ABRUPTO

7.10.08


LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (52)

Clicar para aumentar.

(url)


POEIRA DE 7 DE OUTUBRO



Hoje, há cinquenta e três anos, na Six Gallery em S. Francisco, David Porter ouviu Allen Ginsberg ler um poema diferente de tudo o que  até então tinha  ouvido. Estavam cerca de cem pessoas na sala. Ginsberg tinha bebido demais. Kerouac tinha um garrafão de vinho e estava sempre a encher-lhe o copo. O autor  chamava  Howl ao seu poema e estava muito hesitante quanto ao seu sucesso:

I saw the best minds of my generation destroyed by
madness, starving hysterical naked,
dragging themselves through the negro streets at dawn
looking for an angry fix,
angelheaded hipsters burning for the ancient heavenly
connection to the starry dynamo in the machinery of night,
who poverty and tatters and hollow-eyed and high sat
up smoking in the supernatural darkness of
cold-water flats floating across the tops of cities
contemplating jazz,

e continuava e continuava, numa sequência  épica

who went out whoring through Colorado in myriad
stolen night-cars, N.C., secret hero of these
poems, cocksman and Adonis of Denver-joy
to the memory of his innumerable lays of girls
in empty lots ; & diner backyards, moviehouses'
rickety rows, on mountaintops in caves or with
gaunt waitresses in familiar roadside lonely petticoat upliftings ;
especially secret gas-station
solipsisms of johns, &; hometown alleys too,
who faded out in vast sordid movies, were shifted in
dreams, woke on a sudden Manhattan

No fim, a sala aplaudiu entusiasmada. Kerouac passou o tempo todo a dizer "Go man". Quando regressou ao seu quarto de estudante, Porter tentou anotar alguns versos de que se lembrava, embora fosse muito difícil recordar-se deles só a partir da leitura de Ginsberg. Nos seus apontamentos, hoje depositados na UCLA, encontra-se um dos raros  testemunhos da sessão da Six Gallery. Uma das partes que Porter recordava era esta

who journeyed to Denver, who died in Denver, who
came back to Denver ; waited in vain, who
watched over Denver; brooded ; loned in
Denver and finally went away to find out the
Time, &; now Denver is lonesome for her heroes

Porter sublinhou "Denver is lonesome for her heroes" e "waited in vain", que repetiu duas vezes. É pouco provável que a repetição se encontrasse no original do poema de Ginsberg. É provável que fosse Porter que  tinha  "waited in vain".

(url)


INTERIORES / EXTERIORES: CORES DESTES DIAS

Clicando na fotografia fica na boa dimensão. Para se ver


Porto Santo. (João Almeida)

(ana)

(url)


VÍRUS

Um Médio Oriente diferente a voz de Um Kulsum. 

"Big Data" e as "computadoras".
Errata: onde digo início do século XIX deve estar "do século XX", como claramente se percebe...

(url)


RIOS DE ÁFRICA (6)


(url)

6.10.08


(Susana)

(url)


EARLY MORNING BLOGS


1407

Once he was going to see her in this way on a winter morning (the messenger had come the evening before when he was out). With him walked his daughter, whom he wanted to take to school: it was on the way. Snow was falling in big wet flakes.
"It's three degrees above freezing-point, and yet it is snowing," said Gurov to his daughter. "The thaw is only on the surface of the earth; there is quite a different temperature at a greater height in the atmosphere."
"And why are there no thunderstorms in the winter, father?"
He explained that, too. He talked, thinking all the while that he was going to see her, and no living soul knew of it, and probably never would know. He had two lives: one, open, seen and known by all who cared to know, full of relative truth and of relative falsehood, exactly like the lives of his friends and acquaintances; and another life running its course in secret. And through some strange, perhaps accidental, conjunction of circumstances, everything that was essential, of interest and of value to him, everything in which he was sincere and did not deceive himself, everything that made the kernel of his life, was hidden from other people; and all that was false in him, the sheath in which he hid himself to conceal the truth -- such, for instance, as his work in the bank, his discussions at the club, his "lower race," his presence with his wife at anniversary festivities -- all that was open. And he judged of others by himself, not believing in what he saw, and always believing that every man had his real, most interesting life under the cover of secrecy and under the cover of night. All personal life rested on secrecy, and possibly it was partly on that account that civilised man was so nervously anxious that personal privacy should be respected. 

