ABRUPTO

31.10.06


EARLY MORNING BLOGS

899 - The Cruel Moon

The cruel Moon hangs out of reach
Up above the shadowy beech.
Her face is stupid, but her eye
Is small and sharp and very sly.
Nurse says the Moon can drive you mad?
No, that’s a silly story, lad!
Though she be angry, though she would
Destroy all England if she could,
Yet think, what damage can she do
Hanging there so far from you?
Don’t heed what frightened nurses say:
Moons hang much too far away.

(Robert Graves )

*

Bom dia!

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30.10.06


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Trabalhos na barra do Douro. Hoje.

(Gil Coelho)

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RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Jardineiros no jardim do Passeio Alegre, no Porto.

(Gil Coelho)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 30 de Outubro de 2006


Em Portugal apoiam Sócrates por apertar o cinto, no Brasil apoiam Lula por dar dinheiro aos pobres. Há aqui qualquer coisa que não encaixa.

Uma breve nota sobre a comparação entre Sócrates e Lula. Não há dissemelhanças, porque o ponto, creio, é este. A imagem de Sócrates é, tal como Lula, a de Robin dos Bosques.
Daí a popularidade, de ambos. Imagem, ou realidade, "a história o julgará". Tenhamos paciência!

(Amílcar Lopes António)
*

Robert Fagles sobre as razões que o levaram a traduzir a Eneida de Virgílio: “My feeling is that if something is timeless, then it will also be timely.

*

Continua a não haver um dia singular sem o Momento-Chávez do Primeiro-ministro, num palco controlado a dizer o que quer sem contraditório e, mais grave ainda, sem tratamento editorial em função da relevância e do conteúdo jornalístico da matéria.

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COISAS DA SÁBADO: DIA SIM DIA SIM



Contam-se pelos dedos de uma mão só, as pessoas que têm acesso à comunicação social de primeira linha e que falam dos mecanismos de controlo e manipulação da comunicação social pelo governo socialista. É uma matéria tabu, que suscita logo um ambiente de grande hostilidade, com exigência probatórias imediatas. Não acho mal as exigências probatórias, dado que penso não faltarem provas, sendo às vezes serem tão evidentes que a sua exigência já é suspeita. Só tenho pena que não tenham sido pedidas com a mesma convicção antes do período actual de governação. Mais: intriga-me que aqui os jornalistas que se indignam, muitos deles em posições de relevo em órgãos de comunicação estatais, alguns em posições de chefia, tenham nesta matéria a atitude exactamente contrária à que tomam face a todas as coisas, onde acham sempre que não há fumo sem fogo por regra geral, e onde exercitam abundantes doses de cinismo. Aqui, ficam ingénuos em absoluto, nesta matéria não são certamente o “ninho de víboras” com que são descritos no mundo anglo-saxónico.

Veja-se um dos exemplos mais que evidentes, referido por Eduardo Cintra Torres na série que está a escrever para o Público, e que tanta hostilidade suscita contra o seu autor, que está a provar uma medicina que já conheço há muitos anos. Trata-se da tentativa de controlo da agenda comunicacional através da sobreposição de pseudo-factos, declarações, conferências de imprensa, manobras de diversão, criados do nada para esconderem ou minimizarem os factos que são incómodos para o governo. O Primeiro-ministro Sócrates não faz isto dia-sim-dia-não, faz isto dia-sim-dia-sim, com sucesso garantido. Exemplo: no dia da manifestação da CGTP com setenta mil pessoas na rua, Sócrates fez mais uma das suas deslocações a um palco controlado (é interessante ver como utiliza muitas vezes o grupo parlamentar do PS como “palco controlado”) para responder aos manifestantes a solo, sem contraditório. Nos noticiários o facto e o pseudo-facto equivaliam-se e mesmo que não se queira chamar às declarações de Sócrates pseudo-facto, elas não tinham o interesse jornalístico que justificasse um tratamento quase simétrico. Isto acontece, quase sempre com Sócrates a solo em palcos controlados, dia-sim-dia-sim.

É evidente que não só os governos socialistas que aplicam estas técnicas, os do PSD e do CDS fizeram o mesmo, mas com muito menor eficácia porque há diferenças fundamentais e que têm a ver com o facto de a comunidade jornalística se comportar por regra de forma muito adversarial com governos “de direita”, como agora se diz. Provas? Provas, pergunto eu? E que tal pensarmos nisto: sabedores das tácticas de ocultação do Primeiro-ministro e de alguns membros do governo mais sábios como o Ministro António Costa, que fazem os jornalistas para manterem a informação crítica a fluir, que fazem as redacções para darem o devido valor (o de notas de quatro ou cinco linhas como fazem os jornais anglo-saxónicos) a actos que eles sabem serem de contra-informação, sem conteúdo jornalístico, não dando o benefício ao infractor? Nada, quase nada. Ao aceitarem as regras do Primeiro-ministro e do governo, aceitam a governamentalização e o controlo político.

E não adianta dizerem, como já vi escrito, que não há problema nenhum em que o governo tenha investido tanto em “relações públicas” e em assessorias de imprensa que são “boas”, sem perceberem que esta frase é mortífera para a profissão de jornalista e auto-condenatória. Há quanto tempo se recordam de uma genuína pergunta e de uma genuína resposta do engenheiro Sócrates, fora do mundo da propaganda? Não me lembro.

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EARLY MORNING BLOGS

898 - The Fall Of Rome

The piers are pummelled by the waves;
In a lonely field the rain
Lashes and abandoned train;
Outlaws fill the mountain caves.

Fantastic grow the evening gowns;
Agenst of the Fisc pursue
Absconding tax-defaulters through
The sewers of provincial towns.

Private rites of magic send
The temple prostitutes to sleep;
All the literati keep
An imaginary friend.

Cerebrotonic Cato may
Extol the Ancient Disciplines,
But the muscle-bound Marines
Mutiny for food and pay.

Caesar's double-bed is warm
As an unimportatnt clerk
Writes I DO NOT LIKE MY WORK
On a pink official form.

Unendowed with wealth or pity
Little birds with scalet legs,
Sitting on their speckled eggs,
Eye each flu-infected city.

Altogether elsewhere, vast
Herds of reindeer move across
Miles and miles of golden moss,
Silently and very fast.

(W.H. Auden)

*

Bom dia!

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29.10.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 29 de Outubro de 2006


Lendo o Sol hoje: um editorial de miséria e uma miséria de editorial. Já se percebeu que tudo está maduro para se descer mais um passo na abjecção pública. É verdade que os sinais já estavam por todo o lado, que a porta que o Expresso abriu escancaradamente já estava semi-aberta. Mas cada vez temos menos respeito por nós próprios e pelos outros. Se há quem queira viver no mundo do Simplesmente Maria e na lama voyeuristica da exibição da privacidade e da intimidade, força! Que as páginas exibicionistas vos sejam leves! Mas não esperem de quem não é desse mundo outra coisa que não seja nojo e vergonha por terem descido tão baixo.

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IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 2


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IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 1



(Enviada por Medina Ribeiro)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
GOVERNAR POR DECRETO DÁ LUGAR AO "RELEVANTE INTERESSE PÚBLICO"




Dantes era o "governar por decreto", sinónimo de falta de respeito pelas normas democráticas e como forma de imposição de algo que não seria passível de aceitação nas instâncias apropriadas ou que enfermam de deficiências formais ou processuais.

Hoje, o mesmo acontece, mas sob um nome diferente, o de resolução fundamentada, que justifica se com o interesse público e se sobrepõe a decisões de carácter administrativo por parte dos Tribunais, evitando assim o normal curso da Justiça e revogando o efeito suspensivo imposto pelas instâncias judiciais.

Perversamente, ao ultrapassar a decisão com carácter suspensivo de um Tribunal, supostamente garante da igualdade perante a Justiça, a decisão fundamentada pode tornar irreversível todo o processo, sendo que após este passo, muitas vezes, ultrapassou-se o ponto de retorno.

Esta possibilidade legal, que assume cada vez mais contornos de verdadeiro artifício que permite contornar decisões desfavoráveis, pela sua vulgarização nos mais diversos domínios da governação, tem-se vindo a alastrar a todas as instâncias que, no âmbito das suas competências, a possam utilizar.

Por outro lado, permite contornar a legislação em vigor e, por exemplo, proceder a adjudicações por ajuste directo quando um concurso público não foi lançado a tempo, mesmo sabendo-se da sua necessidade, ou quando um processo se atrasou de tal forma, por responsabilidade exclusiva dos próprio, que já não há possibilidade de seguir os trâmites legais sem um efectivo prejuizo.

O recurso a esta figura jurídica tem, portanto, servido cada vez mais como uma alternativa processual do que como um último recurso para situações imprevistas, nas quais existe uma efectiva necessidade de ultrapassar um obstáculo de última hora, razão pela qual cada vez menos o chamado "relevante interesse público" adquire o carácter excepcional que o devia caracterizar.

Entre a excepção e a regra, o uso e o abuso, aceita-se a normalidade, do que devia ser excepcional ganhando força à custa da imposição de uma figura de carácter administrativo que tende a transformar-se numa nova forma de governar.

Afinal, a normalidade é um conceito estatístico, dependente do número de ocorrências, sobre as quais não emite qualquer valor.

(Nuno M. Cabeçadas)

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EARLY MORNING BLOGS

897 - The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest ...


 If our highly pointed Triangles of the Soldier class are formidable, it may be readily inferred that far more formidable are our Women. For, if a Soldier is a wedge, a Woman is a needle; being, so to speak, all point, at least at the two extremities. Add to this the power of making herself practically invisible at will, and you will perceive that a Female, in Flatland, is a creature by no means to be trifled with.

But here, perhaps, some of my younger Readers may ask how a woman in Flatland can make herself invisible. This ought, I think, to be apparent without any explanation. However, a few words will make it clear to the most unreflecting.

