ABRUPTO

9.8.03


TEMPOS DE PUREZA

O que se podia escrever em tempos de pureza:

Te loquor absentem, te vox mea nominat unam;
nulla venit sine te nox mihi, nulla dies.
Quin etiam sic me dicunt aliena locutum,
ut foret amenti nomen in ore tuum.


(P. Ovidi Nasonis Tristium Liber Tertius)

(url)


ENTRE A DESRESPONSABILIZAÇÃO E A BOÇALIDADE


Assistir a uma hora de telejornal da RTP é devastador para qualquer cidadão que gosta do seu país. É um exercício penoso de desresponsabilização – proíbem-se os foguetes mas eles estalam pelas centenas de festas sem a presença de um bombeiro sequer, um “pirotécnico”, que deve ser um nome pomposo para um dono de uma fábrica onde meia dúzia de homens e mulheres estão a meter pólvora em cartuchos de foguetes, com máximo risco de vida, diz que ainda está por provar que os foguetes provoquem incêndios, a seguir os desgraçados ciclistas profissionais, verdadeiros proletários do desporto de marca, arrastam-se pelo Portugal de 40º à sombra, etc., etc. Para rematar, como se diz, um grupo de estudantes duma Tuna de uma faculdade técnica da Universidade de Coimbra, a elite da nação, de capa e batina negras à torreira do sol, cantam alegremente “é o branco, é o tinto que me faz levantar de manhã” e fazem umas piruetas por cima uns dos outros. É difícil mostrar tão bem todo o esplendor do nosso atraso.

(url)


VIOLÊNCIA

Nós somos uma sociedade muito mais violenta do que nós próprios pensamos. Permitimos que uma prova desportiva-comunicacional-comercial como a Volta a Portugal em bicicleta se realize a temperaturas acima dos 40º. Se um dia destes um ciclista cair morto por desidratação ou por problemas cardíacos associados com o calor, de quem é a culpa? De ninguém como é costume.

(url)


FOGUETES

Gostava de saber em quantos sítios vai ser proibido o uso de foguetes , apesar da nota do MAI.

(url)


SEM VOZ


(url)


DOS FRANCESES PARA OS INGLESES (E OS AMERICANOS)

As discussões sobre a Livraria Francesa mostram a hegemonia actual do mundo cultural anglo-saxónico pelo menos nas camadas de consumidores culturais mais jovens. O mundo “francês” resiste em certa crítica literária e de cinema, e no ainda poderoso establishment cultural do Jornal de Letras, muito ligado ao estado pela via de ser subsidiado como um jornal oficioso da literatura portuguesa para os professores do ensino secundário e os leitores nas universidades estrangeiras. A versão televisiva do Jornal de Letras era o Acontece, honra lhe seja feita bastante mais liberal do que o controle ideológico e cultural rígido que José Carlos Vasconcelos mantêm no jornal.

Só de passagem noto que a última coisa que quero dizer é que tudo que é francês é mau e o resto bom. Mas é um facto que o proteccionismo cultural francês, a celebre “excepção cultural”, associada a uma absurda mistura de nostalgia franco - gaulesa e arrogância chauvinista, fechou a cultura francesa numa espécie de “aldeia de Asterix” e estiolou muito da sua criatividade. O peso do estado centralista, que se arroga legislar sobre o que as pessoas podem ou não ver na televisão, que palavras utilizar, etc., associado a um esquerdismo anti-americano, muito patente na edição corrente, fez os franceses implodir. Olhando para dentro não conseguem sair dos seus fantasmas – a guerra da Argélia, a colaboração durante a ocupação alemã, a suspeita de serem anti-semitas, o estalinismo dos intelectuais, etc. Ora sobre quase tudo isto já Camus tinha sido melhor, direi mais, gigantescamente melhor, há cinquenta anos.

Na actual hegemonia anglo-saxónica perde-se pelo menos o mundo alemão, muito próprio, muitas vezes hermético, mas contendo elementos culturais únicos nascidos da peculiar e muito traumática experiência nacional dos últimos duzentos anos. Os espanhóis, por exemplo, tem uma tradição de traduzir do alemão sem paralelo na Europa. Em áreas como o direito, a filosofia , a Kultur (intraduzível) , a política, a história de arte, há livros traduzidos em espanhol que não existem em inglês ou em francês.

Esta mudança de mundo cultural em Portugal começou pelo menos há três décadas e não tem sido estudada. Hoje colocarei nos Estudos sobre Comunismo uma nota sobre um dos primeiros exemplos da ruptura com o mundo francês, o que na prática significava também em Portugal a ruptura com a cultura ideológica do comunismo soviético e com o neo-realismo do PCP, no interior das Associações de Estudantes. É uma parte de um estudo inédito que fiz sobre a génese da extrema-esquerda em Portugal e a sua relação com a mudança do paradigma cultural e nele se analisam os conflitos culturais bastante intensos e, nalguns casos, quase violentos, que marcaram as Secções Culturais das Associações de Estudantes por volta dos anos 1967-8.

Fui testemunha e participante activo desses conflitos, em particular nos que envolveram a Secção Cultural da Associação de Direito, sobre que música passar no sistema sonoro , sobre se se podia (devia) patear os filmes do Cineclube Universitário , sobre o modo de tratar a “condição da mulher” e a sexualidade, sobre o Pierrot le Fou de Godard , etc. Com tempo voltarei a cada uma destas polémicas. Agora fica a nota a colocar nos Estudos sobre “Popologias”, o ciclo de realizações em que, pela primeira vez, uma Associação de Estudantes olhou para a cultura pop, ou seja para o mundo anglo-saxónico, com outro modo de ver.

Só uma observação para terminar: a música popular, os Beatles e o que vinha com eles, foi decisivo.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 24

Já havia uma Abrupta, agora há um “A”Bruto. Sejam bem vindos ao mundo dos espelhos.

Louvo a paciência do “A”Bruto em escrever uma anti-nota sempre que eu faço uma nota. Pensei que ele desistia quando apareceram os textos sobre a Física e Matemática, mas ele encolheu-os e lá continuou. Acabará por desistir, porque isto de ser eco não é profissão.

