ABRUPTO

24.9.08


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "MAGALHÃES"

Bem após frequentar a acção de formação sobre o Magalhães cheguei à seguinte conclusão:

O lançamento do projecto é claramente o começo da campanha eleitora, enquanto que uns partidos mais pobres distribuem canetas o Governo distribui portáteis às pessoas mais desfavorecidas !!!

Depois da acção de formação e do que li cheguei à seguinte conclusão !!
- Os portáteis começaram a ser distribuídos sem que os professores e os pais tivessem qualquer formação.
- O controlo parental e os filtros têm que ser colocados por alguém, supostamente em casa os pais e na escola os professores!! Como estes ainda não tiveram formação acontece situações como aquela que mostrou na televisão !!
- Esta iniciativa pressupõe que as escolas do primeiro ciclo todas tenham rede sem fios, o que não é verdade.
- As Instalações e equipamentos de informática são da responsabilidade das câmaras municipais e os primeiros a ser chamados são os cordenador TIC.
- O que os coordenadores TIC vão fazer ainda não entendi muito bem, mas pelo que percebi querem que nós dinamizemos a iniciativa e que demos assistência em termos de software aos alunos e professores que têm o Magalhães, pois é a escola que têm a Pen Drive de substituição !!
- A direcção Geral disse que iria dar mais formação aos professores do primeiro ciclo e as pais e recomendou que se falasse com os pais antes de entregar o portátil !! É IMPRESSÃO MINHA OU A ENTREGA JÁ COMEÇOU !!

- Em relação aos parceiros, bem a Intel ainda não têm uma versão para a caixa mágica do programa de gestão da caixa mágica, Tanto a Intel como a caixa máxica reconheceram que ainda vão fazer actualizações do programa !!

- Uma coisa que não percebi é se o Magalhães vai ser ou não obrigatório, é que apesar de barato sempre são mais 50 euros no Orçamento

Eu concordo com a iniciativa pois permite a classes desfavorecidas obter um computador, assim como permite ás pessoas da classe média comprar um computador "brinquedo" em conta para os seus filhos com todas as funcionalidades de um computador normal!

Agora a distribuição como foi feita fiquei com esta sensação que estavam a dizer o seguinte: AQUI ESTÁ O MAGALHÃES E DESENRASQUEM-SE !!! pois primeiro dão o computador aos alunos e só depois a formação aos elementos envolvidos, mais tarde monta-se a infraestrutura e No fim logo se define quem faz o quê!! Entretanto os alunos vã brincando com o computador e eventualmente ver sites que não deviam !!

(Carlos Afonso)

*

Que profundamente triste é este país, que povo miserável somos. São muito poucas (ou nenhumas) as coisas que se fazem ou se passam em Portugal cujo aspecto positivo, mesmo quando é significativo, seja valorizado. O caso do Magalhães é paradigmático desta atitude que nos condena ao atraso e à mediocridade. Entendo o comentário do Pacheco Pereira, que aponta um outro aspecto igualmente relevante do nosso americo-latinismo, isto é, o uso da televisão como veículo de propaganda governamental, muito embora neste particular este governo em nada se distingue de todos os anteriores. Já os comentários entretanto produzidos por alguns leitores do Abrupto dão conta de uma outra postura bem mais mesquinha, pequenina e profundamente boçal. É inacreditável a repugnância portuguesa pelo conhecimento, pela cultura e pela inovação. Comenta-se o disco rígido, a robustez da máquina, o abuso dos manos e dos papás dos meninos, a possibilidade de roubos(!), a instalação ou não de um banal programa de controlo parental, o local de montagem do computador, a percentagem de "portugalidade" e até, imagine-se, o próprio perfil e dotes de navegador de Fernão de Magalhães. Tudo, como é bom de ver, um conjunto de questões infinitamente mais importantes para o país do que a disponibilização, generalizada e a preços simbólicos, de uma ferramenta efectivamente útil e importante como apoio a uma qualquer tentativa de vençer o atraso. Ouvimos o mesmo a propósito do Inglês, das energias renováveis, de qualquer empresa que aposte na inovação, enfim de qualquer espectro de mudança e evolução que ameaçe a nossa confortável apatia e imobilismo. O que se ouve e se lê por aqui é mais uma vez a lateralização do importante e a entronização esmiuçada do secundário (e neste particular JPP escolhe também esta via). É esta atitude que nos condena, como se dizia a propósito do Joaquim Agostinho, a passar ao lado de uma grande carreira. Que triste, que pena.

(João Silva )

*

Não concordo nada com o leitor João Silva. Não querendo lateralizar o importante, basta lembrar o anúncio do "Magalhães" como "Primeiro computador portátil português" (sic), se além de mentiroso o aspecto não era importante, não se percebe o seu exacerbado destaque; quanto ao rapidamente a ficar famoso "controlo parental", se é tão banal programa, menos se entende que não venha previamente instalado num computador destinado a crianças de tão tenra idade.

Até podia juntar mais um aspecto seguramente lateral, que é a existência de redes wi-fi nas salas de aula, cujos efeitos das suas ondas nas crianças se desconhecem, ou pelo menos desconhecem o suficiente para que a Cisco e outros fabricantes não assumam qualquer responsabilidade presente ou futura (nas letrinhas pequenas que acompanham os equipamentos). Noutras paragens, até se exige o desmantelamento dessas redes nas escolas (http://www.timesonline.co.uk/tol/life_and_style/education/article642575.ece). Os pais, tão atentos à radiação das antenas de telemóveis (que não querem perto de escolas), parecem não saber que a radiação das redes wi-fi é muito parecida e aparentemente pode chegar a ser três vezes mais forte que a de uma antena das operadoras de telemóveis (http://news.bbc.co.uk/2/hi/technology/6676129.stm). De uma forma ou de outra, o debate existe.

Mas o principal, que me parece transparecer do que tenho lido no Abrupto, é que estando os níveis de literacia pelas ruas da amargura, os exames reduzidos a meros instrumentos estatísticos e os professores totalmente deprimidos, é se esta distribuição informática e os seus custos vão de encontro do que a escola e os alunos necessitam, ou se é meramente mais um exercício dispendioso de propaganda.

A minha opinião é que se insere numa linha de facilitismo que se desgraçadamente se instalou. É um computador atribuído sem representar qualquer tipo de esforço quer por parte dos alunos, quer por parte das famílias. De tudo o que li, ainda não percebi para que serve, de que forma se insere no programa escolar. Se é que se insere. Não percebi se será para uma disciplina específica, ou para apoio a outras disciplinas por exemplo.

(José Rui Fernandes )

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