(Anton Chekov, Lady With Lapdog)

(url)

5.10.08


(A.)

(url)


POEIRA DE 5 DE OUTUBRO


Álvaro Teles Mascarenhas, um soldado da Índia,  dizia que tinha nascido no dia 5 de Outubro de 1582,  há quatrocentos e vinte e seis anos. Como o dia 5 de Outubro de 1582 não existia, atribuía à data inexistente a sua má sorte aos amores e à guerra.  O seu túmulo em Goa, a que alguém acrescentou um grafito em grego Ὀκτώπους, provavelmente uma alcunha sobre a sua habilidade de mãos a jogar às cartas,  não pôde levar a inscrição completa da data e, mais tarde, veio a  dar origem a uma lenda que interessou Jorge Luís Borges. Numa das suas anotações, dá um título ao conto que nunca veio a escrever: o Homem Impossível.

(url)


LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (51)


Clicar para aumentar.

(url)


RECONHECIMENTO DO KOSOVO: UMA POLÍTICA ERRADA E PERIGOSA



Tudo indica que o Governo português vai abandonar uma das suas raríssimas manifestações de individualidade em relação à União Europeia em matéria de política externa e reconhecer o Kosovo como país independente. Os grandes partidos europeus, o PSE e o PPE, alinham nesta decisão e, em Portugal, o PS e o PSD vão certamente apoiá-la. É, no entanto, uma decisão errada, uma a mais numa sequência desastrosa de decisões erradas na política externa europeia que conduzem a becos sem saída e ao agravar das condições de instabilidade na Europa Central e do Leste.

Portugal tinha sido um dos poucos países europeus a resistir à corrida pelo reconhecimento, liderada pelos EUA e com resposta pronta dos países que dominam a UE (França, Alemanha, Reino Unido). ( Eu elogiei as reservas portuguesas quanto ao reconhecimento do Kosovo. Seria interessante saber o que mudou.) Não são claras as razões por que o fez, embora tenha de se reconhecer que quer o Presidente da República, quer o ministro dos Negócios Estrangeiros, dizendo pouco, diziam certo, porque chamavam a atenção para os riscos deste reconhecimento como precedente e legitimação para outros movimentos de secessão. Presumia-se que falassem do Cáucaso, mas sabia-se que pensavam também em Espanha, outro dos países que não reconheceram o Kosovo, por óbvias razões de precedente para os separatismos basco e mesmo catalão. Esperava-se que Espanha contasse para a diplomacia portuguesa, mas que não fosse apenas a Espanha a contar. A guerra georgiana e o reconhecimento unilateral da Abkházia e da Ossétia pela Rússia mostram os enormes riscos desta política, que pode ainda alastrar-se à Moldova e mesmo à Ucrânia.

Acresce que a independência do Kosovo, separando um território internacionalmente reconhecido como fazendo parte de outro país, a Sérvia, é ilegal à luz do direito internacional e nunca será legitimada pelas Nações Unidas. Se fossem outros os interlocutores, haveria por cá um clamor por mais esta "violação do direito internacional", mas com os dois maiores partidos a concordarem, vai ser mais um assinar de cruz numa decisão "europeia" que nos escapa.

O Kosovo, um protectorado da União Europeia e dos EUA, é mais um "país" independente, sem viabilidade económica, sem autonomia política em relação aos seus patronos, na prática anexada a uma paupérrima Albânia, no centro de um dos mais profícuos centros de tráfico de tudo, mulheres, drogas, armas, mercenários para todos os terrorismos, sede de todas as máfias que actuam com esses produtos. Não é segredo para ninguém, toda a gente sabe. Sabe também que existe uma minoria sérvia que não reconhece a independência e que não participa no processo político do Kosovo e que pede a anexação com a Sérvia, ao mesmo tempo que actua como outras minorias ainda estabelecidas nos Balcãs como a Republica Serpska onde também o Governo da Bósnia não tem poder. Em todas estas situações permanece o potencial de conflito para o futuro, o que obriga a uma permanente estadia de tropas internacionais e a uma capitis diminutio em matérias fundamentais para a soberania, como a justiça, a polícia, a defesa e a política externa.
Esta situação é mais um passo numa política errada que nos Balcãs acentuou sempre a crise endémica após o fim do comunismo jugoslavo, misturando irrealismo, ignorância das condições históricas do conflito, com uma efectiva incapacidade para ter aquilo que conta no terreno nestes conflitos: ter força militar e vontade para a usar. E neste caso, por ironia, um seguidismo em relação à política americana para a região, onde os EUA têm dos últimos aliados, incluindo um membro da Liga Islâmica, a Albânia.