Obrigado ao Outro, Eu pelo Johny Cash , ao Paulo Azevedo por uma nota sobre Townes Van Zandt , que publicarei à parte, e ao Mário Filipe Pires pela adesão ao grupo dos amadores da country na blogosfera, que é bem pequeno como eu imaginava. Aqui só alta cultura…

E o Contra Corrente foi injustamente esquecido na nota sobre a Livraria Francesa.

Talvez, se houver tempo , durante o dia de hoje, os Estudos sobre o Comunismo , que já resolveram o problema gráfico com a nota sobre a denúncia do Avante! de João Pulido Valente em 1964, publicarão alguns elementos sobre a actividade de Mário Cesariny de Vasconcelos nas margens do PCP (ou até dentro) nos anos do pós.guerra.

Será a minha maneira de homenagear um dos maiores poetas portugueses que escreveu, exactamente nesta época, um texto fundamental que sei de cor e que começa: “Todo o homem é teatro de uma inexpugnável autoridade”. Citei-o num discurso na Assembleia da República onde duvido que o seu nome tenha entrado alguma vez.


(url)


VER A NOITE

Com uma Lua já quase cheia, mas vermelha dos incêndios. Red Moon, mau presságio se houvesse batalha. Marte, no seu mês, brilha apagado e solitário no meio de um céu sem estrelas. Há muita cinza, muito fumo, muita poeira levantada para se poderem ver as estrelas.

(url)


CORREIO

está absolutamente, escandalosamente atrasado. Cartas de resposta obrigatória empilham-se, cartas que tem respostas à volta da palavra "obrigado" e que são as mais obrigatórias de todas, também. Cartas com colaborações esperam por ser agrupadas, temas sugeridos, perguntas com sentido, encalharam no meu limbo electrónico, um caos de atraso, uma vergonha. Mas este blogue é obra de um só e peço-vos pois um pouco de paciência.

(url)

8.8.03


SAINTE-ADRESSE


(url)


COUNTRY

And now for something completely different… Há, nos blogues, amadores de Country para a troca? Eu sei, a música é pimba americano para os parolos a fazerem-se de cowboys, as letras são ridículas, sentimentais, reaccionárias, mas tudo aquilo bate muitas vezes muito mais certo do que tudo o resto.

Um exemplo da imaginação, sim da imaginação dos pobres de espírito, da Country: I Dreamed of a Hillbilly Heaven de Tex Ritter:

“(Wah, wah, wah, waaahhhh)
I dreamed I was there in hillbilly heaven
{Oh what a beautiful sight}

Last night I dreamed I went to hillbilly heaven. And you know who
greeted
me at the gate? The ole cowboy-philosopher himself, Will Rogers. He
said
to me, he said "Tex, the Big Boss of the riders up here has asked me
to
kinda show you around. Now, over yonder are a couple of your ole
compadres." My, was I glad to see them, Carson Robison and the
Mississippi blue yodeler Jimmie Rodgers.”


Em resumo : Deus, o “Big Boss of the riders up here” , manda o “cowboy filosofo” ,Will Rogers , abrir as portas do céu, qual Beatrice dantesca. O resto é o passeio em sonho de Tex Ritter pelo paraíso onde encontra Red Foley, Ernest Tubb, Gene Autry, Roy Acuff, Eddy Arnold, Tennessee Ernie, Jimmy Dean, Andy Griffith, Roy Rogers e … ele próprio, Tex Ritter. Então acorda, “com pena”.

(url)


EARLY MORNING BLOGS 23

Discute-se nos blogues, no Intermitente, no Homem a Dias, nos Reflexos , o encerramento da Livraria Francesa e as perorações de Eduardo Prado Coelho sempre que o modelo estatal centralista de “cultura” está em causa. As poucas vezes que lá fui pareceu-me muito pobre, mas também, dependendo da edição francesa, era difícil ser mais rica.

Tenho sempre pena que uma livraria acabe, mas o que verdadeiramente faz falta em Lisboa é uma livraria inglesa como a Waterstone’s. Não há uma cidade civilizada na Europa se não tiver uma livraria inglesa, porque hoje é em inglês que o mais interessante e importante é publicado em qualquer parte do mundo.

Em Bruxelas onde há uma excelente livraria francesa, a Tropisme, raras vezes compro lá sequer um terço do que compro na Waterstone’s . O próprio espaço de ambas as livrarias mostra as diferenças culturais entre o que hoje se publica em inglês e francês. Na Waterstone’s predominam os livros de “current affairs” , ensaios políticos, história, ensaios em geral, biografias, estudos militares, economia, ciências, viagens, e ficção actual. A secção de “literary criticism” é fraca. Na Tropisme o que domina no andar nobre é a literatura francesa e traduzida e ensaios literários, e nas “ciências sociais e humanas” uma grande secção de psicanálise e filosofia e uma colecção de livros de arte, Há também história, mas muito daquilo que é a matéria do andar nobre da Waterstone’s está na Tropisme em secções secundárias, ou apenas em estantes. Apesar de tudo a Tropisme é das melhores livrarias francesas que conheço.

Significativamente estas duas livrarias que existem na Bélgica, quase não tem livros sobre a Bélgica com excepção de livros turísticos. Mais um sinal que a Bélgica não é bem um país.

A decadência das livrarias em Portugal é um facto e, como intenso frequentador de quase todas, senão todas, não posso deixar de nomear a que, de há muito, é a melhor livraria nacional – a Livraria Leitura no Porto

(url)


FLASHBACK

Convém que se saiba que o Flashback da TSF só existe com o Carlos Andrade, sem o Carlos Andrade não há Flashback pelo menos connosco. De há muito temos, eu, o José Magalhães e o Lobo Xavier, esta posição.

(url)

7.8.03


DOENÇA

A doença é um dos elementos mais importantes para perceber a obra de Thomas Mann. Ela está presente por todo o lado e é o elemento central da Montanha Mágica. Na Montanha Mágica todos os que para lá vão querem ficar “doentes” e acabam por ficar “doentes”. O poder da doença é essa revelação do corpo, essa percepção acrescida, essa perturbação do equilíbrio hormonal – de que tantas vezes fala o dr. Behrens - que actua como um revelador das diferentes personalidades que habitam a Montanha.

