ABRUPTO

10.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Berlenga vista de Peniche.

(Pedro Cirne)

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EARLY MORNING BLOGS

965 - Soneto Fiel

Vocábulos de sílica, aspereza,
chuva nas dunas,tojos,animais
caçados entre névoas matinais,
a beleza que têm se é beleza.

O trabalho da plaina portuguesa,
as ondas de madeira artesanais
deixando o seu fulgor nos areais,
a solidão coalhada sobre a mesa.

As sílabas de cedro, de papel,
a espuma vegetal, o selo de água,
caindo-me nas mãos desde o início.

O abat-jour,o seu luar fiel,
insinuando sem amor nem mágoa
a noite que cercou o meu ofício.

(Carlos de Oliveira)

*

Bom dia!

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9.2.07


ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Cais do porto de Lagos.

(José Santos)

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CUIDADO COM AS CITAÇÕES FORA DO CONTEXTO

A tese de Cunhal sobre o aborto tem sido utilizada como argumento a favor quer do mérito de Cunhal (com um olho nos Grandes Portugueses), quer como argumentário a favor do "sim". Convinha maior prudência nestas utilizações, porque a posição de Cunhal (e do PCP) não era tão linear como se pensa. A razão é simples: a URSS proibia então o aborto. Nesta matéria, nem sequer se pode alegar desconhecimento dos difíceis materiais clandestinos, dado que os referi com detalhe na análise à tese de Cunhal e aos seus artigos sobre o "corpo", no primeiro volume da biografia que escrevi. Mas há quem prefira passar ao lado, fazer de conta.

O artigo que reproduzo foi publicado no Avante! clandestino nº 60, da 4ª semana de Novembro de 1937 e é, muito provavelmente, do próprio Cunhal (a outra hipotese é Pável) que escrevia sobre temas dos jovens, da família, da sexualidade, da vida saudável e da sua incompatibilidade com a sociedade capitalista. Como se vê, as coisas são um pouco menos simples.


(Clicando por cima das imagens obtém-se uma versão maior e mais legível.)

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Manteigas dia 30 de Janeiro.

(José Farinha)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER:
A CIVILIZAÇÃO QUE HOJE NÃO SERIA POLITICAMENTE CORRECTA

Civilisation Em 1965, o historiador de arte inglês Kenneth Clark realizou para a BBC uma série de filmes destinados a fornecer uma leitura da "civilização", a nossa, a ocidental, a europeia. A série foi um enorme sucesso quer na Europa, quer nos EUA, no final da década de sessenta, tendo passado em Portugal já há bastante tempo no segundo canal. Está hoje esquecida nos armazéns, embora muitos dos que a viram lhe permaneçam fiéis, de tal modo que a BBC a reeditou em DVD. Presumo que não seja fácil encontrá-lo por cá, mas pode ser encomendado, mas vale sempre a pena pedir à RTP que a passe sem ser no Canal Memória.

Eu sou um desses fiéis à série, com uma memória viva de muitos episódios e da imagem de Kenneth Clark, a quatro anos de ser Sir, a andar muito composto pelos sítios da "civilização", desde as ilhas remotas da Irlanda céltica, à Bizâncio transformada em Istambul. Sempre falando um inglês perfeito, sem medo de usar palavras que hoje não caberiam no saber das audiências, como um "modicum" em latim no meio de uma frase, passando de um tom de conversação solta para um poema anglo-saxónico, ou uma frase de Virgílio (ele não diz apenas a frase de Virgílio, ele diz como "aquela frase muito conhecida de Virgílio", como se fosse suposto que a conhecessemos...).

Revendo o episódio inicial, uma meditação sobre a civilização a partir da queda do império romano do Ocidente e dos anos "negros" da Idade Média, ou seja do momento em que a civilização se ia perdendo, Clark diz com a maior das naturalidades coisas hoje indíziveis na BBC. Como por exemplo, sobre a emergência do Islão, que retrata como uma religião simples, poderosa, cruel e bárbara, cuja derrota em Poitiers permitiu a sobrevivência da civilização, ou sobre a própria distinção entre civilização e barbarismo, a partir do cânone greco-latino, de modo muito pouco "multicultural".

Toda a "personal view" de Clark sobre a crise da civilização nos séculos V ao X, aparece-nos hoje como vitalmente importante e actual: "It is lack of confidence, more than anything else, that kills a civilisation. We can destroy ourselves by cynicism and disillusion, just as effectively as by bombs."