Place a needle on the table. Then, with your eye on the level of the table, look at it side-ways, and you see the whole length of it; but look at it end-ways, and you see nothing but a point, it has become practically invisible. Just so is it with one of our Women. When her side is turned towards us, we see her as a straight line; when the end containing her eye or mouth -- for with us these two organs are identical -- is the part that meets our eye, then we see nothing but a highly lustrous point; but when the back is presented to our view, then -- being only sub-lustrous, and, indeed, almost as dim as an inanimate object -- her hinder extremity serves her as a kind of Invisible Cap.

The dangers to which we are exposed from our Women must now be manifest to the meanest capacity of Spaceland. If even the angle of a respectable Triangle in the middle class is not without its dangers; if to run against a Working Man involves a gash; if collision with an Officer of the military class necessitates a serious wound; if a mere touch from the vertex of a Private Soldier brings with it danger of death; -- what can it be to run against a woman, except absolute and immediate destruction? And when a Woman is invisible, or visible only as a dim sub-lustrous point, how difficult must it be, even for the most cautious, always to avoid collision!

(Edwin A. Abbott, a Square, Flatland: A romance of many dimensions)

*

Bom dia!

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28.10.06


BIBLIOFILIA / GRANDES CAPAS


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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 28 de Outubro de 2006


Ontem houve vários Momentos-Chavez para o Primeiro-ministro, hoje haverá mais. O TGV já deu para dois Momentos-Chavez e ainda dará para mais. Agora começou-se a desdobrar os actos públicos - um com o ministro, que também quer os seus Momentos-Chavez; outro, igual ao anterior e sobre a mesma matéria, com o Primeiro-ministro.

Ontem a RTP deu outro exemplo de como se actua pela imagem: enquanto o Ministro das Finanças fazia o seu discurso punitivo contra as finanças da Madeira, Jardim aparecia em imagens de fundo a passear-se num elefante. O Justo e o Tolo. Duvido que imagens de Soares passeando numa tartaruga ou vestido de marajá passeando num elefante alguma vez passem em fundo de qualquer notícia sobre ele. É verdade que Jardim muitas vezes pede-as, mas não pode ser a televisão pública a dá-las.

*

Ontem um amigo aqui em Cabo Verde que pouco se interessa por política e muito menos está a par do que se passa com a política lusa, perguntou-me se vai haver eleições em Portugal. Que eu saiba, não, disse eu, porquê? É que o teu primeiro ministro parecer estar em campanha eleitoral. Pois, parece, respondi. Bom, talvez esteja a pensar em eleições mais cedo.

(Sérgio)

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EARLY MORNING BLOGS

896 - I call our world Flatland, not because we call it so, but to make its nature clearer to you, my happy readers, who are privileged to live in Space.

http://etext.library.adelaide.edu.au/a/abbott/edwin/flatland/images/cover.jpgImagine a vast sheet of paper on which straight Lines, Triangles, Squares, Pentagons, Hexagons, and other figures, instead of remaining fixed in their places, move freely about, on or in the surface, but without the power of rising above or sinking below it, very much like shadows -- only hard with luminous edges -- and you will then have a pretty correct notion of my country and countrymen. Alas, a few years ago, I should have said "my universe": but now my mind has been opened to higher views of things.

In such a country, you will perceive at once that it is impossible that there should be anything of what you call a "solid" kind; but I dare say you will suppose that we could at least distinguish by sight the Triangles, Squares, and other figures, moving about as I have described them. On the contrary, we could see nothing of the kind, not at least so as to distinguish one figure from another. Nothing was visible, nor could be visible, to us, except Straight Lines; and the necessity of this I will speedily demonstrate.

Place a penny on the middle of one of your tables in Space; and leaning over it, look down upon it. It will appear a circle.

But now, drawing back to the edge of the table, gradually lower your eye (thus bringing yourself more and more into the condition of the inhabitants of Flatland), and you will find the penny becoming more and more oval to your view, and at last when you have placed your eye exactly on the edge of the table (so that you are, as it were, actually a Flatlander) the penny will then have ceased to appear oval at all, and will have become, so far as you can see, a straight line.

The same thing would happen if you were to treat in the same way a Triangle, or a Square, or any other figure cut out from pasteboard. As soon as you look at it with your eye on the edge of the table, you will find that it ceases to appear to you as a figure, and that it becomes in appearance a straight line. Take for example an equilateral Triangle -- who represents with us a Tradesman of the respectable class. Figure 1 represents the Tradesman as you would see him while you were bending over him from above; figures 2 and 3 represent the Tradesman, as you would see him if your eye were close to the level, or all but on the level of the table; and if your eye were quite on the level of the table (and that is how we see him in Flatland) you would see nothing but a straight line.

(Edwin A. Abbott, a Square, Flatland: A romance of many dimensions)

*

Bom dia!

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27.10.06


BIBLIOFILIA / GRANDES CAPAS


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A DEGRADAÇÃO DA PRIVACIDADE E DA INTIMIDADE



Tudo começou no Expresso de 14 de Outubro, há apenas dez dias. É verdade que já havia nas revistas do coração e nos tablóides uma exploração do mesmo tema, mas nunca tinha chegado à imprensa que se pretende séria e responsável. Para se perceber como é que a coisa funciona, basta seguir a sequência: no dia 14, o Expresso titula na primeira página "Casal Sócrates pelo sim", referindo-se à presença de José Sócrates enquanto secretário-geral do PS e uma jornalista descrita como sua "namorada" num debate sobre o aborto. O título era completamente abusivo: a presença dos dois na sala e o facto de fazerem intervenções sobre o mesmo tema era mais que justificado pela circunstância de ambos, cada um de per se, como indivíduos, terem revelado interesse pelo tema e pela causa e não por serem um "casal" que era o que o título queria dizer num mecanismo puramente tablóide. Acresce que, quer um, quer outro, independentemente das relações que tenham ou não tenham, são pessoas que mantêm sobre a sua vida privada uma sadia reserva que cada vez menos se observa em pessoas sujeitas a uma exposição pública. O título do "casal" não tinha qualquer relevância jornalística, destinava-se apenas a alimentar o voyeurismo de um público que respeita pouco ou nada da privacidade alheia. Não havia um átomo de interesse público em tal "revelação", ou sequer na sugestão ofensiva para a individualidade de cada um, e aqui obviamente mais ofensiva para a mulher do que para o homem, de que ela vale mais como parceiro de um "casal", do que pelo seu mérito próprio.

Os jornalistas do Expresso não podiam deixar de saber o que estavam a fazer. Quem conhece os mecanismos da comunicação e a selvajaria deontológica em que está hoje mergulhada sabe muito bem que, quando um jornal de "referência" faz aquele título, abre as comportas a uma enxurrada que, a partir da intromissão de privacidade inicial, normaliza o delito. O Expresso deu legitimidade a que todos pudessem voltar a atenção do seu voyeurismo, do seu machismo, para o "casal", neste caso em particular para a "namorada". E nos últimos dez dias a enxurrada do lixo tablóide aberta pelo Expresso levou outra vez todas as revistas do coração a pegar no mesmo assunto, agora já livres do gueto inicial onde estavam acantonadas e mais à vontade para irem mais longe, e a imprensa séria a colocar-se ao mesmo nível. Hoje [ontem], no momento em que escrevo, a Focus tem como título da primeira página "Conheça a namorada do 1.º ministro", e a procissão ainda vai no adro.

Insisto que não há aqui qualquer elemento de interesse público, nada que justifique que um jornal assim proceda. Não se trata de usar recursos do Estado indevidamente, não se trata de passar segredos a uma potência estrangeira, não se trata de cometer qualquer crime, trata-se de se viver como se pretende, mesmo tratando-se do primeiro-ministro, que sempre foi reservado na sua vida privada, e da "namorada", que não sei se o é ou não nem isso me interessa, que também tem sempre preservado as suas relações da curiosidade pública. Trata-se de duas pessoas que não podem em nenhuma circunstância ser acusadas de se andarem a exibir e, bem pelo contrário, pretenderam sempre defender a sua privacidade com a máxima reserva e a quem esta exposição forçada e gratuita notoriamente incomoda. Isso deveria ser respeitado, mas não é.

O facto de ter sido o Expresso a trilhar este caminho revela uma tendência preocupante da comunicação social portuguesa para desrespeitar direitos de privacidade (já quase todos violados repetidamente pelas revistas cor-de-rosa) e da intimidade (violados no mundo do espectáculo e da televisão, muitas vezes com o consentimento dos próprios, que encontraram na exposição da sua privacidade um modo de vida, mas que é só uma questão de tempo até chegar a todos, queiram ou não).

A banalização da violação da privacidade e da intimidade vive do conúbio entre o novo mundo das revistas do coração, cada vez mais agressivas, com a generalização das fotografias tiradas na via pública sem autorização por paparazzi e "cidadãos-jornalistas-tablóides", e a progressiva infecção destas práticas pela imprensa séria, daí a importância do título do Expresso. Neste processo participam muitos voluntários do mundo do espectáculo e cada vez mais gente de outros mundos, inclusive da política. Fazem mal, e quase sempre arrependem-se, tendo muitas vezes que fazer o exercício público de arranque da pele da tatuagem em que escreveram, como num cartaz, o nome do amor eterno que durou um mês.

A verdade é que ainda há muita gente para quem a defesa da privacidade e da intimidade são elementos essenciais da sua dignidade e da dignidade dos outros, muita gente que se respeita a si próprio para gostar de ter e viver no seu espaço de liberdade. Estou a imaginar o encolher de ombros e o sibilino, "devem ter alguma coisa a esconder...", pretendendo-se criminalizar a defesa da privacidade, atribuindo-a sempre um mundo de culpa clandestino. Mas é isso mesmo, têm alguma coisa a esconder para poderem ter liberdade de viver como querem, para serem senhoras da sua vida. São cada vez mais uma minoria em extinção, face aos maus hábitos das gerações antigas habituadas à coscuvilhice e ao boatério e das mais novas que praticam a "aldeia global" com todos os inconvenientes da "aldeia", onde todos se conhecem. As gerações do telemóvel e da Internet anónima crescem sem qualquer respeito pela privacidade e intimidade, como se vivessem num reality show. São eles que não perceberam que, ao aceitar um telemóvel com GPS ou com vídeo, aceitam ser controlados com eficácia. Não querem saber, cresceram assim, ninguém os educou para a reserva de si próprios. Serão excelentes clientes para os psiquiatras, quando tiverem dinheiro para os pagar.

