ABRUPTO

13.5.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: IMPOSTOS E DEMAGOGIA

(Continuação da discussão da nota LENDO / VENDO /OUVINDO (11 de Maio de 2006)

Diz António Lobo Xavier no Abrupto:

"Do ponto de vista teórico, só há três tipos de justificação para atenuar ou eliminar a tributação das mais-valias de acções. A primeira tem que ver com o facto de se tratarem de rendimentos ocasionais, “trazidos pelo vento”, para os quais porventura será exagerado aplicar taxas progressivas que foram pensadas para rendimentos periódicos, que se repetem, ordinários, ainda para mais quando o IRS na prática impede a comunicação das perdas entre as categorias; em geral, pode dizer-se, de facto, que as perdas não têm relevo fiscal no IRS!. A segunda tem que ver com a preocupação de evitar um efeito de lock-in, que o proprietário de bens que se pretende que circulem os conserve mais tempo do que seria desejável para evitar o imposto. A terceira, a mais importante, prende-se com a preocupação em evitar a dupla tributação. Os ganhos feitos com as acções correspondem à antecipação ou realização dos ganhos ou incrementos de valor experimentados pelas próprias empresas, os quais são normalmente tributados em IRC. É possível dizer, por isso, em grande medida, que há dupla tributação se simultaneamente tributarmos as empresas pelo respectivo incremento de valor e depois as pessoas singulares, quando realizam pela venda das acções o mesmo incremento de valor. É claro que isto não conduz automaticamente a uma isenção das mais-valias de acções realizadas por particulares. Cada sistema escolhe a medida tolerável de dupla tributação. O problema será sempre um problema de política fiscal, de atracção do investimento ou de facilitação de obtenção de fundos em mercado de capitais. O resto é conversa demagógica em que o discurso político é fértil quando se trata de impostos.

A proposta do BE não fica por aqui, contudo. Aquilo que mostra o seu ódio ao capitalismo e seus instrumentos é a proposta de não aceitar como custo fiscal os encargos financeiros com a aquisição de empresas! Não lembra a ninguém, é de um basismo chocante! É melhor a empresa que faz aquisições com capital próprio do que a que faz o mesmo com crédito? Por que razão os custos financeiros são menos dignos do que todos os outros, para apurarmos o rendimento real? O bloco desconhece que as SGPS não podem já deduzir os custos financeiros com aquisições, desconhece que as suas menos-valias não são consideradas, enfim, parece que estamos na Albânia há mais de trinta anos. Podia ser só ideologicamente simbólico, mas não é: é básico, irracional e retrógrado."

Sem querer defender Louçã, permito-me contrapor o seguinte:

1. O fundamento de taxas nominalmente progressivas não é incompatível com a tributação dos ganhos fortuitos, antes pelo contrário. A utilidade marginal dos ganhos fortuitos é menor que a dos rendimentos ordinários, pelo que justificaria uma progressividade ainda maior. Dito isto, muito mais chocante do que a isenção das mais-valias é a isenção do Euromilhões.

As limitações à comunicação de perdas entre categorias de IRS não justificam a isenção de qualquer uma das categorias. As derrogações à unidade do imposto não se combatem com mais derrogações.

2. O efeito lock-in só existe se a tributação das mais-valias for mais gravosa do que a dos restantes rendimentos. De contrário, temos de nos preocupar primeiro com o efeito de lock-in sobre o ócio em resultado da tributação do trabalho.

3. Não há dupla tributação económica dos lucros não distribuídos ou nem sequer realizados. Mesmo considerando que as mais-valias representam o valor presente dos dividendos futuros esperados, que por definição são líquidos do IRC sobre os resultados, o que faz sentido não é isentar as mais-valias, mas sim tratá-las como os dividendos, até para evitar uma arbitragem ineficiente do ponto de vista do mercado.

4. O problema da dedução dos encargos com o financiamento de OPAs aos resultados operacionais das empresas adquiridas não releva do amor ou ódio ao capitalismo, mas da medida admissível de subcapitalização do adquirente. É um problema de erosão da base tributável e, por essa via, da repercussão do esforço fiscal sobre os demais contribuintes. (Nem só as SGPS lançam OPAs)

(Manuel Anselmo Torres)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(13 de Maio de 2006)



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O Público introduziu uma novidade interactiva no seu sítio na rede, com a pergunta sobre se uma fotografia violenta dos corpos calcinados na explosão do oleoduto nigeriano devia vir na primeira página. A resposta parece relativamente óbvia: não. Não, porque não há necessidade informativa na publicação destacada que seja maior do que o poderoso e perigoso espectáculo da morte em cima dos nossos olhos. A questão, no entanto, merece discussão, porque pode haver outras circunstâncias que justifiquem a publicação de uma fotografia daquele tipo, quando é necessário não apenas informar, mas também denunciar. Talvez num jornal nigeriano, se acaso houve incúria na explosão e nas mortes, se justifique a publicação, mas num português seria mais espectáculo do que informação.

No entanto, há outras perguntas mais complicadas que o Público deve fazer, como seja a de saber se deveria estar na primeira página de hoje a seguinte frase: "Menina retirada aos pais foi assassinada depois de ir passar a noite a casa".

*

O Esplanar passa a contar com Carlos Leone, autor de alguns dos estudos tão interessantes como ignorados sobre o nosso pensamento contemporâneo.

*
Duas boas livrarias de livros estrangeiros em Budapeste: a Atlantisz, que parece grande por ter uma montra três vezes maior do que a livraria, e a BestSellers. A primeira tem uma notável colecção de filosofia, que se exibe na gigantesca montra e se aperta na pequena loja; a segunda, de relações internacionais e história, especializada na Europa Central e de Leste, com as edições da Central European University.




*

EXPRESSO Semanal Perguntas que não fazemos: por que razão o Expresso distingue em duas secções, na sua versão em linha, entre "País", onde se concentram as notícias da política caseira que não vão para a primeira e última páginas, e "País real" onde se fala do... país. A expressão "país real" esteve na moda há alguns anos atrás, baseada numa distinção de Maurras, cuja genealogia antidemocrática foi esquecida. Um dia se fará a história destas expressões, como "país real" e "sociedade civil", - e o momento da sua aparição é significativo - , no léxico político. E lá ficaram, esquecidas na sua estratigrafia, na arrumação do Expresso.

Exemplos do "País" de hoje: “Sócrates apaga fogos”, “Os jornalistas segundo Carrilho”, “PS/Lisboa com livro alternativo”, “O EXPRESSO e Freitas”, “Barrosistas alinham com Marques Mendes”, “CDS junta os cacos”, “Paulo Portas ‘anda por aí’, “Extrema-direita inquieta Vila de Rei”, etc. Exemplos do "País real": “Évora e Badajoz desenvolvem energias limpas”, “Inspecção fecha restaurantes em Fátima”, “Agentes alemães promovem Algarve”, “Santa Catarina recria mercado do séc.XVI.”

Outra observação: no Expresso há sempre mais "País" do que "País real", o que é um pouco bizarro.

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EARLY MORNING BLOGS 774

A CASA DO MUNDO

Aquilo que às vezes parece
um sinal no rosto
é a casa do mundo
é um armário poderoso
com tecidos sanguíneos guardados
e a sua tribo de portas sensíveis.

