ABRUPTO

29.1.09


REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (4)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

(Ver parte 1, 2, 3. )

Vários problemas se acrescentam a este ponto de partida: um, o pack journalism, a tendência para os jornalistas partilharem, seguirem, como rebanho, como pack, uma opinião comum, forjada entre eles, partilhada entre eles. Se A, B e C disserem que um discurso de Sócrates foi bom, D tende a não dizer que foi mau, mesmo que ache que não foi assim tão bom. Isso explica a similitude dos jornais, rádios e televisões numa apreciação comum que passa por ser objectiva apenas porque aparenta ser partilhada por todos. Como os elementos para o julgamento individual de leitores, ouvintes, telespectadores não estão muitas vezes disponíveis, porque são meros “factos” que este tipo de "jornalismo" opinativo despreza, o que passa, a “mensagem”, é uma versão seleccionada para confirmar a opinião do jornalista, com exclusão do que a contraria. Daqui resulta um efeito de manipulação e um empobrecimento do espaço público. Uma das razões porque uma elite mais informada tecnologicamente prefere aceder directamente à informação em bruto ou a universos muito diversificados de opinião em Rede, é porque o "jornalismo" de opinião gerou um efeito de pensamento único, muito subordinado ao "politicamente correcto" em geral e ao "politicamente correcto" da classe, ou de grupos da classe, ou dos blogues dos grupos da classe.

(Continua.)

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O que refere como pack journalism não é senão uma entre outras variadíssimas formas de conformismo social. Os primeiros estudos têm cinquenta anos são engenhosos e devem-se a Solomon Asch (1951) (para primeira abordagem rápida ver aqui. ). Qualquer aluno de Psicologia os conhece a partir do primeiro ou segundo ano de Faculdade. O que é grave é que em certas profissões o conformismo pode reverter em erro técnico (por ex. nos médicos ou nos engenheiros) com consequências importantes (é a vida ou o bem estar de alguém que pode
estar em causa) que podem redundar em sanção grave. No jornalismo será mera opinião publicada - quer dizer não há verdadeira accountability profissional.

Asch, S. E. (1951). Effects of group pressure upon the modification and distortion of judgment. In H. Guetzkow (ed.) Groups, leadership and men. Pittsburgh, PA: Carnegie Press em português ver Vala & Monteiro (2006) Psicologia Social. Lisboa: Gulbenkian.

(Miguel Oliveira)

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Em complemento ao texto enviado pelo seu leitor Miguel Oliveira, venho sugerir a leitura do texto sobre o mesmo assunto publicado hoje no blogue De Rerum Natura.

(José Carlos Santos)

(url)

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