Uma sociedade em que haja um putativo direito de saber tudo e em que ninguém tenha o seu espaço de intimidade e privacidade defendido, mesmo admitindo uma restrição razoável por razões de interesse público, e só por essas, para os detentores de cargos electivos, é uma sociedade totalitária. Nos últimos dias deram-se mais alguns passos para que, na cultura comunicacional dominante em Portugal, a dignidade do indivíduo fique mais frágil, assim como a liberdade de todos.

(No Público de 26 de Outubro de 2006)

*
Estamos cada vez mais pobres. Mais embrutecidos pela imprensa cor de rosa/marginal que alimenta sonhos de dona de casa frustrada e dependente de "factos" que não a obriguem a olhar o seu "EU". O Expresso foi o meu refugio de fim de semana. Ainda me recordo da frase "não hé sábado sem sol ou Expresso". Mas modificou-se, adulterou-se, vendeu-se ao facilitismo. Será que tem saudades do Independente e quer seguir as suas pisadas? O Sol também foi uma decepção. O que nos resta para ler? ONde vamos poder ler NOTICIAS de interesse. Alguém que nos acuda. Casal Sócrates? Acha respeito pelo outro se quer ser respeitado. Expresso:Amén.

(Fortunata de Sá)

*

Agora referindo-me c/ propriedade ao seu artigo no Público, será de mencionar:

1) Toda a imprensa dita séria tem vivido em concubinato c/ a dita cor-de-rosa.
Como noutras áreas da “aldeia global” da comunicação as fronteiras diluem-se.
Há uns anos o Expresso referia-se à actualmente futura ex-esposa de Paul Mccartney como “aquela que conseguiu engatar o ex-Beatle”. Isto diz tudo.

2) Quanto aos actores, podem-se dividir entre os “voluntários”, os “voluntários à força” e os “involuntários”. Os primeiros vivem disso e p/ isso e raramente se arrependem. Muitas vezes o deixar de ser “perseguidos” por essa tipo de “notícias” (como vimos no ponto anterior esbate-se a diferença entre tipos de imprensa, pelo que temos que distinguir o tipo de “noticias”) é a sua “morte” social e financeira. Os segundos são aqueles cuja profissão / actividade obriga uma exposição pública (políticos, artistas, desportistas, empresários, etc.) e que muitas vezes necessitam de expor a sua privacidade p/ se promoverem e promover a sua actividade. O voyarismo do público faz c/ que a exposição da privacidade seja um chamariz / promoção do seu produto / actividade c/ consequências nas respectivas “vendas” (isto inclui votos no caso de políticos) . Esta tentação de “vender a alma ao diabo” às vezes paga- se cara quando aqueles a quem se vendeu uma parte da alma querem o resto, mormente passar da privacidade p/ a intimidade. Os terceiros são aqueles que fazendo tudo p/ manter em publico apenas aquilo que é estritamente público e se vêem enredados na teia da invasão da privacidade ao menor “deslize”. Muitas vezes esse ataque tem claras intenções de denegrir alguém que não alinhou c/ o sistema. Outras a sua defesa da privacidade tornou esta num bem bastante precioso e cobiçado pelos que vendem a privacidade alheia, dado que o público voyeur está desejoso de saber algo sobre a privacidade dessa personagem que não se expõe. Assim à primeira oportunidade entram pela mínima brecha (ou em ultimo caso froçam a entrada).

3) Uma vez que quer os “voluntários” quer os “voluntários à força” se fazem passar por “involuntários” p/ se vitimizarem e assim se valorizarem, o jogo de sombras está montado. Muito boa gente já foi descoberta a vender “reportagens” s/ a sua vida privada enquanto choravam lágrimas de crocodilo pela privacidade violada, mas muitos continuam por descobrir.

4) Mas no fim a culpa é sempre do público que consome estas “notícias”. No dia em que deixarem de as consumir e no dia em que as suas decisões de “compra”
(de discos, de livros, de espectáculos, de telenovelas, de “votos”, etc) deixarem de ser influenciadas pela maior ou menor exposição da privacidade das figuras públicas, todo este teatro de sombras fecha. Até lá cumprir-se-á a velha máxima do mercado livre, enquanto houver compradores aparecerão vendedores p/ manter a procura satisfeita e realizarem os respectivos lucros.

É a lei da oferta e da procura no seu estado puro.

(Miguel Sebastião)

*

Isto tudo parece ser complicado. Até onde deverão conter-se os elementos do casal para evitar não dar azo às notícias dos tabloides? Deverão eternamente viver em clausura? Nunca assumir essa relação? Então pelo facto de um dia irem jantar juntos a um bar in de Alcântara e serem fotografados aí por algum curioso com telemóvel que logo a remete a imagem a um jornal, estão por isso, a partir daí, sujeitos a toda a devassa? E se esse jantar for num restaurante mais discreto, escondido num dos subúrbios? Faz diferença? Diz-se por vezes (pessoas tidas por sensatas o afirmam) "eles colocaram-se a jeito", logo não podem estranhar uma vez que são pessoas públicas. Há essa ideia. E até parece num ponto ou noutro do seu texto que defende isso. Pelo menos indirectamente.
A verdade é que não existe critério para determinar a partir de que momento uma pessoa é de notoriedade pública. Em última análise somos todos figuras públicas. Se tivermos o azar de ser interpelados na rua por um canal de televisão para nos perguntar se concordamos com as touradas, tornamo-nos ou não figura pública? Respondo eu: Depende do meu critério. Exclusivamente.
Melhor mesmo é as pessoas "não se porem a jeito". Porque não se tornam eremitas? Penso melhor: Mesmo assim um eremita poderia vir a ser uma figura pública. Parece então não haver fuga.

(Fernando Barros)

*

Em primeiro lugar, a expressão "casal Sócrates" usada pelo Expresso já seria em si mesma um risível abuso. Não há nenhum casal. Há um PM, com opiniões muito "noticiáveis" sobre o aborto. Há uma jornalista activista do tema, com opiniões menos "noticiáveis" sobre o assunto. Mas o que há entre os dois, se há, é com eles e o Expresso não tem nada com isso.

Ao noticiar o assunto nos termos em que o fez, o Expresso ganhava das duas formas: ou a a notícia se confirmava e o Expresso acertava; ou não se confirmava (como veio a suceder, uma vez que não houve nenhuma "campanha" e muito menos" conjunta") e o Expresso ganhou na mesma porque colocou o assunto na agenda. Para seu próprio benefício e de toda a imprensa, que estava "mortinha" por deitar as mãos a este assunto.
Foi por estas e por outras que o Expresso há muito deixou de ser o meu jornal.

(José Moreno)

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RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL



(Artur Pastor)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 27 de Outubro de 2006



Ontem, o Momento-Chavez do Primeiro-ministro foi junto dos militantes do PS no Algarve, no dia anterior no Forum das PME. Qual será o de hoje? Sempre o mesmo esquema: palco controlado, plateia atenta, veneradora e obrigada, discurso firme e vigoroso, sempre adversarial. Sócrates tem sempre inimigos: os governos anteriores, o PSD, Marques Mendes (ele leva Marques Mendes mais a sério do que os jornalistas e o PSD), as corporações, "eles". Câmaras de televisão de frente, primeiro plano para Sócrates, frases fortes escolhidas a dedo e preparadas para a televisão, não para os interlocutores de circunstância que são parte da decoração. Sem perguntas, sem contraditório, sem nada que perturbe o cenário montado.

Quantas vezes já vimos isto nos últimos meses? Muitas. Os anteriores bons manipuladores da televisão parecem meninos de coro (Cavaco fazia o mesmo, mas com muito menor eficácia e nem Lopes, nem Barroso, nem Guterres se comparam). Havia também outras hostilidades da "classe", contra Cavaco, contra Lopes, contra Guterres na fase moribunda, que parecem ter-se desvanecido. A diferença é que Cavaco, Guterres, Barroso e Lopes, ainda estavam na infância da arte. Entretanto, os órgãos de comunicação social já deviam ter evoluído na sua percepção de como se faz propaganda moderna. Mas não, passam acriticamente a encenação. Sejamos justos: uns mais que os outros.

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EARLY MORNING BLOGS

895 - Fête galante

Les hauts talons luttaient avec les longues jupes,
En sorte que, selon le terrain et le vent,
Parfois luisaient des bas de jambes, trop souvent
Interceptés! - et nous aimions ce jeu de dupes.

Parfois aussi le dard d'un insecte jaloux
Inquiétait le col des belles sous les branches,
Et c'étaient des éclairs soudains de nuques blanches,
Et ce régal comblait nos jeunes yeux de fous.

Le soir tombait, un soir équivoque d'automne:
Les belles, se pendant rêveuses à nos bras,
Dirent alors des mots si spécieux, tout bas,
Que notre raison, depuis ce temps, tremble et s'étonne.

(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

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26.10.06


RETRATOS DO TRABALHO EM BARCELONA, ESPANHA



Trabalhos de remodelação na Fundação Joan Miró, em Barcelona.

(António Filipe Meira)

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INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO, incluindo as bibliografias.,

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER
COMO O PCP NÃO CONSEGUE FAZER A SUA PRÓPRIA HISTÓRIA

(Versão completa em ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.)

Para comemorar o 70º aniversário da criação do campo do Tarrafal, a editorial do PCP, as Edições Avante!, publicou um Dossier Tarrafal. Nesse volume, sem autoria a não ser a da Editora, o que quer dizer de autoria da direcção do PCP, são incluídos documentos conhecidos como também outros inéditos. Como a publicação de documentos inéditos oriundos dos arquivos do PCP não abunda, foi com muito interesse que li este volume. Infelizmente confirmei na sua leitura que o PCP não consegue ultrapassar a sua enorme dificuldade em contrariar as versões oficiais da sua história, destinadas à sua legitimação política, e qualquer política de publicação de documentos inéditos acaba por ser muito restritiva para não entrar em contradições com essas mesmas versões oficiais.