Quando não se tem nenhuma grande doença, mas só pequenas, ligeiras, subtis doenças há como que uma “chamada da intimidade”, - aqui está uma coisa que só os alemães eram capazes de transformar numa palavra expressiva - uma acomodação do corpo sobre si próprio, um torpor e uma modorra agradáveis, resultado de uma vaga febre, de um amolecimento do corpo. Na Montanha eram as temperaturas de 37º que davam mais lucidez.

(url)


UM PORTUGAL DESCONHECIDO

O fragmento seguinte faz parte de um colecção de papéis que pude salvar de serem vendidos a peso, oriundos do Centro Republicano Democrático do Porto, manuscritos e portanto únicos. Datam na sua maioria de 1911.

Entre esses papéis consta a lista de “voluntários republicanos” preparados para actuar e do armamento que possuíam: espingardas, pistolas, etc. distribuídos pelas diferentes frequesias do Porto. Esta era uma época em que uma parte dos portugueses, homens, de profissões da pequena burguesia e operários realtivamente especializados, tinham armas na sua posse. O grau de violência inscrito na vida comum era grande.

(url)


OUTRO OLHAR


(url)


INCÊNDIOS

de novo à minha frente, dois, um maior do que o outro, começados à mesma hora em locais separados por trezentos ou quatrocentos metros. De novo só a ausência de vento permitiu que não fossem um perigo.

(url)


JÁ CHEGA DE “TAMBÉM ELE”

Hoje é um dia urbano dedicado à vida de que S. Bernardo não gostava.


“TAMBÉM ELE” – MAIS ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

O que tenho estado a fazer – parte a defender-me, parte a atacar - a propósito da notícia do 24 Horas, no Abrupto é um uso delicado deste meio, que nunca previ vir a fazer. Mas que sentido teria pronunciar-me sobre outras coisas, sobre o que leio e o que gosto, e não sobre o que me revolta? Pensei duas vezes e decidi-me a escrever no Abrupto, o meu pequeno jornal pessoal. Para além disso pode ser pedagógico ver como evolui um “escândalo” ad hominem do lado do alvo.

Neste caso impus-me uma regra: nunca escrever aqui o que não faria num orgão de comunicação social normal, sujeito aos mesmos condicionamentos e às mesmas regras deontológicas.

O assunto saiu num jornal tablóide e não chegou à imprensa chamada séria. Estou convicto que chegará, dado que o próprio tablóide gera o pretexto para esse salto. É uma técnica conhecida, ninguém quer publicar em primeiro lugar, mas depois todos acham que continuar a “notícia” é legítimo. A prudência aconselharia silêncio, o assunto podia morrer por si. Mas não sei porquê, o meu silêncio parecia admissão de culpa e eu não fiz nada de que tenha que me condenar.

Vi finalmente o insultuoso título – “Pacheco dá volta ao fisco” com honras de capa, fotografia e uma página inteira no interior, e isso ultrapassa a minha medida. Sobre ele consultarei o meu advogado para saber se há fundamento para processar o jornal com todo o vigor e sobre todas as formas possíveis.

DIVULGAR A DECLARAÇÃO DO IRS?

Quando se está revoltado, e não tenham dúvida que é essa a palavra exacta, pensa-se fazer algumas coisas nem todas sensatas. Uma das que apesar de tudo penso mais sensata foi publicitar a minha declaração de rendimentos e todos os documentos conexos aos rendimentos associados aos direitos de autor, para se ver não só extenso e inequívoco traço de papel que vai desde a TSF ou a SIC até à SPA e às declarações de IRS. Por aí se verá que não há qualquer “volta ao fisco” – está lá tudo preto no branco. Pode depois haver uma diferença de interpretação sobre a categoria de determinados rendimentos, e a parte colectável que lhe é aplicada, mas num país civilizado seriam as Finanças a fazer essa chamada de atenção para que insisto, tem todos os elementos. Nunca o fizeram.

Ainda não decidi se divulgo ou não a minha declaração, mas se o fizer será no Abrupto para não me sujeitar ao tratamento selectivo dos seus elementos. Será integral e cada um julga por si.

Há, no entanto, razões de outro tipo que me fazem hesitar. Há uns anos, escrevi um programa para a Distrital de Lisboa do PSD que continha dois aspectos polémicos: um, o fim da televisão pública, outro, o acesso generalizado às declarações de rendimentos, como acontece nalguns países nórdicos. Da mesma maneira que qualquer pessoa pode pedir algumas certidões sobre terceiros poderia aceder á sua declaração de rendimentos. É evidente que se previa uma alteração radical dos impressos, que poderiam ter uma parte confidencial, mas o que dizia respeito aos rendimentos seria pública. Na altura, e isso não é segredo nenhum, a drª Manuela Ferreira Leite, que fazia parte da lista, opôs-se com argumentos que merecem toda a ponderação e são vários. Técnicos e políticos. Voluntariamente retirei essa proposta, mas fez-se então uma primeira discussão sobre a matéria.

Decidindo no impulso do momento, eu quebraria uma regra de violar mais um passo da privacidade, mais um direito que me assiste, para gaúdio de um voyeurismo populista que continuaria a tratar-me como dando a “volta ao fisco” , porque ele não se alimenta de informação mas de um desejo no qual se mistura inveja socializada e preconceitos contra a democracia e os políticos. Insisto, ainda não decidi, mas hesito.

Parte do preço que hoje muitos lamentam se estar a pagar com as escutas telefónicas, prisão preventiva facilitada e longa, poderes excessivos a magistrados, começou aqui, nesta continua cedência ao populismo, na qual há muita consciência de culpa.

(url)

6.8.03


"TAMBÉM ELE"

foi actualizado.

(url)


CRATERA


(url)


MEDIDAS A MEIO CAMINHO NÃO RESOLVEM NADA

Li a notícia que o MAI “cancelou hoje as licenças para o lançamento de foguetes durante a actual situação de risco de incêndios.” Se fosse assim ficaria contente – é um risco desnecessário, a que sem custo nos podemos poupar.Mas depois quando se analisa o texto só surgem ambiguidades.