Cheira a teias eróticas. Arca delirante
arca sobre o cheiro a mar de amar.

Mar fresco. Muros romanos. Toda a música.
O corredor lembra uma corda suspensa entre
os Pirinéus, as janelas entre faces gregas.
Janelas que cheiram ao ar de fora
à núpcia do ar com a casa ardente.


Luzindo cheguei à porta.
interrompo os objetos de família, atiro-lhes
a porta
Acendo os interruptores, acendo a interrupção,
as novas paisagens têm cabeça, a luz
é uma pintura clara, mais claramente me lembro:
uma porta, um armário, aquela casa.

Um espelho verde de face oval
é que parece uma lata de conservas dilatada
com um tubarão a revirar-se no estômago
no fígado, nos rins, nos tecidos sangúíneos.
É a casa do mundo:
desaparece em seguida.

( Luiza Neto Jorge )

*

Bom dia!

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12.5.06


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL HÚNGARA:

4. PAISAGEM COM VEDAÇÃO (SANDOR ZIFFER)


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COISAS DA SÁBADO: UM PARTIDO QUE SÃO DOIS

http://bugs.bio.usyd.edu.au/Entomology/IMAGES/Topics/intAnatomy/parasitoidWaspLarvae.jpg

Depois do que aconteceu neste Congresso não auguro muito futuro ao CDS/PP. Em política é sempre arriscado matar alguém, seja partido ou pessoa, há sempre um “por aí” por onde se pode andar e conseguir as periódicas entrevistas de “sinal de vida”, que os jornais fazem ciclicamente quando se esgotam os outros interesses e se volta à “novidade” que tinha deixado de o ser seis meses atrás. Que o digam Manuel Monteiro ou Santana Lopes. Mas o CDS/PP parece ter mesmo uma doença terminal na sua fórmula híbrida de CDS/PP, e mesmo na fatia CDS. Não sei se com a fatia PP o mesmo se passa.

O CDS/PP são dois partidos diferentes agrafados num só e cada um está doente do outro. O autor da doença, o homem que inoculou o vírus destinado a matar o CDS foi Paulo Portas, que fez um partido novo dentro da concha e do corpo do CDS. Como acontece com algumas das mais macabras bizarrias da natureza, o PP nasceu dentro do CDS, e cresceu parasitando-lhe o corpo. Ribeiro e Castro foi o último sobressalto do corpo doente do CDS para conseguir saúde, mas surgiu enfraquecido pela ecologia exterior, onde o vírus Paulo Portas o deixou: na oposição depois de uma derrota.

A solução CDS/PP foi uma solução de conveniência, que não foi boa para o CDS nem é hoje boa para o PP. O uso das siglas conheceu vários momentos diferenciados, sem outra lógica que não fosse a carreira política de Paulo Portas e do “portismo” que ele criou à sua imagem e semelhança. Começou por ser uma fórmula destinada a gerar o PP contra o CDS. Era quando Portas falava apenas do PP e o PP tinha, como sempre, como inimigo principal o PSD, entendendo-se bem com o PS. Mas, com o tempo e com os desaires eleitorais, (Portas teve sempre sozinho piores resultados do que Manuel Monteiro), Portas foi voltando à fórmula mista do CDS/PP. Passou de “popular” a “democrata-cristão”, e de anti-europeista radical a “euro-moderado”. Acabou a votar a Constituição Europeia como se sabe.

Uma gestão sempre muito hábil de expectativas, associada a um puro pragmatismo político, e à desorientação do PSD, permitiu-lhe impor a presença no governo do maoista Durão Barroso, que pouco antes os autocolantes do PP, representavam ao lado de Marx, Lenine, Staline e de mim próprio. No governo, Portas obteve a complacência da esquerda que ele tanto diaboliza fazendo uma política estatista na Defesa, e tentou vestir a pele do “sentido de Estado”, para se credibilizar. Acabou por ser mais um a arrancar os tubos da incubadora, como hoje se sabe, convencido que as eleições o premiariam.

Foi o voto do CDS que ele tentou cativar nas urnas, deixando para trás o do PP, o do “Paulinho das feiras”. Acabou por não ter nem um nem outro e voltar ao limbo com o único verdadeiro património que foi capaz de construir: o PP. Através dos seus fiéis, e do Grupo Parlamentar monolítico que deixou, ele sabe que não há CDS/PP capaz de escapar ao seu droit de regard. Ribeiro e Castro perturbou-lhe os planos, baralhou-lhe os tempos, mas, como se viu, não teve força suficiente para escapar à sua presença ausente. Por isso, Ribeiro e Castro está condenado a governar um monstro hibrído, o CDS/PP, arrastando um corpo que cada vez lhe é mais alheio. Quando a lista de Pires de Lima ganhou o Conselho Nacional, devia ter-se demitido.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
A "REVOLUÇÃO DE MAIO" DE ANTÓNIO LOPES RIBEIRO


António Lopes Ribeiro (Col. Cinemateca Portuguesa)A razão para não haver uma edição em vídeo de "A Revolução de Maio" deverá ser concerteza o medo de que seja mal interpretado. "O Triunfo da Vontade" ainda é um filme maldito, apesar de ser várias vezes melhor enquanto cinema que "A Revolução de Maio", e os filmes de propaganda aliados (tanto britânicos como americanos) não são fáceis de encontrar.

"A Revolução de Maio", visto por olhos que já não passaram pelo Estado Novo como os meus, é um pedaço de propaganda tão pouco subtil que me pergunto se de facto funcionaria de facto em 1937 ou se provocaria a mesma reacção de distanciação que provocou em mim, no caso, o riso. Além da distância temporal que me separa de "A Revolução de Maio", também o mundo que me rodeia me tornou muito mais alerta para as possibilidades de manipulação da mensagem audiovisual pelo bombardeamento constante de mensagens publicitárias a que sou sujeito, daí que talvez se possa presumir que o português de 1937 seria mais "crente" que o português de 2006.

No entanto, para muita gente que viveu o Estado Novo, a disponibilização de um filme que o glorifica desta forma tão básica e esfusiante parecerá concerteza provocação, a não ser que se chame a atenção para que a inaptidão do exercício é ela própria um reflexo do tipo de regime que era, do público a quem se dirigia e da personalidade de António Ferro. Daí que este filme não pode ser editado sem um trabalho crítico nos materiais de apoio, coisa a que as editoras de DVD em Portugal não estão habituadas. Por seu turno, a Cinemateca Portuguesa não edita DVDs.

Se os direitos de "A Revolução de Maio" ainda estiverem integrados no espólio da companhia de produção de António Lopes Ribeiro, a Lusomundo recentemente comprou um pacote de filmes desta companhia, de que resultaram a edição em 2005 de "O Pai Tirano" e de "O Pátio das Cantigas", por isso os direitos de "A Revolução de Maio" deverão provir da mesma fonte. O A.N.I.M., também em 2005, procedeu a um restauro de imagem e encomendou o restauro de som à empresa para a qual trabalho, cujo resultado foi a projecção de "A Revolução de Maio" há alguns meses na Cinemateca Portuguesa em cópia restaurada.