É o caso deste volume, aliás feito sem grandes cuidados de rigor, sem notas e omitindo muita informação de enquadramento que podia valorizar o que de inédito lá se publica. Grande parte do volume é constituído por documentos já conhecidos ou publicamente acessíveis – artigos do Avante! e testemunhos de antigos presos do Tarrafal – a que são acrescentados dois grupos de inéditos: “diários” do Tarrafal, escritos por presos não identificados, e peças da correspondência entre a Direcção da Organização Comunista do Tarrafal e a direcção do PCP, representada por Álvaro Cunhal. Sabia-se da existência destes documentos nos arquivos do PCP, como aliás de outros que continuam a ser escondidos, mas o partido não permitia o seu acesso à investigação histórica.

Como é habitual nas publicações do PCP é a perspectiva repressiva-heróica que domina o volume, o que se compreende no seu papel de denúncia, mas acrescenta muito pouco à história do Tarrafal, e ainda menos à história dos comunistas no Tarrafal, apenas uma parte dos seus presos. Do ponto de vista do detalhe sobre as condições prisionais, sobre as violências cometidas pelos carcereiros, sobre a devastação causada pela doença e pelos maus tratos, os “diários” oferecem mais detalhes que permitem conhecer melhor o aspecto de extrema punição, quase exterminista, que o campo de concentração tinha. Basta ver como a doença matava em três a cinco dias: “6- apareceu uma biliosa ao Damásio Martins Pereira; 11 – faleceu o Damásio”; “Deu um ataque ao Vale Domingues que faleceu uns minutos depois”, etc., etc. Este aspecto, como o seu reverso, a luta dos prisioneiros para conseguir concessões da direcção do campo, fica a conhecer-se melhor com a publicação destas fontes primárias.

Mas tudo o resto fica na mesma, em particular tudo o que tenha a ver com a política, quer entre os comunistas e os outros grupos de presos, em particular, os anarquistas, quer entre os diferentes grupos em que os comunistas se dividiram bem como sobre a sua complexa relação com o PCP na metrópole. Aí os documentos inéditos escolhidos foram seleccionados a dedo para não se saber mais, e a habitual política de ocultação e falsificação da história do PCP continua de vento em popa.

O que falta é abissal. No período da existência do Tarrafal toda uma série de polémicas e discussões, divisões, anátemas e expulsões, atravessou quer a OPC quer o PCP continental, e sobre isso nada de novo é acrescentado, embora os documentos fundamentais e politicamente relevantes estejam nos arquivos do PCP. É verdade que o editor informa que apenas “algumas”, uma “selecção” de cartas da correspondência entre a OPC e o Secretariado são publicadas. Mas que sentido tem continuar a pretender manter em segredo aquilo de que já se sabe, pelo menos em linhas grossas? Nem uma linha sobre as polémicas entre anarquistas e comunistas sobre a atitude a manter face às autoridades no Tarrafal, nem uma linha sobre os debates à volta do Pacto Germano-Soviético e as propostas que Bento Gonçalves fez ao sabor das reviravoltas da política da URSS, nem uma linha sobre que papel teve a OPC no desencadear da “reorganização”, nem uma linha – e aqui a omissão é gritante – sobre a chamada “política de transição”, cuja crítica por Cunhal fundou ideologicamente o PCP até aos nossos dias. Estas omissões grosseiras diminuem significativamente o interesse deste volume e mostram que o PCP continua incorrigível a tentar tapar com o seu dedo o conhecimento da sua história, da nossa história contemporânea.

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RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL



Pormenores são os 2 euros a dúzia por que alguns transeuntes fazem caretas e os novos cartuchos em substituição dos velhinhos cones de páginas amarelas ou quartos de folha de jornal, afinal formas de reutilização do papel...

(António Marrachinho Soares)

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COISAS DA SÁBADO: MANIFESTAÇÕES



Está na moda desvalorizar os sindicatos e as manifestações. É um pouco bizarro, bem vistas as coisas, que num país onde há tão pouca participação cívica, se dê mais importância ao enclausuramento de quarenta “artistas” temerosos pelos seus subsídios, do que a setenta mil pessoas na rua. Também, bem vistas as coisas, pode-se sempre dizer que “é o Partido Comunista” e, em grande parte, é. Só que, também, bem vistas as coisas, era suposto que o PCP já não fosse capaz de juntar tanta gente. Nem o PCP nem as “corporações”, o modo como agora erradamente se descrevem os sindicatos.

Tudo isto é cegueira, e cada qual toma a que quer. É verdade que a resistência que se encontra nas ruas é resistência á mudança, mas para muitos é a “sua” resistência à mudança e não apenas a do PCP ou da CGTP. Não estariam lá tantas pessoas se não fosse assim. Quanto às corporações é verdade que o seu poder é grande em muitas áreas do estado. Na saúde, na educação, nas profissões liberais como os médicos, advogados e farmacêuticos. Enquanto o Sindicato dos Professores mandar no Ministério da Educação por dentro estamos perante uma “corporação” que deve ser de lá tirada. Mas, cá fora, o Sindicato dos Professores ou qualquer outro, como sindicato e não como detentor de poderes “corporativos”, é um elemento fundamental da saúde de uma sociedade democrática. Convém não atirar fora o menino com a água do banho.

(Na Sábado de 18 de Outubro.)

*

Ainda bem que esta’ na moda desvalorizar sindicatos. Quer dizer que o povo portugues esta’ finalmente a acordar para a realidade de um mundo global, de uma economia global e para o facto de que os patroes que tratavam os empregados ao pontape’ sao uma coisa do passado. A sociedade em que vivemos evoluiu moralmente desde o virar do seculo, quando os sindicatos foram pela primeira vez criados. Nessa altura sim, as condicoes de trabalho eram horriveis e os trabalhadores necessitavam de defesa. Hoje em dia, isso ja’ nao existe.

Por vezes confesso que nao percebo em que planeta vive a UGT, CGTP, BE e PCP, penso que vivem num mundo qualquer alternativo, numa outra dimensao em que as suas fantasias marxistas tem de ser satisfeitas.

A economia do sec. XXI e’ diferente da economia protecionista do anos 80 e 90, a China e India estao a crescer a um ritmo alucinante, os empregos do passado em fabricas, que duravam 20-30 anos com pensao, regalias etc sao coisas do passado. Os trabalhadores tem de aceitar esta realidade porque ela esta’ ca’ para ficar!! Nao interessa o que a UGT, CGTP e outros tolinhos pensam. A economia mundial mudou e nos todos (sindicatos inlusive’) temos que no adaptar. E’ necessario mais e sobretudo melhor educacao, mais anos de escola, e’ preciso que se perceba que sem uma boa educacao, entao mais vale encostar ‘as boxes ou emigrar. Mas melhor educacao nao significa mais dinheiro do estado para educacao, e’ sobretudo preciso re-educar comportamentos, aumentar propinas para que os estudantes tomem a educacao a serio e nao a brincar e a beber como o fazem hoje (os tais engracadinhos das praxes que o JPP tao bem fala). E’ tambem preciso premiar os bons estudantes secundarios, dar-lhes bolsas de estudo universitarias. E’ tambem preciso limpar as universidades dos engracadinhos que demoram 10 anos para finalizar um curso, na Suica, Canada e EUA so’ se pode chumbar 1 vez, e depois adeus.

E’ tambem preciso avaliar professores, sem duvida concordo com Socrates nisto. Ha’ professores completamente inuteis, que nao tem qualquer interesse em educar e em motivar os estudantes. Querem apenas o salario e nao serem chateados. Isto tem de mudar ja’!! Nao pode esperar, nao pode esperar pela “aprovacao dos sindicatos”, caso contrario ficamos na mesma.

O mundo mudou e os sindicatos estao a emperrar a mudanca. Os sindicatos tem de mudar ou de preferencia tem de desaparecer.

(Carlos Carvalho)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A ESCOLA QUE TEMOS



Estive a trabalhar até agora na correcção das provas escritas dos meus alunos e terei de continuar até um pouco mais tarde para alinhavar algumas aulas da próxima semana. Fiz portanto um intervalo.O meu horário apesar de conter apenas 26 horas marcadas não me permite fazer um uso útil das que não estão e supostamente serviriam para este trabalho. São verdadeiros buracos no horário que me obrigam a permanecer na escola sem condições para fazer o que devo fazer e que não são contabilizadas para trabalho de escola. Tenho também 90minutos para apoio aos meus alunos, os que apresentem mais dificuldades. Pena é que entre o pedido de autorização aos pais e a efectivação do apoio teremos chegado ao final do primeiro periodo. No segundo período e partindo do principio que os pais autorizam os seus educandos a terem mais umas quantas horas no já denso horário dos seus filhos irão para uma sala onde estão cerca de 10 professores com as mesmas atribuições. Cerca de 20% (tenho sorte) dos meus alunos irão necessitar mais tarde ou mais cedo de apoio que será prestado nesta sala. Não é preciso ser matemático para perceber que nesta sala não podem estar tantos professores e alunos até porque não há condições para realizar o trabalho nem acomodar tanta gente.

No caso de um professor não prescrever as medidas necessárias à correcção dos desvios às aprendizagens previstas estará em falta. Não se justifica a retenção destes alunos pois devem ter apoio caso necessitem devendo o professor avaliar atempadamente e pôr em prática as medidas necessárias- é um direito dos alunos que não questiono.

Tudo isto está certo. Desta forma 75% dos meus alunos transitam por mérito próprio e os restante 25% também. Pois terão aulas de apoio de modo a adquirirem as "competências" necessárias a transitarem. Tudo fruto da competência do responsável, o docente, que de outra forma não é tido como competente.