*
A respeito da história das civilizações surgiu recentemente em Portugal uma obra que contesta a teoria comum acerca do período das invasões bárbaras e da queda do Império Romano. Esta obra afirma que a queda do Império Romano significou o colapso de uma civilização e a entrada numa "Era das Trevas". A ideia da transição suave entre a civilização romana e os povos bárbaros com o cristianismo como cimento é posta em causa com esta tese que afirma que em muitos aspectos (saneamento, arquitectura, educação, artes, literatura, etc) a Europa regrediu vários séculos nos seus indíces civilizacionais.

Edição Inglesa: The fall of Rome and the end of civilization / Bryan-Ward Perkins . - Oxford, 2005

(Jorge Lopes)

*

Neste caso não posso ser frio, lógico e coloquial. Há algo aqui que me corta fundo e que doi o que nos faz reagir. Kenneth Clarck é um "ethnocentric pompous ass" e infelizmente não sei dizer isto em português. A série em causa deve mais à produção e ao que mostra, ou seja à excelencia televisiva da produção BBC do que ao conteudo do KC.

Há relativamente pouco tempo (3 meses) estive hospitalizado por um período longo e tive a oportunidade de terminar "Civilizations" do colombiano Felipe Fernández-Armesto. Apesar do Fernández-Armesto ser um galego complexado, envergonhado das conquistas civilizacionais europeias e dividido entre as suas origens e o seu local de nacionalidade, um problema que ocorre muito frequentemente nas comunidades emigrantes especialmente se de culturas diferentes mas igualmente importantes i.e.latina vs anglo-saxónica, este livro marca fundo e na realidade é o ADN da civilização europeia que o FF-A tanto tenta deitar abaixo. Com Soul Mountain, de Gao Xingjian, forma a minha maior e mais recente influencia humana e culturalque se resume nas raizes do Virgilio Ferreira no liceu e agora estes dois livros passando por De la Democracie en Amerique, de Alexis de Tocqueville.

Por favor não elogie o KC só porque ele é um snob, e showoff com uma cultura pretensiosa e vasia de faceta socio-politico-económica, hoje politicamente incorrecto sòmente entre as classes média-média e média-baixa, e muito admirado entre as classes média-alta e alta e completamente desconhecido e indiferente entre e para os operários.

(David Estêvão Gouvêa)

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NOTAS SOBRE A "CULTURA DE BLOGUE" 6

http://www2.sims.berkeley.edu/academics/courses/is243/s06/lectures/figures/OED-Entry.gifA Rede é excepcional para a procura utilitária: precisa-se de saber alguma coisa, lá se encontra. (Já é menos capaz para uma procura qualitativa, ou para se "aprender" pela procura, para se aprender pela errância.) As literacias da procura em Rede são conhecimentos vitais sem os quais se é analfabeto funcional, mas implicam conhecimentos que não são evidentes no acto da procura em linha. Implicam ter uma noção de como se devem "ler" os resultados de uma procura e uma noção de como é que esses resultados são produzidos por uma máquina. Por exemplo, é arriscado fazer uma procura sobre a ortografia de uma determinada palavra no Google, presumindo-se que os resultados validam uma grafia. Há sempre em Rede um número significativo de erros de ortografia, para a procura dar resultados aparentes que induzem a possibilidade de se escrever assim, errando. O que acontece é que as literacias que são necessárias para "ler" em Rede comunicam com as que são necessárias para procurar em papel ou noutros meios, umas implicam as outras, e uma aprendizagem de técnicas de procura e investigação é cada vez mais necessária no coração do sistema de ensino e não estão lá. Na "cultura de blogue" aparecem todos os efeitos perversos de "conhecimentos" obtidos em linha, sem qualquer mediação.