(Tiago João Silva)

*
O interesse deste filme vai para além da questão da propaganda propriamente dita. Como o filme foi feito sob a supervisão do SPN os seus orçamentos constam das listas mensais enviadas pel SPN para a Presidência do Conselho. Assim temos a possibilidade de saber rigorosamente com que meios se trabalhava na época, em Portugal.
Muito expressivo no filme é o uso de imagens reais nomeadamente as que António Lopes Ribeiro recolheu em 1936, durante as celebrações do 1º de Maio em Barcelos. Igualmente relevante, até porque dá conta do universo de pequenas histórias em que se alicerçava a propaganda do SPN, é a inspiração numa figura real- Quim Marinheiro - para se construir a personagem principal, César Valente.

(Helena Matos)

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RETRATOS DO TRABALHO EM BUENOS AIRES, ARGENTINA



"Sapateiro remendão" que trabalha numa das feiras semanais dos bairros de Buenos Aires.

(Francisco F. Teixeira)

Etiquetas:


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A partir de hoje, os novos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO, dão continuidade a um projecto de trabalho com mais de vinte anos, e que teve origem numa revista pioneira destes estudos, passando a ter agora como sua casa a plataforma Wordpress. Do ponto de vista editorial, a orientação continua a mesma da "velha" revista, cujo texto inicial acima se publica, como homenagem a dois dos companheiros do princípio que já morreram, Manuel Sertório e Jose Alexandre Magro ("Ramiro da Costa").

Todos os materiais dos antigos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO (versão antiga), assim como os existentes em ÁLVARO CUNHAL - BIOGRAFIA POLÍTICA , encontram-se aqui reunidos, dada a natureza próxima do seu conteúdo. Nesta nova plataforma algumas funcionalidades foram utilizadas para organizar melhor o material disponível, incluindo a possibilidade de colocar no cabeçalho as bibliografias que se encontram em actualização. Alguns problemas, como sejam as discrepâncias dos caracteres que se verificam nas notas e o arranjo gráfico ainda rudimentar, serão corrigidos à medida do meu tempo e saber. As notas bibliográficas sofreram com a interrupção destes meses e precisam de ser actualizadas. Tudo está ainda numa forma experimental.


Os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO são desde já o mais completo repositório de informação sobre a história do comunismo, dos movimentos radicais e da história da oposição portuguesa na Rede, mas este trabalho é em grande medida solitário, e por isso sujeito às flutuações de tempo do seu autor. Renovo aqui o apelo a todos os que se interessam por estes assuntos para também utilizarem este sítio como instrumento de trabalho de investigação e divulgação dos seus resultados.


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INTENDÊNCIA MUITO ESPECIAL

Vai animada a discussão (lá para baixo nos LENDO / VENDO /OUVINDO de ontem) sobre Louçã e os impostos, feita por gente que sabe do que está a falar. E lá vem uma interessante referência a Marx e a bolsa para ilustração dos incautos.

E há mais em GATO POR LEBRE .

E para ser MUITO ESPECIAL esta INTENDÊNCIA falta anunciar com grande gosto que hoje abrirão os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO em nova casa, fundindo todo o material já disponível no antigo, mais o que estava no blogue do livro sobre Cunhal. Em breve.

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EARLY MORNING BLOGS 773

The Brain—is wider than the Sky


The Brain—is wider than the Sky—
For—put them side by side—
The one the other will contain
With ease—and You—beside—

The Brain is deeper than the sea—
For—hold them—Blue to Blue—
The one the other will absorb—
As Sponges—Buckets—do—

The Brain is just the weight of God—
For—Heft them—Pound for Pound—
And they will differ—if they do—
As Syllable from Sound—


(Emily Dickinson)

*

Bom dia!

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BIBLIOFILIAS: CENTROS E LESTES 2

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Miklos Molnar, A Concise History of Hungary

Imre Kertesz, Fatelessness

David Crowley / Susan Emily Reid, Socialist Spaces : Sites of Everyday Life in the Eastern Bloc

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11.5.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ESQUECIMENTOS



Ao ler hoje os comentários nos jornais económicos sobre a "suposta" (porque parece quase certa) fraude filatélica, parecia que quem escrevia já antecipara hà muito a desgraça de tantas pessoas, bastando para isso o raciocínio de cartilha económica de calcular o "risco" inerente ao investimento. E como já sabiam, agora quase que gozam com quem foi enganado. O interessante é encontrar este artigo no mesmo Diário Económico (de 26/08/2005), de que envio apenas este excerto:
"Investimento seguro
Apesar de o típico filatelista não ponderar a hipótese de vender, algum dia, a sua colecção, a verdade é que este é um investimento que ganha cada vez mais força em Portugal. Prova disso são os mais de 15 mil clientes que a Afinsa, empresa especializada no mercado de bens tangíveis de colecção e líder mundial no sector da filatelia, tem no nosso país. “Há um conhecimento cada vez maior e, por consequência, uma maior apetência para acorrer a este mercado”, explica Maria do Carmo Lencastre, directora da Afinsa Investimentos em Portugal. Este conhecimento crescente deve-se em muito a esta empresa que se dedica ao investimento e ao coleccionismo e que, anualmente, edita um catálogo de Selos de Portugal, com a actualização das cotações e com as emissões que saíram desde o ano anterior. Verificar como as cotações crescem de ano para ano é mais uma prova da valorização deste sector. E caso restem dúvidas de que este mercado está mais dinâmico do que nunca, basta ir a um leilão, que em Portugal se realizam periodicamente, confirmar o excelente volume de vendas.
Esta evolução da importância do selo é, aliás, uma das vantagens para se investir em filatelia, na opinião de João Pedro de Figueiredo, um dos mais importantes leiloeiros nacionais. “A filatelia não tem risco porque a valorização é garantida. Nem um produto bancário dá tanto como a filatelia”, além de que “o mercado está bom porque em tempos de crise as pessoas investem mais na filatelia porque sabem que vai valorizar”, defende."
No artigo não se faz qualquer menção dos riscos que agora os directores e sub-directores dos jornais apresentam como absolutamente claros e previsíveis.
Não sendo jornalista e não tendo qualquer interesse (felizmente) no caso em si, espanta-me que o nosso jornalismo económico saiba tanta coisa e partilhe tão pouco com os seus leitores. E espanta-me ainda mais por que razão nunca publicaram nenhum artigo com estudos, investigações e perguntas "difíceis", em vez do jornalismo subserviente que praticam. É que talvez isso tivesse evitado que tantos confiassem nas empresas em causa... e nos próprios jornalistas.

Se escrevo isto, é apenas porque ao ver na TVE as filas de pessoas, muitas delas nitidamente remediadas, a verem as suas poupanças de uma vida por água abaixo, me chocou o ar de "superioridade" com que muitos jornalistas escrevem sobre o caso, quando eles próprios não só contribuíram para isso, como não cumpriram o seu dever de informar correctamente. E agora em vez de guardarem a reserva devida, ainda se dão a ares de quem leu manuais de Introdução à Economia.
Este caso diz muito sobre o nosso "jornalismo económico" e da confiança que podemos ter naquilo que nele se lê.

(João Lopes)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO /OUVINDO com um comentário de António Lobo Xavier sobre a tributação das mais-valias das acções e as propostas do BE.

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MEMÓRIA, HISTÓRIA E RECUSA

O debate que periodicamente se esboça em Portugal sobre como tratar a memória dos anos da ditadura não é diferente do que atravessa os países que estiveram sob o domínio do comunismo até 1989. Cá e nesses países, como na Alemanha do pós-guerra, a questão é saber como tratar dos restos “históricos” desses regimes, casa, espaços, símbolos, estátuas, placas, livros, discos, filmes, objectos decorativos.

