro de jonalistas, defensores do D.H.,etc;
d) baterem com o carro da policia e têm de pagar o arranjo;
e) se prendem alguém têm de ir atribunal e não ganham o dia....?
f)etc,etc,...........
"

(C. Indico)

*

"Acho que a razão é a mesma de haver tanta droga a circular tão livremente nas prisões. Passou a ser considerado normal e inevitável.
Entrou na rotina: as pessoas amolecem e resignam-se em vez de resolverem o problema."


(Tiago Azevedo Fernandes)

*

"Eu explico: Nalguns casos, eles são polícias.
Noutros, também gostava de saber a razão de tamanha impunidade."


(JCB)

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AR PURO


Max Watenphul

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BASIL BUNTING

"(...) Bunting é, a meu ver, um dos melhores poetas ingleses do séc. XX, mas também um dos mais injustamente esquecidos, talvez por ter vivido demasiado na sombra de Ezra Pound e por lhe ter sido colado, de forma acrítica, o rótulo de "epígono". O mesmo se pode dizer em relação a outros poetas esquecidos, como David Jones, Hugh MacDiarmid ou Roy Fisher. Enfim, é todo um mundo de poesia inovadora a descobrir - mas, de preferência, bem longe dos meios académicos conservadores e cinzentos!

Muito provavelmente já conhece, mas envio-lhe uns versos de um dos poemas de Bunting que mais gosto (a seguir a "Briggflatts"), "Chomei at Toyama". É uma "tradução"/adaptação comovente do célebre texto "Hôjôki" ("The Ten Foot Square Hut", na v. inglesa) do poeta japonês Kamo-no-Chomei (1154-1216):



I know myself and mankind.
. . . . . . . .
I dont want to be bothered.

(You will make me editor
of the Imperial Anthology?
I dont want to be bothered.)

You build for your wife, children,
cousins and cousins' cousins.
You want a house to entertain in.

A man like me can have neither servants nor friends
in the present state of society.
If I did not build for myself
for whom should I build?

Friends fancy a rich man's riches,
friends suck up to a man in high office.
If you keep straight you will have no friends
but catgut and blossom in season.



Basil Bunting, "Chomey at Toyama", Collected Poems (Oxford: Oxford University Press,1978) 70."

(Daniela Kato)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE OS "POPULARES"

"Para o adepto das luzes, o termo e o conceito «povo» conservam sempre qualquer traço de arcaico, inspirador de apreensões, e ele sabe que basta apostrofar a multidão do «povo» para induzi-la à maldade reaccionária. Quantas coisas não aconteceram diante dos nossos olhos, em nome do povo, e que em nome de Deus, da Humanidade ou do Direito nunca se deveriam ter consumado! Mas, é um facto que, na realidade, o povo permanece sempre povo, pelo menos em determinada camada da sua índole, que é precisamente a arcaica, e que habitantes e vizinhos do Beco dos Fundidores, pessoas que no dia das eleições votavam no Partido Social-Democrático, eram ao mesmo tempo capazes de vislumbrar algo demoníaco na pobreza de uma velhinha, que não tinha recursos suficientes para pagar uma habitação acima do solo, de modo que quando ela se aproximava, pegavam nos filhos, a fim de os proteger contra o mau-olhado da bruxa. Se na actualidade se voltasse a entregar à fogueira uma mulher deste tipo, o que, com leves modificações da justificativa, hoje não é absolutamente inimaginável, eles iriam plantar-se atrás das barreiras erguidas pela municipalidade e olhariam, embasbacados, mas provavelmente não se revoltariam. Falo do povo, porém aqueles impulsos populares, de natureza arcaica, existem em todos nós, e para dizê-lo bem claramente, assim como penso, não considero a religião o meio mais adequado para reprimi-lo com segurança. Isso consegue-se, a meu ver, unicamente por meio da literatura, da ciência humanística, do ideal do homem livre e belo."

Thomas Mann, Doutor Fausto, enviado por Paulo Almeida

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EARLY MORNING BLOGS 322

Further Instructions


Come, my songs, let us express our baser passions.
Let us express our envy for the man with a steady job and no worry about the future.
You are very idle, my songs,
I fear you will come to a bad end.
You stand about the streets, You loiter at the corners and bus-stops,
You do next to nothing at all.

You do not even express our inner nobilitys,
You will come to a very bad end.

And I? I have gone half-cracked.
I have talked to you so much that I almost see you about me,
1Insolent little beasts! Shameless! Devoid of clothing!

But you, newest song of the lot,
You are not old enough to have done much mischief.
I will get you a green coat out of China
With dragons worked upon it.
I will get you the scarlet silk trousers
From the statue of the infant Christ at Santa Maria Novella;
Lest they say we are lacking in taste,
Or that there is no caste in this family.


(Ezra Pound)

*

Bom dia!

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26.9.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (6ª série)

"A propósito dos textos de José Luís Pinto de Sá, Filipe Pereira e Alvelos e Acácio Costa, gostaria de lembrar alguns aspectos técnicos que foram ignorados por estes especialistas.

1º Na realidade não existe um concurso de professores mas vários perfeitamente independentes que decorrem simultaneamente. Suponho que o número de concursos anda perto dos quarenta. Isto é, há um concurso para os educadores de infância, outro para os professores do 1º ciclo, outro para os professores de ciências do 2º ciclo, outro para profs de geografia do 3º ciclo, e por aí fora.
Estes concursos processam-se de um modo independente ainda que um candidato possa sê-lo em mais do que um destes concursos.
A complexidade em alguns destes concursos é muito baixa dado o número reduzido de candidatos e das suas preferências (nem é preciso fazer a colocação à mão, basta fazer o trabalho a olho).
Não se compreende porque é que o ministério insiste em não dividir o problema e avançar com as colocações, por exemplo, dos professores do 1º ciclo, que em nada interfere com professores de outro grau.

2º É consensual que o problema da elaboração de uma lista ordenada é, em termos computacionais, canja.
O que aconteceu no entanto, nesta 1ª fase do concurso foi um grande flop.
Ora aqui não pode haver a desculpa do P e do NP ou seja lá o que for.
Portanto, ao começar houve incompetência de quem fez e burrice e ignorância por parte de quem tinha de decidir o que fazer daí para a frente.

3º Parece-me que o problema só entra na categoria da grande complexidade quando o número e qualidade das vagas não pode estar rigorosamente definido antes do processo de colocações propriamente dito começar. Isto só acontece quando se está a colocar candidatos que, se forem colocados numa das preferências indicadas abrem uma vaga na escola onde estavam e no caso de não terem lugar em nenhuma das preferências indicadas mantêm-se no lugar anteriormente ocupado.
Estando estes candidatos todos colocados pode-se passar a usar o tristemente célebre “algoritmo da ministra”: “Pega-se no primeiro da lista coloca-se no horário pretendido, risca-se essa vaga e passa-se ao 2º. Em termos computacionais isto entra no domínio da “canja” uma vez que é um processo completamente linear.
Assim o número de candidatos e vagas que entram no processo na fase complexa não gera uma situação significativamente diferente daquela que aconteceu nos anos anteriores e por isso não implica uma solução computacional mais complexa do que aquela que foi usada com resultados positivos anteriormente."


(Cândido Pereira, Professor de Ciências)

*

"O grande número de atestados médicos apresentados pelos professores nos novos concursos deste ano indicia ilegalidades e adultera a lista de graduação profissional, pois todos os docentes que os apresentaram têm prioridade sobre os outros na colocação, bem como prejudica aqueles que de direito reúnem as condições para tal. O número de pedidos de destacamentos por condições específicas (doença incapacitante) apresentados fala por si: em Vila Real, Chaves e Portalegre cerca de 80% dos candidatos, em Bragança mais de 50%, em todo o país 8985 docentes (Público 14 de Setembro), quase um quinto de total de 50 000 que concorrem nos quadros de zona pedagógica estão incapacitados. Está posta em causa a justiça na colocação dos docentes, há indícios fortes de fraude e poder-se-á concluir que deixou de ser necessário o mérito, pois bastará este expediente manhoso.

A eventual utilização fraudulenta da figura do destacamento deveu-se a diversos factores que contribuíram para a trapalhada geral que presidiu à implementação do novo articulado legal de colocação de professores.

1. Os processos foram apresentados nos agrupamentos que aceitaram todas as situações, mesmo aquelas que a legislação não contempla. Se tivesse havido aqui uma primeira triagem, muitos casos seriam imediatamente indeferidos.

2. O destacamento para obter condições específicas contempla os docentes que sejam portadores de doença incapacitante nos termos do Despacho Conjunto n.º A-179/89-XI, de 12 de Setembro, publicado no Diário da República, II série, n.º 219, de 22 de Setembro de 1989. A nova legislação abriu o leque de critérios para pedir o destacamento por condições específicas, o Decreto-Lei 35/2003 (que legisla sobre os concursos) permite, nomeadamente, pedir o destacamento também no sentido do apoio a ascendentes, enquanto anteriormente estava limitado aos descendentes.