(Continua)

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NOTAS SOBRE A "CULTURA DE BLOGUE" 5

http://gatorlog.com/images/googlebrowsing.jpgStudents using wireless laptop facilities in the Library
No copy-paste a facilidade de o fazer pode tornar-se num empobrecimento, associando-se como é comum, o copy-paste ao browsing. Quase que não é preciso ler, ou não é preciso ler até ao fim. O excesso de facilidade, que se alia à rapidez e ao número gigantesco de possibilidades, impede uma hierarquização e uma escolha forte. Quod abundant nocet. A hierarquização é feita pelos motores de busca, e raras vezes se procura depois da primeira página, ou do artigo da Wikipedia, que a abre. A procura própria é muito pouca, não se caminha nunca no labirinto da informação, como se faz numa biblioteca na estante de referência, ou browsing na estante da poesia, abrindo um livro ou outro. Perde-se a experiência do caminho, a procura espacial, a imersão no meio, o dilema entre escolhas sedutoras, que só tempo lento (ou menos rápido) dá. A escolha tende a acompanhar a facilidade da procura e é por isso mais débil, menos resultado de um pensamento ou de uma leitura e mais da primeira coisa que se encontra e que "serve".

(Continua)

*
A minha filha, que é uma vivaça espertalhona, faz um trabalho sobre qualquer coisa, todo bonito e enfeitado, quer em Word, quer em Power Point (geração Sócrates) cheio de efeitos especiais, cores, textos e youtubes só sentada ao computador. Muitos destes trabalhos são impressos, mas muitos vão na pen do MP3 para serem apresentados no computador da escola. Eu sinto-me impotente para controlar ou encarrilar tanta eficiência em frente de um ecrã. A minha memória de fazer trabalhos é certamente muito diferente e muito mais morosa do que a realidade de hoje. No outro dia insistiu que queria imprimir um mapa da Grécia antiga que tinha visto num site qualquer, para estudar para o teste de História. Eu disse que não, que em casa há excelentes Atlas Históricos e que deveria consultá-los pois tinha a certeza de que são bons e bem feitos. Ah, mas eu queria riscá-los, ok, então fazes uma cópia e riscas. Enfim foi um interessante diálogo em que tentei que os textos e os dados em linha não fossem as únicas fontes para os seus trabalhos.

(J.)

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NOTAS SOBRE A "CULTURA DE BLOGUE" 4

É uma cultura de copy-paste mais do que de print, entre outras coisas porque imprimir é mais caro e esta cultura vive num mundo potencialmente gratuito. Para além disso, o texto impresso é suposto ser lido fora do ecrã, o que também viola os hábitos. Por fim, a maioria das impressoras é boa para texto e má para imagem, em particular imagem a cores.

O uso dominante do copy-paste é para os trabalhos escolares. Muitos professores hoje marcam trabalhos "para serem feitos pela Internet". Um exemplo que já referi e a que assisti: escrever os números em inglês de 1 a 50. Com o copy-paste demorou meia dúzia de segundos, e, com o print, estava feito o trabalho de casa. A adolescente do 6º ano fez o trabalho, com proficiência no uso do copy-paste, no computador de uma biblioteca e ficou a saber rigorosamente o mesmo sobre como se escreviam os números em inglês. A escola e a biblioteca, as duas instituições que era suposto irem mais longe, do copy-paste para o acto de aprender, assistem como espectadoras ou porque não sabem, ou porque não querem, ou porque não podem.

Outro uso frequente do copy-paste, mas criativo, é a utilização de imagens, músicas, videos, frases e textos alheios, tal como estão ou remisturados, em particular em blogues. A facilidade do copy-paste permite uma construção de identidade a partir da citação que é também uma apropriação. Aqui o copy-paste apenas dá uma nova instrumentação tecnológica a um mecanismo mais antigo - falar com as palavras dos outros, para dizer melhor aquilo que queremos dizer.

(Continua)

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EARLY MORNING BLOGS

964 - Against Winter

The truth is dark under your eyelids.
What are you going to do about it?
The birds are silent; there's no one to ask.
All day long you'll squint at the gray sky.
When the wind blows you'll shiver like straw.

A meek little lamb you grew your wool
Till they came after you with huge shears.
Flies hovered over open mouth,
Then they, too, flew off like the leaves,
The bare branches reached after them in vain.

Winter coming. Like the last heroic soldier
Of a defeated army, you'll stay at your post,
Head bared to the first snow flake.
Till a neighbor comes to yell at you,
You're crazier than the weather, Charlie.

(Charles Simic)

*

Bom dia!

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8.2.07


OS TEMPOS MUDAM

Voltaram as andorinhas. Trabalha-se imenso pelos ares.

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Margem esquerda do Rio Douro, entre a Régua e o Pinhão.