O reconhecimento do Kosovo é um passo a mais nesse processo, mas já é ele próprio uma consequência de uma série de opções políticas que deixaram a UE sem alternativa. Essas opções vêm desde 1991, num crescendo de passos que se atrapalham uns aos outros, num silly walk trágico e com muito pequeno futuro, e para os quais se encontra precedente apenas na política alemã da II Guerra, o que não é de bom agouro. Começa porque os principais países europeus e os EUA têm uma enorme responsabilidade no descalabro dos Balcãs, desde o desmembramento da Jugoslávia até aos dias de hoje. Foi a Alemanha que, decidindo unilateralmente reconhecer os "países" que se separaram da Jugoslávia, retomando, aliás, ligações tradicionais que vinham da II Guerra Mundial, oficializou o fim da Jugoslávia e abriu caminho à guerra civil. Verdade seja que provavelmente o desmembramento da Jugoslávia seria inevitável, mas a decisão precipitou a guerra civil ao favorecer a corrida às fronteiras e as limpezas étnicas que um pouco por todo o lado se verificaram e os massacres que as acompanhavam. Embora pouco lembrada, a maior dessas limpezas étnicas atingiu os sérvios da Krajina e não os croatas, nem os bósnios, nem os kosovares. Como é com os sérvios, ninguém quer saber.

A sucessão de "guerras" entre eslovenos e sérvios, croatas e sérvios, bósnios e sérvios e croatas, e albaneses e sérvios, deixou o maior rasto de destruição na Europa desde a II Guerra Mundial, cuja memória renasceu em muitos dos beligerantes que tinham velhas contas a ajustar. A tentativa de intervenção europeia no solo e americana no ar, sob a égide da ONU, para manter a paz e proteger as populações, tinha regras de envolvimento tão restritivas que tornavam as tropas em pouco mais do que observadores das violências cometidas à sua frente. O receio americano de colocar soldados no chão, limitando-se ao apoio aéreo, e a pouca preparação e falta de motivação das tropas terrestres, aliado a comandos indecisos, actuando mais como diplomatas e políticos do que militares, que queriam acima de tudo evitar baixas nas suas tropas, levaram a uma exibição de fraqueza que militares e milícias endurecidas e cruéis como era o caso dos sérvios entendiam e bem como fraqueza. O massacre de Srebrenica foi cometido à frente de cerca de 400 soldados holandeses sob comando francês. Mais tarde, o Governo holandês veio a admitir responsabilidade parcial pelo falhanço da "protecção" dada aos bósnios e por procedimentos impróprios no plano militar. A verdade é que muitos soldados europeus demoraram a perceber que nos Balcãs as guerras são a sério e meras exibições de força não chegam. (Foto do comandante holandês brindando com Mladic perto de Srebrenica, um dia depois das tropas sérvias terem violado o enclave "protegido" pelas tropas holandesas.)

Os acontecimentos que levaram à secessão do Kosovo com a violenta intervenção policial e militar dos sérvios, seguida do êxodo da população albanesa, exacerbada pela existência de uma guerrilha pró-albanesa apoiada pela CIA, cujos dirigentes são hoje os políticos no poder no Kosovo, levaram a uma intervenção militar que incluiu o bombardeamento da Sérvia e à queda de Milosevic, mas deixaram o Kosovo numa terra de ninguém no plano político. Legalmente, o Kosovo é território sérvio, hoje é para os países que o reconheceram um píis independente, na prática é um protectorado da UE e dos EUA, com uma zona maioritariamente albanesa e uma minoria sérvia à volta de Mitrovica dotada de um considerável autogoverno. Isto significa que se a UE não quer ver milícias sérvias a passarem a fronteira para apoiarem os seus "irmãos" cercados pelos albaneses ou uma anexação de facto dos territórios do Norte do Kosovo pela Sérvia, ou, noutra versão possível, os sérvios do Kosovo a terem que fugir das suas terras para a Sérvia noutra limpeza étnica, os militares têm que continuar a lá estar eternamente.

