ABRUPTO

7.2.09


AS BIOGRAFIAS DO NADA

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Não é crime nenhum não ter biografia "antifascista", em particular quando se era demasiado novo para se perceber em que país é que se vivia. Mas existe a mania de encontrar sempre algum obscuro traço de oposição ao regime, uma legitimidade ab anteriori no antes do 25 de Abril. Esse exercício existe no PSD, onde já tem levado a situações um pouco caricatas, mas é mais comum no PS. Já Guterres, que nunca teve qualquer vislumbre de oposição e que, bem pelo contrário, estava a iniciar uma carreira de jovem quadro tecnocrático no regime, atribuía-se uma vago "trabalho social" que manifestaria a sua insatisfação, logo o embrião de um embrião de um embrião de oposição a Salazar e Caetano. Agora é Sócrates que, supostamente, se "deliciava" junto com o pai na leitura dos "livros incómodos para o regime", encomendados através da Seara Nova, como refere hoje uma reportagem na revista NS distribuída com o Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Coitado do jovem José Sócrates, então com 15 ou 16 anos, a "deliciar-se" com os sérios e macambúzios livros da Seara Nova... Será que quem disse, ou quem escreveu isto, faz mesmo ideia que livros eram esses? Será que quem disse ou quem escreveu isto, faz mesmo ideia que a expressão "deliciar" é um completo absurdo para descrever a atitude de alguém que, antes do 25 de Abril, lia "livros incómodos para o regime"?

O problema destas biografias de gente sem biografia, biografias do nada, é que se enchem de factos irrelevantes e triviais, interpretados de modo a construir uma "imagem", quando não há nada de interessante para essa construção. A não ser mostrar como se pode ter sucesso no plano político com pouco mais que nada de vida ou nada na vida. E Sócrates está longe de ser único.

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POEIRA DE 7 DE FEVEREIRO

Hoje, há trinta anos, um bloco de gelo, rocha e metano, o planeta anão a que chamamos Plutão, entrou silencioso, pela primeira vez desde que foi descoberto, no interior da orbita de Neptuno. Vinte anos depois saiu de lá, tão silencioso e frio como entrou. Mal sabia Plutão que iria, anos depois, receber uma daquelas setas para baixo nos jornais e perder a categoria de planeta, remetido na sua fria escuridão para ser apenas mais um dos objectos da cintura de Kuiper, os restos da construção do sistema solar, a selva de pedras e gelo que não foi precisa, o sítio onde a luz do Sol quase que se despede de nós. Agora, classificado junto com Haumea e Makemake, ele foi afastado da família original e tem que confrontar a sua dignidade de deus greco-romano com umas divindades polinésias que ninguém conhece. O destino também é cruel para os planetas e a cultura clássica está notoriamente em crise.

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EARLY MORNING BLOGS

1481 - The Second Coming

Turning and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.
Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in the sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again; but now I know
That twenty centuries of stony sleep
were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?

(Yeats)

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6.2.09


EXTERIORES: CORES DE HOJE



Era assim pelas 9 horas na marginal da Ria de Aveiro. (Angelina Barbosa)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (34): VÁRIA


A propósito do Pinóquio, uma imagem que seria interessante encontrar nos jornais:



*


O "passoscoelhismo" do Diário de Notícias é um traço próprio da orientação editorial do jornal. Enquanto que os outros jornais de vez em quando falam em Passos Coelho, o Diário de Notícias de vez em quando não fala em Passos Coelho. Nos últimos quinze dias, todos os mecanismos que um jornal pode encontrar como pretexto para apoiar Passos Coelho foram utilizados. Uma frase ambígua de Rui Machete, que tanto podia ser crítica como favorável (como se notou aqui), foi usada como título, entre muitas outras coisas que Machete afirmava francamente laudatórias de Manuela Ferreira Leite. Mas a frase não só deu origem ao título como foi promotora de novos pretextos para falar de Passos Coelho, o centro do PSD para o Diário de Notícias. Usaram-se vários mecanismos conhecidos: se um jornal quer manter uma questão em aberto, mesmo quando nada de novo a justifica, manda os seus jornalistas fazerem perguntas e usa as respostas como matéria para manter o assunto na ordem do dia. A frase de Machete foi assim utilizada para obter novos comentários de Ângelo Correia e de António Preto e Helena Lopes da Costa , apresentados numa legenda como sendo "o partido...".. Três motivos para notícias, em três números do jornal E por aí adiante.