(Gil Regueiro)

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NOTAS SOBRE A "CULTURA DE BLOGUE" 3

A "cultura de blogue" aplica-se a uma geração que segue os "assuntos correntes" pelos blogues, e que apenas a complementa por sítios na Rede que fornecem informação mais estruturada para interesses específicos (por exemplo, sobre futebol, sobre sexo).
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/7/75/NYTimes-Page1-11-11-1918.jpg/260px-NYTimes-Page1-11-11-1918.jpg http://babel.massart.edu/~kb/thesis/CaseStudy-11.21.01/TimeWebGallery/images/CNN.9.21-americasnewwar.jpg http://i78.photobucket.com/albums/j89/randymorin/blogosphere.jpg
Seguindo os "assuntos correntes" pelos blogues, secundariamente pela televisão, e só depois e nalguns casos, pelos jornais, a agenda resulta muito diferente: é mais conflitual, e tende a criar um mecanismo de arregimentação e pertença, nem que seja a grupos de blogues "amigos". A tribalização da blogosfera é prévia à dos seus leitores, mas fomenta militantismo e causas e é mais eficaz para posições mais extremas do que para o "meio" moderado. Lendo o actual debate sobre o aborto na blogosfera ele é frontalmente adversarial, um contínuo Prós e Contras, mais agressivo do que os debates televisivos e não tendo zona neutra. Quem se forma numa "cultura de blogues" tende a achar normal a radicalização dos debates e a acentuar paixões tribais e clubísticas, mas também tende a ser mais mobilizado por causas públicas. Este sentimento de envolvimento é tanto maior quanto certos mecanismos (como as caixas de comentários) geram uma ilusão de participação igualitária.

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NOTAS SOBRE A "CULTURA DE BLOGUE" 2

A actual campanha publicitária do Público é interessante porque parece voltada em parte para esse público da "cultura de blogue", apelando às suas referências culturais, para o trazer para a imprensa escrita em papel, o que é uma contradição nos seus termos. A contradição tem a ver com o facto dessa "cultura" ser estruturante e dos seus hábitos não serem "em papel". Não só os hábitos não são "em papel", mas sim no ecrã, como a forma de ler em volume e em profundidade (do hipertexto) é diferente da forma de ler em superfície e sequência (dos textos em papel, dos livros). Os hábitos são também mais de "ver" ( e de "ouvir") do que de "ler", o que explica o sucesso do YouTube como percursor de uma Rede em que se vai "ver" mais do que "ler".

Por isso, a campanha de publicidade resultará mais naqueles que chegaram a uma "cultura da Rede" mais do que a uma "cultura de blogue", ou seja, que não foram feitos "dentro" da "cultura de blogue", mas que ajudaram a fazê-la. Gente mais velha, com os pés em ambas as literacias, as do livro e jornal clássicos e as da Rede. Se foram estas as pessoas que deixaram de ler jornais pela décalage de interesses mais do que pelo facto de serem em papel, a campanha (e presumo que o jornal) terá sucesso, porque fará um produto mais próximo da sua agenda de interesses.

Os que já foram moldados pelos hábitos da Rede, os que se habituaram (como muitos adolescentes a chegarem ou nos primeiros anos na universidade) a olhar para o mundo no modo pick and choose típico dos blogues, nunca mais lerão em papel como se lia antes e não há campanha publicitária que os agarre. Vamos ver.

(Continua)

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NOTAS SOBRE A "CULTURA DE BLOGUE" 1

Vão começar a chegar à universidade, os primeiros produtos daquilo que se pode chamar a "cultura de blogue", embora outras designações correntes como a da “geração YouTube” também sirvam. No caso português, até porque a banda larga é ainda recente e cara, o blogue é a referência mais estruturada, que se sobrepõe à "cultura prática Kazaa" e à "cultura copy-paste", que começa a dominar do ensino básico em diante. Já vi no passado chegarem à universidade outras variantes destas "culturas" formacionais, educativas, que moldam a relação com o saber, que são literacias, vindas quer da escola, quer do "meio" juvenil. Um exemplo, a "cultura da oralidade" no ensino, quando anos de pedagogias não-directivas e de "ensino sedutor" criaram gerações de alunos que estavam habituados a passar as aulas a falar com os professores. Estes era suposto organizarem as suas aulas para os "seduzir" a aprender (era isso que lhes era ensinado nos "estágios pedagógicos") e os alunos tinham imensa dificuldade em sair da conversa para ler e muito maior para escrever, tarefas forçadas, não-sedutoras.