É por isso que a decisão do reconhecimento unilateral do Kosovo é também má para os conflitos internos, porque nos Balcãs estas feridas podem conhecer momentos de aparente cicatrização, mas têm uma longa história de abrir de novo. Por muito que isto possa chocar, se se quer mexer nas fronteiras da ex-Jugoslávia, então faça-se "limpeza étnica" a sério, deixando os novos países com um grau de homogeneidade étnica e religiosa bastante para a questão para eles passar a ser de política externa e não interna.

Não se choquem muito com esta sugestão, porque foi o que a Sociedade das Nações fez com as populações gregas na Anatólia e turcas na Trácia, nos anos vinte e, já que se está numa de "engenharia nacional", mais valia redesenhar tudo, com muito dinheiro e muita negociação, em vez de reconhecer países na base das fronteiras administrativas da antiga Jugoslávia, mantendo todos os problemas por resolver e acicatando os ódios.

(Versão do Público de 4 de Outubro de 2008.)

(url)


LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (50)




Clicar para aumentar.

(url)




(Susana)

(url)


EARLY MORNING BLOGS


1406

The theatre was full. As in all provincial theatres, there was a fog above the chandelier, the gallery was noisy and restless; in the front row the local dandies were standing up before the beginning of the performance, with their hands behind them; in the Governor's box the Governor's daughter, wearing a boa, was sitting in the front seat, while the Governor himself lurked modestly behind the curtain with only his hands visible; the orchestra was a long time tuning up; the stage curtain swayed. All the time the audience were coming in and taking their seats Gurov looked at them eagerly.

Anna Sergeyevna, too, came in. She sat down in the third row, and when Gurov looked at her his heart contracted, and he understood clearly that for him there was in the whole world no creature so near, so precious, and so important to him; she, this little woman, in no way remarkable, lost in a provincial crowd, with a vulgar lorgnette in her hand, filled his whole life now, was his sorrow and his joy, the one happiness that he now desired for himself, and to the sounds of the inferior orchestra, of the wretched provincial violins, he thought how lovely she was. He thought and dreamed.

A young man with small side-whiskers, tall and stooping, came in with Anna Sergeyevna and sat down beside her; he bent his head at every step and seemed to be continually bowing. Most likely this was the husband whom at Yalta, in a rush of bitter feeling, she had called a flunkey. And there really was in his long figure, his side-whiskers, and the small bald patch on his head, something of the flunkey's obsequiousness; his smile was sugary, and in his buttonhole there was some badge of distinction like the number on a waiter.

During the first interval the husband went away to smoke; she remained alone in her stall. Gurov, who was sitting in the stalls, too, went up to her and said in a trembling voice, with a forced smile:
"Good-evening."

She glanced at him and turned pale, then glanced again with horror, unable to believe her eyes, and tightly gripped the fan and the lorgnette in her hands, evidently struggling with herself not to faint. Both were silent. She was sitting, he was standing, frightened by her confusion and not venturing to sit down beside her. The violins and the flute began tuning up. He felt suddenly frightened; it seemed as though all the people in the boxes were looking at them. She got up and went quickly to the door; he followed her, and both walked senselessly along passages, and up and down stairs, and figures in legal, scholastic, and civil service uniforms, all wearing badges, flitted before their eyes. They caught glimpses of ladies, of fur coats hanging on pegs; the draughts blew on them, bringing a smell of stale tobacco. And Gurov, whose heart was beating violently, thought:
"Oh, heavens! Why are these people here and this orchestra! . . ."

And at that instant he recalled how when he had seen Anna Sergeyevna off at the station he had thought that everything was over and they would never meet again. But how far they were still from the end!

