ABRUPTO

26.9.04


JORNALISMO DE RECADOS

Esta “notícia” do Público (Justino Incomoda PSD, mas Pode Beneficiar Governo) é um perfeito exemplo de como não se deve fazer jornalismo, e também um perfeito exemplo de como ele se faz. Tudo está condensado no título e no primeiro parágrafo:
As entrevistas do ex-ministro da Educação, David Justino, não caíram bem no PSD, mas dentro do Governo há quem pense que podem beneficiar a actual equipa da Educação, já que, pelo menos nos próximos dias, as atenções estarão centradas na "guerra" entre Justino e o seu ex-secretário de Estado, Abílio Morgado.

Comecemos pelo “PSD”, mais um caso de utilização abusiva de uma entidade colectiva, habitual em outros títulos em que a “GNR”, “os magistrados”, os “funcionários do SEF” aparecem como sujeito de acções ou opiniões, a maioria das vezes atribuíveis a um ou outro “magistrado”, ou às estruturas sindicais, ou apenas à fonte que falou com o jornalista. O que se contém nesta notícia é apenas uma opinião política dada anonimamente , transformada em fonte contra todas as regras – porque razão uma opinião política pura tem que ser protegida pelo anonimato das fontes? – e que depois é transfigurada como sendo a “opinião” de uma instituição. Se tomarmos à letra o que lá se diz, três pessoas poderiam, no limite, envolver o PSD: o Presidente do partido, o secretário-geral, ou um porta-voz autorizado por um dos dois, e, nestes casos, a autoria da opinião deveria ser pública. Tudo o resto é treta e cumplicidade entre o jornalista e a fonte para passar um “recado” O título dá ao “recado” a chancela do jornalista e do jornal, ou seja um grau de veracidade mistificadora que esconde o “recado”, ou seja, engana os leitores.

Depois há a opinião em si mesma, que vale pelo que representa de degradação da política. Vale por ser típica do grau zero da politiquice, mesquinha, mostrando um desprezo total pelos portugueses. Se há “no Governo” quem pense que tudo isto pode “beneficiar” a governação de Portugal, ou seja que este grau zero de politiquice, próprio de uma escola de intriga e habilidades, infelizmente muito comum nos partidos e nos jornais, revela mais que cabeças mal formadas e sem carácter, estamos muito mal.

Como de costume o único verdadeiro interesse informativo desta “notícia” era saber quem “acha” isto no Governo, para se pedirem responsabilidades e saída pela porta baixíssima.

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© José Pacheco Pereira
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