ABRUPTO

25.9.04


OS “POPULARES”

Mas que espectáculo deprimente este o dos “populares” à volta do cenário do crime algarvio, gritando vinganças, avançando teses e hipóteses, contando boatos, fazendo vir ao de cima o mesmo ambiente de violência e miséria que rodeia o próprio crime, que abominam em palavras, mas em que participam como mirones, e voyeurs!

A polícia também actua sem qualquer cuidado e discrição. As televisões, babadas pelo crime que aumenta as audiências, servem de chamariz para, de todo o lado do Algarve, uns homenzinhos, que não tem nada que fazer, possam dizer ufanos que vão lá todos os dias “ver”. À volta, aquelas mulheres com os filhos ao colo, que acham que este é o melhor espectáculo que lhes podem dar. Muitos a falar ao telemóvel, rindo-se. Todos valentíssimos, contrastando com o mutismo e a fuga das câmaras quando se trata de um assalto com os criminosos à solta. Enfim, sub-mundo lá dentro e sub-mundo cá fora.


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"O que significa, e qual é a origem deste atributo "populares"? Podiam dizer "pessoas", "cidadãos" ou "indivíduos" ( também não gosto), ou "homens e mulheres". A mim soa-me como uma forma mais gentil de "a maralha". Ainda estou para ler uma notícia a anunciar que "os populares" participaram em qualquer coisa remotamente civilizada."

(Pedro Jorge)

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"A propósito de "os´populares´" não pude deixar de me questionar sobre o seu comentário. Não percebi se o que era deprimente era o espectáculo em si ou o facto de as televisões o terem proporcionado ao país. Em meia dúzia de linhas o senhor "cascou" nos populares, na policia, nos vizinhos e nos jornalistas. Penso que não sobrou ninguém.

É lamentável que estes episódios tenham este tratamento por parte dos media mas não é novidade. Essa falta de critério nas noticias é uma coisa comum. Agrada a todos e pelos vistos até a si. Pouco serve o seu comentário aos populares, aos policias e aos jornalistas.
Os primeiros são aqueles a quem o país vai negando uma existência com alguma dignidade. Aos poucos o acesso aos mais elementares direitos vai estando apenas reservado ao "utilizador-pagador".
Esse espectáculo deprimente a que assistiu apenas aconteceu porque os que podem fazer algo por este pais se sentam em frente ao televisor e pensam que vivem em Bruxelas. A realidade do nosso país é a de uma sociedade que tem a preocupação de se distanciar do povinho, das feiras e dos centros comerciais. Comenta os anónimos e distância-se. Mas na realidade nada faz por essa gente - a maioria."


(Carlos Brás)

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Vale também a pena ler a excelente reportagem de Ricardo Dias Felner intitulada "O Drama Familiar por Trás da Morte da Pequena Joana" no Público de hoje.

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© José Pacheco Pereira
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