O MAI ”ordenou à GNR e à PSP que não procedam à concessão de licenças para o lançamento de foguetes ou queima de outros fogos de artifício, excepto nos casos em que os bombeiros da área certifiquem que não há risco.” Já temos excepções e uma pura abstracção para as definir: não estou a ver os bombeiros assumirem essa responsabilidade, nem que tenham meios, ou burocracia, para, no meio deste inferno de fogos, irem agora “certificar” a terra X ou Y.

Depois há pior:

O ministro Figueiredo Lopes determina ainda que seja dado conhecimento ao coordenador distrital do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil das licenças já concedidas antes da actual situação e cujos lançamentos ou queimas ainda não tenham sido efectuados, para que sejam tomadas medidas de prevenção contra incêndios.”

Pode ser que o defeito seja de quem redigiu a notícia , mas depois de a ler ficam-me imensas perplexidades. Foram ou não “canceladas as licenças”, ou seja, é proibido deitar fogo? Se é assim porque razão se abre uma excepção “para as licenças já concedidas antes da actual situação e cujos lançamentos ou queimas ainda não tenham sido efectuados, para que sejam tomadas medidas de prevenção contra incêndios.” Toda a gente sabe que a maioria das festas ainda estão para vir no mês de Agosto, portanto o fogo deitado até agora é pouco significativo. Eu aqui só vejo uma prevenção possível: não deitar o fogo.

Esta é um medida que, para ter efeito, devia ser genérica pelo menos no âmbito dos distritos de risco e não ter excepções, nem um processo burocrático complicado que ninguém está em condições para garantir, a uma semana das festas do 15 de Agosto. Para além disso num mesmo distrito criaria desigualdades entre aldeias cujas festas competem entre si. É mais fácil de aplicar se, num âmbito distrital, for igual para todos.

Se nos ficarmos por isto, e conhecendo-se a realidade de desresponsabilização da cadeia de autoridade, das Juntas de Freguesia aos Governos Civis, vai haver foguetes em todos os lados. O MAI deve saber isso porque termina dizendo

A Guarda Nacional Republicana e a Polícia de Segurança Pública devem também reforçar a fiscalização no âmbito do uso de foguetes ou queima de outros fogos de artificio.”

Mas estamos a falar de uma proibição ou de um “uso” controlado? Como é que eu convenço alguém com este texto que não se pode deitar foguetes. Nem vale a pena tentar.



(url)


UMA HISTÓRIA DE JOÃO PULIDO VALENTE DE 1958

está nos Estudos sobre o Comunismo.

(url)


A CAMA DO GADO

Isto de se ser itinerante, vagabundo e curioso às vezes dá para aprender algumas coisas. Uma das funções económicas das matas era fornecer tojo para a “cama do gado”. Literalmente aquilo sobre o qual o gado (bois de trabalho, vacas de leite) dormia. Todos os anos se vendia o tojo e depois, pouco a pouco, deixou de se vender. O tojo passou a acumular-se nas matas aumentando a sua carga térmica. Os incêndios são feitos de muitas destas coisas.


DIÁLOGOS SOBRE FOGUETES

- Talvez este ano fosse bom não deitar foguetes…

- Acha? E depois ninguém vem à festa.

- É um risco, mas os incêndios são um risco maior.

- Os foguetes não provocam incêndios, para além disso avisamos os bombeiros.

- Mas e se os bombeiros não tiverem gente que chega nesse dia e se estiver vento …

- Não, não acontece nada e as pessoas querem os foguetes nas festas. Ainda se alguém que mandasse proibisse…

(Por absurdo que pareça ninguém que “manda”, o governo civil neste caso, proíbe.)

(url)


O NEGRO

Vivi, num dos meus “lugares de ascensão”, numa casa que ficava no limite de uma área que tinha ardido recentemente, em Pinho, Boticas. À noite, quando regressava a casa, atravessava a área do incêndio e pude “ver” como o negro absorve a luz. Os faróis do carro quase que não iluminavam a estrada e a luz fugia para dentro do negro dos pinheiros queimados nas bermas e para o chão coberto de cinzas. Não sabia que este efeito existia e pensei que as lâmpadas estivessem a acabar. Não.
Onde está negro fica mais negro.

(Actualização)

Fotografias deste mesmo negro, nas redondezas de Amor, Leiria estão na Aldeia de Amor.

(url)

5.8.03


NOVO - FÍSICA E MATEMÁTICA - 3ª SÉRIE DE COMENTÁRIOS

Actualização mais atrás

(url)


OUTRA VEZ À LUZ DE SKAGEN


(url)


“TAMBÉM ELE”

Como imaginam este é o último dos comentários que eu gostaria de aqui colocar, mas neste tipo de escrita está-se aqui para o bem e para o mal. Este é o mal.

Também não tenho feitio para olhar para o lado, como se nada fosse. Podia ficar calado para não “amplificar”, mas eu não sou da escola do ficar calado. Segundo me disseram, o 24 Horas acusa-me de fugir aos impostos por receber as colaborações nos órgãos de comunicação social como direitos de autor, o que, segundo o jornal. não seria conforme às regras fiscais. Não li o texto do jornal, e por isso atenho-me apenas ao que sei da notícia.

Sobre isto queria esclarecer o seguinte:

1) não recebo um tostão que não declare para efeito de impostos e desafio quem quer que seja que diga o contrário;

2) não tenho outros rendimentos que não sejam os do meu trabalho, quer como deputado, quer como autor;

3) não sou jornalista, pelo que não posso declarar as minhas contribuições nos órgãos de comunicação social como “jornalista”:

4) tratando-se de colaborações originais, comentários, conferências e textos é para mim óbvio que se trata de”autorias” , prática aliás comum seguida por outros autores, tanto quanto eu saiba, nas mesmas exactas circunstâncias; isto significa , de facto, pagar menos impostos porque a lei protege os autores;

5) de há dois anos para cá, agrupei na Sociedade Portuguesa de Autores o recebimento de todas estas colaborações; tudo é feito com recibo; tudo está contabilizado quer no órgão de comunicação social respectivo, na SPA e nas declarações às Finanças, onde consta como é obvio a origem , e o carácter de direitos de autor do dinheiro recebido; não há qualquer informação que seja sonegada, nem qualquer truque, tudo claro e transparente:

6) aliás, só um doido é que tendo actividades políticas faria qualquer truque com dinheiro que recebe de órgãos de comunicação social:

7) nunca até agora isto suscitou qualquer dúvida a ninguém, a começar pelas Finanças e eu, não sendo especialista, nunca me passou pela cabeça que tal pudesse suscitar dúvidas;

8) se alguém tem que colocar objecções são as Finanças (que tem os papéis todos com a clara indicação do que se trata ) e se o fizer procederei em consequência; se as Finanças tiverem razão pagarei o que devo, se me parecer que a interpretação é abusiva contestarei legalmente, como é direito de qualquer cidadão; o meu único interlocutor nesta matéria são as Finanças;

9) enquanto não o fizer não tenho nenhuma razão para alterar o meu comportamento, porque , insisto, não sou jornalista mas autor do que escrevo, e do que digo.

