ABRUPTO

4.2.09


REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (7)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

(Ver parte 1, 2, 3, 4., 5, e 6.)

A intolerância dos jornalistas (enquanto regra, deixo de lado as escassas excepções) face às críticas que lhes são feitas mostra como é grande ainda o mecanismo corporativo de defesa e como ele está associado a uma procura de privilégios profissionais e de “imagem”. “Imagem” significa preço, preço real ou preço simbólico, em todas as profissões, e, por si só. não tem nada de mal. Só o tem quando se joga com essa “imagem” para impor uma obrigação a outrem de considerar por definição os jornalistas como isentos, politicamente independentes e apenas cumprindo o seu “trabalho”, imunes às críticas que não venham do seu próprio meio. E, no seu próprio meio, elas não existem ou são muito escassas. Tanto mais escassas quanto o papel crescente dos media na sociedade implica objectivamente mais poder. Debater o trabalho dos jornalistas é hoje para mim tão importante, se não mais em algumas circunstâncias, do que muitos outros aspectos da vida pública. E esse debate esbarra contra a muralha corporativa da profissão. (A seguir farei uma análise do comunicado, de fins de Janeiro de 2009, do Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos Jornalistas sobre aquilo que chama “tentativas de condicionamento dos jornalistas", um exemplo prático do que eu quero dizer.)

Como já referi, a ideia de que certas funções como a de Provedor devem apenas ser exercidas por jornalistas ou antigos jornalistas, tem implícita a concepção corporativa da intangibilidade da sua profissão pelo escrutínio alheio. São um pouco como os juízes, consideram que todas as críticas são uma ameaça à sua “independência”, e resistem como poucos ao debate público sobre a qualidade do seu trabalho. Desse ponto de vista corporativo seria lógico que os jornalistas tivessem uma Ordem, o último resquício do corporativismo de certas profissões que passa essencialmente pelo controlo pelos próprios do acesso à profissão, e pela “deontologia”, como acontece com os advogados e os médicos. Não a tendo, têm a pulsão para a ter e dispersam essas funções num conjunto de órgãos pouco eficazes quer de carácter sindical, quer associativo, ou actuam como se fossem membros de uma Ordem invisível que lhes dá privilégios no debate público.

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© José Pacheco Pereira
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