3. O conjunto de doenças invalidantes é ele propício a duplos sentidos, a saber:

- Sarcoidose;

- Doença de Hansen;

- Tumores malignos;

- Hemopatias graves;

- Doenças graves e invalidantes do sistema nervoso central e periférico e dos órgãos dos sentidos;

- Cardiopatias reumatismais crónicas graves;

- Hipertensão arterial maligna;

- Cardiopatias isquémicas graves;

- Coração pulmonar crónico;

- Cardiomiopatias graves;

- Acidentes vasculares cebrais com acentuadas limitações;

- Vasculopatias periféricas graves;

- Doença pulmonar crónica obstrutiva grave;

- Hepatopatias graves;

- Nefropatias crónicas graves

- Doenças difusas do tecido conectivo;

- Espondilite anquilosante;

- Artroses graves invalidantes.

Muitas das enfermidades referenciadas, como ouvimos noticiado, reportam a doenças de coluna, hipertensão, otites, asma, distúrbios do sistema nervoso e outros tais que contabilizados e aberto o leque a familiares perspectivariam ser incluídos a quase totalidade da população docente portuguesa."


(...)

(José Alegre Mesquita)


*

"Não me parece que se possa formar alguma opinião sobre o valor do contrato do Ministério da Educação com a Compta sem conhecer mais dados. O "output" esperado (ou melhor, desesperado...) é conhecido, mas qual foi o "input"? Que tipo de validação era suposto existir (ou
não) antes da entrega dos dados à Compta? E que dados ao certo foram esses? Como é que foram passadas à Compta as regras para colocação de professores? Deram-lhe apenas a legislação ou já um algoritmo? Que prazo lhes foi imposto?
Vale a pena esperar um pouco por explicações oficiais para opinar melhor."


(Tiago Azevedo Fernandes)

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DEONTOLOGIA

Na RTP, a propósito do crime algarvio, entrevista-se uma criança de oito ou nove anos sobre o que ela acha que aconteceu. Nem vale a pena dizer que não há manual de deontologia que explicitamente não condene esta prática em termos taxativos. Não vale mesmo a pena, porque a selvajaria do nosso atraso cultural une num mesmo laço os “populares” que vão em excursão, os jornalistas que os atiçam com os directos televisivos, e a miséria de tudo aquilo que aconteceu.

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JORNALISMO DE RECADOS

Esta “notícia” do Público (Justino Incomoda PSD, mas Pode Beneficiar Governo) é um perfeito exemplo de como não se deve fazer jornalismo, e também um perfeito exemplo de como ele se faz. Tudo está condensado no título e no primeiro parágrafo:
As entrevistas do ex-ministro da Educação, David Justino, não caíram bem no PSD, mas dentro do Governo há quem pense que podem beneficiar a actual equipa da Educação, já que, pelo menos nos próximos dias, as atenções estarão centradas na "guerra" entre Justino e o seu ex-secretário de Estado, Abílio Morgado.

Comecemos pelo “PSD”, mais um caso de utilização abusiva de uma entidade colectiva, habitual em outros títulos em que a “GNR”, “os magistrados”, os “funcionários do SEF” aparecem como sujeito de acções ou opiniões, a maioria das vezes atribuíveis a um ou outro “magistrado”, ou às estruturas sindicais, ou apenas à fonte que falou com o jornalista. O que se contém nesta notícia é apenas uma opinião política dada anonimamente , transformada em fonte contra todas as regras – porque razão uma opinião política pura tem que ser protegida pelo anonimato das fontes? – e que depois é transfigurada como sendo a “opinião” de uma instituição. Se tomarmos à letra o que lá se diz, três pessoas poderiam, no limite, envolver o PSD: o Presidente do partido, o secretário-geral, ou um porta-voz autorizado por um dos dois, e, nestes casos, a autoria da opinião deveria ser pública. Tudo o resto é treta e cumplicidade entre o jornalista e a fonte para passar um “recado” O título dá ao “recado” a chancela do jornalista e do jornal, ou seja um grau de veracidade mistificadora que esconde o “recado”, ou seja, engana os leitores.

Depois há a opinião em si mesma, que vale pelo que representa de degradação da política. Vale por ser típica do grau zero da politiquice, mesquinha, mostrando um desprezo total pelos portugueses. Se há “no Governo” quem pense que tudo isto pode “beneficiar” a governação de Portugal, ou seja que este grau zero de politiquice, próprio de uma escola de intriga e habilidades, infelizmente muito comum nos partidos e nos jornais, revela mais que cabeças mal formadas e sem carácter, estamos muito mal.

Como de costume o único verdadeiro interesse informativo desta “notícia” era saber quem “acha” isto no Governo, para se pedirem responsabilidades e saída pela porta baixíssima.

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas

O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (5ª série)

e OS "POPULARES"

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AR PURO


J. C. Dahl

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EARLY MORNING BLOGS 321

What the Chairman Told Tom


Poetry? It's a hobby.
I run model trains.
Mr. Shaw there breeds pigeons.

It's not work. You dont sweat.
Nobody pays for it.
You could advertise soap.

Art, that's opera; or repertory--
The Desert Song.
Nancy was in the chorus.

But to ask for twelve pounds a week--
married, aren't you?--
you've got a nerve.

How could I look a bus conductor
in the face
if I paid you twelve pounds?

Who says it's poetry, anyhow?
My ten year old
can do it and rhyme.

I get three thousand and expenses,
a car, vouchers,
but I'm an accountant.

They do what I tell them,
my company.
What do you do?


Nasty little words, nasty long words,
it's unhealthy.
I want to wash when I meet a poet.

They're Reds, addicts,
all delinquents.
What you write is rot.

Mr. Hines says so, and he's a schoolteacher,
he ought to know.
Go and find work.


(Basil Bunting)

*

Bom dia!

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25.9.04


OS “POPULARES”

Mas que espectáculo deprimente este o dos “populares” à volta do cenário do crime algarvio, gritando vinganças, avançando teses e hipóteses, contando boatos, fazendo vir ao de cima o mesmo ambiente de violência e miséria que rodeia o próprio crime, que abominam em palavras, mas em que participam como mirones, e voyeurs!

A polícia também actua sem qualquer cuidado e discrição. As televisões, babadas pelo crime que aumenta as audiências, servem de chamariz para, de todo o lado do Algarve, uns homenzinhos, que não tem nada que fazer, possam dizer ufanos que vão lá todos os dias “ver”. À volta, aquelas mulheres com os filhos ao colo, que acham que este é o melhor espectáculo que lhes podem dar. Muitos a falar ao telemóvel, rindo-se. Todos valentíssimos, contrastando com o mutismo e a fuga das câmaras quando se trata de um assalto com os criminosos à solta. Enfim, sub-mundo lá dentro e sub-mundo cá fora.


*

"O que significa, e qual é a origem deste atributo "populares"? Podiam dizer "pessoas", "cidadãos" ou "indivíduos" ( também não gosto), ou "homens e mulheres". A mim soa-me como uma forma mais gentil de "a maralha". Ainda estou para ler uma notícia a anunciar que "os populares" participaram em qualquer coisa remotamente civilizada."

(Pedro Jorge)

*

"A propósito de "os´populares´" não pude deixar de me questionar sobre o seu comentário. Não percebi se o que era deprimente era o espectáculo em si ou o facto de as televisões o terem proporcionado ao país. Em meia dúzia de linhas o senhor "cascou" nos populares, na policia, nos vizinhos e nos jornalistas. Penso que não sobrou ninguém.

É lamentável que estes episódios tenham este tratamento por parte dos media mas não é novidade. Essa falta de critério nas noticias é uma coisa comum. Agrada a todos e pelos vistos até a si. Pouco serve o seu comentário aos populares, aos policias e aos jornalistas.
Os primeiros são aqueles a quem o país vai negando uma existência com alguma dignidade. Aos poucos o acesso aos mais elementares direitos vai estando apenas reservado ao "utilizador-pagador".
Esse espectáculo deprimente a que assistiu apenas aconteceu porque os que podem fazer algo por este pais se sentam em frente ao televisor e pensam que vivem em Bruxelas. A realidade do nosso país é a de uma sociedade que tem a preocupação de se distanciar do povinho, das feiras e dos centros comerciais. Comenta os anónimos e distância-se. Mas na realidade nada faz por essa gente - a maioria."


(Carlos Brás)

*

Vale também a pena ler a excelente reportagem de Ricardo Dias Felner intitulada "O Drama Familiar por Trás da Morte da Pequena Joana" no Público de hoje.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (5ª série)

"O comentário dos meus colegas do Minho Filipe Pereira e Acácio Costa é totalmente correcto e resume tudo o que já foi dito neste blog sobre o caracter técnico do assunto.