Haja notícias ou não, o jornal promove activamente um actor político, o que devia ser assumido em editorial para que não haja ambiguidades. Devia explicar aos seus leitores porque o faz mesmo sem existir conteúdo noticioso, para que as coisas ficassem clarificadas. Na verdade, não é Passos Coelho que vai às eleições contra Sócrates, mas sim Manuela Ferreira Leite. A sua promoção é assim inócua para o PS e prejudicial para o PSD. Não é preciso ser uma águia do pensamento para perceber isto.

No recorte acima e na página completa onde vem inserida esta notícia, só há uma afirmação destacada em bold, a frase "Pasos Coelho afirmou-se novamente como "alternativa "a Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD", o que nem sequer tem a ver com a notícia em si.

.SITUACIONISMO +3

*

O Semanário é de facto um jornal muito bizarro... Isto vem na parte noticiosa do jornal, não assinado, no número de 6 de Fevereiro de 2009:


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Nem sei como o classificar...

*

Ontem, no noticiário da manhã da RTP, uma reportagem para mostrar como as escolas estão cheias de "Magalhães". Houve quem ousasse dizer nos dias anteriores que faltavam imensos "Magalhães", logo a RTP foi mostrar que não era assim. E aparece uma turma de crianças muito composta diante da máquina azul, como se fosse num filme de ficção científica, para assegurar que o Governo cumpre. Experimentem ir pelo país fora, a ver como cumpre...

..SITUACIONISMO +3

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COISAS DA SÁBADO: ASTRONOMIA

Durante umas horas vai ficar com o tamanho gigante, perturbando todo o Abrupto para baixo . Depois vai ao sítio

21 h. Foi ao sítio.


A Estação Espacial e a Lua ao fundo.



Este ano é o ano da astronomia. É também um bom ano para passar a gostar de astronomia. Eu não disse saber, embora o saber venho pelo mesmo caminho. Eu disse “gostar”, olhar com gosto, com espanto, com curiosidade, para o mundo. Não é para os astros, é para o mundo, por isso também para nós, o terceiro planeta. E embora o papel impresso não seja o melhor para colocar endereços electrónicos, veja este todos os dias: o do Astronomy Picture of the Day . Todos os dias uma fotografia nova dos mundos, da Terra, do nosso sistema solar (onde há novidades fotográficas também quase todos os dias), e do Universo mais fundo. E com todas as luzes, as que vemos e as que não vemos. E todos os tamanhos, os infinitamente pequenos e os infinitamente grandes. E todos os tempos. Do iota ao iocto. Tudo.

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COISAS DA SÁBADO: QUE “PODERES”? E ONDE ESTÃO “OCULTOS”?



Ao fim de quinze dias de caso Freeport assiste-se a uma curiosa evolução, que não é novidade no tipo de resposta pública do Primeiro-ministro José Sócrates a qualquer tipo de dúvidas sobre o seu currículo, actividade profissional e política: a partidarização e politização agressiva, contra adversários nomeados ou não. O Primeiro-ministro nega sem esclarecer e depois ataca. Desta vez não são nomeados os sujeitos do ataque, são as “forças” os “poderes ocultos” que estão por trás desta “campanha negra”. Por isso, a politização do caso Freeport pelo Primeiro-ministro vai de vento em popa e é bastante unilateral. E é mau que seja unilateral. Porque uma coisa é os partidos da oposição não se quererem pronunciar sobre as questões de justiça e a investigação do caso Freeport, o que se compreende, outra é não se quererem pronunciar sobre as “forças ocultas” a que se refere o Primeiro-ministro.

Se há “forças ocultas” a atacar o Primeiro-ministro de Portugal, e se são “forças”, ou seja têm poder, e se são “ocultas”, ou seja se se escondem e dissimulam, tal é matéria para a justiça e para os serviços de informação, porque é desestabilização do Estado que daí resulta, por um lado, e a quebra do prestígio de Portugal (que já não abunda) no exterior, ou seja, matéria de segurança, por outro. Por isso, se eu estivesse na Assembleia, ou o entrevistasse num jornal, faria uma simples pergunta ao Primeiro-ministro: como sabe ele que há “forças ocultas” e quais são essas “forças”? Sabe-o porque recebeu informações nesse sentido, ele que tem o gabinete recheado de serviços de informações? Sabe porque conhece quem faz as fugas e com quem existe um conluio para as divulgar? Se sabe, deve comunicá-lo ao Ministério Público. Por aí adiante. E não largava o Primeiro-ministro sem ter uma resposta cabal, porque um Primeiro-ministro não pode ficar apenas por uma insinuação de grande gravidade e depois aproveitar-se das eventuais vantagens políticas da insinuação. É um mau caminho, que não mostra sequer a indignação de um inocente falsamente acusado, mas o tacticismo de um político profissional.