Neste dia a dia nas escolas percebo uma coisa muito simples: a necessidade de resultados. Bons resultados permitem subir uns lugares no ranking dos países mais competitivos. Talvez por isso hoje estejam a ser criadas secretarias que passam diplomas de 12º ano. Um ano em que muito estudei e aprendi e onde quem não estudava não passava. Essa autonomia e capacidade de desenrascanço perante um sistema menos atento então permitia crescer e desenvolver a capacidade de resposta perante as dificuldades que encontrávamos como alunos. Também tive maus professores e isso nunca foi desculpa para pôr os livros de lado, pelo contrário. Quem não trabalhava "chumbava".

Hoje com a proletarização dos licenciados urge não reter pessoas que apesar de não saberem ler ao fim de 9 anos de escolaridade têm de saber que a matéria é discreta e que as fases de Vénus evidenciam um sistema dito heliocentrico. Não é uma situação economicamente viável- o que também acredito.

Hoje sou a par dos educadores dos jardins Infantis, que muito respeito, medido a resultados. O triste disto é que estudei a matemática de Newton e introduzo aos meus alunos conceitos como a fusão e fissão nuclear, a formação do Universo como as provas encontradas tornam este modelo aceitável, o que a é ciência, falo das teorias de Einstein e como estão presentes no GPS e porquê, de conceitos que embora simplificados exigem uma actualização permanente cada vez mais difícil de fazer. Não vale a pena falar e trazer para aqui outras competências minhas nas áreas das didácticas específicas da Química ou da Física onde aprendemos a dar a volta às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Também as "novas" tecnologias com a utilização dos computadores em sala de aula e a exploração de modelos matemáticos, sensores diversos são correntes nas aulas. Além disso transporto o livro de ponto de sala em sala, lavo material de laboratório quando a funcionária não está (felizmente temos na nossa escola funcionária com essas funções), faço as matriculas dos alunos, tuturia, avaliação e organização da formação na escola etc. No entanto a bitola é a mesma para todos e serve um único objectivo: resultados. Aos olhos da sociedade não sou diferente do educador infantil.

É esta a escola que temos. Não é nova, não está em remodelação nem será melhor, mas teremos a curto prazo melhores resultados. Subiremos um ou dois lugares no ranking da competividade. E isso é importante atrai investimento, com ele emprego que embora precário e transitório dá de comer. (...)

(Carlos Brás)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: PARABÉNS AO ESPÍRITO

http://marsrovers.jpl.nasa.gov/gallery/press/spirit/20061025a/mcmurdo_MiplAtc_colorglyph2-A814R1_br2.jpg

que fez mil sols.

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COISAS DA SÁBADO: REFORMAS OU DINHEIRO PARA DIMINUIR O DÉFICE?



Como todas as avaliações finais são supostas serem feitas no momento do exame, quando de novas eleições, pode-se sempre estar a julgar erradamente quando se avalia a meio. No entanto, penso não me enganar repetindo aquele que me parece ser o mais clamoroso erro do governo, mas também de quem lhe bate palmas a mais ou o exorciza totalmente. Está o governo a fazer reformas de fundo ou apenas a traduzir medidas pontuais que “tem” que tomar para controlar o défice numa retórica de reformas? Esta parece-me ser a questão central para avaliar o governo Sócrates.

O pano de fundo da questão tem a ver com as condições excepcionais de governabilidade que este governo tem: maioria absoluta, partido socialista domado pelo poder, oposição muito enfraquecida, consenso alargado na opinião pública muito para além das fronteiras partidárias. Ter tudo isto em Portugal é um milagre, pelo que se espera que o miraculado mostre excepcionais virtudes. Depois, para além do pano de fundo, há que julgar a linguagem e as medidas concretas, a retórica política e a capacidade de realização, e fazer um balanço.

A retórica política do governo é reformista-autoritária, associada a progressivista-tecnológica. Usando estes pares de conceitos consegue-se perceber quase tudo do governo Sócrates. Deixo aqui o lado progressivista-tecnológico e fico pelo primeiro par, o reformista-autoritário e a retórica respectiva. Aqui, analisando medida sobre medida, é óbvio que o que se pretende a muito curto prazo é controlar o défice, cortar onde for preciso e arranjar mais dinheiro. É isto que tem sido considerado reformista na acção do primeiro-ministro e merecido um apoio mais vasto do que o do PS ao governo.

Ora, é aqui também que me parece dever-se ser muito prudente, porque se há de facto medidas com o objectivo de cortar dinheiro, associada a medidas ainda mais duras, para arranjar mais dinheiro, não parece que se vá para além da emergência pontual, numa via que não devia ser chamada de reformas porque o não é. Fica aliás a suspeita consolidada de que, se não fosse o aperto financeiro da União Europeia, o governo socialista procederia de forma bem diferente. Basta ver as medidas que podiam ser tomadas e não o foram nem são, como as ligadas a uma reforma mais estrutural e menos conjuntural na segurança social, ou a intocabilidade de alguns monstros como as SCUTs, para se perceber que não há um plano reformista de conjunto, mas sim medidas pontuais cuja eficácia está por demonstrar para além do muito curto prazo.

É por isso que a retórica governamental encalha quando defronta adversários que tem poder para resistir, como acontece com os autarcas. O governo bem pode valorizar os méritos estruturantes da nova legislação sobre as finanças locais, que os autarcas não têm dificuldade em desmontar aquilo que são estratégias para poupar e que seriam mais facilmente aceites se não fossem envolvidas numa retórica reformista-autoritária. O problema é idêntico na saúde e na educação, pelo menos em parte. Se a retórica fosse de emergência nacional, dizendo com clareza que as medidas se destinam a resolver um problema urgente de adequar as nossas despesas à imposição do défice, as pessoas aceitariam mais facilmente porque as faziam participar num sacrifício colectivo. Aí haveria apenas que mostrar que a crise é para todos, para o que também há um retórica própria que o governo conhece bem porque a ensaiou.

Assim, as pessoas são confrontadas com falsas reformas apresentadas como sendo contra “eles”, como sendo virtuosas e salvíficas, quando todos percebem muito bem que se destinam a apenas a obter mais poupanças ou mais dinheiro à custa não só do seu pecúlio como da sua imagem profissional e pessoal. E isso valeria a pena se se tratasse efectivamente de domar fortes corporações, para fazer uma nova configuração da relação entre o estado e os cidadãos, o que manifestamente não é o caso, porque quase tudo vai ficar na mesma, embora mais pobre e mais zangado. Mas foi este o caminho que Sócrates seguiu desde o início e que começa agora a mostrar os seus efeitos perversos.

(Na Sábado de 18 de Outubro.)

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EARLY MORNING BLOGS

894 - The Weather in Verse

http://www.loc.gov/exhibits/ukiyo-e/images/8530s.jpgThe undersigned desires, in a modest sort of way,
To make the observation, which properly he may,
To wit: That writing verses on the several solar seasons
Is most uncertain business, and for these conclusive reasons :

In the middle of the Autumn the subscriber did compose
A sonnet on November, showing how the spirit grows
Unhappy and despondent at the season of the year
When the skies are dull and leaden, and the days are chill and drear.

Perhaps you may recall to mind that, when November came,
No leaden skies nor chilly days accompanied the same ;
But the weather was as balmy as in Florida you'd find,
And that sonnet on November was respectfully declined !

(...)

And for these conclusive reasons it is obviously plain
That verses on the weather are precarious and vain ;
And the undersigned would only add, so far as he can see,
The trouble's not the metre, but the meteorology !

(Marc Cook)

*

Bom dia!

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25.10.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
«When the going gets tough, the tough gets going!»



O Ministério das Finanças apurou um «buraco» de 365 milhões de euros nas contas da empresa Estradas de Portugal EP, que faria aumentar o deficite do OGE de 4,6 % para 4,8 % . Teixeira dos Santos. Ministro das Finanças solicitou então ao Ministro das Obras Públicas Mário Lino para adiar para 2007 o lançamento de vários concursos para construção de novas vias e parar obras actualmente em curso. No entanto o orçamento de 535 milhões de euros da Estradas de Portugal previsto para 2007 é claramente insuficiente para cobrir a totalidade das rendas das SCUT orçadas em cerca de 705 milhões de euros, mesmo contando com as receitas geradas pelas portagens anunciadas para as três SCUTs do norte do país.

Neste contexto a Estradas de Portugal necessitaria de um orçamento de cerca de 1,2 bilhões de euros para pagar as rendas das SCUTs e lançar as obras anunciadas e diferidas para 2007. Na actual balbúrdia governativa que passou por ministros a anunciarem infantilmente o fim da crise «por decreto», a responsabilizarem os cidadãos pelos anunciados aumentos da electricidade, a anunciarem o lançamento de taxas moderadoras nos internamentos hospitalares e o aumento das prestações sociais de pensionistas e deficientes, a CICI - Central de Inspecção e Controlo lançada por Sócrates para filtrar e seleccionar as declarações institucionais dos respectivos ministros não foiu de todo eficiente na sua operação propagandística. De todo...

Contra tudo o que foi prometido e garantido por Sócrates em campanha eleitoral aí estão as primeiras SCUTs com o anuncio de introdução de portagens reais, sem uma declaração explicando aos cidadãos o porquê da inversão da política governativa, nem desculpando a quebra de promessas e garantias. José Sócrates «deu às de vila Diogo», pura e simplesmente volatilizou-se deixando os seus ministros com o ónus das justificações e explicações. Este será talvez, tudo o leva a crer, o princípio do fim das SCUTs e o inicio, pé ante pé - como convém para minimizar os estragos - da introdução do princípio do conceito utilizador-pagador, reconhecendo que 705 milhões euros anuais em portagens são orçamentalmente insustentáveis sem o agravamento correspondente de impostos.

A demagocia e hipocrisia de Sócrates está bem à vista.: «when the going gets tough, the tough gets going!». Nem mais...aplica-se que nem uma luva !