Já quanto ao caracter político do problema, acrescentaria:

O ex-ministro Justino explicou agora a candura da sua decisão. Visava, de facto, eliminar os mini-concursos e a 2ª fase das colocações que, como já foi aqui explicado, davam ao problema uma natureza sequencial que lhe eliminava a dificuldade computacional (de cariz matemático, claro).
Toda a classe política ratificou a referida decisão política. De boas intenções está o Inferno político cheio…
Confiou o ex-ministro no seu secretário de Estado e na funcionária Orvalho para a execução TÉCNICA do problema. Infelizmente, ninguém sabia que a referida e bem-intencionada decisão era tecnicamente infazível!... Mas estamos em Portugal, não é de admirar…! Onde é que se ensina cá o teorema de Godel?
Talvez a COMPTA o soubesse, mas é provável que não. A maioria dos informáticos mais velhos formou-se pela “prática”, e nunca aprendeu teoria da computação, esse ramo da matemática que trata de coisas como a indecibilidade, infazibilidade, etc. E a COMPTA tem todos os sintomas de uma empresa desse tipo, dada a sua idade e estado de crise. Mais: o próprio orçamento irrisório que foi contratado – 200 mil euros não é nada para um problema informático desta complexidade – denota a provável incapacidade da COMPTA em avaliar aquilo a que se comprometera. Mas é típico: o vendedor vende o serviço, acicatado pela pressão desesperada da Administração em aumentar as vendas para salvar a empresa, julgando que os programadores depois executarão a encomenda, sem os ouvir primeiro, ou ouvindo o seu chefe, formado na “prática” e sem formação teórica… (...)
"

(José Luís Pinto de Sá)

*

"Como é do conhecimento público, o processo de colocação de professores “correu mal”.
Aqui levanta-se uma hipótese de explicação sobre o sucedido.
A descrição a seguir efectuada é propositadamente genérica, mas, de acordo com a informação dada pelos orgãos de comunicação social, não nos parece que desvirtue os aspectos fundamentais do problema da colocação de professores.
Analisar o problema aqui descrito, facilitará o esclarecimento do problema com que se depara o Ministério da Educação.
Consideremos que existe um conjunto de professores que se pretende afectar a um conjunto de colocações, de acordo com as suas preferências. A ordenação dos professores, de acordo com os critérios estabelecidos no concurso, é trivial.
Independentemente do número de professores, em alguns segundos num computador vulgar resolve-se o problema.
No entanto, para resolver o problema, não basta ordenar os professores e atribui-los às colocações existentes de forma sequencial. Isto porque alguns desses professores encontram-se já colocados e pretendem alterar a sua colocação, o que implica a libertação de novas colocações que são postas a concurso. O problema complica-se.
Um problema deste tipo é essencialmente um problema matemático e não de sistemas informáticos. O difícil é o desenvolvimento de um algoritmo eficiente para o problema e não a sua implementação ou a capacidade de processamento do computador. Pior, por estranho que pareça a muitas pessoas, pode provar-se que não existe nenhum algoritmo eficiente para resolver um determinado problema - na linguagem da Teoria da Complexidade Computacional (porque é disso que se trata) a menos que P=NP, o que é actualmente aceite como improvável. Claro que se o problema tiver dimensões muito reduzidas poderá ser resolvido, mas um pequeno aumento nas suas dimensões implica um gigantesco aumento na dificuldade da sua resolução.
Chegados aqui, a hipótese levantada é a seguinte: nenhum dos intervenientes do processo de colocação de professores teve a noção do problema que tinha em mãos: quem originou o problema, quem encomendou a sua resolução e quem disse que o resolvia.
Resta a sugestão: por que não abrir o problema a todos os que por ele se interessem (nomeadamente investigadores), mantendo o anonimato dos intervenientes? Bastaria disponibilizar os dados e aproveitar o conhecimento das pessoas.
Seria uma forma de abrir a Ciência à Sociedade e a Sociedade à Ciência. Mais, poderia contribuir para se ouvir com menos frequência a pergunta: “para que serve a matemática?” Pois... para os anos lectivos poderem começar."



(Filipe Pereira e Alvelos / Docente e Investigador- Departamento de Produção e Sistemas / Universidade do Minho

Acácio Costa / Engenheiro Informático - Departamento de Produção e Sistemas / Universidade do Minho)


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EARLY MORNING BLOGS 320

De la brevedad engañosa de la vida


Menos solicitó veloz saeta
destinada señal, que mordió aguda;
agonal carro por la arena muda
no coronó con más silencio meta,

que presurosa corre, que secreta
a su fin nuestra edad. A quien lo duda,
fiera que sea de razón desnuda,
cada sol repetido es un cometa.

¿Confiésalo Cartago, y tú lo ignoras?
Peligro corres, Licio, si porfías
en seguir sombras y abrazar engaños.

Mal te perdonarán a ti las horas;
las horas que limando están los días,
los días que royendo están los años.


(Luis de Gongora)

*

Bom dia!

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24.9.04


COISAS SIMPLES


Nicolas de Stael

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (4ª série)

"Quem tem experiência em projectos de desenvolvimento de software estranhará toda esta situação sobre a colocação de professores, assim como os comentários que são feitos sobre deste. É que a expressão “falha técnica” é muito redutora para tentar descrever o que se pode ter passado. Já assisti a projectos bem sucedidos e a projectos que foram insucessos; também tenho conhecimento de projectos mal sucedidos em diferentes áreas.

Um aspecto comum a estes projectos classificados como fracassos é que a origem do problema raramente é uma falha técnica. Os motivos da maior parte dos insucessos dos projectos informáticos devem-se a questões relacionadas com a gestão do mesmo. Como os próprios informáticos dizem, o problema raramente é hardware ou software; as raízes do problema estão no “Peopleware”.

(Marco Oliveira)

*

"Creio que o assunto já morreu no “Abrupto” mas, depois de ter sido elucidado de que com o actual sistema se pretenderia aproveitar as vagas disponibilizadas pelos transferidos AINDA NO MESMO CONCURSO, o que seguramente não sucedia no anterior sistema, ocorre-me o seguinte problema bem ilustrativo da infazibilidade computacional da questão:

Suponhamos os professores X e Y, detentores dos lugares x e y. X concorre à vaga y, e Y à vaga x. Ou seja, pretendem trocar de lugar.

Obviamente, um algoritmo simples como os que se usavam até há anos, não transferirá nenhum deles, porque não encontrará nenhuma vaga disponível para o 1º a considerar, nem portanto para o 2º.

Um algoritmo que faça coisas do género: “supor que Y liberta o lugar pretendido por X e efectuar a sua colocação provisória, prosseguindo e quando chegar a Y logo ver se ele realmente muda de sítio, se sim tudo ok, se não voltar ao início”, é obviamente fácil mas requererá um tempo cósmico, quando se tratam de 50 mil professores. Obviamente, é um problema de tipo NP, ou em termos simples, infazível.

Contra a infazibilidade computacional existe uma terapêutica: inteligência artificial (IA).

Em geral produz resultados bons mas tem, porém, um problema: os resultados são bons mas não perfeitos, e portanto são sempre impugnáveis pelo rigor da lógica jurídica.

Neste caso, não se vai resolver o problema com IA mas sim com inteligência natural (à mão). Mas como esta sofre das mesmas limitações da IA, preparemo-nos para o chorrilho de impugnações com que o Ministério vai ser invadido quando sairem as listas…
Claro que a solução está em descentralizar (responsavelmente) as colocações pelas escolas. Como nas empresas. Como na Holanda. Como…"


(Pinto de Sá)

*

"No meio desta confusão de "NP´s", "Programações lineares" e afins subsiste-me uma pergunta: -se se podia fazer "manualmente" a colocação, porque é que não se tomou essa decisão em devida altura, até para servir de termo de comparação com o computador?

Talvez seja ingenuidade minha, mas eu suponho que quem ocupa um cargo de ministro deve ter uma capacidade de resolver problemas e pensar alternativas, ou ter alguem perto que faça isso esta ministra poderia ter tomado essa atitude quando tomou posse, e neste momento o problema estaria resolvido. Bem sei que esta trapalhada não teve origem na actual titular do cargo, mas esta falta de agilidade em resolver a questão parece-me uma razão suficiente para após a resolução do problema a ministra apresentar a demissão.
"

(João Gundersen)

*

"Acabo de ler mais no Abrupto sobre os problemas informáticos ligados à listagem de colocação de professores do que o que esperava vir a aprender. Não tenho qualquer pretensão de acrescentar mais informações (ainda estou a digerir as que li) mas, já que foi levantada a questão de o problema ser ou não NP, não quero perder esta oportunidade de mencionar um dos mais famosos problemas em aberto da Matemática, que é o problema P versus NP. No site do Clay Mathematics Institute pode ler-se uma descrição do problema. E aquele instituto dá um prémio de um milhão de dólares à primeira pessoa que o resolver."

