ABRUPTO

16.9.04


COMO, NÃO SE PODENDO FAZER UMA SIMPLES PERGUNTA QUE TODA A GENTE ENTENDE, SE FAZ UMA COMPLICADA QUE NINGUÉM ENTENDE - 2

"Embora me agrade geralmente o que escreve Vital Moreira, concordo consigo quando diz que um referendo que pedisse às pessoas para se pronunciarem sobre a pergunta que ele (de certeza, penosamente) imaginou seria uma farsa. Também concordo em que a principal razão para apoiar o referendo neste caso concreto é a necessidade de recuperar alguma democraticidade para um processo que andou depressa demais e deixou para trás os principais interessados: os cidadãos, a população europeia.

Mas aqui em Bruxelas, é difícil convencer alguém (falo principalmente da administração comunitária e das entidades que gravitam em torno dela) de que esta falta de legitimidade constitui problema. Já ouvi perguntas como «porque vamos confiar a gente que nada percebe destas coisas (leia-se: as populações) o poder de decidir sobre matérias tão complexas (leia-se: a Constituição)?» Balelas. Se são assim tão complexas, isso é mais uma razão para que não sejam deixadas à indecisão e falta de visão política tradicionais nas administrações internacionais. E para mais, verdade é que não deviam ser assim tão complexas essas questões que comprometem o futuro de todos nós; porque o que se pretende é congregar esforços, é definir um destino partilhado e isso faz-se através de ideias simples descritas em palavras simples. Aliás, mais do que difíceis em si mesmas, penso que muitas são complicadas de forma artificial para satisfazer gregos e troianos e garantir que uma parte do poder fique nas mãos da tecnocracia e burocracia europeia.

Temo que a incapacidade de compreender que é indispensável apelar aos cidadãos para legitimar o projecto europeu traga como consequência, a prazo, a morte ou a irrelevância desse projecto."


(José Pedro Pessoa e Costa)

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© José Pacheco Pereira
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