(António Ruivo)

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RETRATOS DO TRABALHO EM BEIJING, CHINA



Trabalho marcial em Pequim, Outubro de 2006

(Luis Azevedo Rodrigues)

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24.10.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 24 de Outubro de 2006


Tinha acabado de escrever uma nota para a Sábado sobre a falência crítica de muita comunicação social face à manipulação oriunda do governo e do Primeiro-Ministro, de maior gravidade nos órgãos públicos como a RTP, quando vejo os noticiários das 13 horas da RTP e da SIC. Há sempre quem, quando se critica o governo, peça muitas provas que noutras circunstâncias acha desnecessárias. Aqui vai mais uma: o tratamento da intervenção do Primeiro-Ministro no Fórum das PME pela RTP e pela SIC.

Na RTP, engole-se sem pestanejar o modo como o governo todos os dias (como Chavez, Sócrates actua todos os dias na sua televisão) arranja uns minutos de propaganda - Sócrates a anunciar medidas, solitário face a uma plateia atenta, veneradora e obrigada. O papel do jornalista nesta peça, em que é tão evidente que o discurso que passa é só propaganda (este caso é tão explícito que não oferece dúvidas), é repetir em seguida o que aquele disse. O Primeiro-Ministro lá está ao fundo, a cumprimentar uns notáveis, enquanto a propaganda ganha uma nova dimensão ao ser repetida pela voz do jornalista. Nem uma pergunta, nem uma curiosidade, nem nada. O homem entrou vestido de redoma e vai-se embora de redoma vestido, que a RTP acha bem. Na SIC, o jornalista bem tenta perguntar ao Primeiro-Ministro sobre a greve anunciada da função pública e sobre as notícias do incumprimento da lei das finanças partidárias (a ele que é o secretário-geral do PS), e ele foge protegido por uma pequena multidão em silêncio, virando as costas.

Diferenças.
*
Concordando inteiramente com o teor do que escreve sobre o (não)desempenho profissional dos jornalistas da RTP face ao Governo e à sua máquina de propaganda, e particularmente perante a “vaca-sagrada” que é hoje o Primeiro-Ministro para muitos meios de comunicação social, permita-me que lhe faça notar que a comparação com o Sr. Chávez da Venezuela é excessiva. Todos os Domingos, durante 6 a 8 horas, o homem tem direito a um programa televisivo na maior cadeia de TV daquele país (“Hola Presidente”, ou algo parecido), onde em directo o homem perora sobre o mundo, os inimigos, os traidores, a economia (maravilhosa), os EUA (imperialistas) a vida do pai, a história da mãe, a qualidade da colheita de laranjas deste ano e, de passagem, sobre a sua extraordinária personalidade de estadista. Penso que ainda não chegámos a esse ponto. Julgo, aliás, que não chegaremos. Temos em Portugal, felizmente, mecanismos formais - e sobretudo informais, como a opinião escrita, os blogues, etc. - que vão estabelecendo limites, precários é certo, mas social e culturalmente enraizados, que nos afastaram definitivamente dessa espécie de “Conversa em Família” populista, um anacronismo até no contexto latino-americano, que é o estilo e a essência (fundem-se, na verdade) do oligarca venezuelano.

(Manuel Margarido)

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Já que nele insiste, falemos então desse tema que lhe é tão caro: a governamentalição. Ou, neste caso, da "camaralização". Aqui há umas semanas, a SIC, montou arraiais na Avenida da Liberdade durante, pelo menos, um dia inteiro, por ocasião do seu aniversário, ficando essa via interrompida. Questiono com que direito um privado toma para si uma avenida importante da capital. E mais: Pode-se arrendar uma avenida? Onde está o preçário das avenidas de Lisboa (espero que aos dias de semana seja mais caro...)? Posso eu, no meu aniversário, arrendar a Rua da Betesga ao Rossio? A TVI também pode ocupar as avenidas de Lisboa (por falar em 'okupas'...)? Como se isto não fosse ridículo, junta-se o facto de a sede da SIC ser noutro concelho... Quando vi isto, só me ocorreu a filmagem de um certo aperto de mão recusado. Proponho o seguinte movimento para a blogosfera: Queremos o preçário das avenidas de Lisboa!

(Eduardo Proença)

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Não sei se reparou, mas na peça do jornal da tarde da RTP de 23 de Outubro, sobre a revolta húngara de 1956 (que veio imediatamente a seguir à já referida peça da "extrema-direita" húngara) a palavra "comunista" não foi usada uma única vez. Um malabarismo lexical assinalável. Já o colega António Esteves Martins não está com rodeios: tudo o que não é socialista é de "extrema-direita".

(paulo salvador)

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PARA UM DEBATE SOBRE A "RIVOLUÇÃO"



1. O ESTADO COMO ÁRBITRO DO GOSTO E DA QUALIDADE CULTURAL

Acta de reunião da Comissão de Apreciação do Concurso para Apoio a Projectos Pontuais no âmbito das Actividades Teatrais de Carácter Profissional, de 11 de Abril de 2006:
"Entendeu ainda a comissão recomendar uma revisão da ponderação dos diversos critérios que são tidos em conta na classificação dos projectos. Com efeito, o regulamento actualmente me vigor contempla sete critérios dos quais três, apenas, com a classificação de 0 a 10, incidem sobre a qualidade e sustentabilidade artística dos projectos, correspondendo-lhe assim um total de trinta pontos (de cada membro) em 55 pontos atribuíveis. Os restantes quatro critérios incidem sobre aspectos que se prendem sobretudo com a vertente da produção executiva (públicos e comunicação) e com a vertente administrativa e financeira (orçamento, parcerias e apoios), sendo pontuados com um máximo de 25 pontos nos 55 pontos atribuíveis. Sem descurar a vertente da produção e da administração, entende a comissão que os aspectos artísticos deveriam contar com um peso de cerca de dois terços, ou seja, não 30, mas 40 pontos, reduzindo os outros quatro critérios para 20 pontos, ou seja, cerca de um terço. Caso contrário, o concurso traduz-se mais num concurso a projectos com boa produção e administração do que a projectos com elevada qualidade artística."
(Sublinhados meus.)

2. QUANDO OS "PÚBLICOS" NÃO SÃO TIDOS EM CONTA

Retomando o tema da programação cultural do País, e especialmente do Porto, e do 'completo "divórcio" entre a cultura subsidiada e o público', interessará talvez analisar alguns números sobre os espectáculos musicais previstos para o mês de Outubro, nesta cidade.

Somando os espectáculos musicais do Coliseu do Porto, Casa da Música (apenas Sala Suggia, a principal), Rivoli Teatro Municipal e Teatro do Campo Alegre, temos que nenhum dos grupos actuantes está no top semanal da Associação Fonográfica Portuguesa, apenas 3 deles podem ser considerados "mainstream" (por muito discutível que seja a definição, são apenas estes os grupos conhecidos pela generalidade do público) e o conjunto Música Clássica + Música Barroca representa 48% do total da programação, sendo ainda que estão previstos mais espectáculos de música popular brasileira do que de pop/rock português.

O problema não está em haver um número elevado de espectáculos de música clássica, e uma oferta suficiente de jazz e música barroca, até porque a sua qualidade é inquestionável, com protagonistas como a Orquestra Nacional do Porto. O problema está no desequilíbrio entre a programação tendencialmente mais elitista e aquela que é mais comercial, mais "mainstream", desequilíbrio este muito provavelmente explicado pelo rótulo de "cultura menor" que é colado a tudo aquilo quanto vende um número significativo de CDs.

Não havendo na cidade do Porto salas de espectáculo de dimensão significativa para além das enumeradas, não seria de esperar que, pelo menos essas, servissem também para criar utilidade para uma porção significativa do público portuense, em lugar de o fazerem apenas para minorias? Não será isto, a ausência de uma programação atractiva para as massas, uma razão maior para o progressivo esvaziamento do centro da cidade, que agora tanto se discute?

(Artur Vieira)

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Acredito que este seja apenas mais uma reacção aos acontecimentos que se deram no Porto. Mas penso que nunca são amais.

Neste processo todo que está a ser a privatização da gestão e programação do Rivoli e a sua contestação há muito sumo a tirar.

1-Começando pelas resoluções tomadas.
Desde a criação da Culturporto que o Rivoli se aproximou muito da população porque havia espaço para todo o tipo de espectáculos. Não havia portanto uma exclusividade para apresentações de pequenos grupos ou elites das artes.
Rui Rio quando "entrou" para a CMP consegue, devagar, ir tirando poderes à Culturporto a todos os níveis: financeiros, de decisão e políticos. Consegue, como resultado, tornar o Rivoli numa sala sem programação que só à pouco tempo, com casos flagrantes pela sua dimensão como o fim do Festival de Jazz, o fim do Festival de Marionetas (que finalmente ressurgiu) e os problemas criados ao Fantasporto, se tornou claro!
Tendo-se tornado o Rivoli numa sala sem possibilidades de programação é fácil entender a privatização do teatro para que se consiga encher a casa. Porque é também fácil pensar que uma sala cheia é o resultado imediatamente pretendido (assunto que retomarei mais à frente).
Quando um grupo de pessoas ligado às artes do espectáculo se manifesta, da forma que entendeu melhor (podemos não a entender como melhor, é certo) para que consiga voz, o que se passa então? O presidente toma (continua com) uma posição altiva e remete-se ao silencio nunca prestando declarações – posição que salienta ainda mais a ausência de discussão sobre o assunto ANTES da tomada de decisão da privatização apostando na segurança que a maioria lhe dá. No meu entender uma prova de abuso de poder. O grupo não se fecha no Rivoli mas como não sai é fechado lá dentro e o corpo de seguranças é duplicado (para quê? Com medo de destruição da casa, ou para intimidação? Não sei.). É-lhes dada a responsabilização do encerramento das salas de espectáculo assim como do café e do café concerto, que foi claramente recusada. O grupo fechado nunca tentou impedir o funcionamento do Rivoli e abertamente diz que se podem dar os espectáculos. Luís Represas e a Lions Club da Boavista (a organizadora do concerto de beneficência) não afastaram a hipótese de realizar o concerto, sendo da câmara a responsabilidade de mudar o evento para a Casa da Música.
Mais tarde a câmara cria aquilo a que chamo um cerco medieval, literalmente. Corta o acesso do grupo com o exterior fechando as portas de vidro – até a única frincha de uma porta que fechava mal foi mandada apertar – e a electricidade. Resultado pretendido: era muito difícil a comunicação directa e as baterias dos portáteis e telemóveis acabaram, o isolamento era total. Mais tarde deixa de ser possível passar comida pela porta dos artistas às horas antes definidas cortando depois a agua. Resultado pretendido: a falta de condições de sobrevivência mínimos que dificultassem a manutenção no espaço. (Mas, pergunto-me a pergunta banal por não me lembrar de outra, o que é a democracia afinal e em que ano é que vivemos?). O processo continua e provavelmente novos episódios surgirão.
À parte o Rivoli vemos a CMP, ainda antes deste episódio, legislar ou decretar que qualquer entidade que receba subsídios da câmara não poderá fazer críticas ou afirmações públicas que a ponham em causa.
Penso que não é difícil entender a preocupação que é ter a governar quem toma estas atitudes, e penso que é grave deixar que se tomem decisões desta importância exclusivamente por uma pessoa assim.
Não será ainda legitimo que pessoas ligadas às artes do espectáculo, que trabalham, vivem e pensam na área tenham direito a exigir participação na decisão do futuro de um espaço público? Penso que ninguém, mais do que eles, tem esse direito. Não serão também pessoas das artes do espectáculo credíveis nesse assunto?