Uma penúltima observação: admito que não tenha sido essa a intenção do 24 Horas, mas já esperava que em vésperas das eleições europeias de 2004, dizendo eu o que digo, estando eu a empecilhar alguns arranjos, alguma coisa deste tipo acontecesse.

Uma última observação: talvez o aspecto mais penoso da actividade política seja este, ser misturado com quem deve e teme, ouvir o ruído invisível do “também ele”. Provoca revolta e tristeza, grande revolta e tristeza, porque este tipo de acusações não tem emenda possível, alguma coisa sempre fica.
Mas não é, não é “também ele”.

(Actualização)

Agradeço a correspondência que recebi e as manifestações de solidariedade nela contida. Alguma dessa correspondência é de carácter técnico e muito interessante. Dela decorrem vários aspectos que sintetizo a seguir.

Trata-se de uma prática comum e generalizada (não só entre políticos, mas também entre jornalistas e comentadores académicos) que nunca suscitou reparos. O meu nome foi obviamente escolhido a dedo. É uma matéria controversa sobre a qual há práticas e pareceres contraditórios, tanto mais que a legislação foi feita antes de se generalizar este tipo de actividades na rádio e televisão, dado que a descrição de um comentário como “discursos proferidos em debates públicos” dificilmente se aplica a esta nova realidade. Para além disso, os programas são muitas vezes repetidos pelo que também não é verdade que “os direitos de autor esgotam-se no momento da comunicação. Não existem direitos posteriores.” Tanto existem que os contratos o estipulam para as emissoras poderem comercializar programas que incluam comentários.

No entanto, eu não sou jurista e percebo pouco de finanças, pelo que também tenho em conta as opiniões abalizadas que dizem que tal não é possível. O que vou fazer é suspender de imediato os pagamentos na SPA, até esclarecer porque razão uma entidade que é suposto saber se é legal ou não receber direitos de autor de comentários, aceita recebe-los e pedirei um parecer às Finanças.

É minha intenção manter os leitores do Abrupto informados de como evolui este caso.

(url)


S. BERNARDO E A ARTE COMO DISTRACÇÃO DE DEUS

Uma das alegrias de quem é curioso, na definição antiga do curioso, amador, coleccionador, é estar a sempre a encontrar palavras, objectos, imagens, na espantosa variedade do mundo, e dos livros. Enquanto o mundo for assim, como é possível haver aborrecimento? Como é possível não haver nada para fazer?

Vejam-se estas palavras, enviadas por V., uma amiga que gosta de Bernardo, S. Bernardo de Claraval, sobre o que os monges podiam ver, olhando em volta numa capela já antiga para o seu século. Bernardo pergunta “para que serve”, ele que achava que a arte era uma “distracção”:

«De resto, para que serve, nos claustros, onde os frades lêem o Ofício, aquela ridícula monstruosidade, aquela espécie de estranha formosidade disforme e disformidade formosa? O que estão ali a fazer os imundos símios? Ou os ferozes leões? ou os monstruosos centauros? Ou os semi-homens? Ou os tigres manchados? Ou os soldados na batalha? Ou os caçadores com as trombetas? Podem ver-se muitos corpos sob uma única cabeça e vice-versa: muitas cabeças sobre um único corpo. De um lado,avista-se um quadrúpede com cauda de serpente, do outro, um peixe com cabeça de quadrúpede. Ali um animal tem o aspecto dum cavalo e arrasta atrás de si uma metade de cabra, aqui um animal cornudo tem o traseiro de cavalo. Enfim, por todo o lado aparece uma estranha e grande variedade de formas heterogéneas, para que se tenha mais prazer em ler os mármores do que os códigos, para que se ocupe o dia inteiro a admirar, uma a uma, estas imagens em vez de se meditar na lei de Deus. Oh Senhor, já que não nos envergonhamos destas criancices, porque não lamentamos, ao menos, os dispêndios?»

Tudo é interessante neste texto. A força das frases, com o fôlego do contemplativo que vê mais que os outros, a descrição magnifica do que um homem do século XII podia ver numa capela românica, e o argumento final, a que hoje chamaríamos “economicista”, dos “dispêndios”. O verdadeiro “dispêndio” era naturalmente o corpo:

Se desejardes viver nesta casa, é necessário deixar fora os corpos que trazeis do mundo; porque só as almas são admitidas nestes lugares, e a carne não serve para nada”.

Essa veemência contra o corpo, que o levou a atirar-se para dentro de uma tanque de água fria quando viu uma rapariga, ou a dominar o sabor para não ter gosto na comida, ou a não querer dormir para não perder o controle de si, é , como nós sempre suspeitamos, pura sensualidade. Por isso nos seus textos há das melhores descrições da beleza, das “carícias do corpo” , em nome da negação da própria beleza, uma “distracção” que nos afasta de Deus:

«Nós, monges, que já nos isolámos do povo, nós que, por Cristo, abandonámos todas as coisas preciosas e formosas do mundo, nós que para merecer Cristo consideramos como esterco todas as coisas que resplandecem de beleza, que acariciam o ouvido com a doçura dos sons, que lançam odores suaves, que têm um gosto doce, que agradam ao tacto, e o que, em suma, acaricia o corpo...»

Bernardo sabia que a arte nascia do corpo, mesmo quando era cosa mentale.