É compreensível que, enquanto a geração que viveu os efeitos da ditadura está viva, o tratamento da memória não seja puramente histórico, mas tenha um aspecto de denúncia, de pedagogia do mal, de recusa. Onde a mudança ainda está fresca, este é o aspecto dominante. Compreende-se por isso soluções como a da Casa do Terror e do Parque das Estátuas em Budapeste, utilizando a antiga sede da polícia política, que já fora a sede de uma organização nazi, assim como as estátuas retiradas dos lugares públicos, como monumentos destinados a lembrar e a condenar a ditadura comunista. Os museus do Holocausto, a começar pelo paradigma de todos eles o Yad Vashem em Jerusalém, têm função idêntica: mais do que registrar e preservar, a sua função é recordar para condenar. Organizam-se à volta de uma ideia, de uma interpretação moral da história e não da história em si. No seu interior há uma narrativa do bem e do mal, não uma mera exposição de uma época e, naturalmente, centram-se na repressão, na violência e na guerra, pretendendo de algum modo reparar as vítimas, denunciando os culpados.

Nestes museus e exposições, muito próximos dos acontecimentos que esconjuram, o modo como é tratada a memória é significativa da situação política de cada país. Por exemplo, enquanto que na antiga RDA, nos países bálticos, na Hungria e na República Checa tudo o que lembrava o regime comunista e a ocupação militar soviética foi retirado dos lugares públicos; na Ucrânia e na Rússia, assim como em várias repúblicas da antiga URSS, muito da estatuária e da nomenclatura urbana foi mantida. Na Rússia, as mudanças inicialmente foram mais radicais e depois foram travadas. A polémica com o eventual retorno da estátua de Dzerjinski, o fundador da polícia política dos comunistas, que foi derrubada em 1991, para o seu lugar central em frente à sede do KGB, é mais significativa da evolução do sistema soviético, do que muitas declarações retóricas de democracia. A ambiguidade reinante é patente no antigo Museu da Revolução de Moscovo, actualmente Museu de História Contemporânea Russa, onde um re-arranjo das peças existentes permitiu transformar o proselitismo comunista numa visão “histórica” desculpabilizadora. Os turistas que correm para os andares superiores, onde está acumulado o kitsch dos presentes a Staline, fazem-no com a mesma displicência folclórica com que compram na rua falsos emblemas do KGB. Os russos não acham a mesma graça.

O caso português, a trinta anos do 25 de Abril, já pode ser visto com outra distanciação, embora a regra da geração viva, ainda implicar que a ditadura de Salazar e Caetano não pode ser tratada apenas como pura história, e implicar um sentimento de respeito e reparação com as suas vítimas. Mas , a trinta anos do fim da ditadura, seria mais eficaz quer para a memória, quer para a história, quer para a recusa, perceber que o seu equilíbrio se faz cada vez mais pela história e que esta é a forma mais segura de fazer respeitar ou condenar o que merece ser respeitado e condenado. Sendo assim não me parece muito útil, nem realista, a reivindicação de transformar a antiga sede de Lisboa da PIDE, num museu da resistência, num momento em que não há recursos, nem disponibilidade nacional para aí criar uma verdadeira instituição. Seria preferível melhorar o que mais perto está de ser um memorial da resistência, o Museu da Fortaleza de Peniche, e dar-lhe uma dimensão para além da memória prisional. Não é em Lisboa, mas nada obriga a que tenha que ser em Lisboa, e nem sequer que a dimensão simbólica do local é menor do que a sede da PIDE.
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No centro espectacular do Museu permaneceriam as celas dos blocos prisionais que estão já abertos ao público, e que asseguram um número de visitantes considerável. A exposição das condições prisionais, dos trabalhos dos reclusos, e a história da fuga de Cunhal e dos seus companheiros em 1960, permitem mostrar a dimensão repressiva fundamental do regime que poderia ser complementada por materiais sobre as outras prisões, as torturas e as mortes da PIDE. Peniche seria o principal centro dessa memória pedagógica que motiva os que desejam a preservação da sede da PIDE. Mas podia-se ir mais longe, respondendo a outras exigências.

Há na Fortaleza todo um vasto espaço disponível, em ruínas ou em grande decadência, que podia servir para um repositório museológico mais vasto do meio século do Estado Novo. Penso aliás que numa prisão, que é ao mesmo tempo um monumento nacional e um local com interesse arquitectónico e paisagístico, se podia também recolher muito do espólio do Estado Novo para além da ideia de fazer um museu apenas da resistência. A componente que move os que querem uma pedagogia de recusa e de condenação, não se perderia, ao mesmo tempo que ali se poderia fazer o que não existe em lado nenhum: o embrião de um museu da nossa contemporaneidade, do século XX.

Do ponto de vista da história, a resistência não se percebe sem se perceber o regime e para o seu estudo é fundamental recolher muito material com valor museológico que está em risco de se perder. Algum desse material merece ser divulgado, para acabar com hiatos incompreensíveis como seja o facto de A Revolução de Maio de António Lopes Ribeiro não existir nem em vídeo nem em DVD. Tem sentido expor os cartazes do Estado Novo, as suas publicações propagandísticas, e os objectos que sobraram de um espólio que se dispersou, estátuas de Salazar, bustos dos seus notáveis, placas arrancadas, pensões da Legião, e memorabilia da Mocidade. Cartazes de campanhas como a do Trigo, os painéis dos Planos de Fomento, objectos oferecidos a Salazar e aos presidentes do regime, mesmo fotos das manifestações espontâneas, são o contraponto para se perceber a ecologia em que os portugueses viveram quarenta e oito anos. Está na altura de congregar tudo isso numa instituição própria que preserva a memória, permita a história e favoreça a investigação, sem apagar a recordação dos tempos negros da ditadura. Não se trata de relativizar a história, mas de começar o caminho para tornar o século XX compreensível para as novas gerações que nunca o verão com a dimensão ética e sentimental dos que foram seus protagonistas.

(No Público de hoje,)

*
[A mensagem seguinte refere-se à nota PODE-SE METER O COMUNISMO NOS MUSEUS?, mas tem a ver com esta matéria pelo que a coloquei aqui.)
Há muitos e bons museus dedicados ao período nacional-socialista na Alemanha.Aliás encontram-se em quase todo o país. Deixo-lhe alguns exemplos: o Centro de Documentacao nacional-socialista em Nuremberga, no "cenário" original dos Congresos do NSDAP, o Centro de Documentacao do Monumento ao Holocausto em Berlim, a Topografia do Terror em Berlim, o Deutsches Historisches Museum em Berlim, a Haus der Geschichte em Bona,o Museu Judaico em Berlim, o Museu Judaico em Frankfurt , os campos de concentracao de Dachau, Buchenwald, etc, etc, etc, etc. Isto sem referir exposicoes temporárias É injusto e factualmente incorrecto afirmar-se que nao existem reflexoes museológicas sobre os 12 anos de terror do Terceiro Reich.