(Anton Chekov, Lady With Lapdog)

(url)


VER A NOITE





Regressa Oríon a dominar as noites do Norte. E vêm os primeiros frios, entrando dentro de casa, a obrigar a fechar as portas. No pátio, os pássaros fazem menos ruído. Tudo se prepara.

(url)

4.10.08


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 4 de Outubro de 2008

A UE está, pouco a pouco, a acabar. A reunião de uma coisa chamada G4, a que as instituições comunitárias deram a caução da sua presença, institucionaliza um directório informal que aparece a decidir por cima do normal funcionamento da UE. O argumento é o da urgência e o da eficácia, mas este tipo de reuniões está a mudar o carácter e as regras de igualdade entre os membros da UE.

*

O Primeiro-ministro aparece todos os dias a fazer um comício contra a oposição, intercalado por operações de propaganda. Não parece especialmente atarefado em governar, mas sim a encher os ecrãs da televisão que obedientemente o seguem. E que tal instituir para estas sessões o mesmo principio do contraditório que existe para qualquer declaração da oposição, logo seguida da "resposta" do governo? E se o mesmo passasse a existir para estes comícios de propaganda e ataque do Primeiro-ministro? Ou seja, ele fala, passa no telejornal, seguido da resposta do PSD, PP, PCP e BE, conforme a natureza da matéria e quem ele atinge. Porque é que há órgãos de comunicação social do estado que tem esta instrução para as actividades da oposição e não a seguem para o governo?

(url)


LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (49)


Clicar para aumentar.

(url)


OUVINDO

Janet Baker a cantar o lamento de Dido da Dido e Eneias de Purcell.
When I am laid, am laid in earth, May my wrongs create
No trouble, no trouble in thy breast;
Remember me, remember me, but ah! forget my fate.
Remember me, but ah! forget my fate,

(url)


LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (48)


Clicar para aumentar.

(url)



Clicar para aumentar.

Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

(url)


OUVINDO

The Nashville Bluegrass Band a cantar Train Carryin' Jimmie Rodgers
We'd some hard times these last few years,
Lost the farm, almost lost our spirits, too
But it's the strangest thing, when we heard that man sing,
We knew somehow we'd make it through

I can hear that whistle blow, that old train's a-movin' slow,
Sounds like he's cryin' for the singin' brakeman, too
Back to the sunny south he'll go, and he'll never roam no more,
Here's the train, oh hold me close, oh sweetheart do

Come here my little son and let me lift you up
I want you to remember this day when you are grown
How your mama and your dad were so proud and so sad,
Watchin' the train carrying Jimmie Rodgers home
JD Sumner a cantar Wayfaring Stranger.
I am a poor wayfaring stranger
Traveling through this world alone
There is no sickness, toil nor danger
In that fair land to which I go

(url)


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: UM JACOBINO AMERICANO

Christopher Hitchens, Thomas Jefferson, Harper Collins Publishers, 2005

Este livro é uma desilusão: nem é uma biografia, nem um estudo do pensamento e acção política de Jefferson. É um pouco de tudo isto, numa espécie de ensaio biográfico, mas o resultado é muito insatisfatório. No seu tom deliberadamente underrated, consegue a proeza de tornar a figura de Jefferson bastante menos interessante do que ela é, não se percebendo sequer se, ao autor, o homem é simpático ou antipático, um claro óbice para trabalhos deste género que necessitam sempre de "empatia" weberiana para se tornarem interessantes e dizerem-nos alguma coisa, concordemos ou não.

É evidente que Jefferson é daqueles homens excepcionais que, de vez em quando, a história "faz", colocando-os no lugar certo na altura certa. Mas, no livro de Hitchens, ele parece estar sempre a fazer as coisas en passant, como se nada tivesse com elas, mesmo quando essas coisas incluem escrever alguns dos documentos fundadores dos EUA, e ter dado ao novo país a sua dimensão continental através da compra da Luisiana e das expedições de exploração em direcção ao Oeste. Já as páginas de Hitchens são mais interessantes ao retratarem as simpatias pela Revolução Francesa e mesmo pelo seu período de terror jacobino, fundadas no explicito republicanismo de Jefferson e no seu menos explícito, mas evidente, agnosticismo ou até ateísmo. O bibliófilo Jefferson, que ofereceu (vendeu) a primeira colecção de livros a sério que deu origem à Biblioteca do Congresso, organizava-os em três secções, "memory", "understanding" e "imagination", e incluía a Bíblia na história antiga...