(url)


FÍSICA E MATEMÁTICA – COMENTÁRIOS - 3ª SÉRIE

O Abrupto recebeu ( e continua a receber) muitos comentários sobre a questão das notas de Física e Matemática. Considero que esta é uma questão estratégica para combater o nosso atraso endémico, pelo que todo o espaço que se lhe der é pouco.

*

Sei que o timing para comentar este assunto já passou, mas gostaria de acrescentar algo sobre a questão dos exames de Matemática e Física. Em geral, os comentários são todos a culpar o sistema. Acho mais interessante analisar o que causou esse tal entorpecimento do sistema e o que não deixa que se modifique. Mas aqui não há grupos de pressão, interesses das multinacionais, pelo menos directamente. Todos somos culpados, como se costuma dizer, mas talvez seja útil apontar o dedo a alguns deles: pais, intelectuais, programadores de televisão. Propositadamente deixei políticos e agentes de ensino de fora, porque as suas culpas e desculpas já são bem conhecidas.

Os pais, em geral, não demonstram qualquer interesse na educação dos filhos. Para eles a educação é apenas uma forma de conseguir um bom emprego, de atingir estatuto social ou talvez apenas uma forma gratuita de ocupar os filhos. O saber tem que ser utilitário, tem que servir para algo que dê dinheiro ou poder, é essa a visão geral. É comum um pai perguntar ao filho o que aprendeu na escola? Partilhar com eles conhecimento? Não, os pais não se interessam, os pais não acompanham diariamente os filhos, apenas querem ver notas, resultados, sucesso ou falhanço. São juizes, não são orientadores.

Depois culpo os intelectuais. Coloco-os entre itálico devido ao pouco respeito que tenho pela classe que em Portugal se costuma denominar assim. Por cá, intelectual é a figura que se deixa deslumbrar pelo poder, que comenta nos jornais e na TV, que fala com suposta autoridade. Como dizia um filósofo, há pessoas que só consegue convencer os ignorantes, e é assim que vejo os nossos intelectuais. E o meu pouco respeito deriva precisamente dessas pessoas serem, na sua quase totalidade, analfabetos em Física e Matemática. Estes intelectuais não sabem em que mundo vivem, não sabem o que é um electrão, o que diz o 2º princípio da termodinâmica, o que é a luz, o que é o princípio da incerteza e nem sabem pensar matematicamente - e tudo isto são coisas fundamentais, tão essenciais ao homem culto como saber a História do seu país ou dominar a língua materna. O baixo nível que atinge a pseudo - intelectualidade faz com que aos verdadeiros intelectuais lhes repugne o contacto com estas pessoas. Porque temos muitos bons investigadores em Portugal na área científica, mas estes preferem falar com quem lhes está à altura, os seus pares por cá e no estrangeiro. Por isso, os verdadeiros intelectuais normalmente estão escondidos do público, substituídos por medíocres sedentos de protagonismo.

Por último, os programadores de TV. Trata-se de um problema global. A linguagem televisiva actual privilegia o óbvio, a última novidade, mostra tudo rapidamente e pronto a consumir, sem necessidade de pensar. As maravilhas da ciência não se explicam desta forma. O pior é que muito dificilmente se explicam de qualquer forma. Existem muitos livros que fazem uma boa divulgação científica, mas aí já são os leitores que tomam iniciativa (quase sempre) e já estão dispostos a fazer um esforço para compreenderem. A TV como meio de divulgação científica quase não existe e quase nunca existiu. Desde os programas de Carl Sagan que não foram feitos outros que conseguissem entusiasmar tantas pessoas pelo mundo fora pela ciência. A verdade é que não é fácil falar de ciência para toda a gente com rigor e poesia, mas se não for assim não se consegue cativar.

Claro que o sistema está mal. Um simples exemplo: há uns anos atrás, numa livraria, abri um manual de Física do secundário. Li o prefácio e apenas em algumas linhas detectei uma meia dúzia de erros crassos. Assim é difícil aos alunos aprenderam alguma coisa.

Gostava de lançar um desafio que acho interessante. Eu tenho formação científica, como se pode ver pela minha escrita tosca e directa. Agora vou tentando me complementar procurando saber mais de artes, literatura, história, ciências sociais. Que tal as pessoas ligadas às letras, artes e ciências sociais procurarem saber mais de ciência? Não lhes faria mal nenhum e iriam descobrir muitas coisas interessantes. O conhecimento pode ser uno, se fizermos por isso. Seria o primeiro passo para muita coisa.

Mário Chainho

*

Embora concorde com as considerações do seu post acerca deste tema e com o ponto de vista de que resultam os seus comentários, parece-me que há um ponto que está a fugir ao debate e será mesmo uma das razões base do actual estado das coisas.

Parece-me haverem dois grandes patamares, ou fases, na aquisição do conhecimento.
Uma 1ª Fase, que pode ser encarada como Fase de aquisição do conhecimento elementar e uma 2ª Fase, um patamar já mais ligado à criatividade, investigação, experimentação, etc. Acontece que o debate se centra sempre no falhanço desta segunda fase, sem que tomemos consciencia de que é o falhanço da fase anterior que gera a impossibilidade de se obterem resultados na fase seguinte.Se nem os alunos, nem os professores são menos capazes do que eram há 20 anos, por exemplo, o que é que está a correr mal?
Penso que na 1ª fase do ensino, há que dotar os alunos dos conhecimentos elementares que são essenciais. Sem pretender ser exaustivo, a História, a Física, a Matemática, as Ciencias Naturais, o Português, o Inglês, a Química, a Filosofia, etc., são exemplos das áreas que fornecem as ferramentas do "conhecimento" que tem que ser adquiridas num certo grau mínimo, para ser possível avançar para patamares posteriores, com as condições básicas asseguradas. Aqui, há que fazer uma separação entre os alunos que estão preparados e os que não o estão. Sejam Exames, Testes, ou o que se quiser, há que ter uma maneira objectiva de aferir, com verdade, o grau de preparação dos alunos. Se estão ou não de posse dos tais conhecimentos base. Depois, só os que estão preparados deveriam poder avançar, pois os outros nunca poderão ter resultados efectivos, enquanto lhes faltarem os conhecimentos essenciais.Isto parece-me lógico.