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5.2.09


EXTERIORES: CORES DE HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1480 - Un crabe

Un crabe souviens-toi
ça marche,ça marche
Un crabe souviens-toi
ça marche de guingois.

Un crabe méfie-toi
ça pince, ça pince
Un crabe méfie-toi
Fais attention à tes doigts.

(Cantilena anónima.)

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4.2.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (33):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (21)



Outra vez o porco a voar: na RTP2, um programa de um clube de jornalistas feito contra os jornalistas a propósito das "fugas de informação" no caso Freeport. Curiosamente nunca lá estão os jornalistas dos órgãos de informação que fazem as "fugas", e quando estão (como aconteceu com Eduardo Dâmaso no Prós) não se lhes pergunta sobre os seus critérios. Porque na realidade não se está a discutir apenas as "fugas", mas também o jornalismo que se faz com elas. Aqui, Proença de Carvalho começou em Cristo, passou por Beleza, para acabar em Sócrates... José Rebelo acha que as "fugas" existem por causa dos "jovens jornalistas" que não conhecem a deontologia... A discussão é completamente irreal em tudo, menos numa coisa: não é uma discussão séria dos problemas das "fugas de informação" e serve para ajudar a tese das "forças ocultas". A RTP centra a sua informação do caso Freeport nessa tese, dos telejornais aos programas de debate.

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ANTOLOGIA DO KITSCH (3)



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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA (5):
Dessas mesmas ladroíces, que tu vês e consentes, hei de fazer um espelho em que te vejas




Se estes ladrões foram ocultos, e o que corre e concorre com eles não os conhecera, alguma desculpa tinha; mas se eles são ladrões públicos e conhecidos, se roubam sem rebuço e à cara descoberta, se todos os vêem roubar, e o mesmo que os consente e apoia o está vendo: Si videbas furem, que desculpa pode ter diante de Deus e do mundo? Existimasti inique quod ero tui similis (Sl. 49, 21): Cuidas tu, ó injusto — diz Deus — que hei de ser semelhante a ti — e que, assim como tu dissimulas com estes ladrões, hei eu de dissimular contigo? — Enganas-te. Arguam te, et statuam contra faciam tuam: Dessas mesmas ladroíces, que tu vês e consentes, hei de fazer um espelho em que te vejas — e quando vires que és tão réu de todos esses furtos, como os mesmos ladrões, porque os não impedes, e mais que os mesmos ladrões, porque tens obrigação jurada de os impedir, então conhecerás que tanto, e mais justamente que a eles, te condeno ao inferno. Assim o declara com última e temerosa sentença a paráfrase caldaica do mesmo texto: Arguam te in hoc saeculo, et ordinabo judicium Gehennae in futuro coram te: Neste mundo arguirei a tua consciência, como agora a estou arguindo, e no outro mundo condenarei a tua alma ao inferno, como se verá no dia do Juízo.

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ANTOLOGIA DO KITSCH (2)



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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (32):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (20)



O maior ataque político feito aos jornalistas nos últimos tempos foi o discurso do Primeiro-ministro das "forças ocultas" e das "campanhas negras". Ainda estou à espera dos editoriais indignados, dos comunicados do Sindicato, dos artigos inflamados, das exigências de pedidos de desculpa.

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REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (7)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

(Ver parte 1, 2, 3, 4., 5, e 6.)