Outro dos temas obrigatórios do livro de Hitchens é a questão da escravatura e das hesitações que o iluminista Jefferson, dono de escravos e que viveu com uma escrava Sally de quem teve filhos, sabia muito bem quão contraditório era com o corpo do seu pensamento a existência da escravatura. A mancha original da nação americana já então era claramente percebida como mancha, com a consciência que, a prazo, a escravatura iria ser um dos problemas mais graves da conflitualidade civil que até aos dias de hoje deixou restos na experiência de ser americano e negro, em particular nos antigos estados esclavagistas do Sul.

Não digo que não valha a pena ler este livro, principalmente como introdução à figura de Jefferson, mas para quem já saiba alguma coisa mais, sabe a pouco.

*
Um aspecto pouco conhecido da expedição de Lewis e Clark, a mais famosa das «expedições de exploração em direcção ao Oeste» a que faz referência, reside no facto de um dos objectivos deste ser encontrar mamutes vivos. Este objectivo pode parecer estranho, mas provinha da visão que Jefferson tinha da Natureza, que fazia com que lhe repugnasse a ideia de que as espécies se pudessem extinguir. O interesse de Jefferson pela paleontologia também se revelou quando ele identificou uma mandíbula fóssil como sendo de um leão, o que, em virtude do seu tamanho, muita satisfação deu aos seus instintos nacionalistas, pois o conde de Buffon escrevera que os animais no Novo Mundo eram sempre versões degeneradas das espécies correspondentes do Velho Mundo, mas um leão daquele tamanho seria um contra-exemplo perfeito. Infelizmente, Jefferson estava, por uma vez, enganado; a mandíbula era, isso sim, de uma preguiça terrestre gigante. Buffon baptizou-a Megalonyx Jeffersoni.

E Jefferson não foi o único presidente americano com interesse activo na Ciência. Enquanto, em 1911, estava a participar na sua última campanha presidencial, Theodor Roosevelt escreveu e publicou um artigo científico com mais de 100 páginas. Alguém imagina John McCain ou Barak Obama a fazer uma coisas dessas hoje em dia?

Quanto à contradição entre o pensamento iluminista de Jefferson e o facto de ser dono de escravos, talvez ele tenha aprendido a lidar com o assunto com os revolucionários de 1789, que proclamaram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que começa por «Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos», o que realmente não é compatível com a escravatura. Em seguida decretaram que a Declaração só se aplicava à França metropolitana, mas não às colónias...

(José Carlos Santos)

*

Thomas Jefferson, na redacção original da Declaração de Independência escreveu o seguinte, e que é bem significativo:

«He has waged cruel war against human nature itself, violating it's
most sacred rights of life and liberty in the persons of a distant
people who never offended him, captivating & carrying them into
slavery in another hemisphere, or to incur miserable death in their
transportation thither. This piratical warfare, the opprobium of
INFIDEL Powers, is the warfare of the CHRISTIAN king of Great Britain.
Determined to keep open a market where MEN should be bought & sold, he
has prostituted his negative for suppressing every legislative attempt
to prohibit or to restrain this execrable commerce. And that this
assemblage of horrors might want no fact of distinguished die, he is
now exciting those very people to rise in arms among us, and to
purchase that liberty of which he has deprived them, by murdering the
people on whom he also obtruded them: thus paying off former crimes
committed against the LIBERTIES of one people, with crimes which he
urges them to commit against the LIVES of another.» (ver aqui )

Tal parágrafo, durante os debates foi retirado e não aprovado. Mas Thomas Jefferson posteriormente, sempre fez questão, em todas as cópias que enviava aos muitos que o solicitavam, de colocar todo o texto original e não apenas a versão final. Convirá também ter presente a sua auto-biografia, onde expressamente defende a dignidade e o direito de todos os homens, independentemente da sua «raça», de serem livres e iguais.