(Helena Ferro de Gouveia)

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DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL HÚNGARA:

3. PAISAGEM, NAGYBÁNYA (VILMOS PERRLOTT-CSABA)


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GATO POR LEBRE



é uma boa descrição do anúncio propagandístico da refinaria de Sines pelo Governo. Um Governo que se compromete publicamente com o anúncio de um projecto sem ter garantido as condições mínimas e contratuais da sua viabilidade está a vender-nos gato por lebre. Está também a vender-nos gato por lebre quando ataca o empresário por propor condições inaceitáveis, que Governo e Primeiro-ministro deveriam ter exigido conhecer antes de tocar a trombeta da propaganda. O Primeiro-ministro agrava tudo isto com o seu tom insuportável de arrogância, como se não fosse ele a ter que nos prestar contas do logro.

*
É de facto inusitado que o Primeiro Ministro de Portugal e o Ministro da Economia mais o Dr. Basílio Horta, tenham convocado Portugal para anunciar e assinar os contratos de construção de uma refinaria, a poucos dias da realização das eleições presidenciais.

Eu como advogado que sou, este caso faz-me lembrar os avisos que se fazem nos Tribunais a informar que às vezes o barato sai caro, ou seja, aconselham sempre as pessoas a consultar um advogado antes de firmar qualquer negócio. E incentivam-nas a denunciar a procuradoria ilícita que por aí há.

Como eu não acredito que os anunciantes deste investimento tenham recorrido a esse tipo de expediente só posso concluir que o que assinaram não foi mais um memorando.

O pior é que ao mesmo tempo disseram que este investimento era um sinal claro da confiança dos investidores na recuperação da nossa economia. E nós acreditamos.

Afinal a confiança está abalada irremediavelmente. Se nem o nosso Primeiro Ministro assina os contratos quem é que o vai fazer? E se como se afirma o problema é ambiental faltava uma assinatura no contrato. Onde é que estava o Ministro do Ambiente?

Estamos muito mal...

(Paulo Lopes da Silva)

*

O que mais assusta em todo este negócio da refinaria é perceber que na pressa não se asseguraram todas as vertentes do negócio, particularmente a parte mais técnica como as emissões de dióxido de carbono. Sendo o primeiro-ministro um engenheiro e tendo até estado ligado ao ambiente, seria de esperar mais cuidado em algo tão facilmente observável. Agora pensemos que o mesmo empresário já sugeriu a implantação do nuclear no nosso país, diminuindo o peso do risco com o argumento de que já o corremos por termos as centrais espanholas ao lado. Assusta pensar que a ter havido o negócio da refinaria se poderia, mais ano menos ano, ter passado para o nuclear. Esta decisão do nuclear se conjugada com a ligeireza com que a parte técnica foi abordada no caso da refinaria, revelar-se-ia sem dúvida perigosa.

Também se deveria pensar se a ligeireza com que o assunto da refinaria foi abordado, não terá sido aplicada à OTA ou ao TGV e daqui a uns anos não teremos facturas inesperadas ou algo do tipo “estádios a mais para campeonato a menos”…

(Emanuel Ferreira)

*

Antes assumir o erro (crasso, sem dúvida) do que persistir.

Infelizmente, não estou muito optimista quanto à capacidade deste governo aprender com os seus próprios erros. Tal vai contra a sua forma de fazer política mas também contra a sua própria política.

Não só a forma de o governo fazer política é altamente baseada na propaganda de actos futuros e não na exploração política de resultados obtidos, como a própria política está orientada para o grande projecto, no pressuposto de que tal puxará pela confiança do país.

O que o governo teria de fazer era baixar os impostos e cortar a direito (como diria o seu parceiro de tertúlia Jorge Coelho) a despesa pública.
Isso sim seria um grande projecto digno de se ver. Mesmo correndo o risco de não cumprir o objectivo do défice, seria apenas coerente com o que sempre andou a dizer na oposição - que há mais vida para além deste.

Refinarias, centrais nucleares, auto-estradas, aeroportos, comboios-rapidos, mais uma ponte sobre o Tejo... sinceramente, é como comprar um BMW para nos sentirmos motivados na bicha do IC19.

(Mário Almeida)

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Desculpem-me ir contra o consenso, nesta matéria.

Os processos de obtenção dos agreements ambientais são demorados, num projecto industrial. Por outro lado, uma coisa é o ante-projecto, em geral estabelecendo apenas os traços gerais, outra coisa é o projecto de detalhe necessários às devidas aprovações regulamentares. Ou seja, é absolutamente normal que num grande projecto de investimento industrial os empresários negoceiem os apoios políticos antes de passarem à concretização do projecto de detalhe, o qual tem um custo considerável de engenharia.

Nenhum Governo, portanto, e se o volume de investimento requerer o envolvimento de um Governo, deixa de negociar um projecto destes por falta do projecto de detalhe.

Que se saiba, por outro lado, uma vez obtidas as facilidades e luzes-verdes políticas, nenhum investimento industrial em Portugal deixou depois de se fazer nos termos requeridos na lei, até hoje.

O que se passou neste caso é um triste episódio de pura vigarice de um empresário aventureiro, que – recordem-se – é quem também anda por aí a candidatar-se a “contruir” uma central nuclear, aliás com o apoio de um lobby com forma partidária no interior do CDS-PP. O qual se associou a investidores americanos que, se pretendiam construir uma refinaria em Portugal para reexportar o produto para os EUA, em vez de a fazerem nos próprios EUA ou em algum país produtor de petróleo, é por que alguma vantagem “especial” esperariam do nosso país!... Suspeito que desta vez nos calhou a nós sermos vistos como uma República das bananas!

O Governo foi ingénuo ao não suspeitar da má-fé de investidores tão pouco credíveis? É fácil dizê-lo, à posteriori.

Porém, o que nos afecta a todos, portugueses, é terem existido uns vigaristas que apostaram no terceiromundismo português. E se isso aconteceu é certamente porque todos nós contribuímos para criar essa ideia do país, e talvez em especial os últimos Governos que tivemos.

Apesar de tudo, este Governo exprimiu a indignação corespondente à humilhação nacional que isto tudo é. Gostava de saber como teria sido no tempo de Portas e Santana Lopes, aqueles que negociaram com Stanley Ho a recuperação do Parque Mayer e acabaram por lhe ceder pura e simplesmente um casino no Parque das Nações, em troca de nada...

(José Luís Pinto de Sá)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(11 de Maio de 2006)


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Livros como parede, como fundo. Recepção nos arquivos da Open Society em Budapest.



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A filatelia finalmente chegou à primeira página.

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Na TSF, o demagogo Francisco Louçã, falando em nome dos que trabalham, ataca a possibilidade de se ganhar legítima e legalmente dinheiro com acções. Seria interessante que o BE fizesse uma lista das formas que acha legítimas de ganhar dinheiro na nossa democracia constitucional. Perceber-se-ia muita coisa que o BE mantém numa obscuridade intencional, como o seu anti-capitalismo marxista. Quanto ao sistema socialista, que ele deseja e nunca claramente enuncia, et pour cause, a julgar pelo único que houve, o do "socialismo real", só as polícias nas fronteiras impediam (e impedem) toda a gente de fugir de lá para as terras onde pode ter acções.

*
O jogo dos capitais móveis tem regras e uma das regras permanentes é: hoje ganhas, amanhã perdes. O Louçã, que quer taxar as mais-valias das transações lucrativas, que vai fazer quando o “jogador” levar uma “bolada”? Poderá deduzir os prejuízos no seu IRS?

