ABRUPTO

24.10.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 24 de Outubro de 2006


Tinha acabado de escrever uma nota para a Sábado sobre a falência crítica de muita comunicação social face à manipulação oriunda do governo e do Primeiro-Ministro, de maior gravidade nos órgãos públicos como a RTP, quando vejo os noticiários das 13 horas da RTP e da SIC. Há sempre quem, quando se critica o governo, peça muitas provas que noutras circunstâncias acha desnecessárias. Aqui vai mais uma: o tratamento da intervenção do Primeiro-Ministro no Fórum das PME pela RTP e pela SIC.

Na RTP, engole-se sem pestanejar o modo como o governo todos os dias (como Chavez, Sócrates actua todos os dias na sua televisão) arranja uns minutos de propaganda - Sócrates a anunciar medidas, solitário face a uma plateia atenta, veneradora e obrigada. O papel do jornalista nesta peça, em que é tão evidente que o discurso que passa é só propaganda (este caso é tão explícito que não oferece dúvidas), é repetir em seguida o que aquele disse. O Primeiro-Ministro lá está ao fundo, a cumprimentar uns notáveis, enquanto a propaganda ganha uma nova dimensão ao ser repetida pela voz do jornalista. Nem uma pergunta, nem uma curiosidade, nem nada. O homem entrou vestido de redoma e vai-se embora de redoma vestido, que a RTP acha bem. Na SIC, o jornalista bem tenta perguntar ao Primeiro-Ministro sobre a greve anunciada da função pública e sobre as notícias do incumprimento da lei das finanças partidárias (a ele que é o secretário-geral do PS), e ele foge protegido por uma pequena multidão em silêncio, virando as costas.

Diferenças.
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Concordando inteiramente com o teor do que escreve sobre o (não)desempenho profissional dos jornalistas da RTP face ao Governo e à sua máquina de propaganda, e particularmente perante a “vaca-sagrada” que é hoje o Primeiro-Ministro para muitos meios de comunicação social, permita-me que lhe faça notar que a comparação com o Sr. Chávez da Venezuela é excessiva. Todos os Domingos, durante 6 a 8 horas, o homem tem direito a um programa televisivo na maior cadeia de TV daquele país (“Hola Presidente”, ou algo parecido), onde em directo o homem perora sobre o mundo, os inimigos, os traidores, a economia (maravilhosa), os EUA (imperialistas) a vida do pai, a história da mãe, a qualidade da colheita de laranjas deste ano e, de passagem, sobre a sua extraordinária personalidade de estadista. Penso que ainda não chegámos a esse ponto. Julgo, aliás, que não chegaremos. Temos em Portugal, felizmente, mecanismos formais - e sobretudo informais, como a opinião escrita, os blogues, etc. - que vão estabelecendo limites, precários é certo, mas social e culturalmente enraizados, que nos afastaram definitivamente dessa espécie de “Conversa em Família” populista, um anacronismo até no contexto latino-americano, que é o estilo e a essência (fundem-se, na verdade) do oligarca venezuelano.

(Manuel Margarido)

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Já que nele insiste, falemos então desse tema que lhe é tão caro: a governamentalição. Ou, neste caso, da "camaralização". Aqui há umas semanas, a SIC, montou arraiais na Avenida da Liberdade durante, pelo menos, um dia inteiro, por ocasião do seu aniversário, ficando essa via interrompida. Questiono com que direito um privado toma para si uma avenida importante da capital. E mais: Pode-se arrendar uma avenida? Onde está o preçário das avenidas de Lisboa (espero que aos dias de semana seja mais caro...)? Posso eu, no meu aniversário, arrendar a Rua da Betesga ao Rossio? A TVI também pode ocupar as avenidas de Lisboa (por falar em 'okupas'...)? Como se isto não fosse ridículo, junta-se o facto de a sede da SIC ser noutro concelho... Quando vi isto, só me ocorreu a filmagem de um certo aperto de mão recusado. Proponho o seguinte movimento para a blogosfera: Queremos o preçário das avenidas de Lisboa!

(Eduardo Proença)

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Não sei se reparou, mas na peça do jornal da tarde da RTP de 23 de Outubro, sobre a revolta húngara de 1956 (que veio imediatamente a seguir à já referida peça da "extrema-direita" húngara) a palavra "comunista" não foi usada uma única vez. Um malabarismo lexical assinalável. Já o colega António Esteves Martins não está com rodeios: tudo o que não é socialista é de "extrema-direita".

(paulo salvador)

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© José Pacheco Pereira
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