(Continua)

*
Diz a certa altura : "Vão começar a chegar à universidade, os primeiros produtos daquilo que se pode chamar a "cultura de blogue", embora outras designações correntes como a da "geração YouTube" também sirvam. "

Permita-me discordar, com a minha experiência pessoal. A dita geração que diz que vai chegar às universidades, já lá está. Pelo menos pela experiência que tenho. Quase todos os colegas que tenho têm um blogue, ou mais. Mas esse não é o ponto mais curioso, é a forma como usam a blogosfera na prática universitária. Blogues criados especialmente para as sub-turmas para partilhas de informação para as diferentes disciplinas, para troca de casos práticos, para avisos dos professores aos restantes colegas, etc.

Professores que criam blogues para colocar trabahos para os alunos fazerem, apontamentos, casos para resolverem em casa, exemplos de testes para treino em casa, onde colocam as notas de avaliação contínua, dos testes.

Blogues criados para se fazer campanhas para as associções de estudantes, para se criticar o que de mal se passa na faculdade e o que de bom por lá se faz.
Posso dar muitos exemplos, mas acho que estes chegam para provar que a cultura do Blogue já está enraizada na vida universitária.

(Eduardo Pinto Bernardo, Aluno da Faculdade de Direito de Lisboa)

*

Eu, que aprendi a ler com o velhinho Diário Popular - recebido diariamente e gratuito (bons tempos) pelo meu pai, correspondente de aldeia, sou um dependente de jornais e no entanto, nos últimos tempos, tornei-me um viajante da blogosfera. Sem encontrar incompatibilidades entre estas duas formas de ligação, sinto, no entanto, que a dependências por blogues nunca será igual à que tenho por jornais. A minha convivência, já longa, com os segundos e a dificuldade (incapacidade?) de me embrenhar em textos longos nos primeiros, será sem dúvida, a razão de tal diversa aditividade. Os dois mundos (para simplificar: jornais/blogues) assentam em plataformas comunicacionais tão diversas que se torna bastante difícil compará-los. A interactividade, no universo da blogosfera, entre "eu"/ "mundo" e "blogue/blogue", constituem uma realidade nova que não tem equivalência no "velho" mundo da comunicação social.

A sua reflexão (no Público?) há uns tempos atrás entre a variedade de órgãos de comunicação social que podemos encontrar numa "banca de jornais" e a paleta blogosférica, parece-me muito mais interessante. A seriedade, o ecletismo, a temática, a estética, a objectividade e o objectivo ou os interesses, aqui sim comparáveis, serão sem dúvida um dos grandes temas da comunicação social dos próximos tempos. A Antropologia ( como não podia deixar de ser!) se encarregará de o mostrar.

(VGC)

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ESPAÇOS ONDE SE PODE RESPIRAR

Foto de uma estrada bucólica em Valencia de Alcántara, Cáceres, Espanha. Por aqui, respira-se ar puro e pode-se conjugar isso com brincadeiras de criança, como fazer balões de sabão. Ao lado, só vacas a amamentar os seus bezerros num ambiente de silêncio incrível.

Luís Miguel Pinto (Valencia de Alcántara, Cáceres, Espanha)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 8 de Fevereiro de 2007


Já ninguém consegue escrever mais sobre o aborto, mas ninguém consegue deixar de escrever sobre o aborto. Há um cansaço e um vício, fica-se apanhado. Para além da fixação que nos impede de variar, parece que o debate público não suporta deixar de ser monotemático e obsessivo. Depois segue-se um síndroma de abstinência.

*
Hoje no primeiro noticiário da RTP 1 ás 06,30 assisti a mais um bom exemplo da (má) informação praticada pela televisão pública.

A propósito da notícia do Jornal de Notícias que o Governo, a pedido do P.R. iria produzir um novo relatório sobre a OTA, passa de imediato uma reportagem no Aeroporto de Lisboa a noticiar o inicio de obras avaliadas em 50 M de euros e com uma entrevista com um “responsável” que afirma (sem se rir) que o aeroporto está saturado e que com o atraso da construção da OTA em 4 a 5 anos obriga a estes gastos neste aeroporto.

A propaganda do Governo no seu pior.