A intolerância dos jornalistas (enquanto regra, deixo de lado as escassas excepções) face às críticas que lhes são feitas mostra como é grande ainda o mecanismo corporativo de defesa e como ele está associado a uma procura de privilégios profissionais e de “imagem”. “Imagem” significa preço, preço real ou preço simbólico, em todas as profissões, e, por si só. não tem nada de mal. Só o tem quando se joga com essa “imagem” para impor uma obrigação a outrem de considerar por definição os jornalistas como isentos, politicamente independentes e apenas cumprindo o seu “trabalho”, imunes às críticas que não venham do seu próprio meio. E, no seu próprio meio, elas não existem ou são muito escassas. Tanto mais escassas quanto o papel crescente dos media na sociedade implica objectivamente mais poder. Debater o trabalho dos jornalistas é hoje para mim tão importante, se não mais em algumas circunstâncias, do que muitos outros aspectos da vida pública. E esse debate esbarra contra a muralha corporativa da profissão. (A seguir farei uma análise do comunicado, de fins de Janeiro de 2009, do Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos Jornalistas sobre aquilo que chama “tentativas de condicionamento dos jornalistas", um exemplo prático do que eu quero dizer.)

Como já referi, a ideia de que certas funções como a de Provedor devem apenas ser exercidas por jornalistas ou antigos jornalistas, tem implícita a concepção corporativa da intangibilidade da sua profissão pelo escrutínio alheio. São um pouco como os juízes, consideram que todas as críticas são uma ameaça à sua “independência”, e resistem como poucos ao debate público sobre a qualidade do seu trabalho. Desse ponto de vista corporativo seria lógico que os jornalistas tivessem uma Ordem, o último resquício do corporativismo de certas profissões que passa essencialmente pelo controlo pelos próprios do acesso à profissão, e pela “deontologia”, como acontece com os advogados e os médicos. Não a tendo, têm a pulsão para a ter e dispersam essas funções num conjunto de órgãos pouco eficazes quer de carácter sindical, quer associativo, ou actuam como se fossem membros de uma Ordem invisível que lhes dá privilégios no debate público.

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EARLY MORNING BLOGS

1479 - Livro, se luz desejas, mal te enganas

Livro, se luz desejas, mal te enganas.
Quanto melhor será dentro em teu muro
Quieto, e humilde estar, inda que escuro,
Onde ninguém t'impece, a ninguém danas!

Sujeitas sempre ao tempo obras humanas
Coa novidade aprazem; logo em duro
Ódio e desprezo ficam: ama o seguro
Silêncio, fuge o povo, e mãos profanas.

Ah! não te posso ter! deixa ir cumprindo
Primeiro tua idade; quem te move
Te defenda do tempo, e de seus danos.

Dirás que a pesar meu foste fugindo,
Reinando Sebastião, Rei de quatro anos:
Ano cinquenta e sete: eu vinte e nove.

(António Ferreira)

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3.2.09


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA (4)



Suponho finalmente que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este género de vida, porque a mesma sua miséria, ou escusa, ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: Non grandis est culpa, cum quis furatus fuerit: furatur enim ut esurientem impleat animam.O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento, distingue muito bem S. Basílio Magno: Non est intelligendum fures esse solum bursarum incisores, vel latrocinantes in balneis; sed et qui duces legionum statuti, vel qui commisso sibi regimine civitatum, aut gentium, hoc quidem furtim tollunt, hoc vero vi et publice exigunt: Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: — Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. — Ditosa Grécia, que tinha tal pregador!

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ANTOLOGIA DO KITSCH (1)


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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (31):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (19)



Repare-se nesta notícia da RTP aqui (a seguir reproduzida) e observe-se quais são os quadros que são publicados: exactamente os que são menos penosos e mais favoráveis a José Sócrates, o da "campanha negra" e o da opinião sobre o Primeiro-ministro. Os resultados mais hostis e que tem óbvio interesse jornalístico (por exemplo "seis em cada dez dos inquiridos considera que José Sócrates deixou coisas por esclarecer" ou "quarenta e três por cento dos inquiridos não acredita em José Sócrates quando afirma que não houve qualquer espécie de favorecimento no processo de aprovação do Freeport" ou "44 por cento dos inquiridos a comunicação social têm agido bem"), não tem direito a quadro. É assim que as coisas se fazem.

SITUACIONISMO +4
Portugueses querem saber mais sobre o caso Freeport

RTP Caso Freeport foi alvo de sondagem

A maioria dos portugueses considera que José Sócrates não deu todas as explicações sobre o caso Freeport. Numa sondagem da RTP, Antena 1 e Jornal de Notícias realizada pela Universidade Católica, 61 por cento dos inquiridos considera que o primeiro-ministro tem que dar mais esclarecimentos. Quase todos os inquiridos acompanham o caso Freeport e mais de metade demonstra interesse no caso.


