O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (Nova actualização)
"Tive oportunidade de verificar com agrado que a discussão técnica em torno da colocação dos Professores está a acontecer. Este é um papel que caberia primariamente ao Ministério da Educação e aos seus técnicos efectuar com transparência, secundados pelos responsáveis políticos no que à política diz respeito, mas enfim...
Uma pequena nota relativamente às anotações pertinentes surgidas entretanto no Abrupto, não esquecendo que não sou nem pretendo vir a ser um perito em optimização e conheço só superficialmente o processo de colocação (ver legislação aqui):
- (Pinto de Sá) Como diz, e bem, na parte final da sua nota, a solução que preconiza seria a mais fácil de implementar e provavelmente a mais correcta; só que não me parece ser essa a que o Ministério definiu na legislação e implementou pelos motivos referidos por Miguel Sousa!!! A colocação é um problema de optimização e como tal deve ser conceptualizado e tratado;
- se entre pessoas, com um "background" que lhe permite perceber as dificuldades de um processo a este nível, se gerou uma saudável discussão de argumentos, imagine-se a dificuldade da parte da população em compreender o que se está a passar! E não é por este facto que os intervenientes (pais, alunos e professores) perdem o direito a serem informados cabalmente pelo Ministério dos problemas técnicos existentes. E muito menos serem presenteados com soluções simplórias “com os dedos”...
Alguém se divertiu hoje a calcular (peço desculpa mas não me lembro da fonte), em termos muito básicos o tempo que demoraria a colocar um dos supostos cerca de 50.000 professores pela equipa “com os dedos” do Ministério no tempo anunciado para a conclusão, 24 sobre 24 horas... o resultado apresentado sugere que teriam que colocar 1 professor a cada 15 segundos... Concluindo, não é “com os dedos” que vão perceber e resolver o problema...
PS É pena que os sindicatos envolvidos, que têm nos seus quadros óptimos especialistas, não contribuam para o esclarecimento técnico do problema e não alertem para os perigos da estratégia manual. Estarão à espera de beneficiar com a confusão emergente?"
(Manuel João Boia)
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"Não sendo um informático já trabalhei várias vezes com programadores e pessoas da área. Usando uma expressão mais popular e deixando de lado as programações lineares e afins eu diria que este é um problema do tipo "entra porco e sai salsicha". Ou seja, é um problema que não admite duas soluções; no entanto, podem ser necessários um número enorme de iteracções para que este seja resolvido. Para que este problema seja correctamente resolvido - ou seja para haver uma salsicha de qualidade - é necessário que o "porco" seja bom e o processo de fabrico também. Aparentemente nada disto acontece. Traduzindo a analogia culinária o que se pode dizer é que:
a) os dados de entrada não eram de qualidade o que leva a erros (há professores "nascidos" em 2004, etc).
b) o processo por ter várias fases dependentes entre si (o que o torna complexo) devia ter um acompanhamento e um controle de qualidade permanente, o que também não aconteceu.
A solução de passar o trabalho para manual parece-me grave porque significa sem margem para duvidas que ou vai ser mal feito ou, ainda mais grave - ESTE PROBLEMA JÁ PODIA ESTAR RESOLVIDO.
Vamos então à informática: correndo o risco de ser contra-corrente, os 600 mil euros parece-me pouco, muito pouco para escrever e implementar de raiz um sistema informático novo. è um trablaho que demora cerca de um ano e 50000 euros por mês para pagar a uma equipa que o desenvolva DE FORMA COMPETENTE e admitindo que a empresa quer ter lucro parece-me sinceramente barato. Temos então a prova provada que o barato sai caro. Muito caro neste caso.Subscrevo o que a respeito deste tema diz o leitor Pinto de Sá e atrevo-me a pensar que acima de um problema de qualidade de programação esteve um problema de especificação, o tal problema homem-homem.
Por fim, o mais importante. É crucial para a higiene social deste país que os culpados não passem impunes. A COMPTA tem de ser levada a tribunal até às últimas consequências. Os técnicos do ministério tem de ser responsabilizados, despedidos se for caso disso. Os professores que meteram atestados falsos para arranjarem destacamento tem de ser severamente punidos (lembram-se dos alunos de Guimarães?).
Neste pântano em que acabou este processo ninguém sai ileso. Prejudicados alem dos professores que de uma forma séria querem exercer o seu trabalho, temos tambem alunos e pais. Como JPP bem nota, os sindicatos que nada fizeram para melhorar o processo, alem de de verificar as falhas que eram óbvias, saem reforçados. Talvez seja altura de se envolverem e comprometerem mais do que fazer "refresh" das páginas da Internet."
(Pedro Costa Lima)
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"Li no seu blogue uma mensagem assinada por Pinto de Sá onde se escreve:
"O problema computacional da colocação de professores, pelo contrário, é extremamente simples, ou "linear". Cada professor é ordenado numa lista em função da sua qualificação em diversos itens que por sua vez têm prioridades relativas bem definidas."
Não tem razão o seu leitor e quem tem efectivamente razão era o especialista que falou na SIC que afirmou que este é um problema NP.
