ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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31.1.09
REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (5) A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO Outro problema, que se tem vindo a agravar no nosso actual sistema jornalístico, nas duas grandes cidades, e que os blogues ajudaram a radicalizar, tem a ver com a prisão do ego (psicológica, identitária, grupal) nas opiniões emitidas e a resistência psicológica (ou mesmo a negação) em modificá-las. A relação com as “notícias” passa a ser de saber se elas são ou não conformes com a opinião do jornalista, e são tratadas na sua relevância e destaque apenas por esse facto. Parece “interpretação”, na realidade é facção. É isso que é interessante de observar nos blogues dos jornalistas: o seu fechamento e hostilidade a tudo o que possa contrariar uma opinião previamente emitida, com a agravante de, por tudo se passar em público e num meio muito conflitual, poder afectar a "imagem" do seu autor. Por exemplo, os blogues de jornalistas hostis a Manuela Ferreira Leite (que são muitos) ficam incomodados quando as dificuldades do governo Sócrates podem aumentar as probabilidades de um bom resultado do PSD. Reagem mais à consequência do que à causa. Muitos deles são escritos por pessoas hostis a Sócrates e ao PS, mas como são muito mais hostis a Manuela Ferreira Leite e são muito mais "postos em causa" por um seu bom resultado do que por um bom resultado de Sócrates (que eles no fundo desejam psicologicamente para terem razão), a reacção é muito diferenciada na intensidade, no acinte, no tom. É um problema de proximidade afectiva. Eles têm uma política de proximidade com o PSD (quase sempre através de Passos Coelho, e menos de Menezes, ou Santana) e de distância do PS e de Sócrates, mas a proximidade conta sempre mais. São os amigos, os colegas, as conversas, as namoradas, os jantares, as bocas, uma cultura de identidade ligeira, light, mas que nos nossos dias é a que há. Para se ter outra, havia que viver e pensar diferente. Ler mais, trabalhar mais, mandar menos “bocas”, ter independência, pensar com liberdade, o que é de facto muito mais complicado. É também por isso que os jornalistas são, regra geral, maus comentadores. Não só são muito pouco independentes, como não se afastam muito do seu ego de jantar e bocas. A actual blogosfera portuguesa é o seu terreno ideal, o seu caldo de cultura, o seu prato de Petri. (url)
© José Pacheco Pereira
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