ABRUPTO

3.10.08


COISAS DA SÁBADO: A POLÍTICA PORTUGUESA NO SEU MAIS COMUM MISERABILISMO

… É esta história das casas de Lisboa. Durante todas as presidências, socialistas, social-democratas e centrista, em vereações com o PCP ou sem ele, ou seja, na prática com todos os partidos, as casas da Câmara foram atribuídas discricionariamente. Sabendo nós muito bem como as coisas são feitas, e toda a gente na Câmara Municipal de Lisboa tinha que o saber, a começar pelos Presidentes antigos e actual, a maioria das casas devia ser entregue a quem de direito o justificava e uma minoria, presumo que considerável, existia ou para fazer favores ou pagar favores políticos e pessoais.

Passeiem-se pela administração pública toda e encontrarão por todo o lado mecanismos destes, usados bem e abusados, dependendo da politização do sector dos seus responsáveis, e do grau de potencial escândalo público. Pode até fazer-se a equação de que quanto mais um responsável por estas áreas estiver ligado ao aparelho partidário, maior é o favorecimento político, porque a ascensão e a permanência dessas personagens depende muito da capacidade de fazerem favores dentro do seu partido. E uma casa boa e barata é um excelente favor. Mas não se pense que este tipo de prebendas se fica pelos activistas partidários, porque em muitas áreas do estado há sinecuras deste tipo, para escritores no Ministério da Educação, por exemplo.

O caso actual foi claramente o resultado de manobras eleitorais e tinha como alvo o PSD, e acabou, como sempre acontece, por rebentar nas mãos do PS, envolvendo uma actual vereadora. Também como é habitual, agora toda a gente quer moralizar a atribuição de casas, torna-la “transparente”, regulamentar burocraticamente o sistema de atribuição, batendo com a mão no peito como se não soubessem o que se passava. Depois o escândalo deixará de ser novidade, e os favores migrarão para outra área qualquer, porque nunca será possível regulamentar tudo, nem sequer vantajoso, e os favores e as cunhas são de cima a baixo o lubrificante dos sectores intermédios das estruturas partidárias, principalmente no poder autárquico.

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© José Pacheco Pereira
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