Talvez não tenha sido muito bem entendido qual é o problema deste método. Quando se coloca um professor na primeira vaga disponível da sua preferência, este liberta uma vaga numa outra escola. Essa vaga, anteriormente inexistente, poderia ter sido uma preferência de um qualquer professor que estivesse acima no ranking e que teria sido colocado nesse lugar se a vaga estivesse disponível. É por isso necessário percorrer toda a lista acima para ver se algum professor já "colocado" desejava essa vaga. Se por acaso tal acontece, a situação repete-se. Liberta-se uma nova vaga e por aí fora.
Suponha que o último professor colocado liberta uma vaga no lugar desejado pelo primeiro. O primeiro sai de onde estava e passa a ocupar esta vaga. O baralho vai ser novamente distribuído. Se a isto juntar uma enorme quantidade de outros factores que afectam as colocações, como preferências, prioridades, professores com habilitações para mais do que uma disciplina... tem um verdadeiro problema NP.
A colocação à mão vai criar milhares de protestos. É impossível optimizar a colocação de 30.000 professores sem auxílio informático. Os sindicatos vão ter muito com que se entreter nos próximos meses."
(Miguel Gonçalves de Sousa)
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"Sendo electrotécnico e interessando-me pelas questões da indecibilidade e complexidade computacionais, por um lado, e tendo por outro lado preenchido muitas vezes os boletins de candidatura da minha mulher, professora do secundário, escandalizou-me um comentário feito na TV por um "especialista em informática da SIC", que disse que o problema era informaticamente do tipo NP, e que vai no mesmo sentido de um comentador do seu site que fala em "problema de programação linear".
É que há que fazer os seguintes esclarecimentos, que procurarei serem claros e simplificados:
Um problema NP ou de optimização (requerendo programação linear), é um problema para o qual há muitas soluções possíveis, em princípio. Um exemplo clássico é o do "caixeiro viajante": escolher o percurso que soma a menor distância total a percorrer na visita a n cidades. À partida há que começar por qualquer uma das n cidades, depois escolher, para cada uma delas, as n-1 seguintes, e depois para cada uma dessas as n-2 seguintes, e assim sucessivamente. No final, comparar todas as distãncias e escolher a menor. Eventulamente há heurísticas que permitem acerlerar o problema, mas ele é "complexo". Complexo para o computador, mas não para o programador!!!!
O problema computacional da colocação de professores, pelo contrário, é extremamente simples, ou "linear". Cada professor é ordenado numa lista em função da sua qualificação em diversos itens que por sua vez têm prioridades relativas bem definidas. Uma vez a lista definida, o 1º professor, que se candidatou a uma lista de escolas ordenada pela sua preferência, vê, pela ordem que ele indicou, se há vaga nessa escola. Se sim, a vaga é-lhe atribuída, deixa de estar disponível para os seguintes, e o algoritmo passa ao professor seguinte da lista. O problema é linear, portanto. Mas para o computador, não para o programador!!! E isto porque há imensos itens de ordenação, acrescendo que há casos em que o professor concorre a uma "zona", deixando portanto ao "computador" a prioritização das escolas da zona a escolher.
Por conseguinte, onde houve problemas foi na definição dos itens!!! Isto é, no diálogo homem-homem.
E depois, quem trabalha nestas coisas sabe que se a empresa não tomar certas precauções (mas é para isso que serve a "certificação"), basta que o programador não tenha documentado o seu programa e se tenha despedido para que o seu trabalho seja impossível de corrigir!"
(Pinto de Sá)
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"Uma das belezas do mundo é que tudo tem um lado bom.
O lamentável exemplo da colocação de professores, sendo muito grave, tem contudo um enorme valor como demonstração do que está mal e de como falta competência na gestão técnica de assuntos que não deveriam justificar nenhuma dificuldade especial.
De entre os muitos factos que agora se tornaram absolutamente indesmentíveis, destaco os seguintes.
1) O sistema de gestão das vagas de professores no Ministério da Educação é patético (e isto não tem nada a ver com Informática).
2) Não tem sido dada responsabilidade de gestão técnica a quem tem perfil adequado para isso.
3) As muitas iniciativas de difusão das Tecnologias de Informação promovidas pelo Governo deveriam ter tido segunda prioridade por comparação com a revisão completa dos sistemas informáticos estatais que é suposto ajudarem o país a funcionar.
4) Os procedimentos normais de controlo e auditoria ao trabalho que é feito (seja por funcionários públicos ou por entidades externas) não são aplicados pelo Estado.
5) Se o sistema de Justiça estivesse a funcionar saudavelmente, seria viável recorrer a ele para corrigir "à força" em tempo útil muita coisa errada.
Não partilho da opinião de que tudo são "máfias" e má vontade. Há também disso, mas mais graves são os problemas de incompetência de Gestão e de falta de maturidade de pessoas a quem têm sido atribuídas responsabilidades de chefia. (Uma delas chegou ao topo da hierarquia, não nos esqueçamos!) É altura de as substituir em larga escala. É altura de tornar a Justiça a prioridade das prioridades. Fomos todos nós que permitimos que a situação chegasse onde chegou, cabe-nos a nós todos corrigir os erros."