Quando questionados sobre se já tinham ouvido falar da controvérsia sobre o licenciamento do Freeport, 84 por cento dos inquiridos respondeu que sim, e apenas 15 por cento afirmou que nunca tinha ouvido falar.

Aos 84 por cento que já tinham ouvido falar sobre o assunto foi colocada a pergunta: Acha que o primeiro-ministro já esclareceu completamente as dúvidas que surgiram em relação à sua actuação neste caso ou deixou coisas por esclarecer?

Perante esta questão seis em cada dez dos inquiridos considera que José Sócrates deixou coisas por esclarecer (61 por cento), 18 por cento ficou completamente esclarecido e 21 por cento não sabe se ficou ou não esclarecido.

Quarenta e três por cento dos inquiridos não acredita em José Sócrates quando afirma que não houve qualquer espécie de favorecimento no processo de aprovação do Freeport, no entanto, 23 por cento acredita nas palavras do primeiro-ministro, dois por cento recusou responder e 32 por cento não tem ainda uma convicção sobre o assunto.

Tese da cabala contra José Sócrates é a que menos divide os inquiridos

Quando questionados se concordam ou não com a declaração do primeiro-ministro quando afirma que há uma campanha negra com o objectivo de afectar a sua honra em ano de eleições, 38 por cento está de acordo e 36 por cento discorda, uma diferença mínima.

Vinte e quatro por cento dos inquiridos não tem ainda uma opinião formada sobre o assunto e dois por cento recusou responder.



Metade dos portugueses não mudou a opinião que tinha sobre José Sócrates

Para metade dos portugueses que responderam a este inquérito da Universidade Católica a opinião sobre o primeiro-ministro não mudou. A maioria considera que José Sócrates tem agido bem em todo este processo.

Quando questionados sobre se no seguimento desta controvérsia a sua opinião sobre José Sócrates mudou ou não, cinquenta por cento dos entrevistados mantém a mesma opinião sobre o secretário-geral do PS e para 31 por cento a opinião mudou para pior.



Para oito por cento a opinião sobre o primeiro-ministro mudou para melhor, um por cento recusa responder e dez por cento não sabe se mudou ou não.

Trinta e três por cento dos questionados consideram que José Sócrates agiu bem em todo este caso, contra 30 por cento que acha que o primeiro-ministro agiu mal.

Para doze por cento o secretário-geral do Partido Socialista agiu muito mal, enquanto nove por cento considera que Sócrates agiu muito bem. Dezasseis por cento dos inquiridos não tem uma opinião formada sobre esta questão.

Actuação das autoridades judiciais não agradam aos portugueses

O papel das autoridades judiciais portuguesas também foi avaliado nesta sondagem da RTP, Antena 1 e Jornal de Notícias e a avaliação não foi muito positiva.

À pergunta como avalia a actuação das autoridades judiciais portuguesas neste processo? a maioria dos inquiridos considera que a actuação foi negativa. Quinze por cento acha que as autoridades judiciais agiram muito mal e 30 por cento considera que a actuação foi má.

Trinta e três por cento acha que as autoridades judiciais agiram bem e apenas nove por cento elogia o papel da justiça neste processo. Dezasseis dos inquiridos não sabe.

Quase metade dos inquiridos (48 por cento) não tem confiança que a investigação sobre este assunto vá esclarecer todas as dúvidas enquanto 42 por cento demonstra confiança no esclarecimento das dúvidas. Os restantes dez por cento não têm opinião formada sobre a questão.

Comunicação social tem agido bem no acompanhamento do caso Freeport

O papel da comunicação social no acompanhamento do caso Freeport e o interesse com que os inquiridos têm acompanhado este assunto foram outros dos temas analisados nesta sondagem da Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e Jornal de Notícias.

Para 44 por cento dos inquiridos a comunicação social têm agido bem, no entanto, 29 por cento dá uma nota negativa ao papel da comunicação social no caso.

Nove por cento considera que a comunicação social tem agido muito mal, contra quatro por cento que dá um excelente. Treze por cento dos inquiridos não sabe ou não responde.