(José Carlos Santos)

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EARLY MORNING BLOGS 319

LOS FORMALES Y EL FRÍO

Quién iba a prever que el amor ese informal
se dedicara a ellos tan formales

mientras almorzaban por primera vez
ella muy lenta y él no tanto
y hablaban con sospechosa objetividad
de grandes temas en dos volúmenes
su sonrisa la de ella
era como un augurio o una fábula
su mirada la de él tomaba nota
de cómo eran sus ojos los de ella
pero sus palabras las de él
no se enteraban de esa dulce encuesta

como siempre o como casi siempre
la política condujo a la cultura
así que por la noche concurrieron al teatro
sin tocarse una uña o un ojal
ni siquiera una hebilla o una manga
y como a la salida hacía bastante frío
y ella no tenía medias
sólo sandalias por las que asomaban
unos dedos muy blancos e indefensos
fue preciso meterse en un boliche

y ya que el mozo demoraba tanto
ellos optaron por la confidencia
extra seca y sin hielo por favor
cuando llegaron a su casa la de ella
ya el frío estaba en sus labios los de él
de modo que ella fábula y augurio
le dio refugio y café instantáneos

una hora apenas de biografía y nostalgias
hasta que al fin sobrevino un silencio
como se sabe en estos casos es bravo
decir algo que realmente no sobre

él probó sólo falta que me quede a dormir
y ella probó por qué no te quedas
y él no me lo digas dos veces
y ella bueno por qué no te quedas
de manera que él se quedó en principio
a besar sin usura sus pies fríos los de ella
después ella besó sus labios los de él
que a esa altura ya no estaban tan fríos
y sucesivamente así
mientras los grandes temas
dormían el sueño que ellos no durmieron.


(Mario Benedetti)

*

Bom dia!

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (3ª série)

"Relativamente ao comentário do leitor Manuel João Bóia e em jeito de resposta recomendo vivamente a leitura atenta dos posts do Paulo Querido , bem como dos diversos artigos para que apontam os links que ele lá tem. Talvez o leitor chegue à conclusão que ofertas de colaboração e análises diversas não faltaram. Talvez tenha havido, isso sim, autismo dos nossos governantes."

(Dionísio Leitão)

*

"Sobre a questão dos problemas NP, P, e afins, queira verificar o seguinte link
Eu não tenho muita experiência em lidar com aplicações de software que tenham uma dimensão que não possam ser globalmente compreendidas por uma só pessoa. Sei no entanto o suficiente para dizer que num quadro destes, a solução miraculosa do programador sobredotado é algo que, salvo melhor opinião, enferma de alguma ingenuidade. Ainda neste contexto, são muitos os exemplos, mesmo em países com outras posturas de controlo dos seus processos de desenvolvimento, de projectos de software que ou ultrapassam o prazo inicialmente previsto, ultrapassam o orçamento, uma combinação das duas, ou não chegam sequer a ver a luz do dia. Portanto, não é novidade este tipo de acontecimentos. Normalmente, a principal razão atribuída como causa para esse descarrilamento é a subestimação dos problemas e dificuldades associados ao projecto.

Mas sinceramente, e isto é pura especulação porque não disponho de dados concretos, o problema estará mais ligado à própria especificação da aplicação. Pergunta: com a actual legislação (leia-se regras de ordenação) a frase "o professor A está colocado à frente do professor B" é verdadeira, ou falsa? Ou não se consegue responder de todo? Se não se conseguir responder a estas perguntas para todos os professores (e esta é uma fase muito anterior sequer a começar-se a modelar a aplicação) de forma consistente e completa, então não há solução informática para o problema. Ser consistente significa que, com o conjunto de regras definido, de forma alguma a frase atrás referida pode ser simultaneamente verdadeira e falsa, e completa significa que deve ser sempre possível atribuir um dos valores lógicos (verdadeiro ou falso). Como referi no inicio, este comentário não passa de especulação, mas este é um problema comum quando se pretende automatizar um conjunto de processos, regras e procedimentos, isto é, constatar-se que essa doutrina não é completa ou é inconsistente.

Noutro âmbito, mas ainda sobre o mesmo tema, é de certeza uma bricadeira dizer-se que nunca antes houve problemas nos concursos de professores. Este será concerteza o problema mais grave, mas daí a dizer-se que os concursos nos anos anteriores foram modelos de perfeição vai uma grande distância?

Acima de tudo, está a procurar-se uma solução técnica para um problema político de organização social. Ainda ninguém me conseguiu explicar porque é que um Conselho Directivo que seja responsável por 3000 alunos, uma série de professores e funcionários, não tenha a competência e autonomia para ser ele a contratar o seu corpo docente. Obviamente que isso implicaria uma responsabilização relativamente aos resultados (dos alunos) e, relativamente a esses, é sempre muito mais fácil responsabilizar os malandros dos políticos em geral e o governo em particular. Mas acredito que ainda virá o tempo...
"

(José Coelho)

*

"Tem razão Miguel Gonçalves Sousa. O problema da colocação dos professores é, de acordo com as regras definidas na lei dos concursos, um problema NP. E podia ter ido mais fundo na explicação da complexidade do problema. Tomo a liberdade de seguir o seu raciocínio: se o último professor da lista, a ser colocado, libertar uma vaga que interesse ao primeiro da lista, o baralho vai ser novamente distribuído. Esta redistribuição deve-se, portanto, a uma causa bem identificada, a colocação do último professor da lista numa determinada escola. Mas que garantia há, no fim da segunda distribuição, de que esse último professor vai ficar colocado? Nenhuma. E se não ficar? Então já não liberta a vaga para o primeiro da lista.

A questão pode expor-se de outra forma. Suponhamos que um computador potentíssimo disponibilizava todas as combinações possíveis de colocação dos professores. Googles de hipóteses diferentes. Algures nesse palheiro há-de esconder-se a agulha, isto é, a melhor de todas as soluções. Mas é possível, é provável, que até essa solução borgesiana esteja ferida de ilegalidade. Mesmo na agulha pode haver uma vaga ocupada por um professor que estava atrás de outro, ambos concorrentes a essa vaga.

É por isso que JPP tem razão quando repetidamente defende a importância das ciências exactas. Um legislador avisado daria conta da subtileza que distingue a “solução ideal” da “melhor solução” e, no corpo da lei, estabeleceria os contornos matemáticos dessa diferença. Um técnico competente dominaria heurísticas, como os algoritmos genéticos, que integradas no software fizessem aparecer, num computador normal, a solução óptima.

O problema maior é que estão criadas as condições para alterar o carácter nacional dos concursos. Por ignorância, porque dá trabalho tentar perceber o que realmente aconteceu, porque toda a gente decidiu que isto não funciona, mais cedo ou mais tarde, vão cumprir-se os desígnios de José Manuel Fernandes: os concursos terão carácter municipal. Ao abrigo da fixação dos docentes – está por provar que seja coisa boa –, ao abrigo da ligação ao meio – está por provar que seja coisa boa –, ao abrigo do desejo de descentralizar – está por provar que seja coisa sempre boa –, as escolas vão cair nos braços das autarquias – está por provar que não seja coisa ruim. E como o escrutínio dos processos municipais é quase nulo, nunca mais a colocação dos professores fará cair ministros ou fará abrir telejornais.

Pode ser que alguém se lembre de que a regionalização do país garante as virtudes do centralismo e rejeita os defeitos do municipalismo. Eu votei sim no referendo da regionalização. Mas cada dia que passa mais me vai parecendo que fui o único.
"

(Francisco Queirós)

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23.9.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (Nova actualização)

"Tive oportunidade de verificar com agrado que a discussão técnica em torno da colocação dos Professores está a acontecer. Este é um papel que caberia primariamente ao Ministério da Educação e aos seus técnicos efectuar com transparência, secundados pelos responsáveis políticos no que à política diz respeito, mas enfim...

Uma pequena nota relativamente às anotações pertinentes surgidas entretanto no Abrupto, não esquecendo que não sou nem pretendo vir a ser um perito em optimização e conheço só superficialmente o processo de colocação (ver legislação aqui):

- (Pinto de Sá) Como diz, e bem, na parte final da sua nota, a solução que preconiza seria a mais fácil de implementar e provavelmente a mais correcta; só que não me parece ser essa a que o Ministério definiu na legislação e implementou pelos motivos referidos por Miguel Sousa!!! A colocação é um problema de optimização e como tal deve ser conceptualizado e tratado;

- se entre pessoas, com um "background" que lhe permite perceber as dificuldades de um processo a este nível, se gerou uma saudável discussão de argumentos, imagine-se a dificuldade da parte da população em compreender o que se está a passar! E não é por este facto que os intervenientes (pais, alunos e professores) perdem o direito a serem informados cabalmente pelo Ministério dos problemas técnicos existentes. E muito menos serem presenteados com soluções simplórias “com os dedos”...

Alguém se divertiu hoje a calcular (peço desculpa mas não me lembro da fonte), em termos muito básicos o tempo que demoraria a colocar um dos supostos cerca de 50.000 professores pela equipa “com os dedos” do Ministério no tempo anunciado para a conclusão, 24 sobre 24 horas... o resultado apresentado sugere que teriam que colocar 1 professor a cada 15 segundos... Concluindo, não é “com os dedos” que vão perceber e resolver o problema...


PS É pena que os sindicatos envolvidos, que têm nos seus quadros óptimos especialistas, não contribuam para o esclarecimento técnico do problema e não alertem para os perigos da estratégia manual. Estarão à espera de beneficiar com a confusão emergente?"