A situação de os professores terem medo de reprovar os alunos é um aburdo porque não resolve nada e no final, gera uma insuperável frustração em todos os envolvidos. Mesmo não sabendo o essencial, os alunos, chegam ao 10º ano sem reprovarem. A partir daqui, como as coisas se complicam e eles não têm os conhecimentos essenciais, "estacionam" no 10º ou 11º e ficam à deriva. Entretanto, passaram os anos e já não é possível voltar ao secundário para aprender aquilo de que necessitam. Ficam, literalmente, sem saida e intala-se a frustração. A frustração dos alunos, dos professores e dos pais.É essencial que se façam Exames em vários níveis de modo a garantir a "qualidade" dos alunos que transitam à fase seguinte.Por analogia, veja-se por exemplo o que se passa na Indústria Alimentar. Há já alguns anos foi criado um sistema de controle de qualidade nos EUA, chamado HACCP (Hazardous Analyses and Control of Critical Points) que consiste resumidamente no seguinte :
Na fase de produção de um bem, são identificados os pontos críticos para a qualidade do produto final.Sempre que no processo de fabrico, o produto sofre uma tranformação para passar a uma fase superior e esse ponto é considerado crítico, o produto é sujeito a testes de qualidade nesse ponto.O produto só avança para a fase seguinte se "passa" nos testes. Deste modo se garantem 3 factores. A melhor qualidade do produto final, O menor número de rejeições, O mais baixo custo total envolvido. Se o produto passou em todos os pontos críticos, já não precisa do controle de qualidade final que antigamente era aquele que servia para "aprovar" o produto.

Sem querer ser "redutor" parece-me que o nosso problema é sempre o mesmo. Estamos todos de acordo quanto ao problema. No entanto, nenhum Governo resolve tomar uma decisão, mesmo sabendo que existirão alguns erros, para depois se ir construindo (aperfeiçoando) nessa plataforma. Assim, vamos debatendo, debatendo e o tempo a passar. Parece querermos encontrar o Óptimo, quando ainda estamos no Sofrível. Fazer o Bom era um avanço significativo. E nisto, francamente não me parece estar a ser "faccioso".

António Torres

*

Sou uma estudante do 12º ano que pretende candidatar-se ao curso de economia na Faculdade de Economia na Universidade do Porto, a qual exige como prova específica a tão temida Matemática. O meu propósito ao escrever-lhe é para lhe contar uma experiência pessoal invulgar e as conclusões que tirei daí. Frequento um liceu Público do Norte do País no qual obtive um esforçado 16 a Matemática no 12º ano. Fui fazer o exame bastante nervosa e assustada pois todos os professores e alunos nos descreviam o exame como algo de terrível, embora tivesse noção de ter estudado o necessário. Para meu espanto, correu-me bem e no passado dia 1 de Agosto constatei que tinha obtido um 18.5 no exame. Então, face a esta invulgar situação de subida de nota em exame, parei para pensar. Será que estudei mais para este exame do que para os testes? (Penso que não) Será que fiz testes mais difíceis? (Não, mesmo porque os meus testes eram uma selecção de perguntas de exames de anos anteriores integralmente ou adaptadas), será que fui injustamente avaliada?

Afinal os exames até nem são difíceis e seguem sempre o mesmo esquema, concluía que o que me permitiu tirar esta nota foi o facto de nos dias antes do exame ter feito todos os exames dos últimos 4 anos. Então percebi, que estive durante um ano inteira a ser preparada para aquele exame, que tinha feito dezenas ou talvez centenas de exercícios estereotipados. Mas porque é que ao percorrer no sentido vertical as pautas de Física e Matemática na minha escola era possível encontrar 10 alunos seguidos com notas negativas?
Na minha opinião, as razões que explicam tal facto são as seguintes:

1.Alguma incompetência por parte dos professores. Muitos nem sequer são formados em Matemática ou Física e não sentem a mais pequena vocação para leccionar. Um aluno é capaz de faltar a todas as aulas de uma disciplina como História, estudar em casa pelo livro e apontamentos e tirar uma boa positiva. Por outro lado em relação à Matemática, bastava ir a todas as aulas, não estudando em casa, a partir do momento em que percebesse tudo nas aulas. Porque os exercícios não variam muito, se se perceber, porque é que se usa uma derivada, não será preciso fazer centenas de exercícios com
derivadas, até se mecanizar, bastará face a um novo exercício raciocinar e depois aplicar. Por fim é de salientar a dificuldade que muitos professores têm em atribuir notas altas aos alunos, especialmente por parte das escolas públicas. Citando um antigo professor meu: “20 é para Deus, 19 para mim, e o resto para os alunos”...

2.A inércia total por parte dos alunos. Pois para muitos a Matemática e a Física são difíceis e por isso não vale a pena estudar. Os alunos vão-se acomodando a esta situação e até vão passando de ano até se depararem com um exame final.

3.O problemas das escolhas múltiplas. Por exemplo, num exame de matemática há 7 perguntas de escolha múltipla com quatro respostas possíveis, no valor de 0.9 cada uma, perfazendo um total de 6.3 valores. No entanto, sempre que um aluno falhar a opção que escolhe é lhe descontado 0.3 às restantes perguntas feitas. Acho que pelo menos devia ser obrigatório que o aluno além da resposta escolhida, indicasse uma breve explicação do raciocínio elaborado. Pois por muitas vezes me senti injustiça devido à escolha múltipla.

4.A culpa dos nossos governantes. Como diz o velho ditado “ de pequenino é que se torce o pepino”, o que neste caso não poderia ser mais verdade, pois o gosto pela matemática adquire-se desde pequeno, não é só importante criar projectos, como por exemplo a “ciência viva”, como é urgente incentivar os mais novos ao mundo dos números, pois quando se gosta, é mais fácil estudar e obter melhores resultados. Não sendo de descurar a revisão dos programas, dos exames e das aulas do ensino secundário. Sei que não será fácil, pois apesar de os exame por vezes serem injustos, no contexto actual são a melhor forma de fazer justiça. Pois é a única maneira possível de nivelar os alunos à entrada na faculdade face a critérios de avaliação e técnicas tão vastas e diferentes a nível nacional.