Trinta e seis por cento dos inquiridos revela que tem acompanhado o caso com algum interesse, 22 por cento com muito interesse. Vinte e oito por cento dos inquiridos afirma acompanhar o caso com pouco interesse.

Nenhum dos inquiridos se recusou a responder a esta questão, no entanto, um por cento não tem opinião formada. Catorze por cento confessa que não tem nenhum interesse no acompanhamento do caso. (...)

Cristina Sambado, RTP
2009-02-03 11:57:34


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LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (97)





Literatura popular em folhetim na Itália do século XIX.

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REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (6)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

(Ver parte 1, 2, 3, 4., e 5.)

A confusão de géneros também se instala quando comentários e opiniões se apresentam com uma autoridade própria porque emitidas por "politólogos", "sociólogos", "historiadores", "economistas" ou mesmo “jornalistas”. Esta é uma manifestação menor da prática que leva a escolher jornalistas para Provedores dos jornais, como antigamente se escolhiam generais para Ministros da Defesa. Esta confusão denota uma visão tecnocrática da sociedade, que dá à “ciência” um estatuto de intangibilidade política (outra intangibilidade corrente nos nossos media é a da “cultura”).

Um médico que se pronuncia sobre o cancro ou a tuberculose deve ser ouvido como um especialista, mas quando se pronuncia sobre a organização do sistema nacional de saúde, não perde a qualidade de especialista, pode ser um comentador informado e o seu saber ser fundamental, mas as opções fundamentais sobre um sistema desse tipo são de carácter político e ideológico e não técnico. Pertencem ao debate público no espaço público e nesse local não há "ciência" no sentido preciso da palavra, há opções que se tomam em função de visões do mundo e da sociedade, que traduzem interesses, experiências, e escolhas políticas. Escolhas de “partes”, seja em partidos ou fora deles. Partes que ganham mais ou menos legitimidade democrática para governar pelo voto e pela conformidade com a lei. E embora dependam também da racionalidade e da imaginação, com votos ou sem eles, não se explicam só com a racionalidade. Explicam-se também pelos interesses, condição social, educação, gostos, meio, profissão, etc.. A visão monista da sociedade, traduzida numa espécie de discurso de explicação única, seja o da ciência e o da técnica, ou o da Nação ou do Estado, não é compatível com a democracia e com a liberdade. E implica sempre um reducionismo, uma pobreza do espírito.

*
De facto, um médico pode ser muito bom na sua especialidade e péssimo como Ministro da Saúde ou mesmo como administrador de uma unidade hospitalar - o Princípio de Peter explica isso muito bem, e continua perfeitamente actual.
Mas também não se pode cair na ideia inversa, a de que um gestor pode gerir qualquer coisa, mesmo sem ter um mínimo de conhecimentos do assunto. Depende dos casos.

Conheci, em tempos, uma empresa de engenharia que foi próspera e respeitada, durante dezenas de anos, enquanto foi dirigida por engenheiros séniores.
Mas a descredibilização rapidamente lhe bateu à porta - passe o eufemismo... - quando mudou de mãos e os novos accionistas acharam que gestores que tivessem sido bem sucedidos noutras empresas do grupo (mas de ramos completamente diferentes) seriam capazes de, naquela outra, fazer o mesmo. Não foi bem assim...

(C. Medina Ribeiro)