(António Lamas)

*

Às vezes, uma passagem sem importância de uma notícia, uma abertura, um
remate explicam mais do que explicaria um compêndio sobre os abismos de
mediocridade e parcialidade a que desceu a informação em Portugal. Ontem,
no telejornal da SIC, Rodrigo Guedes de Carvalho abriu uma notícia sobre o
aumento dos lucros da banca com esta pérola. «Esse montante daria para
construir meia Ota». Quase vejo o autor do texto a julgar-se insuportavelmente sagaz por "inculcar" que os bancos lucram demais, ou o Estado devia cobrar ainda mais impostos, ou que a Ota é boa e se fazia bem se não fossem os ricos.

(José Cruz)

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EARLY MORNING BLOGS

963 -At the California Institute of Technology


I don't care how God-damn smart
these guys are: I'm bored.

It's been raining like hell all day long
and there's nothing to do.


(Richard Brautigan escreveu este poema em 24 de Janeiro de 1967 enquanto "poet-in-residence" no California Institute of Technology.)

*

Bom dia!

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7.2.07


ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Tirada de um avião perto de Benguela.

(Carlos Costa)

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É PROVÁVEL...

que não valha muito a pena protestar, mas estou há várias horas sem telefone nem Internet (eu e muita gente à minha volta), responsabilidade da Portugal Telecom, sem poder trabalhar como devia, mais uma vez com esta sensação de impunidade (deles) e impotência (minha), face a um serviço que, quando avaria, avaria sempre por muito mais tempo do que devia. Após uma semana com as habituais falhas de energia da EDP, microrupturas e rupturas menos micro, não custa avaliar o preço de tudo isto na produtividade do trabalho em linha, a umas poucas dezenas de quilómetros da capital.

*
“It is based on the conviction that where effective competition can be created, it is a better way of guiding individual efforts than any other. It does not deny, but even emphasises, that, in order that competition should work beneficially, a carefully thought-out legal framework is required, and that neither the existing nor the past legal rules are free from grave defects. Nor does it deny that where it is impossible to create the conditions necessary to make competition effective, we must resort to other methods of guiding economic activity.”



“The functioning of competition not only requires adequate organisation of certain institutions like money, markets, and channels of information-some of which can never be adequately provided by private enterprise-but it depends above all on the existence of an appropriate legal system, a legal system designed both to preserve competition and to make it operate as beneficially as possible.”

Friedrich August von Hayek dixit.

(DG)

*

Mesmo sendo da responsabilidade dos prestadores de serviço assegurar a sua continuidade, acaba por ser dos clientes ou utilizadores a iniciativa de tomar medidas no sentido de se precaver contra falhas alheias. Sobre esta questão, nem vale a pena alongar-me, mas deixo duas sugestões.

Para evitar interrupções no acesso à Internet, sugiro um sistema redundante, que utilize primariamente a actual banda larga e possa, em caso de necessidade, usar os serviços de um operador móvel. Se algum dos operadores oferecer uma velocidade/preço aceitáveis, talvez seja de equacionar esta possibilidade

Um "router" com possibilidade de usar uma conexão Ethernet a um modem (ADSL ou Cabo) e com "slot" para uma placa de dados de um operador móvel pode ser uma solução.

Relativamente à EDP, mesmo em Lisboa, já me vi forçado a instalar uma unidade de alimentação ininterrupta devido, sobretudo, às sobretensões e variações de corrente. Infelizmente, aquilo a que a EDP chama flutuações provocou a avaria de equipamentos não protegidos, tendo a empresa, após dar instruções via email e telemóvel para proceder à reparação, recusado o mesmo em carta enviada posteriormente.

(Nuno M. Cabeçadas)

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6.2.07


BIBLIOFILIA: ENTRADAS PARA A LITERATURA


Barry Miles, The Beat Hotel. Ginsberg, Burroughs, and Corso in Paris, 1958-1963

Paul L. Mariani, Dream Song: The Life of John Berryman

John Berryman, John Berryman: Collected Poems 1937-1971

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ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Alvão.

(Gil Coelho)

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ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Atlântico, Cabo Espichel.

(MJ)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 6 de Fevereiro de 2007


Cada vez mais a agenda mediática é a agenda do Ministério Público: nas notícias de hoje lá estão os voos da CIA (esta investigação vai ser muito interessante de seguir e de ver os resultados) e "as interferências de Alberto João Jardim no "Jornal da Madeira"". Algo me diz que esta tentativa de criar um Baltazar Garzón português não vai ser brilhante. Live by the press, die by the press.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O DESCONTOZITO...

