ABRUPTO

4.2.09


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA (5):
Dessas mesmas ladroíces, que tu vês e consentes, hei de fazer um espelho em que te vejas




Se estes ladrões foram ocultos, e o que corre e concorre com eles não os conhecera, alguma desculpa tinha; mas se eles são ladrões públicos e conhecidos, se roubam sem rebuço e à cara descoberta, se todos os vêem roubar, e o mesmo que os consente e apoia o está vendo: Si videbas furem, que desculpa pode ter diante de Deus e do mundo? Existimasti inique quod ero tui similis (Sl. 49, 21): Cuidas tu, ó injusto — diz Deus — que hei de ser semelhante a ti — e que, assim como tu dissimulas com estes ladrões, hei eu de dissimular contigo? — Enganas-te. Arguam te, et statuam contra faciam tuam: Dessas mesmas ladroíces, que tu vês e consentes, hei de fazer um espelho em que te vejas — e quando vires que és tão réu de todos esses furtos, como os mesmos ladrões, porque os não impedes, e mais que os mesmos ladrões, porque tens obrigação jurada de os impedir, então conhecerás que tanto, e mais justamente que a eles, te condeno ao inferno. Assim o declara com última e temerosa sentença a paráfrase caldaica do mesmo texto: Arguam te in hoc saeculo, et ordinabo judicium Gehennae in futuro coram te: Neste mundo arguirei a tua consciência, como agora a estou arguindo, e no outro mundo condenarei a tua alma ao inferno, como se verá no dia do Juízo.

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© José Pacheco Pereira
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