2- O que implica e o que se perde com a privatização.
Pensar que a câmara tem gastos com o Rivoli insuportáveis numa altura de contenção e que a "programação atractiva para as massa" vai oferecer a um público maior o que ele quer, leva-nos sem dúvidas a pensar que este é o melhor caminho.
Digo, desde já, que posso estar muito errado, mas, aprofundando um bocado mais o assunto, estes valores podem pesar menos.

Com uma entidade privada a gerir o Rivoli, esta vai querer lucros, é óbvio. Para tal ela já não conta com despesas de aluguer do espaço e de todo o equipamento necessário nem com a agua, a luz, a limpeza, a manutenção e penso que os funcionários pagos pela câmara. Os lucros virão do maior número de pessoas que conseguirão chamar aos seus espectáculos. Já sabemos que para isso tem que haver uma programação que lhes agrade. As artes do palco entram assim no mesmo caminho que a televisão e entramos na discussão que esta criou há muito tempo. A programação está com uma qualidade miserável exclusivamente pela procura de audiências? Será que a qualidade de um programa deixa de ser má quando é "atractiva para as massas"?
Estas e muitas outras perguntas podem formar uma reflexão muito próxima daquela que deve ser feita ao privatizar o Rivoli.
Eu pessoalmente penso que a qualidade da programação televisiva está má devido à procura de audiências e que o facto de um programa ser apreciado por um grande publico não faz dele um bom programa.

Penso também que um serviço publico de artes do espectáculo, ao contrario de um serviço privado, por se afirmar de todos (embora desacredite muito) é um serviço que me permite exigir qualidade e responsabilidades. É um espaço que permite a criação de eventos de todos os tipos e que tem o dever de agradar também às minorias.
Os grupos pequenos podem ser: um grupo que utiliza uma linguagem própria com actividades vulgarmente conhecidas como de difícil compreensão, por isso de um publico de minorias (que geralmente são tentativas da tão afamada quebra de limites ou exploração máxima da área, e expansão de conhecimento que romanticamente se proclamam de vanguardas que com ou sem sucesso são muito importantes); um grupo que está a crescer e precisa de plataformas de projecção; um grupo pequeno que, por reacção, não quer crescer; um grupo simplesmente pequeno.
Todos estes grupos têm valor e são parte de uma máquina de criação que não é exclusiva das grandes produtoras, portanto com direito e dever à sobrevivência. Têm por isso o mesmo direito de exigir do teatro que é municipal uma gestão municipal e sem vista exclusiva nos lucros.

Entendo ainda que o investimento na cultura deve ser a fundo perdido (sem prever retorno de capital, já que existem outros retornos) assim como nas ciências humanas. Os gastos suportados pela CMP no Rivoli são gastos que devem ter em vista um crescimento cultural da população e um enriquecimento do conhecimento. O investimento na cultura não se trata apenas de gastos no entretenimento.

(Nuno Guedes)

*

Relativamente à reacção do Sr. Hélder Sousa ao meu apontamento sobre o desequilíbrio da programação musical da cidade do Porto, tenho a referir o seguinte:

1. É irrelevante para a discussão saber quem gere as salas. Quer seja a CMP, o Ministério da Cultura, a FCT, a Associação dos Amigos do Coliseu, o relevante aqui é analisar a forma como a programação é feita e, no caso concreto do meu texto, o elitismo que lhe está subjacente.

2. O Rivoli Teatro Municipal, não sendo uma sala de dimensões comparáveis ao Coliseu ou mesmo à Casa da Música, é já utilizado para eventos de massas, como algumas peças de teatro, o Fantasporto, e, esporadicamente, alguns concertos, como o que estava previsto de Luís Represas.

3. O Teatro do Campo Alegre, uma sala que, segundo palavras do leitor, "não está de todo preparada para concertos", recebeu, a 18 do corrente, a música folk de Paddy B & Celtic Express.

4. Concordo que os números que refiro pouco acrescentam à discussão, uma vez que não é novidade para ninguém a forma elitista como estão programadas as salas de espectáculos do Porto. No entanto, servem para reforçar essa mesma noção: no Porto, não há programação musical que crie utilidade real para a maioria dos seus habitantes.

5. Sobre a alegada 'vocação' da Casa da Música para se dedicar, apenas e somente, à divulgação da música erudita: é razoável que uma sala daquela dimensão, tendo custado à cidade e ao País aquilo que custou, seja utilizada apenas para um fim que beneficia, e bem, pequenas faixas da sociedade, mas em nada beneficia, e mal, a esmagadora maioria da população da cidade e da área metropolitana?

6. Admitindo que os argumentos do Sr. Hélder Sousa sobre a vocação do Coliseu do Porto e da Casa da Música são legítimos (e não me parece que o sejam), a questão não deixa de se colocar, porém de outra forma: por que razão não existem no Porto salas direccionadas para uma cultura de massas, mas apenas para pequenos nichos de público?

(Artur Vieira)

*

A citação que faz do Sr. Artur Vieira, menciona 4 salas, das quais uma é explorada com um carácter fundamentalmente comercial (o Coliseu), uma é da responsabilidade da CMP, que, como sabe, está na origem de todo este debate e não tem características para ser palco de concertos para as massas (800 pessoas sentadas é a lotação máxima); outra é gerida por uma parceria entre a CMP e a Fundação Ciência e Desenvolvimento (Teatro do Campo Alegre), tem cerca de 400 lugares e não está de todo preparada para concertos. Quanto à Casa da Música, creio que pelas suas características se deverá dedicar mais à promoção e divulgação da música dita erudita porque essa não terá facilmente lugar em locais de exploração comercial, como o Coliseu, p. ex.Quero com isto dizer que o texto que transcreve, não acrescenta rigorosamente nada à discussão que pretende lançar.

(Hélder Sousa)

*
Em relação ao tema programação cultural queria só fazer ver uma vez que me encontro no interior e por aqui a cultura é pouca(felizmente vamos ter aqui por Castelo Branco dia 4 de Novembro um recital na Sé Catedral, com o coro Polofónoco da Lapa, Porto,a Orquestra Sine Nomine, quatro cantores solistas e o grupo Coral de Proença-a-Nova com os Maestros Felipe Veríssimo e Carlos Gama onde será interpretada a Missa de Requiem de Mozart)que nem a nossa televisão tem respeito pela mesma,veja-se o caso recente de um concerto de Maria João Pires que começou a ser transmitido no 2 canal por volta da 1h.40m de um salvo erro de 1 Domingo para Segunda feira (preparava-me eu para me deitar).

Quero terminar dizendo que espetaculos de musica na tv são raros(sejam de que estilo for) e quando dão são quase sempre ao Fim de Semana no canal 2,quase sempre depois da meia noite.Já nem falo de teatro pois nem vê-lo, fez mais serviço publico durante o Verão a tvi que passou teatro salvo engano uma vez por semana de madrugada que nossa a RTP.

(Hugo Cunha)


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PARA SE COMPREENDER O PORTUGAL DE SALAZAR E O PORTUGAL QUE FEZ SALAZAR 10

Do boletim confidencial dactilografado da Direcção Geral dos Serviços de Censura à Imprensa - Boletim Diário de Registo e Justificação dos Cortes, secção "Questões de ordem moral", de 15 de Julho de 1935:



e foram 48 anos disto.

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EARLY MORNING BLOGS

893 - A Connotation Of Infinity

a connotation of infinity
sharpens the temporal splendor of this night

when souls which have forgot frivolity
in lowliness,noting the fatal flight
of worlds whereto this earth’s a hurled dream

down eager avenues of lifelessness

consider for how much themselves shall gleam,
in the poised radiance of perpetualness.
When what’s in velvet beyond doomed thought

is like a woman amorous to be known;
and man,whose here is alway worse than naught,
feels the tremendous yonder for his own—

on such a night the sea through her blind miles

of crumbling silence seriously smiles

(E. E. Cummings)

*

Bom dia!