Nos tempos em que todo o comércio era aquilo a que hoje chamamos "tradicional" havia, na maioria dos estabelecimentos, uma curiosa praxe:
Mediante a apresentação de um cartão qualquer - mesmo que fosse o de sócio de um clube de futebol! - o lojista fazia, de imediato e com o seu melhor sorriso, um desconto de 10%.
E já não me lembraria dessa simpática tradição se não se desse o caso de ter assistido, um dia destes, aos festejos que o Governo promoveu para anunciar a recuperação de 1600 milhões de euros de impostos em atraso - importância que corresponde, precisamente, a 10% do valor estimado da fuga ao fisco em Portugal. Ora ainda bem que se recuperou a tradição de todos se contentarem com tão pouco - quer quem paga, quer quem recebe!

(C. Medina Ribeiro)

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ESPAÇOS EM QUE SE PODE RESPIRAR

Amanhecer no Porto. Cais da Alfândega. Hoje.

(Gil Coelho)

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EARLY MORNING BLOGS

962 - Semântica Electrónica

Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o desordeiro
Quebrou o ordenador
E eu já não dou ordens
coordenadas
Seja a quem for.
Então resolvo tomar ordens
Menores, maiores,
E sou ordenado,
Enfim --- o ordenado
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas --- diz-me a ordenança ---
Você não pode ordenhar uma máquina:
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca.
De mais a mais, você agora é padre,
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca, mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais uma vaca!
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar a conversa
Como aprendi na Infantaria),
Ordenhado chorei meu triste fado.
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria:
E chorei leite condensado,
Leite em pó, leite céptico asséptico,
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético!

(Vitorino Nemésio)

*

Bom dia!

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 3 de Fevereiro de 2007.

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5.2.07


JARDINS DE INVERNO

Hoje, no Polje de Mira-Minde, Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, com uma fria e persistente chuva. Junto ao leito quase seco de uma das exsurgências que alimenta de água o polje, as ruínas de um velho moínho movido pela água. Neste lugar de beleza insólita (um acentuado abatimento de origem tectónica) há registos de vindimas feitas de barco quando, em estações continuadamente chuvosas, o polje enche de água, transformando-se numa grande lagoa temporária. De vez em quando o polje enche. A actividade agrícola, embora se mantenha, não tem a expressão que teve no passado.

(Vítor Xavier)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: JUSTIÇA DOS VENCEDORES?

http://www.pocketessentials.co.uk/images/large/1903047501large.jpgJustiça dos vencedores? Sem dúvida, mas não só. Li este pequeno livro de Andrew Walker à luz do julgamento de Saddam Hussein, para ver onde é que as diferenças eram evidentes. Não apenas para ver as diferenças, mas para perceber onde elas pesavam. A conclusão é obvia: o julgamento de Saddam teria sido o equivalente a colocar apenas os comunistas alemães ou os russos a julgar Göring e os outros réus. Quase tudo a que do império da lei e do direito (de alguma lei pelo menos), ou seja de "justo", se assistiu no julgamento de Nuremberga deveu-se aos juízes das democracias aliadas que não aceitaram todas as acusações, deram condições de trabalho à defesa, e decidiram inclusive absolvições. A grande diferença entre Nuremberga e Bagdad tem a ver com o facto de Saddam ter sido julgado por iraquianos em vez de o ser por juízes das forças de ocupação. É pouco provável que Saddam escapasse à pena de morte, como Keitel, Jodl, Rosemberg, Ribbentrop e outros também não escaparam, mas teria sido um julgamento mais sério. Claro que não serviria para nada a curto prazo, porque na guerra do Iraque há pouco "high moral ground", tal decisão seria sujeita a outro tipo de acusações, e, com a guerra civil em curso, pouco adiantaria. Mas serviria para o "moral ground" do futuro.

*

Um dos factos a que se aludiu no julgamento foi a queima por soldados e oficiais alemães da biblioteca de Tolstoy para se aquecerem. Quando alguém objectou, um oficial alemão respondeu que "gostava de se aquecer à luz da literatura russa".

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Na defesa das SS, para efeito do veredicto sobre quais eram ou não as "organizações criminosas", uma das testemunhas aludiu às boas condições no campo de concentração de Buchenwald que, entre outras coisas, teria um bordel. Um dos juízes não percebeu a palavra e pediu que fosse repetida. Pela segunda vez não percebeu. O seu colega do lado, que já lhe estava a sussurrar que se tratava de bordel, chegou-se ainda mais e ligou o microfone inadvertidamente enquanto lhe diz "ó homem, bordello, bordel, casa de putas". Foi uma das raras ocasiões em que todos se riram.