*

Nesta sua reflexão sobre o jornalismo e a propósito da confusão de géneros, o exemplo do médico, que presumo extensível a outras áreas do conhecimento, é em si mesmo uma notável confusão de géneros. Na sua opinião, um especialista é alguém incapaz de tomar decisões estratégicas e fundamentais, cabendo essa tarefa aos políticos e ideólogos, eventualmente assessorados por “especialistas” (ou seja, por alguém que de facto saiba algo sobre o assunto). Embora conceptualmente a sua opinião seja válida, apesar de discutível, a observação da prática política e do processo decisório em geral demonstram-nos todos os dias a ineficácia desta concepção. De facto, o senso comum diz-nos que quando uma determinada decisão é tomada por “razões políticas”, isto quer normalmente dizer que o decisor político não faz ideia de como deveria ter decidido, à luz da razão e do conhecimento disponível. Até porque, embora as opções ideológicas relativas aos modelos de sociedade sejam determinantes, estas são largamente consensuais na nossa sociedade, à excepção de franjas radicais sem preocupações governativas. Deste modo, muito do que resta por decidir são realmente questões muito objectivas, sobre as quais os políticos pouco sabem. Quem já assistiu a debates no parlamento e fora dele, conhece bem a vacuidade dos discursos e a sua total irrelevância. A questão pertinente aqui é saber porque é que um conjunto de pessoas com determinada formação académica de base (ou sem ela, como sucede abundantemente no nosso país), genericamente designados “políticos”, tem na sua opinião a competência exclusiva para decidir estrategicamente. Se é apenas porque foram eleitos, então isso é muito pouco. Porque para se ser eleito em Portugal, é geralmente necessário ter começado cedo por frequentar as concelhias e depois as distritais dos partidos, aprender o caminho das insinuações e dos favores, ter muita paciência e ao fim de uns anos de “trabalho” conseguir entrar numa lista em lugar elegível. Um qualquer cidadão que em determinado momento da sua vida queira colaborar activamente no processo de decisão nesta sociedade, pura e simplesmente não o consegue fazer, o caminho está blindado pelos “políticos” de carreira. São estes “políticos” que o Pacheco Pereira defende deverem ser detentores únicos da capacidade de decidir a vida presente e futura de um país. Eu discordo.

(João Silva)

*

Ó Amigo João Silva, imagine a seguinte experiência:

Junte à volta de uma mesa quatro médicos com o seguinte perfil: todos tècnicamente competentes, todos com larga experiência de trabalho em hospitais públicos, todos bem-intencionados e todos semelhantemente cultos e inteligentes, sem que nenhum deles tenha qualquer engagement político formal. Porém, um vota no PC ou no BE, outro no PS, outro no PSD e o outro no PP. Pergunte quais são os principais problemas do SNS e, a seguir, quais seriam as soluções para remediar os problemas apontados.

Se achar que, pelas respostas, se perceberia em que família política cada um deles navega, então não vejo como pode deixar de dar razão ao Pacheco Pereira. Se achar que, por razões técnicas, todos chegariam a conclusões iguais ou parecidas, então Você é perfeitamente coerente mas vive num mundo paralelo.

(J.M.Graça)

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EXTERIORES: CORES DE HOJE



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EARLY MORNING BLOGS

1478 - Homage to a Government

Next year we are to bring all the soldiers home
For lack of money, and it is all right.
Places they guarded, or kept orderly,
We want the money for ourselves at home
Instead of working. And this is all right.

It's hard to say who wanted it to happen,
But now it's been decided nobody minds.
The places are a long way off, not here,
Which is all right, and from what we hear
The soldiers there only made trouble happen.
Next year we shall be easier in our minds.

Next year we shall be living in a country
That brought its soldiers home for lack of money.
The statues will be standing in the same
Tree-muffled squares, and look nearly the same.
Our children will not know it's a different country.
All we can hope to leave them now is money.

(Philip Larkin)

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2.2.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (30):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (18)



A RTP , como aliás sempre acontece nestas alturas críticas, faz o serviço todo. No Prós e Contras, neste mais que delicado assunto, onde é que estão os "contras" na mesa do debate? É uma vergonha.
SITUACIONISMO +5
*
A apresentadora colocou a hipótese de dissolução como potencialmente injusta, como se fosse um julgamento do Presidente da República ao PM no caso de alegada corrupção, não um mecanismo de estabilização social e política. O programa está a ser de tal modo eficaz que no fim das duas primeiras partes quem tivesse chegado agora a Portugal nem perceberia exactamente quem é a figura central deste caso ou pensaria que são os denunciantes anónimos de uma coisa qualquer. É divertido.

(Paulo Loureiro)

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA (3)