Parece da mais elementar justiça que as regras devem ser as mesmas para as vitórias e para as derrotas….É obvio que isso não entra nas contas louçânicas, pois ele e os que pensam demagogicamente como ele (à direita ou à esquerda…) só sabem coçar para um lado: o seu

(Luís Rodrigues)

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O que mais me aflige no discurso de Louçã sobre o tema é a desonestidade intelectual do mesmo. Louçã dizia muito indignado e acusador que, se Patrick Monteiro de Barros vender as acções que detém na PT, faz uma enorme mais valia que não é tributada graças à isenção em vigor, enquanto “os trabalhadores” são obrigados a pagar IRS sobre os rendimentos do seu trabalho.

O que Louçã não disse, mas sabe, é que se Monteiro de Barros tiver rendimentos do seu trabalho também é obrigado a pagar IRS sobre eles como toda a gente, e se os trabalhadores tiverem acções da PT e fizerem mais valias com a sua alienação nas condições previstas na lei para a isenção, beneficiarão dessa isenção, tal como Monteiro de Barros.

Comparou o incomparável (tributação de rendimentos de capital com tributação de rendimentos do trabalho), escamoteando a realidade que é que a lei é igual para todos, com único objectivo de cativar com o seu discurso as alegadas vítimas da alegada injustiça.

O que importa aqui não é defender os beneficiários do regime de isenção de mais valias, o sistema fiscal, o governo, seja quem for. Trata-se apenas de registar uma forma de actuação política menos correcta.

De cada vez que ouço Louçã falar, sinto sobre mim a sombra da culpa, penso que horrível desonestidade terei cometido hoje …

(RM)

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O que se ataca, (...) não é a possibilidade de se ganhar legítima e legalmente dinheiro com acções! O que se ataca, e com toda a razão (demagogias à parte), é o facto de essas mais valias não serem tributadas, ou de o serem de uma maneira proporcionalmente muito mais suave do que os rendimentos do trabalho. Qualquer trabalhador ou pequeno empresário “apanhado” a ganhar dinheiro sem pagar os respectivos impostos é (e bem) sancionado por isso. Mas aqui falamos, na maior parte dos casos detectados e sancionados, de quantias irrisórias que “arredondam” o rendimento mensal das pessoas, muitas vezes para fazer face a gastos essenciais…

Quando se fala em mais valias de milhões, provenientes de investimentos bolsistas, é imoral e aviltante que essas não sejam tributadas, ou que o sejam de uma maneira muito mais “suave” do que os rendimentos do trabalho. Numa lógica de redistribuição da riqueza criada, para evitar os abismos cada vez maiores entre ricos e pobres, de que Portugal é, vergonhosamente, o campeão na EU, os rendimentos deveriam todos ser tributados de uma maneira proporcional, para que quem mais ganha, mais paga (contribuindo para a riqueza gobal).

Só que, para muita gente, “pobre” é um conceito abstracto, de que se ouviu falar, e de que não se conhecem as verdadeiras e reais consequências.Como na redacção do menino rico sobre o menino pobre, que dizia: “Em casa do menino pobre, são todos pobres: o menino é pobre, o pai e a mãe são pobres, os irmãos são pobres, o jardineiro é pobre, o motorista é pobre, o mordomo é pobre… etc.)…

(Carlos Brighton)

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O que RM ignora -haverá nisso alguma desonestidade intelectual? - são duas coisas: em primeiro lugar que justificação terá a não tributação de mais-valias associadas a ganhos no mercado bolsista? Sobretudo num país que tributa como tributa os rendimentos do trabalho?; em segundo lugar a possibilidade de os trabalhadores adquirirem acções embora real é meramente teórica, pelo que a invocação de uma pretensa igualdade - nesta questão específica - entre trabalhadores e capitalistas é pura demagogia. O que faz sentido é que os trabalhadors e os investidores sejam tributados da mesma forma pelos seus rendimentos do trabalho e pelas mais-valias obtidas no mercado de capitais.

Mas, em Portugal, há uma longa história sobre as isenções fiscais das mais-valias obtidas no mercado de capitais. Para não entrar no campo das mais-valias simples associadas à mudança de uso do solo ou à densificação urbana e à forma como elas (não!!!) são tributadas, recordemos apenas o que se passou na antiga Petrogal, nos tempos de Pina Moura, com a venda de parte do capital à ENI. Uma longa história em que o Estado opta quase sempre pela omissão em prejuízo de todos nós e em favor de alguns poucos.

(J. C. Guinote)

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A discussao a volta da tributacao das mais-valias e habitualmente simplificada pelos (velhos) principios teoricos da redistribuicao de riqueza como se fizesse sentido continuar a ver o mundo de hoje a luz keynesiana de outros tempos. Foi o que aconteceu, nao ha muito tempo, a proposito das alteracoes do Pina Moura. Andou tudo para tras por uma razao muito simples: se a tributacao em Portugal for muito superior ao que se passa noutros paises para onde seja facil mudar o capital este move-se. E se nao tivermos riqueza nao poderemos redistribui-la.

(peco desculpa pela falta de acentos, mas onde estou nao e facil...)

(Carlos Campos)

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Do ponto de vista teórico, só há três tipos de justificação para atenuar ou eliminar a tributação das mais-valias de acções. A primeira tem que ver com o facto de se tratarem de rendimentos ocasionais, “trazidos pelo vento”, para os quais porventura será exagerado aplicar taxas progressivas que foram pensadas para rendimentos periódicos, que se repetem, ordinários, ainda para mais quando o IRS na prática impede a comunicação das perdas entre as categorias; em geral, pode dizer-se, de facto, que as perdas não têm relevo fiscal no IRS!. A segunda tem que ver com a preocupação de evitar um efeito de lock-in, que o proprietário de bens que se pretende que circulem os conserve mais tempo do que seria desejável para evitar o imposto. A terceira, a mais importante, prende-se com a preocupação em evitar a dupla tributação. Os ganhos feitos com as acções correspondem à antecipação ou realização dos ganhos ou incrementos de valor experimentados pelas próprias empresas, os quais são normalmente tributados em IRC. É possível dizer, por isso, em grande medida, que há dupla tributação se simultaneamente tributarmos as empresas pelo respectivo incremento de valor e depois as pessoas singulares, quando realizam pela venda das acções o mesmo incremento de valor. É claro que isto não conduz automaticamente a uma isenção das mais-valias de acções realizadas por particulares. Cada sistema escolhe a medida tolerável de dupla tributação. O problema será sempre um problema de política fiscal, de atracção do investimento ou de facilitação de obtenção de fundos em mercado de capitais. O resto é conversa demagógica em que o discurso político é fértil quando se trata de impostos.

A proposta do BE não fica por aqui, contudo. Aquilo que mostra o seu ódio ao capitalismo e seus instrumentos é a proposta de não aceitar como custo fiscal os encargos financeiros com a aquisição de empresas! Não lembra a ninguém, é de um basismo chocante! É melhor a empresa que faz aquisições com capital próprio do que a que faz o mesmo com crédito? Por que razão os custos financeiros são menos dignos do que todos os outros, para apurarmos o rendimento real? O bloco desconhece que as SGPS não podem já deduzir os custos financeiros com aquisições, desconhece que as suas menos-valias não são consideradas, enfim, parece que estamos na Albânia há mais de trinta anos. Podia ser só ideologicamente simbólico, mas não é: é básico, irracional e retrógrado.

