O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (5ª série)
"O comentário dos meus colegas do Minho Filipe Pereira e Acácio Costa é totalmente correcto e resume tudo o que já foi dito neste blog sobre o caracter técnico do assunto.
Já quanto ao caracter político do problema, acrescentaria:
O ex-ministro Justino explicou agora a candura da sua decisão. Visava, de facto, eliminar os mini-concursos e a 2ª fase das colocações que, como já foi aqui explicado, davam ao problema uma natureza sequencial que lhe eliminava a dificuldade computacional (de cariz matemático, claro).
Toda a classe política ratificou a referida decisão política. De boas intenções está o Inferno político cheio…
Confiou o ex-ministro no seu secretário de Estado e na funcionária Orvalho para a execução TÉCNICA do problema. Infelizmente, ninguém sabia que a referida e bem-intencionada decisão era tecnicamente infazível!... Mas estamos em Portugal, não é de admirar…! Onde é que se ensina cá o teorema de Godel?
Talvez a COMPTA o soubesse, mas é provável que não. A maioria dos informáticos mais velhos formou-se pela “prática”, e nunca aprendeu teoria da computação, esse ramo da matemática que trata de coisas como a indecibilidade, infazibilidade, etc. E a COMPTA tem todos os sintomas de uma empresa desse tipo, dada a sua idade e estado de crise. Mais: o próprio orçamento irrisório que foi contratado – 200 mil euros não é nada para um problema informático desta complexidade – denota a provável incapacidade da COMPTA em avaliar aquilo a que se comprometera. Mas é típico: o vendedor vende o serviço, acicatado pela pressão desesperada da Administração em aumentar as vendas para salvar a empresa, julgando que os programadores depois executarão a encomenda, sem os ouvir primeiro, ou ouvindo o seu chefe, formado na “prática” e sem formação teórica… (...)"
(José Luís Pinto de Sá)
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"Como é do conhecimento público, o processo de colocação de professores “correu mal”. Aqui levanta-se uma hipótese de explicação sobre o sucedido. A descrição a seguir efectuada é propositadamente genérica, mas, de acordo com a informação dada pelos orgãos de comunicação social, não nos parece que desvirtue os aspectos fundamentais do problema da colocação de professores. Analisar o problema aqui descrito, facilitará o esclarecimento do problema com que se depara o Ministério da Educação. Consideremos que existe um conjunto de professores que se pretende afectar a um conjunto de colocações, de acordo com as suas preferências. A ordenação dos professores, de acordo com os critérios estabelecidos no concurso, é trivial. Independentemente do número de professores, em alguns segundos num computador vulgar resolve-se o problema. No entanto, para resolver o problema, não basta ordenar os professores e atribui-los às colocações existentes de forma sequencial. Isto porque alguns desses professores encontram-se já colocados e pretendem alterar a sua colocação, o que implica a libertação de novas colocações que são postas a concurso. O problema complica-se. Um problema deste tipo é essencialmente um problema matemático e não de sistemas informáticos. O difícil é o desenvolvimento de um algoritmo eficiente para o problema e não a sua implementação ou a capacidade de processamento do computador. Pior, por estranho que pareça a muitas pessoas, pode provar-se que não existe nenhum algoritmo eficiente para resolver um determinado problema - na linguagem da Teoria da Complexidade Computacional (porque é disso que se trata) a menos que P=NP, o que é actualmente aceite como improvável. Claro que se o problema tiver dimensões muito reduzidas poderá ser resolvido, mas um pequeno aumento nas suas dimensões implica um gigantesco aumento na dificuldade da sua resolução. Chegados aqui, a hipótese levantada é a seguinte: nenhum dos intervenientes do processo de colocação de professores teve a noção do problema que tinha em mãos: quem originou o problema, quem encomendou a sua resolução e quem disse que o resolvia. Resta a sugestão: por que não abrir o problema a todos os que por ele se interessem (nomeadamente investigadores), mantendo o anonimato dos intervenientes? Bastaria disponibilizar os dados e aproveitar o conhecimento das pessoas. Seria uma forma de abrir a Ciência à Sociedade e a Sociedade à Ciência. Mais, poderia contribuir para se ouvir com menos frequência a pergunta: “para que serve a matemática?” Pois... para os anos lectivos poderem começar."
(Filipe Pereira e Alvelos / Docente e Investigador- Departamento de Produção e Sistemas / Universidade do Minho
Acácio Costa / Engenheiro Informático - Departamento de Produção e Sistemas / Universidade do Minho)