ABRUPTO

26.10.06


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A ESCOLA QUE TEMOS



Estive a trabalhar até agora na correcção das provas escritas dos meus alunos e terei de continuar até um pouco mais tarde para alinhavar algumas aulas da próxima semana. Fiz portanto um intervalo.O meu horário apesar de conter apenas 26 horas marcadas não me permite fazer um uso útil das que não estão e supostamente serviriam para este trabalho. São verdadeiros buracos no horário que me obrigam a permanecer na escola sem condições para fazer o que devo fazer e que não são contabilizadas para trabalho de escola. Tenho também 90minutos para apoio aos meus alunos, os que apresentem mais dificuldades. Pena é que entre o pedido de autorização aos pais e a efectivação do apoio teremos chegado ao final do primeiro periodo. No segundo período e partindo do principio que os pais autorizam os seus educandos a terem mais umas quantas horas no já denso horário dos seus filhos irão para uma sala onde estão cerca de 10 professores com as mesmas atribuições. Cerca de 20% (tenho sorte) dos meus alunos irão necessitar mais tarde ou mais cedo de apoio que será prestado nesta sala. Não é preciso ser matemático para perceber que nesta sala não podem estar tantos professores e alunos até porque não há condições para realizar o trabalho nem acomodar tanta gente.

No caso de um professor não prescrever as medidas necessárias à correcção dos desvios às aprendizagens previstas estará em falta. Não se justifica a retenção destes alunos pois devem ter apoio caso necessitem devendo o professor avaliar atempadamente e pôr em prática as medidas necessárias- é um direito dos alunos que não questiono.

Tudo isto está certo. Desta forma 75% dos meus alunos transitam por mérito próprio e os restante 25% também. Pois terão aulas de apoio de modo a adquirirem as "competências" necessárias a transitarem. Tudo fruto da competência do responsável, o docente, que de outra forma não é tido como competente.

Neste dia a dia nas escolas percebo uma coisa muito simples: a necessidade de resultados. Bons resultados permitem subir uns lugares no ranking dos países mais competitivos. Talvez por isso hoje estejam a ser criadas secretarias que passam diplomas de 12º ano. Um ano em que muito estudei e aprendi e onde quem não estudava não passava. Essa autonomia e capacidade de desenrascanço perante um sistema menos atento então permitia crescer e desenvolver a capacidade de resposta perante as dificuldades que encontrávamos como alunos. Também tive maus professores e isso nunca foi desculpa para pôr os livros de lado, pelo contrário. Quem não trabalhava "chumbava".

Hoje com a proletarização dos licenciados urge não reter pessoas que apesar de não saberem ler ao fim de 9 anos de escolaridade têm de saber que a matéria é discreta e que as fases de Vénus evidenciam um sistema dito heliocentrico. Não é uma situação economicamente viável- o que também acredito.

Hoje sou a par dos educadores dos jardins Infantis, que muito respeito, medido a resultados. O triste disto é que estudei a matemática de Newton e introduzo aos meus alunos conceitos como a fusão e fissão nuclear, a formação do Universo como as provas encontradas tornam este modelo aceitável, o que a é ciência, falo das teorias de Einstein e como estão presentes no GPS e porquê, de conceitos que embora simplificados exigem uma actualização permanente cada vez mais difícil de fazer. Não vale a pena falar e trazer para aqui outras competências minhas nas áreas das didácticas específicas da Química ou da Física onde aprendemos a dar a volta às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Também as "novas" tecnologias com a utilização dos computadores em sala de aula e a exploração de modelos matemáticos, sensores diversos são correntes nas aulas. Além disso transporto o livro de ponto de sala em sala, lavo material de laboratório quando a funcionária não está (felizmente temos na nossa escola funcionária com essas funções), faço as matriculas dos alunos, tuturia, avaliação e organização da formação na escola etc. No entanto a bitola é a mesma para todos e serve um único objectivo: resultados. Aos olhos da sociedade não sou diferente do educador infantil.

É esta a escola que temos. Não é nova, não está em remodelação nem será melhor, mas teremos a curto prazo melhores resultados. Subiremos um ou dois lugares no ranking da competividade. E isso é importante atrai investimento, com ele emprego que embora precário e transitório dá de comer. (...)

(Carlos Brás)

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