ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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5.4.08
No meio de uma política europeia que tem sido de seguidismo, Portugal como nação, representado pelo governo e pelo Presidente da República, tem tido o bom senso de não se precipitar para cobrir mais um acto errado da política americana e franco-alemã no Kosovo, o reconhecimento unilateral da independência. Os puristas europeus do beneplácito da ONU para o Iraque aqui não se importam de criar um país ilegal segundo as normas do direito internacional. E, sem o reconhecimento das Nações Unidas, impossível sem o voto da Rússia, o Kosovo permanecerá o que é: um protectorado da União Europeia e dos EUA, da OTAN como dizem os sérvios com razão, que dependerá sempre do dinheiro externo. Mas, ou me engano muito, ou quererá rédeas longas para poder ter polícia kosovar, tribunais kosovares, serviços secretos kosovares, para que a sua elite política ex-guerrilheira se dedique a actividades para que os Balcãs são uma excelente placa giratória: crime organizado. Na verdade, nem era preciso ser independente, é o que já acontece hoje. Mas ajuda. Se querem mexer unilateralmente com as fronteiras, que é o que estão a fazer, então têm muito que fazer no mundo. Não é nenhum tabu absoluto, pode até nalguns casos ser a solução, mas é uma coisa que exige a máxima prudência, que é o que não se está a ter. A verdade é que se dividiu a Etiópia, a Checoslováquia, a Jugoslávia e, antes disso, o Paquistão. Mas não se deixou dividir o Biafra, nem o Katanga, nem se deixa dividir a Moldova, nem a Geórgia, nem a Federação Russa no Cáucaso, nem a Espanha, nem o Iraque. O Iraque é um bom exemplo. Está formalmente dividido, está de facto dividido pelo menos na zona curda, que tem auto-governo, forças militares e polícia própria, leis e administração locais, bandeira, farda e hino. Exactamente como o Kosovo, mas não tem direito a ser independente, porque se o fosse, o Sul xiita ficaria uma extensão do Irão e o triângulo sunita uma variante do poder do Baas de Saddam sem Saddam. Não pode o Curdistão iraquiano, mas pode o Kosovo porque políticas de limpeza étnica, que é o que a independência do Kosovo albanês significa, só podem ser feitas quando o “limpado” está fraco, como é o caso da Sérvia e tem a bandeirinha azul das estrelas por cima. Não podem ser feitas quando os vizinhos poderosos, ainda por cima aliados instáveis, como é a Turquia, podem entrar em guerra por causa disso. Por isso, santa prudência ilumine os nossos governantes e que não seja apenas “pelos riscos que correm as nossas tropas”, que é razão para cuidados, mas não é para políticas de fundo. Que seja lembrando-nos do efeito desastroso que o reconhecimento unilateral alemão da Croácia, depois imposto à UE, teve no desencadear da guerra nos Balcãs, e no pensar os riscos que uma Espanha com um governo fraco, mais uma vez refém dos nacionalistas bascos e catalães, onde há política da bala e da bomba, nos faz passar. (url)
© José Pacheco Pereira
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