Diana Silva




(url)


ANÚNCIO DA SUA MORTE

Texto do anúncio da sua própria morte feito por João Pulido Valente:

"Eu, João Pulido Valente, informo os meus Amigos que morri hoje, 4 de Agosto de 2003, de manhãzinha. Convivi com Ideias, mulheres, tabaco e álcool. Contraí cadeia, sífilis, cancro e ressacas. Não estou arrependido. Julgo ter pago o preço justo por ter vivido. Quando eu morrer não quero choro nem velas, quero uma fita amarela, gravada com o nome dela: Liberdade."

Ainda há homens assim.

(url)

4.8.03


À LUZ DE SKAGEN


(url)


INCÊNDIOS

Nestes momentos, que todos sabemos serem difíceis, falar de outras coisas pode parecer escapismo, mas também falar delas é, muitas vezes, ruído. A destruição de uma parte de Portugal pelos incêndios, é apenas uma parte de outras destruições mais lentas, menos visíveis, menos dramáticas, mas nem por isso menos eficazes. As razões de umas e outras são mais próximas do que parecem, remetem para um laxismo governamental muito antigo, para a diluição das autoridades intermédias que não cumprem as suas responsabilidades, e para resistências sociais profundas. É tudo menos um problema de dinheiro.

As causas dos incêndios são conhecidas (todos os estudiosos da nossa floresta sabem porque é que ela arde), são complexas (porque mexem com o tecido social, com a propriedade e com as mutações no uso económico da floresta) e tem soluções também conhecidas, embora menos fáceis do que neste momento de indignação parecem.

Quando passarem os incêndios é uma discussão a que se deve voltar. De fundo e a fundo. Agora é natural a indignação e que, quem possa fazer alguma coisa, faça.


RESISTÊNCIAS

Experimentem fazer esta coisa tão simples como seja convencer uma Comissão de Festas a não deitar foguetes. Não falo em abstracto, mas em concreto. Chamar a atenção para que não há quaisquer condições de segurança para se deitar foguetes é ser “contra a Festa” de imediato. É assumir a responsabilidade do “falhanço” da festa, porque, como muitas coisas que se fazem voluntariamente, estão presas por um fio ténue entre o desastre económico e o magro sucesso. Os meios pequenos são cruéis na atribuição de responsabilidades e incapazes de as assumirem.

O fogo está comprado e presumo que pago e ninguém imagina uma festa sem as dezenas de foguetes às 8 da manha para a “alvorada” e durante o dia repetidas vezes para marcar eventos ou pura e simplesmente mostrar que há festa. Não é fogo de artifício para iluminar os céus, são foguetes para fazer barulho. Já sugeri que gravassem o barulho e o atirassem para o ar como se fossem os foguetes. Não adianta. O sucesso da festa é ter foguetes, mesmo que ninguém saiba se eles têm algum papel em trazer pessoas para os espectáculos, ou se estes foram bem ou mal escolhidos.

Deitar foguetes, por muito treino que se tenha, não é uma ciência exacta. O vento atira-os para qualquer lado e vastos espaços com erva seca e vegetação rasteira estão apenas à espera de serem incendiados. Também isto não é abstracto, os foguetes provocaram regularmente pequenos incêndios nas festas dos anos anteriores e os bombeiros são chamados quase como um hábito. Toda a gente sabe isto, ninguém verdadeiramente liga. Ninguém imagina sequer que este ano possa não haver bombeiros porque estão ocupados noutro sítio e não chegam para as encomendas.

Seguros? Não existem. Alguém se responsabiliza? Ninguém. Do governador civil que deveria este ano proibir em determinados distritos de risco o fogo de artifício, à Junta que não quer aborrecimentos e incompatibilidades. E o mais provável é que haja foguetes e depois a culpa não seja de ninguém.


(url)


PRESENTES MATINAIS PARA OS AMADORES DE LIVROS

Para o Almocreve das Petas

Mesmo que o “almocreve” já conheça, aqui vai uma recomendação do livro de Nicholas A. Basbanes, Among the Gently Mad. Strategies and Perspectives for the Book Hunter in the Twenty-First Century , Nova Iorque, A John Macrae Book, 2002. Para a tribo dos “gently mad” dos amadores dos livros é uma boa leitura.

Para os Textos de Contracapa



Esta reprodução do início de uma carta de 1 de Agosto de 1970, faz parte de um conjunto de cartas de Vergílio Ferreira sobre a sua obra, sobre a juventude, o Maio de 1968, o cinema, etc., fragmentos de uma correspondência que com ele mantive nesses anos.

Para os entusiastas dos Sopranos

... nos quais eu me incluo, o melhor que se publicou até agora é a antologia de ensaios editada por David Lavery, This Thing of Ours. Investigating the Sopranos, Columbia University Press , 2002 . Entre os ensaios, com títulos como “Fat fuck! Why don’t you take a look in the mirror?”. Weight, Body Image, and Masculinity in the Sopranos” ou “Soprano-speak” Language and Silence in HBO’s The Sopranos”, típicos dos académicos americanos há muita coisa que vale mesmo a pena ler. Para a esquerda politicamente correcta há o livro de David Simon, Tony Soprano’s América. The Criminal Side of the American Dream, Boulder, Westview Press, 2002, muito menos interessante e que se dedica a dizer o que se espera – os Sopranos são a América, violência, mentiras, extorsão, ou seja, a culpa é do capitalismo, etc.

(url)

3.8.03


ONDE


(url)


EARLY MORNING BLOGS 23

A blogosfera está um fio de água, um pequeno ribeirinho, não corre de dia, não corre de noite. Agora é que as férias profundas estão cá, secando tudo.

Não me custa imaginar como vai ser o princípio de Setembro: chuvas poderosas, torrentes de palavras de novo a encher este vale. Trovoadas, estrondos, Zeus lá em cima de relâmpago na mão, fúria, sturm und drang, águas do Sul, águas do Norte, águas a quererem correr para trás desafiando a gravidade, águas ligeiras flutuando sobre outras águas, águas negras do fundo, clareza, limpidez, obscuridade, desejo de ser rio, desejo de ir para o mar, desejo de não ir para parte nenhuma.

Todas revolvendo-se num pequeno espaço de um vale profundo, a querer deixar um sulco que diga – “esta é a minha água e corre por aqui”.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]