No entanto, é verdade que ele considerava que a natureza e as condições concretas do seu tempo tinham levado a que os negros fossem efectiva e concretamente inferiores, não por direito ou por natureza, mas pelas circunstancias. Defendia sobretudo que seria impossível a vivência em comum das duas raças, atendendo aos conflitos que ele
acreditavam que efectivamente se gerariam. Defendia a libertação dos negros, mas a sua transferência para em outro território, pensando nomeadamente na República Dominicana (tese que mais tarde veio a ser experimentado, sem sucesso, na Libéria).

(Gabriel Silva)

(url)


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "MAGALHÃES" (4)


(Primeira; segunda, terceira parte.)

(...) concordo inteiramente com a sua opinião de que temos neste momento uma comunicação social seguidista a um nível quase "Américo Thomaz". Como sou da área informática, segui ainda com mais interesse o seu debate na televisão e as suas posições sobre o Magalhães, e as contribuições dos leitores. Há uma em especial muito reveladora, a de Nuno Ferreira.

Gostava de dar mais uma contribuição, sobre um aspecto pouco abordado, e que se relaciona com a visita de Steve Balmer, Presidente da Microsoft, e que teve direito a uma recepção de gala a celebrar a Parceria com a Microsoft para o Magalhães, do tipo "Deus está connosco".

O facto é que o Magalhães, na sua versão portuguesa, é um sistema duplo, com Windows e com o sistema operativo Linux Caixa Mágica [1], como aliás se pode ouvir no vídeo disponível no site do Plano tecnológico [2]

Contudo a empresa portuguesa Caixa Mágica não teve direito a televisões e contrato assinado com o Primeiro Ministro. Parece que temos vergonha das pequenas empresas nacionais. Nem a JP Sá Couto teve este tratamento. Será que para fingir que o governo nada tem a ver com a empresa?

Outro facto que foi escamoteado, é a de que ao contrário do que se pretendeu fazer crer, a Microsoft não tem nada a ver com a exportação dos Magalhães... A primeira, a de 1 milhão de computadores para a Venezuela, não inclui um único programa da Microsoft - não tem Windows, não tem MS Office. Os computadores a serem vendidos para a Venezuela serão equipados únicamente [3] [4] com o sistema operativo Linux Canaíma [5]

Donde Steve Balmer foi o convidado errado. O governo português deveria antes ter agradecido a Linus Torvalds, criador do sistema operativo Linux [6]

Talvez a razão seja a onda de protocolos assinada entre o governo português e a Microsoft [7], que ignora concursos públicos, que faz tábua rasa da impracialidade que o estado deveria ter, e que está a fortalecer ainda mais em Portugal o monopólio de uma única empresa no sector do software, em vez de promover a pequena mas crescente indústria nacional de software [8]. É históricamente sabido que sistemas únicos de pensamento conduzem à estagnação, e que só sistemas concorrenciais vibrantes levam ao desenvolvimento. Creio firmemente que a nível tecnológico estamos a seguir caminho errado em Portugal.

Paulo Costa

[1] http://www2.caixamagica.pt/pag/f_notc00.php?id=213
[2] http://www.planotecnologico.pt/
[3] http://www.portatilmagalhaes.com/mundo/magalhaes-o-portatil-portugues-que-aguenta-bombardeamentos/#more-55
[4] http://www.portatilmagalhaes.com/mundo/venezuela-vai-mesmo-importar-o-magalhaes/
[5] http://canaima.softwarelibre.gob.ve:8080/canaima_cms
[6] https://netfiles.uiuc.edu/rhasan/linux
[7] http://www.microsoft.com/portugal/presspass/press/2008/out08/10-02ms_gov_mou.mspx
[8] http://www.esop.pt

(url)


VÍRUS

As canções dos vencedores: Bella Ciao.

(url)


RIOS DE ÁFRICA (5)



Água com hipopótamos. (A.)

(url)

3.10.08


LIVROS DE QUATRO GERAÇÕES (47)


Clicar para aumentar.