(Manuel João Boia)

*

"Não sendo um informático já trabalhei várias vezes com programadores e pessoas da área. Usando uma expressão mais popular e deixando de lado as programações lineares e afins eu diria que este é um problema do tipo "entra porco e sai salsicha". Ou seja, é um problema que não admite duas soluções; no entanto, podem ser necessários um número enorme de iteracções para que este seja resolvido.
Para que este problema seja correctamente resolvido - ou seja para haver uma salsicha de qualidade - é necessário que o "porco" seja bom e o processo de fabrico também. Aparentemente nada disto acontece. Traduzindo a analogia culinária o que se pode dizer é que:

a) os dados de entrada não eram de qualidade o que leva a erros (há professores "nascidos" em 2004, etc).

b) o processo por ter várias fases dependentes entre si (o que o torna
complexo) devia ter um acompanhamento e um controle de qualidade permanente, o que também não aconteceu.

A solução de passar o trabalho para manual parece-me grave porque significa sem margem para duvidas que ou vai ser mal feito ou, ainda mais grave - ESTE PROBLEMA JÁ PODIA ESTAR RESOLVIDO.

Vamos então à informática: correndo o risco de ser contra-corrente, os 600 mil euros parece-me pouco, muito pouco para escrever e implementar de raiz um sistema informático novo. è um trablaho que demora cerca de um ano e 50000 euros por mês para pagar a uma equipa que o desenvolva DE FORMA COMPETENTE e admitindo que a empresa quer ter lucro parece-me sinceramente barato. Temos então a prova provada que o barato sai caro. Muito caro neste caso.Subscrevo o que a respeito deste tema diz o leitor Pinto de Sá e atrevo-me a pensar que acima de um problema de qualidade de programação esteve um problema de especificação, o tal problema homem-homem.

Por fim, o mais importante. É crucial para a higiene social deste país que os culpados não passem impunes. A COMPTA tem de ser levada a tribunal até às últimas consequências. Os técnicos do ministério tem de ser responsabilizados, despedidos se for caso disso. Os professores que meteram atestados falsos para arranjarem destacamento tem de ser severamente punidos (lembram-se dos alunos de Guimarães?).

Neste pântano em que acabou este processo ninguém sai ileso. Prejudicados alem dos professores que de uma forma séria querem exercer o seu trabalho, temos tambem alunos e pais. Como JPP bem nota, os sindicatos que nada fizeram para melhorar o processo, alem de de verificar as falhas que eram óbvias, saem reforçados. Talvez seja altura de se envolverem e comprometerem mais do que fazer "refresh" das páginas da Internet."

(Pedro Costa Lima)

*

"Li no seu blogue uma mensagem assinada por Pinto de Sá onde se escreve:

"O problema computacional da colocação de professores, pelo contrário, é extremamente simples, ou "linear". Cada professor é ordenado numa lista em função da sua qualificação em diversos itens que por sua vez têm prioridades relativas bem definidas."

Não tem razão o seu leitor e quem tem efectivamente razão era o especialista que falou na SIC que afirmou que este é um problema NP.

Talvez não tenha sido muito bem entendido qual é o problema deste método. Quando se coloca um professor na primeira vaga disponível da sua preferência, este liberta uma vaga numa outra escola. Essa vaga, anteriormente inexistente, poderia ter sido uma preferência de um qualquer professor que estivesse acima no ranking e que teria sido colocado nesse lugar se a vaga estivesse disponível. É por isso necessário percorrer toda a lista acima para ver se algum professor já "colocado" desejava essa vaga. Se por acaso tal acontece, a situação repete-se. Liberta-se uma nova vaga e por aí fora.

Suponha que o último professor colocado liberta uma vaga no lugar desejado pelo primeiro. O primeiro sai de onde estava e passa a ocupar esta vaga. O baralho vai ser novamente distribuído. Se a isto juntar uma enorme quantidade de outros factores que afectam as colocações, como preferências, prioridades, professores com habilitações para mais do que uma disciplina... tem um verdadeiro problema NP.

A colocação à mão vai criar milhares de protestos. É impossível optimizar a colocação de 30.000 professores sem auxílio informático. Os sindicatos vão ter muito com que se entreter nos próximos meses."


(Miguel Gonçalves de Sousa)

*

"Sendo electrotécnico e interessando-me pelas questões da indecibilidade e complexidade computacionais, por um lado, e tendo por outro lado preenchido muitas vezes os boletins de candidatura da minha mulher, professora do secundário, escandalizou-me um comentário feito na TV por um "especialista em informática da SIC", que disse que o problema era informaticamente do tipo NP, e que vai no mesmo sentido de um comentador do seu site que fala em "problema de programação linear".
É que há que fazer os seguintes esclarecimentos, que procurarei serem claros e simplificados:
Um problema NP ou de optimização (requerendo programação linear), é um problema para o qual há muitas soluções possíveis, em princípio. Um exemplo clássico é o do "caixeiro viajante": escolher o percurso que soma a menor distância total a percorrer na visita a n cidades. À partida há que começar por qualquer uma das n cidades, depois escolher, para cada uma delas, as n-1 seguintes, e depois para cada uma dessas as n-2 seguintes, e assim sucessivamente. No final, comparar todas as distãncias e escolher a menor. Eventulamente há heurísticas que permitem acerlerar o problema, mas ele é "complexo". Complexo para o computador, mas não para o programador!!!!
O problema computacional da colocação de professores, pelo contrário, é extremamente simples, ou "linear". Cada professor é ordenado numa lista em função da sua qualificação em diversos itens que por sua vez têm prioridades relativas bem definidas. Uma vez a lista definida, o 1º professor, que se candidatou a uma lista de escolas ordenada pela sua preferência, vê, pela ordem que ele indicou, se há vaga nessa escola. Se sim, a vaga é-lhe atribuída, deixa de estar disponível para os seguintes, e o algoritmo passa ao professor seguinte da lista. O problema é linear, portanto. Mas para o computador, não para o programador!!! E isto porque há imensos itens de ordenação, acrescendo que há casos em que o professor concorre a uma "zona", deixando portanto ao "computador" a prioritização das escolas da zona a escolher.
Por conseguinte, onde houve problemas foi na definição dos itens!!! Isto é, no diálogo homem-homem.

E depois, quem trabalha nestas coisas sabe que se a empresa não tomar certas precauções (mas é para isso que serve a "certificação"), basta que o programador não tenha documentado o seu programa e se tenha despedido para que o seu trabalho seja impossível de corrigir!"


(Pinto de Sá)

*

"Uma das belezas do mundo é que tudo tem um lado bom.
O lamentável exemplo da colocação de professores, sendo muito grave, tem contudo um enorme valor como demonstração do que está mal e de como falta competência na gestão técnica de assuntos que não deveriam justificar nenhuma dificuldade especial.

De entre os muitos factos que agora se tornaram absolutamente indesmentíveis, destaco os seguintes.
1) O sistema de gestão das vagas de professores no Ministério da Educação é patético (e isto não tem nada a ver com Informática).
2) Não tem sido dada responsabilidade de gestão técnica a quem tem perfil adequado para isso.
3) As muitas iniciativas de difusão das Tecnologias de Informação promovidas pelo Governo deveriam ter tido segunda prioridade por comparação com a revisão completa dos sistemas informáticos estatais que é suposto ajudarem o país a funcionar.
4) Os procedimentos normais de controlo e auditoria ao trabalho que é feito (seja por funcionários públicos ou por entidades externas) não são aplicados pelo Estado.
5) Se o sistema de Justiça estivesse a funcionar saudavelmente, seria viável recorrer a ele para corrigir "à força" em tempo útil muita coisa errada.

Não partilho da opinião de que tudo são "máfias" e má vontade. Há também disso, mas mais graves são os problemas de incompetência de Gestão e de falta de maturidade de pessoas a quem têm sido atribuídas responsabilidades de chefia. (Uma delas chegou ao topo da hierarquia, não nos esqueçamos!) É altura de as substituir em larga escala. É altura de tornar a Justiça a prioridade das prioridades. Fomos todos nós que permitimos que a situação chegasse onde chegou, cabe-nos a nós todos corrigir os erros."


(Tiago Azevedo Fernandes)


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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: TÃO LONGE QUE JÁ FOMOS





e tão perto ainda. Trajectos marcianos da Spirit e da Opportunity, duas senhoras caminhantes cheias de vida. Uma subiu aos céus e outra desceu aos infernos, onde parece haver mais vida. Bad girls go to hell... Começa-se a perceber as diferenças: Good girls loosen a few buttons when it's hot./Bad girls make it hot by loosening a few buttons." Vá, divirtam-se.

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AR PURO


James Ensor

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS

"(...) secundo as observações do leitor Tiago Fernandes, temendo mesmo que seja pouco o que ele diz. Isto porque tenho visto a meu lado muitos acidentes de outsourcing informático na função pública que apenas não se tornam conhecidos porque não há um prazo de tornar público um serviço. Digo-lhe portanto que o que se passou agora com a colocação dos professores é o que é bastante frequente, incrivelmente frequente. Vale por isso a pena insistir na questão. Uma das questões que causa os problemas é a fraca competência de ambos os lados- os informáticos e os funcionários. Numa sessão de trabalho, em que o informático faz uma pergunta trivial do género, "é A e B ou A ou B", a resposta mais provável do funcionário é "depende". A partir daí e como o "depende" precisa de esclarecimento, tudo pode começar a complicar-se."

