ABRUPTO

12.5.06


COISAS DA SÁBADO: UM PARTIDO QUE SÃO DOIS

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Depois do que aconteceu neste Congresso não auguro muito futuro ao CDS/PP. Em política é sempre arriscado matar alguém, seja partido ou pessoa, há sempre um “por aí” por onde se pode andar e conseguir as periódicas entrevistas de “sinal de vida”, que os jornais fazem ciclicamente quando se esgotam os outros interesses e se volta à “novidade” que tinha deixado de o ser seis meses atrás. Que o digam Manuel Monteiro ou Santana Lopes. Mas o CDS/PP parece ter mesmo uma doença terminal na sua fórmula híbrida de CDS/PP, e mesmo na fatia CDS. Não sei se com a fatia PP o mesmo se passa.

O CDS/PP são dois partidos diferentes agrafados num só e cada um está doente do outro. O autor da doença, o homem que inoculou o vírus destinado a matar o CDS foi Paulo Portas, que fez um partido novo dentro da concha e do corpo do CDS. Como acontece com algumas das mais macabras bizarrias da natureza, o PP nasceu dentro do CDS, e cresceu parasitando-lhe o corpo. Ribeiro e Castro foi o último sobressalto do corpo doente do CDS para conseguir saúde, mas surgiu enfraquecido pela ecologia exterior, onde o vírus Paulo Portas o deixou: na oposição depois de uma derrota.

A solução CDS/PP foi uma solução de conveniência, que não foi boa para o CDS nem é hoje boa para o PP. O uso das siglas conheceu vários momentos diferenciados, sem outra lógica que não fosse a carreira política de Paulo Portas e do “portismo” que ele criou à sua imagem e semelhança. Começou por ser uma fórmula destinada a gerar o PP contra o CDS. Era quando Portas falava apenas do PP e o PP tinha, como sempre, como inimigo principal o PSD, entendendo-se bem com o PS. Mas, com o tempo e com os desaires eleitorais, (Portas teve sempre sozinho piores resultados do que Manuel Monteiro), Portas foi voltando à fórmula mista do CDS/PP. Passou de “popular” a “democrata-cristão”, e de anti-europeista radical a “euro-moderado”. Acabou a votar a Constituição Europeia como se sabe.

Uma gestão sempre muito hábil de expectativas, associada a um puro pragmatismo político, e à desorientação do PSD, permitiu-lhe impor a presença no governo do maoista Durão Barroso, que pouco antes os autocolantes do PP, representavam ao lado de Marx, Lenine, Staline e de mim próprio. No governo, Portas obteve a complacência da esquerda que ele tanto diaboliza fazendo uma política estatista na Defesa, e tentou vestir a pele do “sentido de Estado”, para se credibilizar. Acabou por ser mais um a arrancar os tubos da incubadora, como hoje se sabe, convencido que as eleições o premiariam.

Foi o voto do CDS que ele tentou cativar nas urnas, deixando para trás o do PP, o do “Paulinho das feiras”. Acabou por não ter nem um nem outro e voltar ao limbo com o único verdadeiro património que foi capaz de construir: o PP. Através dos seus fiéis, e do Grupo Parlamentar monolítico que deixou, ele sabe que não há CDS/PP capaz de escapar ao seu droit de regard. Ribeiro e Castro perturbou-lhe os planos, baralhou-lhe os tempos, mas, como se viu, não teve força suficiente para escapar à sua presença ausente. Por isso, Ribeiro e Castro está condenado a governar um monstro hibrído, o CDS/PP, arrastando um corpo que cada vez lhe é mais alheio. Quando a lista de Pires de Lima ganhou o Conselho Nacional, devia ter-se demitido.

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© José Pacheco Pereira
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