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23.10.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 23 de Outubro de 2006



Será que alguém explica aos redactores do telejornal das 13 horas da RTP que na Hungria não há só o governo (o do mentiroso socialista) e a "extrema-direita" e que a maioria dos manifestantes, lá porque atacam um governo socialista, não são "extrema-direita"?
“Alguém explica” ao inefável repórter da RTPN António Esteves Martins e seus colegas que uma manifestação pacífica não se faz com encapuçados a arremessar pedras contra as forças policiais? “Alguém explica” ao AEM & colegas que num Estado de Direito é necessário o uso da força e a intervenção policial para manter a ordem e o respeito pela lei quando ela é desrespeitada? “Alguém explica” aos ditos senhores jornalistas que a lei é desrespeitada quando, sob o pretexto da manifestação, se aproveita para lançar o caos e a desordem? Finalmente “alguém explica” aos senhores jornalistas que mesmo admitindo ter existido desproporção nos meios usados aquilo não tem nada a ver com a intervenção dos tanques soviéticos na Revolução Húngara? É que foi com essa mensagem que a notícia começou e essa foi a ideia pisada e repisada durante toda a reportagem. Eu sei que este tipo de comparação cai muito bem e dá uma certa emoção à estória. Em alguns casos revela muita ignorância, noutros má fé e desonestidade intelectual. Nesta linha já vi insuspeitos a comparar o 11 de Setembro com Hirochima ou os refugiados de Melilla com os “balseros” de Cuba…

(Helena Mota)
*

Será que alguém explica ao editorialista do Diário de Notícias que afirmou isto
A introdução de portagens nas Scut anunciada ontem pelo Governo é uma medida sensata, na medida em que corresponde à aplicação do modelo utilizador-pagador, ainda para mais num tempo de evidente escassez de recursos públicos. Regista-se, ainda, a intenção de o Governo se propor fazer cumprir o programa eleitoral com que o PS se apresentou às últimas eleições, no qual prometia manter as auto-estradas sem portagens apenas nas regiões com menores índices de desenvolvimento socioeconómico e naquelas em que não existem alternativas no sistema rodoviário. . (Sublinhados meus)
aquilo que um leitor do Abrupto explica com clareza:
O Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações divulgou os seus argumentos para a colocar portagens em algumas vias nacionais.
O curioso dos números apresentados (PIB per capita regional, Índice de poder de compra concelhio e tempo médio da melhor alternativa possível) é que eles já eram conhecidos há muito tempo. Mesmo antes do Governo entrar em funções.

1. A distribuição do PIB per capita regional é extremamente estável. Ou seja, as regiões que eram mais ricas em 2002, são, de grosso modo, as mesmas que são ricas hoje em dia. Por forma a comparar estes números habitualmente publicados pelo INE, repare-se que a imagem da esquerda foi publicada a 10 de Setembro de 2004 (ainda com António Guterres no poder). A da direita é a usada pelo Governo e consta do documento Retratos Territoriais 2004 (28 de Dezembro de 2005).

Não há grandes diferenças, apenas na zonas de Lisboa que sofreram uma mudança de conceito.

2. O Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio 2004 foi publicado a 24 de Janeiro de 2005 (antes do Governo entrar em funções).

3. Por fim, o critério tempo, só se alteraria se tivessem sido construídas novas vias de acesso relevantes. O que não aconteceu.

Porque se esperou tanto tempo para fazer as contas? Os números sempre apontaram para o mesmo lado…

(Filipe Charters de Azevedo)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER:
MAMBO JAMBO, POESIA, FEMINISMO, TROCAS E MEINKAMPF LOOK

Break, Blow, Burn: Camille Paglia Reads Forty-Three of the World's Best PoemsCamille Paglia é um típico produto da Universidade americana. A Universidade americana não dá só MITs dá também alguns dos melhores departamentos literários do mundo, sendo os outros igualmente anglo-saxónicos. Mesmo quando há muito mambo-jambo francês nas universidades americanas, e o estruturalismo mais Derrida, Foucault, Lacan e Deleuze invadiram a academia literária, não parecem tão franceses if you know what I mean… Paglia tinha tudo para ser desta escola, a que somava as inconveniências da persona pública, mas o fundo, como era sólido, vem ao de cima. A mulher-harpia está lá, com a mistura de generalizações provocadoras e cénicas que dão público, mas também está a melhor escola, uma atenção à leitura do texto, um entusiasmo culto pela palavra e o seu arranque do meio das outras palavras para dar origem a um poema.

Em Break, Blow, Burn, a aluna de Bloom defronta-se com o cânone, com a necessidade do cânone:
At this time of foreboding about the future of Western culture, it is crucial to identify and preserve our finest artifacts. Canons are always in flux, but canon formation is a critic’s obligation. What lasts, and why? Custodianship, not deconstruction, should be the mission and goal of the humanities.
Cá está a frase-chave: “Custodianship, not deconstruction, should be the mission and goal of the humanities.” Longe dos franceses, perto da “literary education” de tradição anglo-saxónica. Simplifico, como é óbvio. Não é que Paglia não mergulhe fundo nas fontes do mambo-jambo, em particular numa leitura psicanalítica agressiva tão ao gosto discursivo da crítica francesa, mas fá-lo respeitando mais o valor das palavras originais do que perdendo-se no próprio discurso da crítica.

Fiel ao texto, perto do texto, presa pelo texto, não pela análise do texto. Break, Blow, Burn, título pagliano, é uma análise de 43 dos “melhores poemas do mundo”. Paglia explica as razões pelas quais só escolheu poemas escritos em inglês, e as razões são aceitáveis para evitar que o seu texto, rasando os poemas por perto, se enredasse nos problemas da tradução. É verdade que alguns dos 43 poemas estão longe de ser os “melhores poemas do mundo”, mas isso é pouco importante porque servem a consistência da leitura idiossincrática de Paglia.

Dois exemplos em que Paglia brilha com a sua luz própria, ao mesmo tempo Paglia, a feminista e Paglia, a crítica: os comentários ao poema de William Carlos Williams This is Just to Say (que já apareceu num Early Morning Blogs) e Daddy de Sylvia Plath (que nunca apareceria num Early Morning Blogs, porque não se alimenta o inimigo, a filha do "daddy"). O poema de William Carlos Williams parece incomentável, na sua absoluta simplicidade, mas Paglia mostra a complexidade, o mundo denso de relações entre os sexos, o espaço doméstico, a proposta do poema, a sua chantagem afectiva, a sua troca invisível de favores e serviços: “hence the “delicious” fruitness of the final images has the tactile lushness of a kiss”.

Em Daddy, que Paglia considera um dos poemas fundamentais do século XX, e é capaz de ter razão (não sei bem julgar porque quando reli o poema neste livro ele soou-me mais “fundamental” que antes, mas tinha 160 páginas de Paglia por trás…), poema, autora e leitora encaixam tão perfeitamente que estas páginas são as que mais transportam um pathos comum. A raiva pura que emana do poema, as suas injunções insultuosas
I made a model of you,
A man in black with a Meinkampf look
ou
Every woman adores a Fascist,
The boot in the face, the brute
Brute heart of a brute like you
até ao final
Daddy, daddy, you bastard, I’m through.
servem às mil maravilhas para Paglia mostrar o melhor e o pior da sua análise, a densidade do significado (este “bastard” ainda tão pouco vulgar na boca de uma mulher no ano em que foi escrito) , o mergulhar do poema em todas as histórias fundadoras da psicanálise, como num catálogo freudiano dos complexos, e até o mau gosto kitsch da comparação final “I nominate Sylvia Plath as the first female rocker”.

Se há qualquer coisa semelhante a um cordão umbilical paterno, o poema corta-o, mas como Paglia nota, quem o corta diante da rapariguinha que ama/odeia o pai, infantilizado no “Daddy” é o próprio pai, o agressor em acto, aquele para quem a força está do lado do Homem e para quem todas as mulheres serão sempre o objecto da violência sexual: “Daddy, daddy, you bastard, I’m through”. Estava. Meteu a cabeça num fogão, na cozinha, lugar da mulheres, como nota Paglia. Parece um quadro de Paula Rego, é o mesmo mundo.

Está lido.

*

Faço assim a minha estreia neste espaço a propósito do seu tópico sobre o último livro de Camille Paglia, dado que a minha experiência recente nos departamentos literários americanos não podia ter sido mais dissonante daquilo que escreve sobre a sua "excelência". Fui durante o ano de 2005 uma visiting scholar junto do Departamento de Literatura Comparada na Universidade de Yale e não posso deixar de manifestar o meu profundo desagrado pelo que lá assisti.

Ao contrário do que sugere, as Humanidades americanas estão completamente hegemonizadas pelos autores do "pós-estruturalismo" francês (diga-se que isto já nem em França acontece, dado que lá agora dominam as análises "sistémicas", inspiradas em Pierre Bourdieu ou Niklas Luhmann), de tal modo que são rejeitadas à partida todas as abordagens que não se basearem no eixo Lyotard/Derrida/Deleuze/Foucault ou aparentadas, como os estudos "culturais", "de género" ou "pós-coloniais". Existe uma enorme diferença entre as liberdades concedidas a uma professora universitária como uma carreira consolidada (é o caso de Camille Paglia, e nem ela escapa a um determinado tipo de observações absolutamente gratuitas) e as restrições extremas colocadas aos scholars mais desconhecidos. Por outro lado, ao contrário do que escreve no seu tópico, os estudos literários nas universidades americanos são particularmente theory-centered, de tal modo que a esmagadora maioria dos artigos que os pós-graduandos entregam no final dos semestres incidem sobre os problemas do "discurso da crítica" e não sobre as "palavras originais" do texto.

Para além destes tabus metodológicos, existem outros que se me afiguram ainda mais difíceis de compreender: constatei, por exemplo, com surpresa que as obras incluídas nos programas eram estudadas com base nas suas traduções em Inglês e que a consulta do texto original era quase sempre desencorajada. Poderia apontar ainda mais problemas, mas não quero ser fastidiosa.

Os departamentos literários americanos não são excepção à ameaça de extinção gradual que pesa sobre estes departamentos nas universidades do mundo inteiro. É visível, pelo número de publicações e de alunos inscritos, que os Estudos Literários são neste momento uma disciplina universitária em clara decadência, cujo futuro é, para ser eufemista, sombrio. É com pesar que o digo (porque esta é a minha "camisola"), mas é uma verdade que entra pelos olhos dentro, e uma boa parte da responsabilidade por este estado de coisas não deve deixar de ser imputada às universidades americanas.

É verdade que cada um é livre de ter o juízo que quiser sobre a qualidade do ensino das Humanidades nas universidades americanas, e não creio que a minha opinião vá mudar a sua (ou a dos outros leitores). Mas fique claro que "nem tudo o que luz é ouro".

(Regina Lopes)

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