(Maria João Pereira)

*

"Para uma aplicação informática necessitar de 17 horas a processar uma lista de professores, e mesmo assim com erros de processamento, como é possivel (partindo do pressuposto que o modelo é o mesmo) o mesmo trabalho demorar 1 semana executado à mão ? poderemos nós garantir a fiabilidade dessa lista ? "


(Luis Miguel Silva)

*

"Será que alguém pode explicar porque é que se contratou a tal compta para criar meis informáticos, ao que tudo indica sofisticados (uma vez que ninguém os consegue pôr a funcionar) para fazer um trabalho que manualmente pode ser feito numa semana."

(Rosa)


*

"Sem ser um especialista na matéria, suspeito que todas estas questões em torno da listagem de colocação de professores resultam de um típico problema de "Programação Linear", estudado e ensinado nas nossas Universidades há muitas décadas.

Não tenho conhecimento directo da legislação que estabeleces as regras (restrições e variáveis) para esta colocação, mas suspeito que no afã de todos -Ministério e Sindicatos- juntarem a sua vontade às "regras", criaram um problema matematicamente insolúvel, i.e. sem uma solução única. Ninguém parece ter tido a preocupação de testar a validade matemática da legislação...

Parece-me que, quando muito, poder-se-á utilizar métodos de "Programação Linear" para obter uma "solução óptima local", que responde parcialmente ao problema sem o tempo de cálculo (seja “à mão” ou por métodos computacionais) tender para infinito...

Assim, qualquer solução manual, como o Tiago Azevedo Fernandes descreve, será sempre “parcial” e trará o descrédito ao processo por não ser compreendida e explicada.
"

(Manuel João Boia)

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EARLY MORNING BLOGS 318


I Saw a Peacock, with a fiery tail,
I saw a Blazing Comet, drop down hail,
I saw a Cloud, with Ivy circled round,
I saw a sturdy Oak, creep on the ground,
I saw a Pismire, swallow up a Whale,
I saw a raging Sea, brim full of Ale,
I saw a Venice Glass, Sixteen foot deep,
I saw a well, full of mens tears that weep,
I saw their eyes, all in a flame of fire,
I saw a House, as big as the Moon and higher,
I saw the Sun, even in the midst of night,
I saw the man, that saw this wondrous sight.


(Anónimo, anterior a 1655, e pode ser lido de duas maneiras, como dois poemas, um antes e outro depois das vírgulas)

*

Bom dia!

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22.9.04


COISAS SIMPLES


Juan Gris

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EARLY MORNING BLOGS 317

Everybody Tells Me Everything


I find it very difficult to enthuse
Over the current news.
Just when you think that at least the outlook is so black that it can grow no blacker, it worsens,
And that is why I do not like the news, because there has never been an era when so many things were going so right for so many of the wrong persons.


(Ogden Nash)

*

Bom dia!

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21.9.04


A LER

De Gabriel Silva , INCOMPETÊNCIAS no Blasfémias.

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LÁ VAMOS CANTANDO E RINDO



Do digital para o analógico, da base de dados para a caixa das fichas, do processador de texto para o lápis e o papel, do processamento de dados para as contas de cabeça, do software para o hardware mais caro que há, as pessoas.

*

"Se o processamento vai ser feito "à mão" para 50.000 professores, então verifica-se uma de três situações:

a) qualquer programador competente consegue em um ou dois dias fazer um programa que execute automaticamente aquilo que agora vai ser feito manualmente ou

b) esse "processamento manual" implica "interpretações" caso a caso de uma lei que estará eventualmente mal feita (e que portanto não permitirá extrair um conjunto inequívoco de regras de colocação susceptível de ser traduzido fielmente em software) ou

c) as regras a utilizar serão uma "versão simplificada" das que estão previstas na lei, que portanto não seria integralmente cumprida.

É _muito_ importante perceber o que se passa, afinal.
"

(Tiago Azevedo Fernandes)

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UM NOME QUE NÃO DEVIA AQUI ESTAR



o do Primeiro-ministro de Portugal.

(Publicidade paga no Diário de Notícias de 20 de Setembro de 2004)

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UM EFEITO DA CRISE DAS COLOCAÇÕES

vai ser o reforço dos Sindicatos dos Professores, contrariando as tendências para a crise genérica do sindicalismo em Portugal. Os efeitos serão observáveis a curto e médio prazo, e tornarão ainda mais difícil “governar” a educação, onde os sindicatos são poderosas máquina da resistência à mudança e controlam cada vez mais o ministério. Vão sair desta crise a mandar muito mais.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM MAPA MARCIANO



Um importante mapa marciano, e uma descoberta europeia: as zonas onde há água e onde há metano sobrepõem-se em Marte. Duas hipóteses: processos geotermais produzem o metano; ou há actividade bacteriana nas águas subterrâneas de Marte. Para se ler mais, aqui.

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UM GOVERNO OU UM AJUNTAMENTO

Ouve-se e não se acredita. Álvaro Barreto diz que é “precipitado” dizer que a refinaria de Leça vai ser encerrada. Quem se precipitou? O primeiro-ministro. Diz também que todos os estudos anteriores concluíram que a refinaria não deve ser encerrada. Quem se precipitou não sabia, ou não se informou antes de falar?
Não parece um governo, parece um ajuntamento.

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O SONHO DOS GOVERNOS



é ter jornais assim. Primeira página do Diário de Notícias de hoje, num cantinho em baixo, notícia sobre a colocação dos professores e o bloqueamento do início do ano lectivo, intitulada "guerra de nervos na lista de professores". "Guerra de nervos"?

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EARLY MORNING BLOGS 316

Ozymandias.


I MET a Traveler from an antique land,
Who said, "Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desart. Near them, on the sand,
Half sunk, a shattered visage lies, whose frown,
And wrinkled lip, and sneer of cold command,
Tell that its sculptor well those passions read,
Which yet survive, stamped on these lifeless things,
The hand that mocked them and the heart that fed:
And on the pedestal these words appear:
"My name is OZYMANDIAS, King of Kings."
Look on my works ye Mighty, and despair!
No thing beside remains. Round the decay
Of that Colossal Wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away.


(Shelley)

*

Bom dia!

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20.9.04


NORMAIS

Pessoas com qualidades acima do comum, politicamente activas, que dizem o que pensam sem grandes cálculos, independentemente de se concordar com o que pensam e o que dizem, são raras nos dias de hoje. Por isso é um prazer ver Silva Lopes, ontem, e Manuel Alegre hoje, no programa do Público / Renascença na 2. Pessoa normais, que não são construídas pelo marketing, nem pelo seu próprio espelho - que alívio! Ar puro.

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EPITÁFIO


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DIFERENÇAS: COMUNICAÇÃO OU COMPETÊNCIA?

Marcelo Rebelo de Sousa acha que esta semana foi “desastrosa” em termos de “coordenação política e comunicação”; eu acho que foi desastrosa em termos de governação. O problema nunca está, ou está minimamente, na “comunicação” ou na sua falta. Está sempre mais em saber se se está a governar mal ou bem, com competência ou sem ela, em função do interesse público ou do jogo político e eleitoral. É para mim claro (eu sei que não é para muitos) que há um problema estrutural de competência no governo, competência política e técnica, e que isso as habilidades não resolvem. Podem minimizar, podem enganar, mas não resolvem o fundo. É até provável que, à custa de muito dinheiro para as empresas de relações públicas, de marketing e de publicidade, a “comunicação” melhore. Algum “bom governo” pode ser comprado, embora custe muito caro e dure o tempo da encomenda. Agora, o que é chumbo não se muda em ouro lá porque está dentro do cadinho de alquimista que é o poder. Pode brilhar, à custa de muito spin, mas ouro não é.

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AR PURO


Max Liebermann

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EARLY MORNING BLOGS 315

1951



Alone at night
in the wet city

the country's wit
is not memorable.

The wind has blown
all the trees down

but these anxieties
remain erect, being

the heart's deliberate
chambers of hurt

and fear whether
from a green apartment

seeming diamonds or
from an airliner

seeming fields. It's
not simple or tidy

though in rows of
rows and numbered;

the literal drifts
colorfully and

the hair is combed
with bridges, all

compromises leap
to stardom and lights.

If alone I am
able to love it,

the serious voices,
the panic of jobs,

it is sweet to me.
Far from burgeoning

verdure, the hard way
in this street.

(Frank O'Hara)

*

Bom dia!

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LEVAR 2

Escrito aqui em princípios de Agosto:

"Existe em certos sectores da direita e da esquerda intelectual portuguesa a ilusão que um governo Santana Lopes será um governo que prosseguirá políticas liberais, ou, como pejorativamente agora se diz, “neo-liberais”. Enganam-se completamente. Se há coisa que em Portugal sofrerá com o populismo é o discurso genuinamente liberal. O populismo é nacionalista, defensor da closed shop, “social” e clientelar. O populismo será alicerçado em duas coisas muito próximas na vida política portuguesa: um discurso social, que pode mesmo chegar a ser socializante, e na gestão de clientelas. É uma fórmula muito eficaz em Portugal, potenciada agora pela forma como actuam os media."