(url)


COISAS DA SÁBADO: A POLÍTICA PORTUGUESA NO SEU MAIS COMUM MISERABILISMO

… É esta história das casas de Lisboa. Durante todas as presidências, socialistas, social-democratas e centrista, em vereações com o PCP ou sem ele, ou seja, na prática com todos os partidos, as casas da Câmara foram atribuídas discricionariamente. Sabendo nós muito bem como as coisas são feitas, e toda a gente na Câmara Municipal de Lisboa tinha que o saber, a começar pelos Presidentes antigos e actual, a maioria das casas devia ser entregue a quem de direito o justificava e uma minoria, presumo que considerável, existia ou para fazer favores ou pagar favores políticos e pessoais.

Passeiem-se pela administração pública toda e encontrarão por todo o lado mecanismos destes, usados bem e abusados, dependendo da politização do sector dos seus responsáveis, e do grau de potencial escândalo público. Pode até fazer-se a equação de que quanto mais um responsável por estas áreas estiver ligado ao aparelho partidário, maior é o favorecimento político, porque a ascensão e a permanência dessas personagens depende muito da capacidade de fazerem favores dentro do seu partido. E uma casa boa e barata é um excelente favor. Mas não se pense que este tipo de prebendas se fica pelos activistas partidários, porque em muitas áreas do estado há sinecuras deste tipo, para escritores no Ministério da Educação, por exemplo.

O caso actual foi claramente o resultado de manobras eleitorais e tinha como alvo o PSD, e acabou, como sempre acontece, por rebentar nas mãos do PS, envolvendo uma actual vereadora. Também como é habitual, agora toda a gente quer moralizar a atribuição de casas, torna-la “transparente”, regulamentar burocraticamente o sistema de atribuição, batendo com a mão no peito como se não soubessem o que se passava. Depois o escândalo deixará de ser novidade, e os favores migrarão para outra área qualquer, porque nunca será possível regulamentar tudo, nem sequer vantajoso, e os favores e as cunhas são de cima a baixo o lubrificante dos sectores intermédios das estruturas partidárias, principalmente no poder autárquico.

(url)




Morcegos. (A.)

(url)


EARLY MORNING BLOGS


1405 - On The Disadvantages Of Central Heating

cold nights on the farm, a sock-shod
stove-warmed flatiron slid under
the covers, mornings a damascene-
sealed bizarrerie of fernwork
decades ago now

waking in northwest London, tea
brought up steaming, a Peak Frean
biscuit alongside to be nibbled
as blue gas leaps up singing
decades ago now

damp sheets in Dorset, fog-hung
habitat of bronchitis, of long
hot soaks in the bathtub, of nothing
quite drying out till next summer:
delicious to think of

hassocks pulled in close, toasting-
forks held to coal-glow, strong-minded
small boys and big eager sheepdogs
muscling in on bookish profundities
now quite forgotten

the farmhouse long sold, old friends
dead or lost track of, what's salvaged
is this vivid diminuendo, unfogged
by mere affect, the perishing residue
of pure sensation

(Amy Clampitt)

(url)




Árvore com uma águia. (A.)

(url)

2.10.08


INTERIORES / EXTERIORES: CORES DESTES DIAS

Clicando na fotografia fica na boa dimensão. Para se ver



Retratos do trabalho no Maputo. (António Silva)



Motor de caça F16, Esquadra Falcões, hoje, na Base Aérea de Monte Real.
(Fernando Correia de Oliveira)



CCB. (Vera Palma)



(ana)



O mar e o Céu ao Largo de S. Miguel Açores. (Jorge Delfim)



Monte de S. Tecla. (Jorge Delfim)



Aeroporto de Bruxelas. Sinalização que adverte para a necessidade de agilizar o trânsito. deixar as pessoas que se levaram ao aeroporto e ir embora depressa, minimizando o tempo gasto com as despedidas. (Raul Mendes)



(Leonel Silva)



Uma cobra, na estrada do Pisão (Carvalhais). (José Manuel de Figueiredo)


O maior bloco de cristal de quartzo de Portugal e um dos maiores do mundo. Parte de uma colecção de centenas de cristais, serve de altar numa capela da frequesia do Barral, Ponde da Barca onde, alegadamente se verificou uma aparição a 10 de Maio de 1917 (ver azulejos da capela com fac símile de jornais da época). (Emanuel Ferreira )


(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]