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Relativamente à comparação entre os julgamentos de Nuremberga e o de Saddam Hussein, estou de acordo consigo quando afirma que houve mais seriedade no primeiro do que no segundo. E, acrescento, também houve mais seriedade nas execuções. Mas convém não esquecer que Saddam Hussein foi apenas um de oito réus e que não foram todos condenados à morte. De facto, houve três condenações à morte, uma condenação a prisão perpétua, três penas de quinze anos de prisão e, inclusivamente, uma absolvição (por falta de provas).

(José Carlos Santos)

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961 - Comme le champ semé en verdure foisonne

Comme le champ semé en verdure foisonne,
De verdure se hausse en tuyau verdissant,
Du tuyau se hérisse en épi florissant,
D'épi jaunit en grain, que le chaud assaisonne :

Et comme en la saison le rustique moissonne
Les ondoyants cheveux du sillon blondissant,
Les met d'ordre en javelle, et du blé jaunissant
Sur le champ dépouillé mille gerbes façonne :

Ainsi de peu à peu crût l'empire romain,
Tant qu'il fut dépouillé par la barbare main,
Qui ne laissa de lui que ces marques antiques

Que chacun va pillant : connue on voit le glaneur
Cheminant pas à pas recueillir les reliques
De ce qui va tombant après le moissonneur.

(Joachim du Bellay)

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Bom dia!

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4.2.07


JARDINS DE INVERNO

Sexta-feira passada, 2/2/2007, na Guarda, as árvores cobertas de sincelo até às duas da tarde.

(Alexandrina Pinto)

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SEM JARDIM


O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra manteve fechadas as portas ao público, pela primeira vez na sua história, por falta de verbas que suportem os custos de o manter aberto durante o fim-de-semana. Segundo o Diário de Coimbra, a direcção prevê mesmo vir a cobrar entrada durante os dias de semana e até se fala em desligar o aquecimento às estufas. Tão desoladas como as ginkgo bilobas que guardam a entrada principal do Jardim devem estar os espíritos guardiães dos Broteros, dos Quintanilhas, dos Fernandes, a assistir de longe enquanto se torna ainda mais inóspita e infértil a sua cidade

(Teresa)

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DO WINDOWS XP PROFESSIONAL PARA O WINDOWS VISTA ULTIMATE

Mudança sem problemas, como nunca me acontecera, de um sistema operativo para outro. Tudo correu bem e à primeira, sem falhas. Fiquei sem scanner e impressora (ambos da HP), mas já sabia que corria esse risco. Não percebo porque razão a HP ainda só tem um tão pequeno número de drivers disponíveis para o Vista. Instalei também a versão Ultimate do Office 2007 e, embora seja ainda cedo para saber se tudo funciona bem, o Outlook continua a encerrar mal e a demorar muito a receber e a organizar o correio. Vamos ver como as coisas correm com o Word e o Access, os programas que mais utilizo.

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JARDINS DE INVERNO

Com o mar ao fundo.

(RM)

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960 - Au Démon secret

Le peuple, sans perplexité, vénère. Il encense, invoque ou répudie. Il donne trois, ou six ou neuf prosternements. Il mesure son respect à la compétence, aux attributs, aux grâces qu'il escompte juste.

Car il sait précisément les goûts du génie de l'âtre ; les dix-huit noms du singe qui donne la pluie ; la cuisson de l'or comestible et du bonheur.

o

De quelles cérémonies l'honorer ce démon que je loge en moi, qui m'entoure et me pénètre ? De quelles cérémonies bienfaisantes ou maléfiques ?

Vais-je agiter mes manches en respect ou brûler des odeurs infectes pour qu'il fuie ?

De quels mots d'injures ou glorieux le traiter dans ma vénération quotidienne : est-il le Conseiller, le Devin, le Persécuteur, le Mauvais ?

Ou bien Père et grand Ami fidèle ?

o

J'ai tenté tout cela et il demeure, le même en sa diversité,

Puisqu’il le faut, ô Sans-figure, ne t'en va point de moi que tu habites :

Puisque je n'ai pu te chasser ni te haïr, reçois mes honneurs secrets.

(Victor Segalen)

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Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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