Como se está a ver.

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19.9.04


DIARQUIA: PRIMEIRO-MINISTRO A E PRIMEIRO-MINISTRO B

Num governo que fala imenso, mergulhado numa logomaquia completa, que só revela incompetência e falta de estudo das medidas que anuncia, houve hoje uma novidade: temos dois primeiros-ministros, o A e o B. Na entrevista de Paulo Portas à RTP, na sequência da de Santana Lopes ontem à SIC, cobrindo as mesmas matérias e âmbito governativo, tivemos um exemplo (até pela linguagem do “nós”: “nós” governamos em conjunto, “nós” decidimos) de diarquia governativa. Aprende-se todos os dias.

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INTENDÊNCIA

Actualizada PROSAICA: ABÓBORAS ALIENÍGENAS



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LEVAR

Pois é. É tão fácil levá-los.

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UM VULCÃO A SÉRIO



O Etna hoje.

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PROSAICA:ABÓBORAS ALIENÍGENAS

Eu só conheço duas abóboras célebres na história, mas verifico agora, com espanto e choque, que não sei nada de abóboras. (By the way, a abóbora célebre número um é a que se transforma em coche à meia-noite e que leva a Cinderella ao baile; a número dois é aquela a que devemos muito da carreira de Richard Nixon, a abóbora onde Whittaker Chambers, membro do aparelho secreto ligado ao PC dos EUA, escondia os documentos que Alger Hiss trazia do Departamento de Estado para dar à espionagem soviética. Existe, porque a América é o que é, um "Whittaker Chambers Pumpkin Patch National Historical Landmark", que tem o recorde do menor número de visitas.)

Acontece que, num canteiro destinado a plantas mais nobres e mediterrânicos citrinos, apareceu-me uma abóbora. Deve ter nascido do nada, como a matéria. De repente, um caule rastejante com umas folhas enormes, começou a atravessar as flores, primeiro sem se ver, escondida na massa do verde, deu a volta a um limoeiro, passou junto do pé de uma laranjeira, e saiu do canteiro. Já tinha uns metros de comprido, um tamanho pouco comum para coisas rastejantes daquela dimensão. Saída para fora do canteiro, assumiu-se. Eu olhei para aquilo e pensei num velho filme de ficção cíentifica, o Dia das Trífides. Estou feito, se logo houver um cometa qualquer, não olho para ele, e rego a trífide com água do mar. Vem no livro do Wyndham.

Só que, encontrando-se ao sol, a coisa começou a crescer exponencialmente, deitando umas flores amarelas que logo desapareciam para mostrarem uma intumescência suspeita. Pensei para comigo que vida animal, ali à volta, já tinha sido. A trífide devia comer tudo o que passasse. Crescer, continuava a crescer, folhas cada vez maiores, mas a gravidade pregava-lhe algumas partidas. Quando as intumescências começavam a pesar, o caule não as suportava e partiam. O chão era pedra e não a terra do canteiro, e a rigidez do solo impedia uma acomodação que a terra mole dava. A trífide começava a sofrer pela sua ambição. Mas, sendo a selecção natural o que é, sempre há um caule mais poderoso e que resiste, até que a intumescência verde pousa no chão suportando-se. Aconteceu.

Então deu-se um processo que todos os dias mais me convence do carácter alienígena da coisa: aquilo cresce a uma velocidade não-biológica. Não-biológica terrestre. Lá no fundo do espaço não sei. Se me sentar em frente e olhar com atenção, aquilo vai-se enchendo, centímetro a centímetro, e eu vejo os centímetros a somarem-se. Oblonga, verde, pintada de ocasional amarelo, obsessiva, fascinante, imponente, estranha, a abóbora. Se continuar assim, fujo.

*

"As abóboras são mesmo assim...
(Imperdoável ;-) não haver uma terceira abóbora no seu imaginário... a gigantona de Aquilino Ribeiro). Leitura obrigatória : Mestre Grilo Cantava e a Giganta Dormia (Arca de Noé, III Classe), de Aquilino Ribeiro.
"

(Manuela D.L. Ramos)

*

Excerto de Mestre Grilo Cantava e a Giganta Dormia (Arca de Noé, III Classe), de Aquilino Ribeiro, enviado por Manuela D.L. Ramos:

«---Compadres, aquela abóbora é o meu pesadelo. Se avança mais um madinha para o meu lado ou fico sem casa ou morro lá dentro emparedado. Não sei o que há de ser de mim. “De vizinho danoso morreu Barroso”.
Os insectos quedaram recolhidos um momento a cismar no problema. E a cigarra, que é esperta e espevitada, disse:
---Tem razão, mestre grilo. Mas aqui que ninguém nos ouve, confesse lá: além do dano que a abóbora lhe faz, você tem por ela uma especial antipatia... hem, cá de dentro?
O grilo soltou duas risadinhas como que a acentuar a finura da comadre cigarra e respondeu:
--É verdade. Embirro solenemente com a pega massa. Como podem cacular vim fazer aqui a casa induzido pela beleza da flor. Tanto reluzia que disse comigo: ali , naquelas touceiras de erva tenra e serradela. Com tão esplêndido pálio de seda contra o sol, ficas que nem um mandarim da China. Sou poeta, é o meu fraco. Afinal, foi uma desilusão cruel; da flor doirada e aberta como o cálice dos senhores bispos saiu este monstro!
--Não admira-- disse uma abelha que se metera na conversa --Mestre grilo e a abóbora menina são diferentes como noite e dia. Enquanto ele é vivo, espiritual, pequenino, se desfaz em cantorias, ela queda matéria bruta: comer, comer, dormir, e mais não lhe peçam.»



*

“Também tenho uma história de abóboras na minha vida. Elas em Africa subiam pelas árvores, o fruto acomodava-se num ramo e lá crescia. Então tinhamos laranjeiras, limoeiros, etc. a dar abóboras. Eram uma boa companhia para mim, as abóboras, porque eu passei a infância em cima das árvores lá no quintal. Era eu, as abóboras e uma macaquinha de nome Chita. A mangueira era a minha árvore favorita, a maior. Só desci das árvores quando os rapazes me começaram a atrair a atenção. Mais valia ter lá ficado!"

(M.)

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PROSAICA: TIDE “SABÃO TRADICIONAL”

Parménides tinha razão: nada muda. Nietzsche tinha razão: a história é uma história de eterno retorno. O Tide anuncia um Tide com cheiro a “sabão tradicional”. Marx também tinha razão: a primeira vez como tragédia, a segunda como comédia.

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COISAS SIMPLES


Zurbarán

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INTENDÊNCIA

No VERITAS FILIA TEMPORIS está a Lagartixa e o Jacaré 4 (da semana passada) sobre a colocação dos professores, a Festa do Avante!, o massacre de Beslan e o "pior artigo da semana", que é de Tabucchi.

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A LER

Dois blogues, de um mesmo autor, na categoria de “blogues de gostos”. Falam de sítios e de músicas, com nomes certos Cuore Matto e Soy un Perro Callejero, sobre Itália e Espanha. Como transportam um pouco da diversidade do mundo, aprende-se. Exemplos? Um, espanhol: esta letra de Candelario Frias cantada por Paquita la del Barrio e a própria personagem da cantora

Trés veces te engañé


Dices que me quieres, y que me perdonas
Pero lo que tu hagas, no me importa ya
Hoy me siento viva, me siento importante
Y de lo que pase, yo me encargaré
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
La primera por coraje
La segunda por capricho
La tercera por placer
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
Tres veces te engañé
Y despues de esas tres veces
Y despues de esas tres veces
No quiero volverte a ver


Outro, italiano: uma lista de melhores canções italianas dos anos sessenta. Nem eu imaginava que me lembrava de tantas, reflexo de um mundo que, antes de 1968, em Portugal, era, nas rádios, italiano e francês. O domínio anglo-saxónico é só posterior. Antes havia Quando Quando Quando (Tony Renis, 1962) , In Ginocchio Da Te (Gianni Morandi, 1964), e Modugno, Rita Pavone, Celentano, Marino Marini, Pepino di Capri e tutti quanti.

A propósito: SCRITTI VENETI para breve e notas vulcânicas.

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EARLY MORNING BLOGS 314

in spite of everything
which breathes and moves,since Doom
(with white longest hands
neatening each crease)
will smooth entirely our minds

-before leaving my room
i turn,and(stooping
through the morning)kiss
this pillow,dear
where our heads lived and were.


(e. e. cummings)

*

Bom dia!

