ABRUPTO

8.2.07


NOTAS SOBRE A "CULTURA DE BLOGUE" 1

Vão começar a chegar à universidade, os primeiros produtos daquilo que se pode chamar a "cultura de blogue", embora outras designações correntes como a da “geração YouTube” também sirvam. No caso português, até porque a banda larga é ainda recente e cara, o blogue é a referência mais estruturada, que se sobrepõe à "cultura prática Kazaa" e à "cultura copy-paste", que começa a dominar do ensino básico em diante. Já vi no passado chegarem à universidade outras variantes destas "culturas" formacionais, educativas, que moldam a relação com o saber, que são literacias, vindas quer da escola, quer do "meio" juvenil. Um exemplo, a "cultura da oralidade" no ensino, quando anos de pedagogias não-directivas e de "ensino sedutor" criaram gerações de alunos que estavam habituados a passar as aulas a falar com os professores. Estes era suposto organizarem as suas aulas para os "seduzir" a aprender (era isso que lhes era ensinado nos "estágios pedagógicos") e os alunos tinham imensa dificuldade em sair da conversa para ler e muito maior para escrever, tarefas forçadas, não-sedutoras.

(Continua)

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Diz a certa altura : "Vão começar a chegar à universidade, os primeiros produtos daquilo que se pode chamar a "cultura de blogue", embora outras designações correntes como a da "geração YouTube" também sirvam. "

Permita-me discordar, com a minha experiência pessoal. A dita geração que diz que vai chegar às universidades, já lá está. Pelo menos pela experiência que tenho. Quase todos os colegas que tenho têm um blogue, ou mais. Mas esse não é o ponto mais curioso, é a forma como usam a blogosfera na prática universitária. Blogues criados especialmente para as sub-turmas para partilhas de informação para as diferentes disciplinas, para troca de casos práticos, para avisos dos professores aos restantes colegas, etc.

Professores que criam blogues para colocar trabahos para os alunos fazerem, apontamentos, casos para resolverem em casa, exemplos de testes para treino em casa, onde colocam as notas de avaliação contínua, dos testes.

Blogues criados para se fazer campanhas para as associções de estudantes, para se criticar o que de mal se passa na faculdade e o que de bom por lá se faz.
Posso dar muitos exemplos, mas acho que estes chegam para provar que a cultura do Blogue já está enraizada na vida universitária.

(Eduardo Pinto Bernardo, Aluno da Faculdade de Direito de Lisboa)

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Eu, que aprendi a ler com o velhinho Diário Popular - recebido diariamente e gratuito (bons tempos) pelo meu pai, correspondente de aldeia, sou um dependente de jornais e no entanto, nos últimos tempos, tornei-me um viajante da blogosfera. Sem encontrar incompatibilidades entre estas duas formas de ligação, sinto, no entanto, que a dependências por blogues nunca será igual à que tenho por jornais. A minha convivência, já longa, com os segundos e a dificuldade (incapacidade?) de me embrenhar em textos longos nos primeiros, será sem dúvida, a razão de tal diversa aditividade. Os dois mundos (para simplificar: jornais/blogues) assentam em plataformas comunicacionais tão diversas que se torna bastante difícil compará-los. A interactividade, no universo da blogosfera, entre "eu"/ "mundo" e "blogue/blogue", constituem uma realidade nova que não tem equivalência no "velho" mundo da comunicação social.

A sua reflexão (no Público?) há uns tempos atrás entre a variedade de órgãos de comunicação social que podemos encontrar numa "banca de jornais" e a paleta blogosférica, parece-me muito mais interessante. A seriedade, o ecletismo, a temática, a estética, a objectividade e o objectivo ou os interesses, aqui sim comparáveis, serão sem dúvida um dos grandes temas da comunicação social dos próximos tempos. A Antropologia ( como não podia deixar de ser!) se encarregará de o mostrar.

(VGC)

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