ABRUPTO

11.5.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ESQUECIMENTOS



Ao ler hoje os comentários nos jornais económicos sobre a "suposta" (porque parece quase certa) fraude filatélica, parecia que quem escrevia já antecipara hà muito a desgraça de tantas pessoas, bastando para isso o raciocínio de cartilha económica de calcular o "risco" inerente ao investimento. E como já sabiam, agora quase que gozam com quem foi enganado. O interessante é encontrar este artigo no mesmo Diário Económico (de 26/08/2005), de que envio apenas este excerto:
"Investimento seguro
Apesar de o típico filatelista não ponderar a hipótese de vender, algum dia, a sua colecção, a verdade é que este é um investimento que ganha cada vez mais força em Portugal. Prova disso são os mais de 15 mil clientes que a Afinsa, empresa especializada no mercado de bens tangíveis de colecção e líder mundial no sector da filatelia, tem no nosso país. “Há um conhecimento cada vez maior e, por consequência, uma maior apetência para acorrer a este mercado”, explica Maria do Carmo Lencastre, directora da Afinsa Investimentos em Portugal. Este conhecimento crescente deve-se em muito a esta empresa que se dedica ao investimento e ao coleccionismo e que, anualmente, edita um catálogo de Selos de Portugal, com a actualização das cotações e com as emissões que saíram desde o ano anterior. Verificar como as cotações crescem de ano para ano é mais uma prova da valorização deste sector. E caso restem dúvidas de que este mercado está mais dinâmico do que nunca, basta ir a um leilão, que em Portugal se realizam periodicamente, confirmar o excelente volume de vendas.
Esta evolução da importância do selo é, aliás, uma das vantagens para se investir em filatelia, na opinião de João Pedro de Figueiredo, um dos mais importantes leiloeiros nacionais. “A filatelia não tem risco porque a valorização é garantida. Nem um produto bancário dá tanto como a filatelia”, além de que “o mercado está bom porque em tempos de crise as pessoas investem mais na filatelia porque sabem que vai valorizar”, defende."
No artigo não se faz qualquer menção dos riscos que agora os directores e sub-directores dos jornais apresentam como absolutamente claros e previsíveis.
Não sendo jornalista e não tendo qualquer interesse (felizmente) no caso em si, espanta-me que o nosso jornalismo económico saiba tanta coisa e partilhe tão pouco com os seus leitores. E espanta-me ainda mais por que razão nunca publicaram nenhum artigo com estudos, investigações e perguntas "difíceis", em vez do jornalismo subserviente que praticam. É que talvez isso tivesse evitado que tantos confiassem nas empresas em causa... e nos próprios jornalistas.

Se escrevo isto, é apenas porque ao ver na TVE as filas de pessoas, muitas delas nitidamente remediadas, a verem as suas poupanças de uma vida por água abaixo, me chocou o ar de "superioridade" com que muitos jornalistas escrevem sobre o caso, quando eles próprios não só contribuíram para isso, como não cumpriram o seu dever de informar correctamente. E agora em vez de guardarem a reserva devida, ainda se dão a ares de quem leu manuais de Introdução à Economia.
Este caso diz muito sobre o nosso "jornalismo económico" e da confiança que podemos ter naquilo que nele se lê.

(João Lopes)

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