ABRUPTO

12.5.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
A "REVOLUÇÃO DE MAIO" DE ANTÓNIO LOPES RIBEIRO


António Lopes Ribeiro (Col. Cinemateca Portuguesa)A razão para não haver uma edição em vídeo de "A Revolução de Maio" deverá ser concerteza o medo de que seja mal interpretado. "O Triunfo da Vontade" ainda é um filme maldito, apesar de ser várias vezes melhor enquanto cinema que "A Revolução de Maio", e os filmes de propaganda aliados (tanto britânicos como americanos) não são fáceis de encontrar.

"A Revolução de Maio", visto por olhos que já não passaram pelo Estado Novo como os meus, é um pedaço de propaganda tão pouco subtil que me pergunto se de facto funcionaria de facto em 1937 ou se provocaria a mesma reacção de distanciação que provocou em mim, no caso, o riso. Além da distância temporal que me separa de "A Revolução de Maio", também o mundo que me rodeia me tornou muito mais alerta para as possibilidades de manipulação da mensagem audiovisual pelo bombardeamento constante de mensagens publicitárias a que sou sujeito, daí que talvez se possa presumir que o português de 1937 seria mais "crente" que o português de 2006.

No entanto, para muita gente que viveu o Estado Novo, a disponibilização de um filme que o glorifica desta forma tão básica e esfusiante parecerá concerteza provocação, a não ser que se chame a atenção para que a inaptidão do exercício é ela própria um reflexo do tipo de regime que era, do público a quem se dirigia e da personalidade de António Ferro. Daí que este filme não pode ser editado sem um trabalho crítico nos materiais de apoio, coisa a que as editoras de DVD em Portugal não estão habituadas. Por seu turno, a Cinemateca Portuguesa não edita DVDs.

Se os direitos de "A Revolução de Maio" ainda estiverem integrados no espólio da companhia de produção de António Lopes Ribeiro, a Lusomundo recentemente comprou um pacote de filmes desta companhia, de que resultaram a edição em 2005 de "O Pai Tirano" e de "O Pátio das Cantigas", por isso os direitos de "A Revolução de Maio" deverão provir da mesma fonte. O A.N.I.M., também em 2005, procedeu a um restauro de imagem e encomendou o restauro de som à empresa para a qual trabalho, cujo resultado foi a projecção de "A Revolução de Maio" há alguns meses na Cinemateca Portuguesa em cópia restaurada.

(Tiago João Silva)

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O interesse deste filme vai para além da questão da propaganda propriamente dita. Como o filme foi feito sob a supervisão do SPN os seus orçamentos constam das listas mensais enviadas pel SPN para a Presidência do Conselho. Assim temos a possibilidade de saber rigorosamente com que meios se trabalhava na época, em Portugal.
Muito expressivo no filme é o uso de imagens reais nomeadamente as que António Lopes Ribeiro recolheu em 1936, durante as celebrações do 1º de Maio em Barcelos. Igualmente relevante, até porque dá conta do universo de pequenas histórias em que se alicerçava a propaganda do SPN, é a inspiração numa figura real- Quim Marinheiro - para se construir a personagem principal, César Valente.

(Helena Matos)

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© José Pacheco Pereira
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