(António Lobo Xavier)

*

"rendimentos ocasionais, trazidos pelo vento, para os quais porventura será exagerado aplicar taxas progressivas que foram pensadas para rendimentos periódicos, que se repetem".

É muito interessante esta referência do Sr Dr A Lobo Xavier, sobre rendimentos trazidos pelo vento. É parecida com a expressão que no séc. XVII se usava na bolsa de Amesterdão para referir a venda do que se não tem, "windhaendel". Do que hoje se chama "vender a descoberto", e que os anglo-saxónicos traduzem por "sell short". E quem fôsse então apanhado nesta transacção tida como pouco séria, e dela saísse prejudicado, poderia sempre invocar o nome do grande Frederik Hendrik para não ter que pagar o que devia.

Tal como nos anos 90 do século passado. Quando se queria fazer referência à sucessão de anúncios de lançamento de "software" novo (mas ainda por concluir) da Microsoft, que no meio das gentes "tech" lhe chamavam "vaporware".

(F.)

*

Marx, quando (a sua mulher Jenny) recebeu uns dinheiros de uma herança, jogou na bolsa, em Londres, e até comentou por carta a Engels que tinha tido um retorno jeitoso.. Talvez fosse de dizer isto a Francisco Louçã, mas com cautelas..

(jtp)

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Fará sentido tributar sobre o já tributado? O trabalhador ano após ano declara os seus rendimentos fruto do trabalho, destes paga IRS. Ao longo do ano adquire bens sobre os quais paga novamente IVA e outros impostos. Do pouco que sobra (quando sobra) ou adquire bens (e novamente lhe tributam impostos porque adquiriu um carro ou uma casa) ou investe (a poupança que tantos dizem ser necessário fazer) e quando isso acontece vê de novo o fantasma da tributação. Ao rendimento de cada hora de trabalho quanto é retirado, no final, através de impostos directos e indirectos? A carga excessiva, associado ao claro esbanjamento dos mesmos impostos pelo estado, não acaba por sugerir a fraude? Ou até mesmo o “nada fazer” pois assim rende mais?

(Emanuel Ferreira)

*

Não se percebe muito bem a que é que se refere o líder do BE ou alguns dos comentários "postados". Vejamos:
No caso das pessoas singulares as mais-valias mobiliárias (acções, p.ex) são englobadas no rendimento tal como o são os rendimentos do trabalho, rendimentos prediais ou rendimentos de propriedade intelectual (p.ex); apenas não são tributadas as mais-valias de acções detidas (pelo seu titular) por mais de 12 meses (a razão para isto é considerar-se, e bem, que nestes casos não há uma intenção especulativa mas sim um investimento duradouro em que o, eventual, ganho é constituído pela distribuição de dividendos, também estes tributados).

Assim sendo, ou é ignorância ou má fé ou outra coisa. E outra coisa será a ideia de aplicação de uma taxa a todas as transacções financeiras (imagine-se o bem que faria, a aplicação de uma taxa fixa independente de ganhos ou perdas, aos mercados financeiros).

O pai desta ideia é o economista James Tobin que, em Setembro de 2001, deu uma entrevista ao Der Spiegel com o sugestivo título: "The antiglobalisation movement has highjacked my name". A entrevista, bastante esclarecedora, é embaraçante para os Drs. Louçãs deste mundo. Aliás, em matéria fiscal, tudo o que o Dr. Louçã defende ou é tecnicamente errado ou é inexequível ou é obsoleto ou é demagógico. Gostava de falar com ele sobre algumas coisas...

(ALTC)

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EARLY MORNING BLOGS 772

The Basic Con


Those who can’t find anything to live for,
always invent something to die for.

Then they want the rest of us to
die for it, too.

(Lew Welch)

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Bom dia!

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9.5.06


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL HÚNGARA:

2. BARCOS NO SENA (SANDOR ZIFFER)


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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: NOTÍCIAS NA FUTEBOLÂNDIA



Se algum português conseguiu passar o dia de ontem e escapar de saber que o treinador do Benfica saiu, pode considerar-se um excluído social. Foi uma jornada de rádios e televisões a dizerem sempre o mesmo, a toda a hora, não fosse uma só alma ficar na ignorância de tão importante informação para o país.

(Jorge Oliveira)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DIPLOMACIA SIMBÓLICA



Será que só eu acharei estranho que o Pres. da Com. Eur. tenha escolhido uma escultura de Fátima como prenda ao Chefe de Estado do Vaticano, na sua primeira visita oficial como líder da Europa?
Foi uma oferta pessoal? Se não, quem visava representar com tal oferta, nas vésperas do Dia da Europa? Porque é que, quanto ao relacionamento entre Estados e Organizações com a Igreja, ninguém se interroga sobre as questões diplomáticas simbólicas? O que aconteceria se fosse entregue por Durão Barroso a um líder muçulmano uma cópia manuscrita do Corão?

(Paulo Sérgio Macedo)

*

Paulo Sérgio Macedo utilizou as páginas do seu blogue para perguntar «Será que só eu acharei estranho que o Pres. da Com. Eur. tenha escolhido uma escultura de Fátima como prenda ao Chefe de Estado do Vaticano, na sua primeira visita oficial como líder da Europa? Foi uma oferta pessoal? Se não, quem visava representar com tal oferta, nas vésperas do Dia da Europa? Porque é que, quanto ao relacionamento entre Estados e Organizações com a Igreja, ninguém se interroga sobre as questões diplomáticas simbólicas? O que aconteceria se fosse entregue por Durão Barroso a um líder muçulmano uma cópia manuscrita do Corão?"

Posso avançar a minha resposta: Não achei estranho. Achei de bom-gosto. Quando eu ofereço algo a alguém, espero que quem receba aprecie o que recebe. Presumo que uma escultura de Fátima tenha agradado ao Papa. Se foi uma oferta pessoal, não sei. Presumo que não. Mas a regra de tentar agradar quando se oferece tanto se aplica às ofertas privadas como instituticionais e diplomáticas. Se Durão Barroso tivesse oferecido uma cópia manuscrita do Alcorão a um líder religioso muçulmano, eu acharia igualmente bem, pelas mesmas razões. Uma oferta "laica" ao papa, ou uma escultura de Fátima a alguém de fora da Igreja é que seria estranho.

Não vale a pena tentar ler gestos, símbolos e significados nas coisas mais simples e banais. E não se deve ceder ao politicamente correcto dum certo laicismo em detrimento do bom-senso e do bom-gosto.

(Pedro Costa Ferreiro)

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(9 de Maio de 2006)


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O senhor Attila, um nome muito comum na Húngria, promete-nos um retorno à casa e aos valores familiares, em nome do Fidesz, a coligação conservadora que perdeu as eleições há quinze dias.


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TRÊS ANOS, TRÊS SÉCULOS


Primavera em Pécs.

Obrigado aos que lembraram.

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EARLY MORNING BLOGS 771

Outwardly His Life Ran Smoothly


Comparative figures: 1784 Kant owned 55 books, Goethe 2300, Herder 7700.