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17.9.04


AR PURO


Turner

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EARLY MORNING BLOGS 313

UN LECTOR


Que otros se jacten de las páginas que han escrito;
a mí me enorgullecen las que he leído.
No habré sido un filólogo,
no habré inquirido las declinaciones, los modos, la laboriosa mutación de las letras,
la de que se endurece en te,
la equivalencia de la ge y de la ka,
pero a lo largo de mis años he profesado
la pasión del lenguaje.
Mis noches están llenas de Virgilio;
haber sabido y haber olvidado el latín
es una posesión, porque el olvido
es una de las formas de la memoria, su vago sótano,
la otra cara secreta de la moneda.
Cuando en mis ojos se borraron
las vanas apariencias queridas,
los rostros y la página,
me di al estudio del lenguaje de hierro
que usaron mis mayores para cantar
espadas y soledades,
y ahora, a través de siete siglos,
desde la Última Thule,
tu voz me llega, Snorri Sturluson.
El joven, ante el libro, se impone una disciplina precisa
y lo hace en pos de un conocimiento preciso;
a mis años, toda empresa es una aventura
que linda con la noche.
No acabaré de descifrar las antiguas lenguas del Norte,
no hundiré las manos ansiosas en el oro de Sigurd;
la tarea que emprendo es ilimitada
y ha de acompañarme hasta el fin,
no menos misteriosa que el universo
y que yo, el aprendiz.


(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

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16.9.04


OBSESSÃO

"Temos o objectivo [controlar o defice], mas não temos a obsessão", está Bagão Félix a dizer na RTP. Já se percebeu. É que sem a "obsessão" não se consegue o objectivo.

Todo o discurso (até agora) é de uma hesitação surpreendente, num homem que costuma ser muito afirmativo. Parece estar a ser forçado a falar de matérias em que não tem a certeza de obter apoio político.

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COMO, NÃO SE PODENDO FAZER UMA SIMPLES PERGUNTA QUE TODA A GENTE ENTENDE, SE FAZ UMA COMPLICADA QUE NINGUÉM ENTENDE - 2

"Embora me agrade geralmente o que escreve Vital Moreira, concordo consigo quando diz que um referendo que pedisse às pessoas para se pronunciarem sobre a pergunta que ele (de certeza, penosamente) imaginou seria uma farsa. Também concordo em que a principal razão para apoiar o referendo neste caso concreto é a necessidade de recuperar alguma democraticidade para um processo que andou depressa demais e deixou para trás os principais interessados: os cidadãos, a população europeia.

Mas aqui em Bruxelas, é difícil convencer alguém (falo principalmente da administração comunitária e das entidades que gravitam em torno dela) de que esta falta de legitimidade constitui problema. Já ouvi perguntas como «porque vamos confiar a gente que nada percebe destas coisas (leia-se: as populações) o poder de decidir sobre matérias tão complexas (leia-se: a Constituição)?» Balelas. Se são assim tão complexas, isso é mais uma razão para que não sejam deixadas à indecisão e falta de visão política tradicionais nas administrações internacionais. E para mais, verdade é que não deviam ser assim tão complexas essas questões que comprometem o futuro de todos nós; porque o que se pretende é congregar esforços, é definir um destino partilhado e isso faz-se através de ideias simples descritas em palavras simples. Aliás, mais do que difíceis em si mesmas, penso que muitas são complicadas de forma artificial para satisfazer gregos e troianos e garantir que uma parte do poder fique nas mãos da tecnocracia e burocracia europeia.

Temo que a incapacidade de compreender que é indispensável apelar aos cidadãos para legitimar o projecto europeu traga como consequência, a prazo, a morte ou a irrelevância desse projecto."


(José Pedro Pessoa e Costa)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota COMO, NÃO SE PODENDO FAZER UMA SIMPLES PERGUNTA QUE TODA A GENTE ENTENDE, SE FAZ UMA COMPLICADA QUE NINGUÉM ENTENDE

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DA SOBRECARGA

Podemos marcar o que já foi marcado? Tatuagem, ferro em brasa, marca de vacina, rasgão de faca, saída de meninos, permuta de orgãos, não. Nos selos, sim. A pertença é uma, vem a sobrecarga e passa a ser outra.

Era belga, depois alemã, depois belga, depois alemã. Agora é belga.
Era monarquia, depois república, depois Estado Novo, depois democracia.
Era fascista, depois mais fascista ainda.

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ARACNOFOBIA VULCÂNICA



Este é o meu conhecido Fuego, um distinto vulcão guatemalteco que também está a cumprir as suas funções vitais, só que é um pouco longe para ser visitado nestes dias. É mais perigoso, jovem e violento do que muitos outros. A "aranha" do mapa retrata a vermelho as zonas de risco.

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A LER

A nota Campanha "Super 95" num Hiper perto de si! no Office Lounging

Toda a Rua da Judiaria .

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APRENDENDO COM EÇA DE QUEIROZ: "SEM A FUMARAÇA QUE TAPA DEUS"

“Ali jantámos deliciosissimamente, sob os auspícios do Melchior — que ainda depois, próvido e tutelar,- nos forneceu o tabaco. E, como ante nós se alongava uma noite de monte, voltámos para as janelas desvidraçadas, na sala imensa, a contemplar o sumptuoso céu de Verão. Filosofámos então com pachorra e facúndia. Na Cidade (como notou Jacinto) nunca se olham, nem lembram os astros — por causa dos candeeiros de gás ou dos globos de electricidade que os ofuscam. Por isso (como eu notei) nunca se entra nessa comunhão com o Universo que é a única glória e única consolação da Vida. Mas na serra, sem prédios disformes de seis andares, sem a fumaraça que tapa Deus, sem os cuidados que, como pedaços de chumbo, puxam a alma para o pó rasteiro — um Jacinto, um Zé Fernandes, livres, bem jantados, fumando nos poiais de uma janela, olham para os astros e os astros olham para eles. Uns, certamente, com olhos de sublime imobilidade ou de sublime indiferença. Mas outros curiosamente, ansiosamente, com uma luz que acena, uma luz que chama, como se tentassem, de tão longe, revelar os seus segredos, ou de tão longe compreender os nossos... — Oh Jacinto, que estrela esta, aqui, tão viva, sobre o beiral do telhado? — Não sei... E aquela, Zé Fernandes, além, por cima do pinheiral? — Não sei. Não sabíamos. Eu, por causa da espessa crosta de ignorância com que saí do ventre de Coimbra, minha Mãe Espiritual. Ele, porque na sua Biblioteca possuía trezentos e oito tratados sobre Astronomia, e o Saber, assim acumulado, forma um monte que nunca se transpõe nem se desbasta.”

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AR PURO

George Stubbbs

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COMO, NÃO SE PODENDO FAZER UMA SIMPLES PERGUNTA QUE TODA A GENTE ENTENDE, SE FAZ UMA COMPLICADA QUE NINGUÉM ENTENDE

Uma das razões porque falta democraticidade ao processo europeu está claramente expressa nesta nota de Vital Moreira no Causa Nossa, respondendo a uma questão de um leitor, sobre que pergunta deve ser feita no referendo sobre a Constituição Europeia:

“No caso da Constituição europeia, o referendo não pode, portanto, versar sobre a aprovação/rejeição do Tratado em si mesmo (tal como não poderia incidir globalmente sobre um projecto de lei). Está excluída portanto uma pergunta deste tipo: «Concorda com a aprovação e ratificação do Tratado constitucional da UE por parte do nosso País?». Tem de ser uma pergunta (ou mais) sobre as principais inovações de fundo contidas no tratado, sobretudo as mais controversas, a começar pela própria ideia de uma Constituição Europeia. Sem prejuízo de melhor elaboração, poderia ser, por exemplo, algo como isto:
«Concorda com a aprovação de um tratado instituindo uma Constituição para a UE, incluindo nomeadamente uma carta de direitos fundamentais, a garantia do princípio da subsidiariedade, a primazia do direito comunitário, a criação de um presidente do Conselho Europeu, a regra das votações por maioria qualificada e a possibilidade de uma política externa e de defesa comum?»
O direito constitucional devia estar ao serviço das pessoas e da transparência da causa pública e do pleno exercício da soberania popular. Eu também defendo um regime parlamentar e entendo que nem tudo se pode referendar. Defendo o referendo sobre a Constituição Europeia, em grande parte porque será uma maneira de mitigar, (mitigar apenas), o prolongado défice de democraticidade que o processo europeu tem tido nos últimos anos, em Portugal e em toda a Europa. Tenho poucas ilusões sobre como vai ser feito, dado o falso “consenso” que vai do PS ao PP sobre a matéria. Mas um referendo que tivesse esta pergunta, ou uma sua variante, seria uma farsa.

*

Veja-se um primeiro comentário de Vital Moreira na Causa Nossa, que transcrevo:

"Comentando este post, J. Pacheco Pereira afirma que «um referendo que tivesse esta pergunta, ou uma sua variante, seria uma farsa». Mas não explica porquê, nem por que é que um referendo sobre a Constituição em geral, abrangendo por atacado todo o seu longo e prolixo texto (centenas de artigos), já não seria uma farsa."

*

A minha objecção: em ambos os casos o que se referenda é "todo o seu longo e prolixo texto (centenas de artigos)", ou com uma pergunta de forma simples e que permite a polarização (podemos discutir porque é que é necessária), ou com uma pergunta complicada que deixará as pessoas entregues aos conselhos partidários. As poucas pessoas.

*

"Mas um referendo que tivesse esta pergunta, ou uma sua variante, seria uma farsa."

É o velho hábito português de criar as regras e arranjar logo uma maneira "de lhes dar a volta".


(Tiago Azevedo Fernandes)

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© José Pacheco Pereira
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