Mas estou vendo que com este mesmo exemplo de Deus se desculpam ou podem desculpar os reis, porque, se a Deus lhe sucedeu tão mal com Adão, conhecendo muito bem Deus o que ele havia de ser, que muito é que suceda o mesmo aos reis, com os homens que elegem para os ofícios, se eles não sabem nem podem saber o que depois farão? A desculpa é aparente, mas tão falsa como mal fundada, porque Deus não faz eleição dos homens pelo que sabe que hão de ser, senão pelo que de presente são. Bem sabia Cristo que Judas havia de ser ladrão; mas quando o elegeu para o ofício em que o foi, não só não era ladrão, mas muito digno de se lhe fiar o cuidado de guardar e distribuir as esmolas dos pobres. Elejam assim os reis as pessoas, e provejam assim os ofícios, e Deus os desobrigará nesta parte da restituição. Porém as eleições e provimentos que se usam não se fazem assim. Querem saber os reis se os que provêem nos ofícios são ladrões ou não? Observem a regra de Cristo: Qui non intrat per ostium, fur est et latro . A porta por onde legitimamente se entra ao ofício, é só o merecimento. E todo o que não entra pela porta, não só diz Cristo que é ladrão, senão ladrão e ladrão: Fur est latro. E por que é duas vezes ladrão? Uma vez porque furta o ofício, e outra vez porque há de furtar com ele. O que entra pela porta poderá vir a ser ladrão, mas os que não entram por ela já o são. Uns entram pelo parentesco, outros pela amizade, outros pela valia, outros pelo suborno, e todos pela negociação. E quem negocia não há mister outra prova: já se sabe que não vai a perder. Agora será ladrão oculto, mas depois ladrão descoberto, que essa é, como diz S. Jerônimo, a diferença de fur a latro.

*
Aprecio e considero justas e necessárias a maior parte das suas reflexões e por isso envio esta observação "collaborandi animo". O oportuníssimo texto do SERMÃO DO BOM LADRÃO. Pregado na Igreja da Misericórdia de Lisboa, no ano de 1655, tem alguns lapsos na transcrição do latim, que deve ser: "Qui non intrat per ostium, fur est et latro".

(T. Verdelho)

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EXTERIORES: CORES DE HOJE



Um retrato irónico do tempo: Bacardi, PCP e Obama.



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS COMPLICADAS



Jenny Holzer, Inflammatory Essays, 1979-82

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COISAS COMPLICADAS





Jenny Holzer, Inflammatory Essays, 1979-82

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EARLY MORNING BLOGS

1477 - Al adquirir una enciclopedia

Aquí la vasta enciclopedia de Brockhaus
aquí los muchos y cargados volúmenes y el volumen del atlas,
aquí la devoción de Alemania,
aquí los neoplatónicos y los agnósticos,
aquí el primer Adán y Adán de Bremen,
aquí el tigre y el tártaro,
aquí la escrupulosa tipografía y el azul de los mares,
aquí la memoria del tiempo y los laberintos del tiempo,
aquí el error y la verdad,
aquí la dilatada miscelánea que sabe más que cualquier hombre,
aquí la suma de la larga vigilia.
Aquí también los ojos que no sirven, las manos que no aciertan las ilegibles páginas,
la dudosa penumbra de la ceguera, los muros que se alejan.
Pero también aquí una costumbre nueva,
de esta costumbre vieja, la casa,
una gravitación y una presencia,
el misterioso amor de las cosas
que nos ignoran y se ignoran.

(Jorge Luis Borges)

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1.2.09


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA (2)



Ponhamos o exemplo da culpa, onde a não pode haver. Pôs Deus a Adão no Paraíso, com jurisdição e poder sobre todos os viventes, e com senhorio absoluto de todas as coisas criadas, excepta somente uma árvore. Faltavam-lhe poucas letras a Adão para ladrão, e ao fruto para furto não lhe faltava nenhuma. Enfim, ele e sua mulher — que muitas vezes são as terceiras — aquela só coisa que havia no mundo que não fosse sua, essa roubaram. Já temos a Adão eleito, já o temos com ofício, já o temos ladrão. E quem foi o que pagou o furto? Caso sobre todos admirável! Pagou o furto quem elegeu e quem deu o ofício ao ladrão. Quem elegeu e quem deu o ofício a Adão foi Deus: e Deus foi o que pagou o furto tanto à sua custa, como sabemos. O mesmo Deus o disse assim, referindo o muito que lhe custara a satisfação do furto e dos danos dele: Quae non rapui, tunc exolvebam . Vistes o corpo humano de que me vesti, sendo Deus; vistes o muito que padeci, vistes o sangue que derramei, vistes a morte a que fui condenado, entre ladrões. Pois, então, e com tudo isso, pagava o que não furtei. Adão foi o que furtou, e eu o que paguei: Quae non rapui, tunc exolvebam.

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EXTERIORES: CORES DE HOJE









O Tâmega sobe em Amarante. (Helder Barros)

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© José Pacheco Pereira
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