Windows: Kant had one bedroom window, which he kept shut at all times, to
forestall insects. The windows of his study faced the garden, on the the other side of
which was the city jail. In summer loud choral singing of the inmates wafted in.
Kant asked that the singing be done sotto voce and with windows closed. Kant had
friends at city hall and got his wish.

Tolstoy: Tolstoy thought that if Kant had not smoked so much tobacco The
Critique of Pure Reason would have been written in language you could under-
stand (in fact he smoked one pipe at 5 AM).

Numbering: Kant never ate dinner alone, it exhausts the spirit. Dinner guests, in
the opinion of the day, should not number more than the Muses nor less than the
Graces. Kant set six places.

Sensualism: Kant's favourite dinner was codfish.

Rule Your Nature: Kant breathed only through his nose.


(Anne Carson)

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Bom dia!

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8.5.06


O CONGRESSO DO CDS/PP

revela que o príncipio do "dois em um", ou o de «uma lady na mesa, uma louca na cama», não funciona para os partidos políticos. Ou é só "um em um", como no PCP, ou são vinte em um, dez ladies na mesa e dez loucas na cama, como no PSD e no PS.

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UMA MISSA NA IGREJA SÉRVIA DE BUDAPESTE



Ao lado da Igreja está uma exposição sobre Nikola Tesla (os jogadores de Command Conquer podem imaginar quem é…), mas nenhum raio atingiu o incréu que entrou pelo jardim do pequeno pátio. A Igreja está abaixo do nível da rua, o que quase a ia destruindo nas cheias de 1838. É pequena, num barroco moderado, pintada de um amarelo forte. Está quase sempre fechada, guardada por um portão de ferro. À volta, um relvado e velhas árvores, nos muros, lápides tumulares. E, em pleno centro de Budapeste, um silêncio apenas perturbado pelos pássaros.
A comunidade que a frequenta não é muito grande, mas tem a intensidade habitual nos momentos de identidade, como seja o ritual da missa. Sem ser espectacular, nem artisticamente relevante (a maioria das suas pinturas e ícones são tardios, em estilo italiano), a Igreja atrai pela sua intimidade, por se perceber que é uma igreja a sério. Talvez o cheiro forte a incenso e estearina seja o principal factor nessa ecologia que se sente imediatamente. A missa segue o complexo ritual ortodoxo, com um padre paramentado, cercado de vários outros padres e acólitos, que se movimenta à volta das portas da iconostasis. Ao lado, um coro, em frente um pão numa mesa. Nas igrejas orientais o pão é fermentado, é pão mesmo. O padre levanta dois castiçais e cruza as velas. Volta-se para as imagens e depois para os fiéis, que já não respeitam a tradicional separação entre homens e mulheres, traçada na geografia da Igreja por uma diferença de nível e uma barreira de madeira. O “Sinal da Cruz” é diferente do nosso.

Na assistência, os homens mais velhos movimentam-se sem ruído, todos vestidos com as suas "roupas de domingo". Dois tipos de mulheres assistem, sem meio termo, umas vestidas de negro, como as monjas ou as nossas viúvas do Norte, outras grandes e louras e muito pintadas, vestindo vestidos com um traço antiquado. Vestidos-vestidos, em vez de mera roupa, vestidos com pompa e arquitectura, que trazem com grande naturalidade e um sentimento de estar bem, de serem o que são, mesmo ali na Igreja, onde nas suas faces se percebe a fé.

A uns metros dali, havia uma missa católica, muito mais frequentada, mas que, talvez por conhecer melhor o seu ritual e o interior da Igreja ser-me mais familiar, me pareceu mais habitual, menos curioso. Como a curiosidade muito me move, fui atrás da maior estranheza. Na Igreja sérvia eu sabia que estava na Europa de lá, na Igreja católica, uma das muitas de Pest, era como estar na Basílica da Estrela. Mas, em ambas as igrejas, o tempo estava parado. Deve ser isso que elas dão aos que tem fé: um momento de eternidade, a participação num outro tempo mais sagrado que a velocidade profana do lado de fora.

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DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL HÚNGARA


Sandor Ziffer, O Portão Vermelho

Na Galeria Nacional de Budapeste está uma excelente exposição do fauvismo húngaro, entre Paris e Nagybánya (Magyar vadak Párizstól Nagybányáig 1904-1914) Nagybánya era uma colónia de férias popular entre artistas que funcionou como uma espécie de Skagen húngara. A exposição mostra algumas das riquezas excepcionais da arte do Centro e Leste da Europa, cosmopolita e totalmente integrada nas grandes escolas artísticas europeias, e que depois foi decapitada na sua verdadeira dimensão pelo isolamento que o comunismo trouxe à Húngria. Dos quadros expostos, alguns de colecções particulares (como é o caso do "Portão Vermelho" de Ziffer), escolhi dez para colocar no Abrupto.

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: CAPOTE E CAMUS

Picture of Paris After the Liberation, 1944-1949


Antony Beevor, Paris After the Liberation, 1944-1949

Parece que Truman Capote se gabava de ter seduzido Camus por uma noite, em Paris no pós-guerra. Tudo indica que seja falso, até pela fama de Camus noutras andanças, mas como não sabia de todo desta história, nunca é tarde para aprender.

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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(8 de Maio de 2006)



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Para a bibliofilia: a descoberta das edições da Central European University.



Miklós Kun, Stalin. An Unknown Portrait

Jaromir Navratil, Antonin Bencik, Vaclav Kural, Marie Michalkova, e Jitka Vondrova, The Prague Spring, 1968 (Com um prefácio de Vaclav Havel)

Ambrus Miskolczy, Hitler's Library

(Muito interessante: o que Hitler leu e sublinhou, os livros por que passou os olhos, os que tinha e não se sabe se leu. Por exemplo: Hitler, leitor de Ernst Jünger.)

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Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava de judeu errante?
O mundo continuou a funcionar, e em Portugal o desencanto começa a criar raízes. Em breve espreitará o caule, e depois assistiremos talvez a algo feio.

Os professores lá foram "castigados" mais uma vez com regras idiotas. Têm sido a classe "bode expiatório" deste governo. E se há justiça em exigir maior profissionalismo, competência e dedicação, é profundamente injusto ver que a Reforma do Estado passa só por eles e que lhes é exigido algo para o qual não lhes são dados meios. Assistimos boquiabertos à intriga de faca e espada das buscas da PJ e de Rui Rio em que o que é verdade num momento é mentira no outro, o que para além de nos deixar atordoados nos impõe a sensação de que alguém deliberadamente mente e está de má-fé (ai os juízes) e assistimos em directo à decadência institucional de Freitas do Amaral que continua a pensar que o mundo começa e acaba em si próprio. Mas o Porto foi campeão, o Sporting conseguiu ficar em segundo lugar deixando o Benfica para trás, coisa que dá sempre, falta de melhor, para aquecer um pouco a alma. As lojas já estão cheias de fatos de banho, as maquilhagens de verão já saem à rua, os anti-celulíticos e as cervejas lutam por um lugar nos outdoors, e as barrigas de fora (que este ano, finalmente, estão totalmente out, em termos de moda) não se farão esperar. Ah... e parece que vai haver uma lotaria rock-in-Rio Lisboa. Por isso nada está realmente perdido...

(J.)

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O QUE É A HISTÓRIA?







Paredes de casas marcadas por balas e tiros de canhão.

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© José Pacheco Pereira
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